sábado, 30 de maio de 2015

A guerra que roubou a infância
Vysokyi Zamok (Castelo Alto), 30.05.2015
Vladyslava Polchyn

Moradora de Lviv, 76 anos, fala sobre a Segunda Guerra Mundial.


Anna Klymentiyna Albul, da aldeia Nova Skvaryava, da região de Zhovk, em criança viveu tempos difíceis. Segunda Guerra Mundial levou sua mãe, por um longo período também seu pai e a infância feliz.

- A guerra veio à aldeia quando eu tinha três anos, - lembra Anna. - Quando os alemães capturaram a região de Lviv em 1939, mamãe viajava até seu irmão, tio Stepan, que vivia na cidade de Lviv. Diretamente na estação de Lviv os alemães capturavam pessoas jovens e as levavam para Alemanha como força de trabalho. Fiquei eu com meu irmão mais velho que eu sete anos, e nosso pai. Mamãe, na Alemanha, trabalhava na fábrica. Aviões britânicos lançavam bombas e danificaram o encanamento. O alojamento foi inundado, e todas as pessoas morreram. Veio a notícia, que mamãe já não existia. Seus documentos sumiram...

- E que destino encontrou seu tio, que vivia em Lviv?

- Na rua em que ele morava, alguém matou um alemão. Os alemães trouxeram todos os homens na rua, formaram uma fileira e fuzilaram cada décimo. Décimo revelou-se também o tio Stepan. Ele deixou a esposa e três crianças. Logo, sua esposa foi levada para o campo de concentração na Polônia. O menino menor foi levado pela família sem filhos, os dois mais velhos foram para orfanato. Quando a esposa do tio voltou da Polônia, ela retirou as crianças do orfanato e seu filho menor dos vizinhos.

- Em 1942 a linha de frente passava através de Nova Skvaryava. Como sobreviveram este período?

- Então eu tinha 4 anos. Nós nos escondíamos nas caves e esperávamos, até as batalhas cessarem. Lembro, tudo queimava ao redor. Diretamente, acima de nós, queimou a despensa. Minha tia fechava os alçapões com grandes travesseiros, para que não sufocássemos. Nos estábulos, insuportavelmente, rugia o gado. Certa vez o avô saiu correndo direto sob as balas, para soltar a vaca e os cavalos. Ele teve a cabeça queimada, quando caía o telhado em chamas.

- Era preciso esconder-se no porão por longo tempo. Queríamos comer. Quando silenciava um pouco, no intervalo entre os disparos, a tia corria para casa e cozinhava mingau de painço. Quando os tiros cessavam de vez nós saíamos na rua e olhávamos para aldeia. Muitas casas foram queimadas, algumas ainda ardiam, mas a nossa, graças a Deus, ficou intacta. Enquanto nós olhávamos, a poucos quilômetros caía um avião em chamas. Eu era pequena e me parecia muito próximo. Desde então eu tive muito medo do som de avião. Se o ouvia, deitava no chão, tapava os ouvidos com as mãos e não me mexia até o avião voar para longe. Temia ser vista do avião e jogarem uma bomba. Isto não surpreendia pois meu primo foi morto por uma bomba. A menina da vizinha levou a vaca para pastar. E foi morta por uma bomba.

- O que aconteceu com o pai?

- Parecia que a guerra já havia terminado. Mas o pai recebeu uma intimação do distrito - devia aparecer nas forças armadas. O pai foi, deixou eu e meu irmão em casa. Lambro aquele frio de outono tardio. Papai não voltou. Descobriu-se, que ele foi colocado no vagão e levado para trabalhos forçados na Sibéria, na região de Kamerovo. Simplesmente assim, por nada, porque faltava mão de obra. O pai pediu para ser liberado por pelo menos um dia para pedir a alguém olhar as crianças. Não foi ouvido.

Nós dormimos naquela casa fria. Depois de alguns dias vieram os parentes. Aconselharam-se a quem entregar-nos. Em todas as famílias havia muitas crianças, os homens estavam na frente. Nos levou a irmã do papai. Tia Maria tinha três filhos e nós dois. Criava cinco crianças. Dormíamos sobre o forno (Era costume no inverno, na Ukraina. O forno ficava dentro da casa. Era quentinho. - OK), comíamos de uma panelinha - e assim vivíamos.
Papai voltou da Sibéria em 1946. Nós voltamos para nossa casa abandonada.

- Como era a vida no pós-guerra?

- Fria e faminta. Não havia o que vestir e o que calçar. Até a neve cair íamos a escola descalços. Quando chovia, o barro era quase até os joelhos. Chegando na escola o barro congelava nos pés, não se podia nem mover os dedos. No inverno cada um calçava o que podia. Os meninos costumavam calçar os sapatos de suas mães. Lembro quando me compraram duas botas de feltro. Verdade, cada pé de uma cor, mas calcei e fiquei, eram quentes. Depois as próprias pessoas costuravam, de tecido e lã, e sobre elas calçavam galochas.

- Sobre o que as crianças sonhavam no pós guerra?  

- Ter botas! Lembro como entrávamos no pântano até os joelhos, untávamos as pernas com terra preta - e isto era o tal "calçado". Como se fôssemos aristocráticas e tivéssemos botas. Mas na quarta série me costuraram o primeiro casaco. Quanta alegria! Tudo parecia bem, mas eu não queria um casaco, eu queria uma jaqueta. Não disse nada a ninguém, mas cortei o casaco e, supostamente, fiz uma jaqueta. 

Papai casou novamente quando voltou da Sibéria. A madrasta me tratava bem. Eu ia para escola limpa, minha roupa era bem passada. Mas os anos foram famintos. Madrasta assava um bolo salgado para eu comer na escola. Mas, enquanto  eu chegava, comia tudo e depois, sentia fome na escola.

***

Dia do bordado: bonitos jovens ukrainianos
Ukrainska Pravda (Verdade Ukrainiana), 21.05.2015

No dia 21 de maio, na Ukraina, distinguiu-se o Dia do Bordado.
Este feriado é destinado a preservar as tradições ancestrais de criação e uso de roupas etnicamente bordadas. A data é destacada - anualmente na terceira quinta-feira do mês de maio (dia de semana).
O feriado é original e auto-suficiente, não vinculado a nenhuma data estatal ou religiosa. Neste dia cada ukrainiano veste uma roupa bordado e vai com ela ao trabalho, à universidade, à escola.








   



Tradução: O. Kowaltschuk

Nenhum comentário:

Postar um comentário