Vysokyi Zamok (Castelo Alto), 26.06.2014
Inna Pukish-Ynko
Sobre horrores na guerra do leste - pelos testemunhos oculares
"Sob o pretexto de refugiados fugiram para o oeste da Ukraina muitos separatistas."
A partir das informações dos pontos quentes do Donbass o cabelo fica em pé. Os tiroteios dos combatentes sobre os bairros residenciais, saques, roubos, estupros. Imagens assustadoras que vemos todos os dias na TV - é apenas parte do que ocorre no leste. Nas condições de guerra nem tudo é expresso oficialmente. Mas sobre o que silenciam, gritam testemunhos - nos fóruns on-line, nas redes sociais. Eles escrevem sobre a morte de amigos e vizinhos (alguém foi fuzilado pelos combatentes, alguém foi despedaçado no campo minado), sobre como os conquistadores estrangeiros se apoderam não apenas dos bens materiais, mas também das moças e mulheres. Contam como é assustador viver, sabendo, que a qualquer momento você pode ser traído pelos vizinhos, até pelos parentes. Contam, o quanto é preciso pagar aos "colorados"(¹) nos postos de controle para deixar a cidade (adulto - mil hryvnias, criança - 500 hryvnias) Aconselham-se, um com outro, como preservar o mais precioso do que possuem, dos combatentes e saqueadores (enterram nas florestas e nos quintais não apenas o dinheiro e jóias "escondem", mas até automóveis cobrem com terra). Mas, responder abertamente sobre horrores vividos, à imprensa poucos concordam. Sentem medo. Helena concordou numa entrevista por telefone com a condição de não revelarmos o seu nome, nem a sua cidadezinha em Luhansk, onde ela vive com o marido e duas filhas.
Precisamos esperar até o final do dia porque a Sra. Helena trabalha. Ela me disse: "Eu estou no trabalho. Aqui são cinco escritórios e em todos tem "orelhas". No hall o dia todo olham a TV russa. Não posso conversar. Simplesmente serei queimada." Quando estiver em casa, lhe avisarei"...
- Ao redor - traição, decepção, medo - começou a sua história Sra. Helena - Não se sabe o que esperar mesmo daquelas pessoas que mantinham amizade, às quais ajudou. Apontam-lhe o dedo e dizem: "Aquela ali - pela Ukraina, ela, pelo Setor Direito". (²) Separam-se até famílias. Na TV, os ministros e funcionários com dragonas ouve-se: que em sua cidade os terroristas foram eliminados, que a situação está sob controle. E, ao sair de casa você vê outro quadro: pela cidade andam combatentes, através da fronteira (são 20 min. de carro) vem quem e aonde quer vir. No nosso posto de controle estão duas pessoas com metralhadoras, e cinco mineiros da guarda de Akhmetov. O Sr. Lytven (Presidente do Serviço Nacional de Fronteiras), que sob pressão dos "maidanivtsi" (pessoas participantes do Maidan - OK) pediu exoneração, (mas ainda não houve resposta do presidente! - CA) relata que a fronteira está fechada. Como fechada, quando sob minha janela veio a técnica (referência a veículos, armamento - OK)?!
-Muitas pessoas deixaram a cidade?
-Quarenta por cento. Na primeira onda saíram muitos empresários, os quais temiam que seu negócio fosse saqueado. Alguns viajaram para escapar dos bombardeios. Sob pretexto de refugiados, muitos separatistas fugiram do Donbass, e levaram suas famílias. Alguns foram para Rússia. Mas lá a vida é muito cara. Voltaram e dizem: "Do Setor Direito precisa fugir para lá, onde não seremos procurados, - à Ukraina Ocidental".
Uma amiga de minha comadre organizou histerias, contava histórias apavorantes: que o Setor Direito rouba crianças e as vende para coleta de órgãos, que virão os banderivtsi(³) e levarão todos para acampamentos fechados. Depois fiquei sabendo: viajou para Vinnytsia (região em que há mais simpatizantes do Setor Direito e do Bandera - OK). E tais são muitos: quando tudo começava, eles andavam com as fitas de St. George, votaram no referendo, preparavam-se para encontrar o exército russo, mas agora fingem-se de patriotas-refugiados e contam como são infelizes...
A cada passo, sentimos medo. Sentados com família no jardim, em torno flores, borboletas. E, de repente explosões. Cada som assusta. Deitamos para dormir. À noite, explosões! As crianças correm para o porão, e eu atrás. Bombas, penso. As mãos tremem de medo. Até que vem o marido e diz: "Trovoada". Anteriormente não levantaria nem para fechar a janela.
Os mineiros têm medo de descer, porque sabem quem em sua equipe apoiava os separatistas, pegava dispensas para ir aos comícios, captura de prédios administrativos. As pessoas têm medo porque não sabem o que podem esperar dos seus. Seja como for, são 1.200 metros sob a terra, e ao seu lado - pessoas com ódio nos olhos, que acreditam, que os "banderivtsi" virão para chacinar Donbass.
Em Rovenky aos mineiros ameaçaram: se não forem às barricadas com os separatistas então seriam explodidos dentro da mina. E as pessoas trabalharam 3 turnos (18 horas) sob a terra, com medo de subir à superfície.
No dia 21 no distrito de Sverdlovsk os "voluntários", vestidos com uniformes da Guarda Nacional atiraram no ônibus dos mineiros. Eles foram reconhecidos. São locais, antigos mineiros. Pelo dinheiro estavam prontos matar os seus, para depois culpar destas atrocidades a Guarda Nacional.
Os horrores acontecem diariamente. Os cartórios - em estado de choque. Os que não fecharam, trabalham apenas com os bem conhecidos. Porque trazem pessoas amarradas, espancadas, e com ameaças e violência obrigam assinar acordos de compra - venda de imóveis. Nos tribunais também isto ocorre! Vem a pessoa contra a qual o banco entrou com a ação devido a uma dívida de 200 mil hryvnias, dívida de crédito e diz que ela é - do "corpo de voluntários", protege Donbass dos "banderivtsi" , e o juiz não tem direito de lhe apresentar pretensões. Caso contrário - fuzilará todos. Diz que é cidadão da FSC (República Popular de Luhansk) e não vai entregar o dinheiro aos bancos dos "banderivtsi". O que pode fazer o juiz?
Não param os ataques a empresas, roubos. Vêm aos escritórios com fuzis e dizem: Vamos protegê-los!. Resultado da proteção - retiram tudo o que conseguem carregar, até mesmo itens pessoais, das mulheres tiram os enfeites.
Nos proteger vem os rapazes das regiões ocidentais. Eles lutam para que fiquemos na Ukraina. Estes rapazes morrem aqui, no Donbass .E por isso nos odeiam em Lviv, Zhytomyr, Ivano-Franquivsk. Mas nós não queremos o sangue desses rapazes, nos choramos por eles. Mata não a terra do Donbass, mas aqueles que alimentaram aqui o separatismo. Hoje muitos já esqueceram o congresso separatista em Severodonetsk em 2004. Se naquela ocasião os iniciadores fossem colocados atrás das grades, o que está acontecendo agora no Donbass, não existiria.
Durante os anos dos presidentes Kuchma (dois períodos) e Yanukovych Donbass era usado como recurso. Ele foi entregue a Akhmetov, Yefremov, Partido das Regiões. Aqui não houve educação patriótica.Aqueles que, apesar de tudo,sentiam-se como patriotas, esse patriotismo esforçavam-se para matar - perseguindo, prensando. Matavam a crença que nós - Ukraina unida, que apelando a Kyiv, você seria ouvido.
Agora no Donbass andam com fuzis os russos que se denominam "Exército de cossacos e Don". E vocês sabem que esta organização é oficialmente registrada na Ukraina? Até hoje ela não foi proibida, não foi reconhecida como formação militar ilegal.
Donbass está doente. Ele precisa ser tratado. Mas também precisamos olhar para história da doença. Quantas minas destruíram Yefremov, Prestiuk (ex-governador de Luhansk - CA), o que fizeram com a nossa ecologia, o que aconteceu com as nossas reservas protegidas, áreas reservadas que deveriam ser protegidas para renovação de ambiente natural, o que fizeram com Siverskyi Donets (onde jogam os restos químicos, porque sob a terra morrem pessoas. E perguntar precisa não com palavras, mas com questões criminais. Se por todas estas maquinações castigassem seus organizadores e executores, as pessoas acreditariam na Ukraina. E, não precisaria dizer que aqui todos são contra Ukraina, Aqueles, que eram contra, já saíram - alguns para Vinnytsia, alguns para Rússia (Alegro-me, que os últimos, de acordo com as leis russas, depois de um ano não poderão voltar para Ukraina).
Para trabalhar no assim chamado "corpo de voluntários" foram muitos?
A primeira onda daqueles, que entraram na milícia, eram pessoas que acreditavam, que ao Donbass virá Rússia, que os protegerá da junta de Kyiv, do "Setor Direito", e a vida será melhor. Segunda onda - pessoas que iam pelo salário. Mas as pessoas simplesmente eram abandonadas: davam 500 hryvnias, e o restante prometiam para o final do mês. Metade não viveu até o pagamento. Conheço rapazes-mineiros que entraram à proteção da FSC, e depois desertaram - fugiram com a família. Dizem: nós fomos lutar para viver melhor, não por banditismo.
- Ouvi dize,r que nas aldeias as pessoas juntavam dinheiro para resgatar-se dos militantes, para organizarem seus postos de controle mais longe e não atraíssem fogo.
- Sim é verdade. Soube, onde deram 5 mil hryvnias. Quando começavam os disparos, nem sabemos, quem e para onde atira, quem o que controla - se é o grupo de militantes lutando entre si, ou se o tiroteio é com as forças da ATO (Ação antiterrorista). Indo para o trabalho, na beira da estrada, nas trincheiras - homens em uniformes camuflados sem identificação. Não sabemos quem são. Entrando na aldeia - pessoas com uniforme militar - com canhões, metralhadoras, morteiros. Os aldeões perguntam, quem, o quê? Em resposta: Nós - exército". Perguntar mais é perigoso - pode se obter uma bala na cabeça. Eles vem, destroçam o ponto e começam atirar para o lado da fronteira russa. As pessoas pensam: é a Guarda Nacional. Mas depois estas pessoas começam atirar em direção à cidade. As pessoas novamente em pânico: é a Guarda Nacional que executa limpeza. E você não sabe, se é mesmo Guarda Nacional ou se disfarçados russos com nossos uniformes.
- Qual é a situação com pagamentos, comida?
- Aos terroristas não importa,se os moradores de "Luganda" receberão pensões. Capturam o Tesouro. Embora é lamentável que os combatentes deixam atrasar os pagamentos. Precisava fazer isto desde o começo. Então o povo faminto não iria ao tal referendo, mas roeria as gargantas de quem o deixasse sem pensões. Mas agora: os terroristas capturam o Tesouro e acusam Kyiv pelo não pagamento.
Os mercados estão meio vazios. Mas o mais necessário, graças a Deus, tem. Produtos baratos não há. Verduras - deficit. Aqui havia excelentes fazendas. Mas agora araram os campos com veículos blindados. Tudo o que conseguiram, roubaram para sucata. Até mesmo o sistema de irrigação. Os campos não são processados porque os agricultores estão com medo de ir para o trabalho.
1. Colorados - usam a fita de S. George - símbolo da Rússia desde 1769. Na União Soviética, por algum tempo foi considerada como símbolo inimigo do antigo império. Em 1943 foi incorporada à Ordem da Glória Soviética, com a meta de elevar o patriotismo russo durante a guerra contra Alemanha.
2. Setor Direito - uma organização patriótica. Durante as lutas no Maidan o Setor Direito foi decisivo na vitória. É mal visto pelos russificados. Não se percebe tal aversão dos demais setores da sociedade ou do governo. Seu líder Yarosh, foi candidato à presidência, ficando nos últimos lugares.
3. "banderivtsi" palavra derivada do nome "Bandera". Bandera foi um dos principais organizadores e fundadores do Exercito Insurgente Ukrainiano antes da Segunda Guerra Mundial. Antes da guerra ele esperava pela ajuda dos alemães. Com a entrada dos alemães na Ukraina, no segundo dia os líderes da Insurgência proclamaram a independência da Ukraina e Bandera foi preso e enviado à Alemanha, onde acabou assassinado por um traidor ukrainiano pago por Moscou. Os russos, principalmente os russificados odeiam tudo o que se relaciona com Bandera, daí chamarem de "banderivtsi" a todos os ukrainianos que apenas são patriotas.
Tradução: O. Kowaltshuk
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