domingo, 3 de agosto de 2014


"Perdoe-me, mãe, mas precisamos lutar até a vitória."
Vysokyi Zamok (Castelo Alt0), 18.07.2014
Halyna Yarema

Disse o herói da Centena Celeste Andrii Korchak, quando foi ao Maidan pela última vez

Em memória do filho falecido a mãe fez este cantinho.
Em 18 de julho Andrii Korchak deveria completar 50 anos. Ele não viveu para atingir sua meia idade, faltaram cinco meses porque a bala cega de "kitushka" ou "berkutivtsia" atingiu-o na têmpora. Em 18 de fevereiro, ele entregou sua vida por uma Ukraina livre e torno-se herói da Centena Celeste. Seu nome nesta triste lista de mortos foi o sétimo.

Andrii, Yurii e Olga (da esquerda para direita) comemoram o aniversário da mãe. Andrii, comemorar o seu não conseguiu.
Quando, pela última vez Andrii foi para Kyiv não estava completamente bem de saúde. Tomou muita friagem nas idas anteriores. A mãe, Daria Yakivna também estava adoentada, pedia ao filho para ficar mais alguns dias em casa. Parece que o coração materno sentia, que desta vez Andrii já não voltaria...Pedia-implorava, porque exatamente naqueles dias, no Maidan em Kyiv estava seu filho mais velho Yurii. Mas Andrii não conseguia ficar em casa.

- Ele vivia Maidan, - suspira Daria. - Encheu-se lá tanto de espírito revolucionário, que era impossível detê-lo. "Perdoe-me mãe, mas preciso ir. Precisamos estar lá até a vitória. Tudo ficará bem", - estas foram as suas últimas palavras. Dois dias antes da tragédia Andrii me ligou e disse que George já viajou para casa, preocupava-se para que eu não ficasse sozinha na casa. Ele era um bom filho - conselheiro, apoiador, médico e dono de casa.

O filho argumentava, que em 18 de fevereiro haveria uma marcha pacífica ao Parlamento.

O filho mais velho, Yurii planejava, à noite, voltar para Kyiv. Várias vezes telefonou para Andrii, mas, de repente não houve sinal. "Abonente além da zona..." Discava seguidamente, mas o assinante continuava sem responder. Depois das 15:00 horas, uma voz estranha, que se apresentou como enfermeiro, respondeu: Seu assinante está sendo reanimado..." E depois de meia hora Yurii soube que sua família ficou órfã - Andrii já não existia.

No apartamento, onde morava Andrii Korchak com a mãe, tudo permaneceu como antes. No tapete penduraram uma pequena bandeira azul-amarela, que certa vez Andrii trouxe do Maidan e brincou: "Quando eu não estiver em casa - ela me substituirá". Assim ficou aquela bandeirinha, substituindo-o para sempre no quarto de sua mãe. Daria Yakivna, no quarto de Andrii não toca em nada. Mesmo aquela jaqueta, que seu filho usava no dia de sua morte, lavada em sangue, para sempre descansou no armário. Pesos, ferramentas de construção, porcas - tudo ficou como se o proprietário saísse de casa e já-já devesse voltar. Nas prateleiras há muitos livros, porque Andrii gostava de ler nos momentos livres. Embora momentos livres ele quase não tivesse, porque sempre estava disponível. Construíam a igreja - não era necessário chamá-lo. Prontificou-se para equipe de construção. Na Politécnica de Lviv recebeu o ofício de construtor. Quando aos outros pagavam pelo trabalho, - Andrii, como voluntário, não aceitou. Muitos con-cidadãos chamavam-no para construção de suas casas.Diziam, que até a precisão de milímetros somente podia fazer Andrii Korchak.

Andrii tinha um bom coração. Embora não tivesse filhos, todo o amor paterno transferiu a seus sobrinhos - Olenka e Bohdanko. "Era padrinho de Bohdanko, - enxuga as lágrimas sua irmã Olga. - Gostava da Ukraina com delírio e ensinava a meus filhos a serem dignos de seu país. Presenteava-os com livros de história, dizia: para amar o seu país, precisa conhecer sua história. Queria que Bohdan praticasse esportes.

Aos vizinhos do prédio era "varinha-mágica". Alguém precisava medir a pressão - chamava Andrii. Aplicar injeção? Pediam para Andrii. Pegou para sua proteção a velhinha solitária do terceiro andar. A mulher após AVC, quase não vê. Às sete horas da manhã, diariamente cozia mingau, levava a ela e ajudava em tudo como um filho.Quando Andrii morreu, a coitada repetidamente perguntava: por que ele não vem?

- Nós tivemos pena dela, - suspira Daria Yakivna. - Ela tem coração fraco. Dissemos que Andrii casou e mudou-se daqui. Então preocupou-se, se a esposa era uma boa pessoa e não podia acreditar que Andrii foi embora sem despedir-se dela. Precisamos dizer a verdade...

Andrii Korchak foi enterrado em uma camisa bordada, terno escuro e rosário na mão com o qual morreu. Ele parecia um noivo, bem vestido pela mãe, antes do casamento. Muitas pessoas vieram ao enterro.

Andrii também participou da Revolução Laranja - diz a mãe sofrida.

Decepcionou-se. Acreditava que o segundo Maidan venceria. Para um ou dois dias vinha para casa, então a nossa TV ficava ligada o dia todo. No dia seguinte já se inscrevia no ônibus para Kyiv. Dizia, "no sofá vitória não conseguiremos". Nós, com meu falecido esposo, éramos membros da jovem OUN (Organização dos Nacionalistas Ukrainianos). Meu pai, padre Yakiv Borovyk, também sofreu com o regime soviético e foi preso. Eu, estudante de medicina, já no primeiro ano fui mandada para campo de concentração bolchevique.

Eu fiquei detida por cinco anos, meu marido - dez. Apesar de dizer a meus filhos que fossem cuidadosos lá em Kyiv, minha alma sentia orgulho por eles. Eduquei verdadeiros patriotas.

Deus leva os melhores. Levou Andrii para eternidade. Na memória dos homens ele permanecerá para sempre, herói da Centena Celeste. Seu nome deram à rua que leva à escola em que ele estudou. Na fachada da escola colocaram uma placa em sua memória, e na sala de História os estudantes prepararam um mostruário dedicado ao "capataz" da centena de Strey (nome do local onde vivia) Andriy Korchak.

Tradução: O. Kowaltschuk

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