Vencer Kremlin ou salvar Ukraina?
Ukrainska Pravda (Verdade Ukrainiana), 13.05.2014
Natalia Gumeniuk
Bandeira da Rússia |
Já passaram seis meses desde os primeiros dias do Maidan. À Ukraina de todos os modos tentam impor uma "guerra civil". Objetivo de Putin - convencer as pessoas de que a participação na praça para proteger seus direitos, inevitavelmente leva a um conflito civil.
Sociedade que aspira vitória, não pode apenas lutar com os tiranos, mas não deve permitir ser enredada no jogo, que é conduzido com regras alheias, quando você é obrigado seguir o pior e justificar qualquer violência.
No Maidan a situação era simples: "estranhos" traziam para um período curto, notícias sobre armados até os dentes e prontos para luta "titushok", mas matar e morrer por Yanukovych era ridículo. Graças à auto-organização das pessoas não se conseguiu remover o foco, transformou-se a luta com autoridades criminosas no confronto entre compatriotas.
Hoje tudo é mais complicado. A Ukraina enviaram mercenários, grupos de sabotagem, cuja tarefa - criar "alheio/hostil" território, incitar ódio lá, onde a um mês não existia. Não é atoa que em Donbass intimidam, sequestram, torturam aqueles que poderiam entender um ao outro, os receptivos e em quem confiam: ativistas locais de direitos humanos, jornalistas, mineiros.
Se o objetivo é estabelecer a ordem na Ukraina, não permitir o que Kremlin aspira - desatar guerra com mãos alheias e desestabilizar o país, e não "vencer a qualquer custo", seja o que for que isto signifique - é fundamental respeitar a disciplina, não dar chance a vinganças e hostilidades, especialmente quando o adversário - é um provocador profissional.
Às vezes isto é mais difícil do que um ataque heróico. O objetivo é salvar o maior número de vidas entre a população pacífica o que não é menos nobre que morte heroica. Não se trata de passividade: para recuperar a legitimidade é necessário inteligência e força física.
Para uma guerra não é necessário conflito étnico, é suficiente sangue de ambos os lados.
A experiência dos países que passaram por uma guerra civil mostra que provocar hostilidades é extremamente fácil. Os croatas lembram, que o derramamento de sangue começou com provocação premeditada.
Em uma região croata, os sérvios açulados pelo governo de Milosevic, começaram colocar postos de controle condicionais, exigindo documentos.
O autor do best-seller sobre Segunda Guerra Mundial "Bloodlands" (Terras Sangrentas) Timothy Snyder, que durante os últimos seis meses foi, provavelmente, o melhor defensor da Ukraina no mundo explica, que para fomentar a guerra civil não é necessário confrontação étnica, linguística ou ideológica. É suficiente o sangue de dois lados.
Ainda há alguns meses, eu considerava inadequada a comparação com Síria. Lembrando os protestos, em 2011 acrescento que Bashar al-Assad desde os primeiros dias esforçava-se criar a aparência de conflito religioso, convencendo o mundo, que em seu país não é uma luta contra a corrupção, mas guerra civil.
Não sem esforço, aproximadamente depois de meio ano a guerra começou. A sociedade não conseguiu proteger-se de Assad, que aspirava provar que as desavenças de rua estão coordenadas. Parte da responsabilidade realmente encontra-se no Ocidente. Sobre a escalada do conflito e transição para a fase armada avisavam com antecedência. Mas EUA e Europa aguardavam. Nada foi feito, e quando ficou claro, dentro de um ano o país foi inundado por combatentes estrangeiros e as pessoas começaram odiar-se reciprocamente.
Cedo ou tarde, se não resistir ao incitamento das hostilidades, mas simplesmente indignar-se, culpando outros por todos os problemas, eles aparecerão sozinhos. Também não se deve esperar ajuda da comunidade internacional. Ela virá, mas tarde demais. Nestes dias é especialmente perceptível, como muda a retórica da imprensa ocidental. Guerra civil - questão interna que "sozinhos devem orientar-se."
Exatamente este cenário é o mais favorável a Kremlin. Assim que surgem dois lados, começam chamá-los para reconciliação. Qualquer conflito civil termina em acordo de paz em que todos perdem. Chega de ofender-se nos meios de comunicação ocidentais, culpando-os em mau entendimento da situação - a mídia internacional nunca compreende conflitos alheios. A questão é, como convencê-la
Não importa quem ganhou - Assad ou Putin. O importante é que perdem as pessoas.
Veterana do jornalismo croata Mir'iana Rakich lembra, que quando começou a guerra da Croácia, ninguém acreditava que as pessoas podem odiar um ao outro, pois "não são aqueles tempos, tudo isso é provocação". Mas os vizinhos de ontem, que chamavam de amigos, no dia de hoje já eram ex-amigos e em mais um dia - eram inimigos e "cachorros, que merecem morrer".
Os jornalistas têm responsabilidade especial. A lição para qualquer pessoa que passou pela guerra - permanecer pessoa. Especialmente quando isso parece impossível. Não generalizar, transferindo a culpa daqueles que matam ou sequestram reféns para toda população.
O separatista agressivo de Mariupol, seja ele quem for, não responde pelos crimes do auto-proclamado governador de Slaviansk, ou por assassinato em Luhansk.
Há chance de não ouvir Donbass?
Donbass - região peculiar. Lá, onde intimidam as pessoas durante anos, e o preço da vida era nivelado nas escavações, perigo nas minas - é mais fácil desestabilizar e agravar a situação. Para haver paz no país não é suficiente repelir os ataques da Rússia, precisa ter apoio da população local. Quase um mês a um bom número de pessoas na capital parecia, que é suficiente apenas o primeiro.
Agora está claro - a operação antiterrorista terá sucesso se for aceita em Kyiv e no Oriente.
As forças de segurança que se deslocaram ao Donbass, compreenderam, que sem campanha de informação simultânea o resultado pode ser duvidoso. Um ataque massivo sem trabalho paralelo - algo arriscado. Pode ser percebido como "genocídio do próprio povo''. Mas por que as pessoas vão contra os tanques? Alguns realmente sentem muito medo. Os combatentes da indicação especial e militares surpreendiam-se, que a população acreditava, que os "soldados vem matar o seu próprio povo".
Uma boa parte das pessoas no Donbass acredita que o governo considera todos que não são contra Rússia (Isto só pode ser completa falta de orientação política, devido a falta de cultura histórica - OK). Então eles são o alvo do ATO (Ação antiterrorista). Pessoas comuns ofendem-se pelo rótulo de terroristas. Ofendem-se não menos que as pessoas no Maidan, que eram chamadas de extremistas.
No Donbass precisa distinguir claramente:
- assaltantes, agentes especiais, incluindo os elementos russos;
- pessoas locais armadas, que mantém os edifícios, mas recebem armas, dinheiro e poder, estão dispostos a lutar por isso;
- os mais barulhentos participantes de manifestações, que acreditam em Putin e conspiração maçônica contra o Donbass;
- pessoas comuns, que acreditaram nos três primeiros, então sob os sons da saudade vieram sob os tomados edifícios e votaram no assim chamado "referendo"".
- aqueles que sentados em casa não acreditam no governo ukrainiano, uma vez que nisto eles são profissionalmente e sistematicamente convencidos;
- aqueles que, silenciosamente apoiam a unidade da Ukraina. No Donbass vivem seis milhões, então, mesmo quando a quarta parte defende "pela" unidade, isto é, na verdade a população de duas províncias ocidentais ukrainianas;
- moradores de Donbass, que arriscando com a vida, apesar de todas as ameaças, mais serias que eram em Kyiv após as leis ditatoriais, esforçam-se para enfrentar grupos armados e manter a unidade do país.
Assim também é necessário distinguir as províncias de Donetsk, Luhansk e separadamente Slaviansk e cidades capturadas.
Ainda há duas semanas parecia, que em Luhansk pode haver entendimento. Parte das pessoas vinha à praça porque, em 23 anos cansaram, e desejavam "mudar tudo".
Mas eles são bem manipulados, lhes explicam que Kyiv não permitirá as mudanças desejadas, porque Kyiv sempre apoia os oligarcas. E, para completar a "proibição" do idioma russo.
O estado de direito como única salvação.
A restauração do Estado de Direito - não constatação dos fatos, é tarefa. Outra questão, como assegurá-la. O usual "Donbass - gosta de força" - hoje lá não se ouve. Força - na garantia da ordem. Milícia local - criminalmente dormente, corrupta, mas fitas de St. George usam seus parentes e vizinhos. Entre as forças de segurança redistribuídas na região há entendimento de que são necessários não apenas tanques e máquinas blindadas, mas fortes grupos operacionais que trabalham com criminosos.
Lá, onde ainda há governo com autoridades ukrainianas, ainda vale a pena trazer exército ukrainiano para patrulhar as ruas e prevenir saques. Então é possível garantir a ordem que acolherão. A milícia, é claro, o elo mais fraco. Os ataques no Iraque ocorrem precisamente porque a polícia local é facilmente subornável, o presidente ao longo dos anos não muda a gestão das forças de segurança. Não são dispensados porque eles são da famílias de alguém, ou conhecidos, ou simplesmente pagaram pelo lugar.
Dispensar toda milícia local também não pode. Na região aparecerão centenas ou milhares desempregados - brabos e famintos homens, que pelo dinheiro executarão tarefas de outro centro. O maior erro da administração americana no Iraque foi a liberação de 300.000 apoiantes de Sadam, os quais já por 10 anos são o principal fator de perigo.
Mas no mundo há inúmeras práticas de reeducação da milícia, inclusão aos departamentos de advogados, ativistas de direitos, órgãos controladores. Mas é preciso distinguir os culpados e aqueles que ainda podem ser reeducados.
Se há algo que os políticos ukrainianos podem dizer ao Donbass?
Donbass realmente não entende o que lhe propõem. Até 20 de fevereiro lá assistiam "Inter", mas hoje todas as notícias de Kyiv são sobre ATO. Os chefes locais foram substituídos pelos seus auxiliares, de todos conhecidos, por isso ninguém acreditou na mudança do sistema. Afinal, no vácuo informativo qualquer programa poderia ser aceito.
Como será o pós industrial Donbass? O que fazer com as minas? Como lutar com a corrupção? Já não falando sobre o idioma russo, introdução do qual nocautearia das mãos o trunfo do inimigo. Isso seria necessário apenas para os defensores da unidade para que tivessem argumentos.
Por que é necessária uma estratégia especial para Donbass, e não para Cherkasy ou Poltava, cujos habitantes apoiam o Estado ukrainiano?
Compreendam, a pergunta é outra: os ukrainianos querem paz? Se não querem, então por que lutar? A população local acreditou nos mitos de Kremlin fundados nas absurdas e contraditórias afirmações. Então por que não acreditar nos verdadeiros crimes do governo passado e nas mentiras da mídia?
Surpreendente que em Kyiv, onde venceu Maidan isto parece mais complicado que a luta com agentes especiais armados. Apelos adequados, em vez de ameaças das pessoas que tomam decisões poderiam influenciar melhor. Durante os dois meses, não houve nenhuma explicação adequada aos moradores da Criméia ou Donbass. Sendo que cada comentário depressivo, que paira sobre toda região, recebe-se com muita dor.
Tradução: O. Kowaltschuk
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