terça-feira, 26 de agosto de 2014

A incrível história. O deficiente de Donetsk diariamente evacua idosos e crianças.
Ukrainska Pravda (Verdade Ukrainiana), 07.08.2014
Marta Chorna

Em Donetsk vive Roma. Ele tem 35 anos e tem paralisia cerebral. Sente dificuldade para falar e para movimentar-se. Mas, apesar de suas deficiências ele se tornou um homem com habilidades especiais - ele evacua os moradores pacíficos da zona de combate.
Texto, sem comentários, aos rapazes que o encontraram:

"Aonde eu irei?
Eu nasci aqui. Eu amo Donetsk, esta é a minha família. Eu sou ukrainiano. Sim, claro, eu não quero que Donetsk se torne russo. E se ele se tornar russo - eu irei para Ukraina. Mas, por enquanto por que? Eu quero fazer algo bom. Certa vez perguntaram: precisa levar uma pessoa de Snizhne à Krasnoarmiysk, quem Pode? Eu me aproximei e disse: quero ir. Apenas não tenho dinheiro para gasolina. Já a duas semanas transporto pessoas.

Eu, com 35 anos de vida no Donbass não posso encontrar trabalho, porque sou deficiente. Durante o tempo normal eu, simplesmente, não estou ocupado. Mas, durante esta infeliz guerra descobriu-se - eu posso fazer algo. Eu não quero ir a nenhum lugar. Mas, ontem, me assustaram terrivelmente. 

Ontem estive em Shakhtarsk. Fui buscar um vovozinho. E lá me pegaram os bandidos da DNR (República Popular de Donetsk). Encostaram uma pistola na testa. E sua primeira pergunta tola: você é batista? Eu, em choque, disse que não.
Perguntei: por que batista? E eles disseram: "Estes são nossos principais inimigos jurados - eles são agentes dos Estados Unidos". Jogaram-me no meu carro e me levaram: dois na frente, eu atrás. Ameaçaram levar para ODA (Administração Estatal Regional). E atrás um ônibus cheio de crianças e vovozinhas. E bandidos dentro do ônibus - com pistolas. Eles, em minha opinião, fugiam de Shakhtarsk e precisavam de escudos humanos.

Eles levavam as vovozinhas - a Donetsk, sentadas ao seu lado no ônibus. E deste modo parecia que sozinhos fugiam para cá - eu não consegui pegar o vovozinho ontem. Pistola na testa. Eu disse: tenho medo. E um deles atirou para o céu e perguntou: e assim você tem medo?

O mais assustador foi quando cheguei a Pisok, e vinha pelos campos, porque em todos os lugares há placas - não deixam passar. Vejo - vem vovozinhas. Pergunto: como chegar a Pisok? Elas entraram em meu carro, e mostraram como contornar as minas. E depois disseram: pare aqui, continuaremos a pé. E eu fui andando. E vejo - minas e serpentinas em todos os lugares.

Eu encontrei uma vovozinha de 96 anos, em cuja casa o telhado está destroçado. Ela, sentada dentro da adega, com água até os joelhos. Quatro dias ela viveu na adega. Ela me telefonou uma semana. E três quilômetros até o meu carro fomos a pé. Em todo Pisok há foguetes no chão. Lá há guerra.

Somente agora eu compreendi, o que significa a expressão "pessoas atiradas" (pessoas que sofreram tiroteio). A elas já tanto faz. Quando eu transportei pessoas de Snizhne, no meu carro entraram 13 pessoas. Eu não entendo como. No início eram onze, mas disseram: ainda em Shakhtarsk precisa recolher duas pessoas. Eu disse: como?!

Chegamos a Shakhtarsk. Lá estavam dois vovozinhos. Dizem: nós caberemos. Eu pergunto: onde?! Já é impossível. Me afasto - eles choram. Eu voltei e eles entraram! Como - eu não sei.

Um deles tem registro de Lviv. Em cada ponto de controle verificam os passaportes. É um pesadelo!
Ele deitou sob os pés das mulheres, e não o encontraram. E eu os levei para Sloviansk. Eu penso, que não fui eu - é alguém lá em cima.

Na semana passada retirei uma moça do hospital infantil. Ela mal deu à luz a um bebê. Eu os levei para Kramatorsk e todas as estradas estavam bloqueadas. Um vovozinho retirou os pneumáticos e nós passamos. E, em seguida minas. A moça começou chorar, e chorou o resto do caminho, devido ao medo de explosão.

Pelos campos conseguimos chegar na via de Konstiantynivka. Duas horas tentamos, na saída de Donetsk, para chegar na rodovia. Yasynuvata bloqueada - não é possível. E quando chegamos a Kramatorsk, o pai da moça, com lágrimas - veio me abraçar .E eu não consigo nem imaginar. Por que? Eu sou apenas uma junta entre o volante e os pedais.

Aqui há um satanismo. É assustador. A quem eu sou necessário? E o meu amigo, que foi atrás de outro vovozinho, segundo dia procuram. Apreenderam em Shakhtarsk e não deixam ir. Exatamente como me apreenderam. Mas me dispensaram, e a ele não. Eu o procuro. Todos procuram e não sabem aonde ele está. Assustador. Eu poderia estar no lugar dele.

E você é de onde? Você não tem medo? Donetsk manchou de sangue toda Ukraina. Eu, me envergonho, porque sou de Donetsk. Porque aqui morrem pessoas. Eu tenho uma antena parabólica, e vejo muitas informações, e vejo que Rússia não desiste. É assustador.

E você precisa de abrigo? Aqui verificam a documentação. A apossam-se sem perguntas. Você não tem medo? Desculpe, por eu ser de Donetsk."

Tradução: O. Kowaltschuk

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