sexta-feira, 1 de agosto de 2014


Refugiados ukrainianos: fugir para onde?
Tyzhden. ua (Semana ukrainiana), 29.07.2014
Anna Korbut
 
Ukrainianos que viajam atrás do "sonho europeu", na esperança de "estado de refugiados" em um dos países da União Europeia, são poucos. Com perspectivas de consegui-lo.


 Até esta primavera, a palavra "refugiado" para maioria dos ukrainianos poderia associar-se com cidades sírias bombardeadas, mulheres veladas e crianças, que brincam entre as tendas em algum lugar do Oriente Médio. A agressão russa na Crimeia, e eventos posteriores no Donbass tornaram-na muito mais próxima é claro.
 
A maioria dos refugiados da ocupada Crimeia e da Ukraina Oriental tornaram-se migrantes internos. Hoje seu número é estimado em 100 mil, mas registro único não há, e contando as pessoas, que acomodaram-se nas casas de parentes ou alugam residência por conta própria, sem recorrer a benefícios sociais das estruturas governamentais, o número pode ser duas - três vezes maior. E há aqueles que viajaram para o exterior - mais para Rússia. Oldrich Andrysek, representante regional do Alto Comissariado das Nações Unidas para refugiados na Bielorrússia, Moldávia e Ukraina, diz, que, de acordo com seus colegas russos, desde o início do ano à FR viajaram aproximadamente 130 mil ukrainianos. "Destes, em 15 de julho, receberam abrigo 32 mil, - diz ele. Este número inclui os recém-chegados, e aqueles cidadãos, que já estavam lá - trabalhando na Rússia e decidiram não voltar para Ukraina".
 
As condições de asilo aos requerentes no exterior não são muito deferentes daquelas que eles podem encontrar na Ukraina.
Muito menos refugiados foram aos países da UE, dos quais, a maioria para Polônia. Desde o início do ano, de acordo com o Serviço de Estrangeiros, sobre questões de obtenção do estatuto de refugiados lá pediram 1.004 ukrainianos (para comparação: em 2.013 pediram apenas 46, e em 2012 - 72). Entre eles, os participantes e simpatizantes do Maidan (principalmente da Crimeia e regiões orientais). Muitos dos requerentes de asilo na Polônia já moravam, estudavam ou trabalhavam lá e não desejavam voltar para Ukraina devido a ameaça de guerra ou medo da mobilização ao exército.
 
A popularidade relativa do oeste pode explicar um tal "sonho europeu": alguém conseguiu ver, nos últimos acontecimentos, a oportunidade de ficar em qualquer um dos países da UE. Mas a realidade é bem diferente. "Medo, os requerentes de asilo na primeira etapa não tem, porque eles esperam, que lá serão aceitos como família e lhes darão tudo necessário. Na Ukraina, não há informações sobre a vida dos refugiados", - diz o coordenador Serhii Sukhoboichenko, coordenador polonês das questões dos imigrantes e ativista do fundo "Diálogo Aberto". "Aqui é muito complicado, - diz nos limites do projeto Ukrainian Social Community a crimeana Tatiana Kovaliov, que mudou para Varsóvia. - Até onde eu sei, 40% de nossos ukrainianos, que vieram para cá, depois de dois ou três dias voltam. Primeiro de tudo, o Estado aqui realmente garante a segurança. Nós nos sentimos mais calmos, podemos passar sem psicólogo. Mas, nos campos de refugiados as condições não são muito boas. A ajuda material é de  2 - 2,5 mil hryvnias (moeda ukrainiana. Atualmente, o dólar vale cerca de 12 hryvnias - OK), mas para aqueles que vivem e se alimentam nos campos - aproximadamente 200 hryvnias. Então, é claro, se a pessoa vem para cá, à procura de uma vida melhor, não por problemas de segurança, muitas vezes se desaponta". E, antes de obter o estatuto de refugiado, ela não pode trabalhar. "Alguém tenta não entregar-se na Polônia (primeira, no caminho do fugitivo, país, como exige a lei - Red) mas ir aonde?  Aos requerentes de asilo, propõem uma ajuda material melhor,  - diz Lina, que também foi para Polônia, da Crimeia. - Mas depois de algum tempo as pessoas serão deportadas para o país seguro, mais próximo de sua pátria".
 
Ainda quando eu estudava na Polônia, trabalhava nos acampamentos para chechenos em Varsóvia - diz Mariana Bisyk, ativista social em Drohobych, na região de Lviv. - As condições lá não são muito melhores que aquelas aqui na Ukraina. Então as pessoas que gostariam de sair (não são muitas), melhor se saíssem com um visto de trabalho no passaporte, não como refugiados". Segundo palavras de Gregory Seleshchuk, chefe da organização de serviços de migração "Caritas Ucrânia", o processo para obtenção do estatuto pode durar, de seis meses a um ano, e neste tempo, cada um sobrevive como pode. Normalmente, estas pessoas são ajudadas pelas organizações comunitárias. "Um homem, dos refugiados da Crimeia, ao qual nós prestamos assistência, já viajou para Áustria, Polônia e Alemanha, para comparar as condições e ver se seria melhor buscar refúgio lá - diz ele. - Voltou e disse que não. Decidiu ficar na Ukraina. Já encontrou apartamento e emprego, mudou-se com a família.
 
Atualmente, nenhuma solução positiva às consultas dos ukrainianos sobre o estatuto de refugiados, Varsóvia, por exemplo, não adotou. O Ministro do Interior Bartolomeu Sienkiewicz explica, que os cidadãos ukrainianos podem encontrar refúgio  em seu país, porque o conflito atinge apenas uma pequena porcentagem de seu território.
 
Lenur, que saiu da Crimeia para uma cidadezinha da Ukraina Ocidental diz, que da península saíam mais tártaros crimeanos: se considerar em porcentagem, então aproximadamente 80% a 20% ukrainianos ou russos que não queriam viver sob o governo da FR. "Iam, principalmente, para Ukraina Ocidental, - diz ele. - Soube, que alguns foram para o exterior - principalmente para Turquia.  Mas são aqueles, que tem lá algum contato, - quem trabalhou lá, ou tem família ou conhecidos. É uma minoria. A grande maioria permaneceu na Ukraina.


Azul: Regiões com maior quantidade de migrantes internos da Ukraina do Leste.
Marrom: Regiões com migrantes da Crimeia, sem contar os militares.
Dados da ONU na Ukraina, em 18 de julho
 
E em casa é melhor?
 
Na Ukraina, aos migrantes também não é fácil. "Do Estado ajuda não temos, nos ajuda Caritas", - diz Iana de Luhansk (ela e sua conterrânea Yulia, com crianças, já quase um mês vivem numa cidadezinha da Ukraina Ocidental, em um apartamento alugado). - Nós telefonamos para Kyiv, ao Ministério de Política Social em Kyiv. Nos disseram, que o direito à assistência têm apenas os refugiados da Crimeia, tártaros e mulheres com muitas crianças ou mães solteiras,
 
A falta de apoio material do Estado na situação atual pode ser entendida. Mas os refugiados têm problemas com documentos, contas bancárias. O governo, entretanto, não tem nenhum registro unificado destas pessoas, o que, por sua vez, torna impossível a ajuda internacional - do tipo, por exemplo, que recebeu Geórgia, quando ela precisou construir rapidamente assentamentos para refugiados da Ossétia do Sul e Abkhásia. "Aqui há pessoas, que em termos materiais, as condições são mais ou menos normais. Há aqueles, cuja situação é crítica, - diz o crimeano Lenur.´- Mas o problema principal - é o reconhecimento do nosso status. Pois alguns trabalham pela internet, têm clientes além fronteira. Alguém, por exemplo, cria programas de computador, a distância, para companhias ocidentais. O pagamento é através de cartões bancários. E agora nós não temos nenhum status, ou documento para confirmá-lo, que poderia ser apresentado ao banco e desbloquear as contas. O dinheiro, agora, seria muito útil" - diz o homem.
 
Lenur conta, que os refugiados da Crimeia dividem-se em duas categorias. Alguns fugiram de lá no início de março, quando havia medo de início da guerra. Iam, principalmente, para Ukraina Ocidental. Agora eles começam retornar. Mas, os "ideológicos", aos quais ele se inclui, e a seus amigos, saíram no final de março, "porque a guerra - é o tipo da coisa, que precisa estar no lugar". Mas, quando os exércitos ukrainianos começaram deixar a região, tornou-se claro que a ocupação é inevitável. "Pessoas, como nós, diz ele, - viveremos aqui, até Crimeia retornar para Ukraina.
 
Os moradores de Donbass, ao contrário dos tártaros da Crimeia, na maioria planejam voltar para casa, quando lá melhorar a situação. "Estes migrantes estão no limbo, - comenta Mariana Bisyk. - Drohobych aceita apenas mulheres e crianças, então os maridos permanecem no Leste. E acomodam-se aqui, em condições distantes das ideais. Ainda bem que há água quente. As pessoas, por enquanto, não podem sair, e serviço para pouco tempo, na maioria não encontram"
 
Medo e ódio aos migrantes
 
Fenômeno recente espalhado em redes sociais - histórias sobre os refugiados, que comportam-se com arrogância, deixam passar a insegurança em cidades pacíficas, enquanto por eles guerreiam ouros. No entanto, os ativistas da Ukraina Ocidental dizem, que estes casos são isolados. "Surgem estórias diversas. A porcentagem dos que se comportam inadequadamente é insignificante, - diz Gregório do "Caritas", - De um lado, eu compreendo o sentimento das esposas e mães daqueles, que lutam no leste, quando elas veem homens saudáveis e fortes de lá que não se ocupam com nada aqui. Mas há também histórias diametralmente opostas: sob a nossa proteção temos hoje uma família jovem com duas crianças. O marido ficou lá, no porão do SBU (Serviço de Segurança da Ukraina) um mês e meio. Sua saúde está seriamente prejudicada. E jogaram-no lá, não por acaso, mas pelo apoio à integridade da Ukraina. Deixar tal família sem ajuda é crime".
 
Yulia, natural de Luhansk, diz que veio sozinha com as crianças, o marido ficou - foi como voluntário ao exército ukrainiano. "Apesar que isto não seja muito comum", - acrescenta ela.
 
Tais sentimentos, parece, são típicos aos orientais, que concordam em ir para Ukraina Ocidental, e, recentemente, muitos migram para Kyiv e suas regiões vizinhas, na esperança de que a luta vai acabar em breve. "Aqueles que vão para as regiões ocidentais, são mais pró-ukrainianos - diz Iana de Luhansk. - E os que vão para Rússia, não tem sua propriedade, e é impossível convencê-los. Eu deixei lá pessoas conhecidas, que até agora falam sobre maus "banderivtsi", apesar de que nunca estiveram aqui". Ela, pessoalmente, tem atitude muito amigável com os habitantes da Ukraina Ocidental e diz que exatamente tal atitude recebe em resposta.
 
"O fato, que alguém vai espalhar tais estórias, não se pode evitar, - diz Gregório - Única maneira é ação contrária - falar sobre exemplos de vida diametralmente opostos. Peguem esta família jovem de Luhansk, ou outra - com oito filhos - da Crimeia. Cuidar dessas pessoas, em qualquer ocasião, é nossa obrigação. Isto nos torna únicos. Dizer que o nosso país é único, precisamos confirmar esta frase. E isso pode ser feito apenas por atos de solidariedade com aqueles que a necessitam. Sem ela, nossas palavras são vazias.

Tradução: O. Kowaltschuk

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