Ukrainska Pravda Zhyttia (Verdade Ukrainiana Vida),27.05.2015
Alina Suhoniak
Em 24 de maio Ilya Lusenko (Hottabuch) escreveu em sua página no Facebook: "Hoje morreu um combatente. Inicialmente ele esteve gravemente ferido. Ele foi trazido ao local de evacuação, mas o velho carro destinado a evacuação, naquele momento estava avariado".
Ele poderia ter sido salvo, se viesse logo um transporte especializado "rápido" para transportar os gravemente feridos - "reanimobile."
Aqueles carros, de propriedade do Ministério da Defesa, chamar de "reanimobile" é difícil. São os corriqueiros UAZ-452. Eles não desenvolvem velocidade necessária e frequentemente quebram. Nas estradas que é preciso viajar a ATO quebram´se até os carros importados - o que falar sobre os soviéticos, que já têm 15 - 20 anos.
Durante um ano de guerra, os voluntários paramédicos conseguiram juntar o suficiente para equipar o comando de voluntários. Mas agora, devido à falta de fundos para diesel, alimentação e produtos básicos de primeira necessidade para os militares, alguns destes carros estão na Estação de Serviços.
Entregá-los para Armamento das Forças da Ukraina e Ministério da Defesa não se encorajam; esperam que as filantrópicas doações serão renovadas, e a rede "rápidos" dos voluntários na zona ATO voltará funcionar em pleno vigor (A situação está ficando difícil, a inflação cresce mas os salários continuam os mesmos. Queixas nos jornais, pipocam diariamente -OK) Afinal, a rede de voluntários paramédicos revelou-se mais eficaz que o Estado.
Aquele que salva.
Com um dos médicos voluntários, Yuri Bondar, apelido Shaman, eu estive duas vezes na zona ATO. Primeira vez em Debaltseve e Artemivsk, em dezembro de 2014, num período relativamente tranqüilo. Segunda vez em meados de janeiro, quando nossas forças deixavam o Aeroporto de Donetsk, e foi preciso retirar mais de 20 feridos por dia.
Yuri tem um pouco mais de trinta, sua magreza - assunto de piadas frequentes na zona da ATO. Já por um ano ele pode ser encontrado nos postos mais quentes da Ukraina. Durante este tempo, esteve em sua casa por no máximo dois meses, em diversos períodos de poucos dias.
Mas mesmo em casa, a ele constantemente telefonam, em todos os postos de controle, na primeira linha do telefone está o número de Shaman, porque lá todos sabem: ele - é aquele, que salvará e retirará.
Foto FB |
A coordenação à retirada de feridos no Ministério da Defesa manca muito" - diz o companheiro de Shaman, cirurgião de Kyiv, Vadim. Ele, voluntariamente, se alistou como reservista em julho do ano passado e, no início, foi para o batalhão Kulczycki, mas de lá transferiu-se para rota médica Pyrohov.
Na ATO há grandes problemas com a rapidez na evacuação de combatentes feridos. Em primeiro lugar, para isto, não há suficientes veículos blindados, para transporte, para recolher os feridos diretamente, durante a batalha.
Em segundo lugar, a "máquina burocrática " militar trabalha de forma ineficiente. O sistema é fragmentado. No centro de coordenação está ausente a coordenação entre os batalhões e as "rápidas". Então, na rota médica, sobre feridos, por vezes sabia com atraso. E, ainda há momentos burocráticos. Por exemplo, onde há intensa batalha, há apenas uma ambulância, e no setor "tranquilo" - cinco. E, para enviar reforços para outra área da frente, precisa pedir permissão.
E foi durante uma daquelas situações que eu me encontrei no "reanimobile" com Shaman. Ele dirige o carro, e eu dou ajuda, estabilizo o combatente, faço tudo para levá-lo vivo até o hospital e com perdas mínimas para sua saúde.
Lá onde lidam com evacuação de feridos as Forças Armadas da Ukraina e Ministério da Defesa, Yuri não permanece", - diz Vadim. Agora ele retornou ao trabalho no hospital de Kyiv. Mas, durante sua licença pretende voltar a ATO para ajudar Shaman.
O próprio Yuri é de Lviv. Ele começou o voluntariado no Maidan. Depois, ainda na primavera do ano passado, viu que seus conhecidos colocavam algo no ônibus - eram membros da organização "Escravos não são admitidos no paraíso". "Eu não sou daqueles que ficam de lado e fingem que nada está acontecendo", - diz Shaman. Desde então, ele foi para a frente. Mas armas em suas mãos decidiu não pegar - e ser motorista do rápido.
"Por que você não quer entrar nas Forças da Ukraina ou no Ministério da Defesa?" - pergunto a Yuri. - "Porque isto vai amarrar minhas mãos, eu não posso fazer o que eu considero necessário, e estar lá, onde eu trago mais benefício", - respondeu ele.
Com voluntária Olga Bashey (esquerda) Foto FB |
Shaman uma pessoa muito franca. Nenhuma subordinação conseguirá segurá-lo se ele quiser expor sua opinião. Em seu trabalho, se é que você pode chamar assim o risco, quase diário, de sua vida, nada mudou. Ele desloca-se aos locais de batalhas mais quentes, e retira os feridos. Apenas agora - conta separada e relatórios individuais no
Facebook. Sozinho precisa recolher recursos para o diesel, alimentos. Os medicamentos geralmente trazem outros voluntários.
Agora Yuri em Avdiivka, de onde envia suas constantes "reportagens".Ajuda não somente aos militares, mas também aos civis. Em 14 de maio, em Avdiivka, devido ao bombardeio da cidade pelos separatistas, uma criança foi ferida seriamente. O médico pediu para levá-la ao hospital em Dmytrove ao Shaman.
"Aqui não têm medo somente os idiotas".
Normalmente as pessoas não gostam viajar pelas estradas perigosas que são submetidas a constantes tiroteios. À mesma Avdiivka nem a missão da OSCE conseguiu chegar em 24 de maio. Sua segurança não deu passagem aos observadores e eles estacionaram a 20 km, em Ocheretiano.
E isto alguém deve fazer. E, por isso Chaman - na zona da ATO. Ele é daqueles, que não teme estar na !frente"
Embora "não teme" - não é a palavra certa.
Quando nós estávamos sob o fogo em Vodiano e esperávamos os feridos do aeroporto, pessoalmente, eu estava com muito medo. Eu falei sobre isto a Yuri, esperava ouvir consolação, na expectativa dele dizer, que nesta casa nós estávamos em segurança, porque os combatentes guardam o perímetro, ou nós ouviremos, que "Grad" aproxima-se e conseguiremos esconder-nos. Mas ele respondeu: Aqui não têm medo apenas os idiotas."
E nos meses mais quentes, viajar atrás de feridos é sempre muito perigoso. Porque na vegetação é sempre fácil se esconderem grupos subversivos, franco-atiradores.
Sobre Shaman dizem, que é uma pessoa, que pode chegar casualmente, até os separatistas, como se nada tivesse acontecido, pedir um cigarro, entrar no carro e afastar-se rapidamente - enquanto eles não compreenderem, o que aconteceu.
Embora a coragem de Shaman seja legendária, do próprio Yuri você não ouvirá nada sobre suas "histórias heroicas". Portanto pegunto ao Vadim. Acontecia que, equivocadamente, o chamavam antes do final da batalha. Ele vinha e se via dentro do tiroteio. Os estilhaços afetavam seu carro branco-vermelho.
"Frequentes eram as situações, quando as equipes voluntárias evacuavam a maior parte de feridos de Pisky e Vodiany. Ele, ao contrário de soldados e médicos, nem status de participante de ações militares tem. Ele está lá, porque decidiu, que lá ele é necessário. E, sem estatuto oficial faz mais trabalho, do que aqueles, para os quais, é dever", - diz Vadim.
Eu estava presente, quando ele e uma equipe de paramédicos do "Setor da Direita" retiravam os feridos do DAP (Aeroporto de Donetsk), capturado em janeiro de 2015 pelos assim chamados "DNR" e "FSC".
Ele estava num ponto quente quando retiravam os feridos de Debaltseve, durante a realização da "operação profissional", mas na verdade - uma confusa retirada de nossas tropas, às pressas. Na ocasião ele despediu-se dos colegas da rota médica. Eles morreram quando iam retirar os feridos.
Voluntário com o filho. - Foto FB |
Sobre Debaltseve recordamos já em abril, em um dos bares no Maidan (Praça da Independência). Yuri - com amigo Vadim e lutador da Guarda Nacional Alex. Alex conta, que então, durante o assalto, antes de deixar Debaltseve, eles se depararam com um soldado com um transtorno mental grave. Provavelmente, se livraram dele em alguma unidade - durante tal operação é um fardo para todos. O grupo de Alex levou-o consigo para o subsolo. Lá precisavam cuidá-lo como a uma criança - mas grande, forte e agressiva. Finalmente precisaram amarrá-lo. Porque, para silenciá-lo cinco não podiam dormir.
Lembra uma história relativamente engraçada, porque o humor na frente - geralmente é negro. Shaman levava os corpos da "carga 200", quando de repente ouviu um forte grito. Um dos combatentes acordou - coberto entre mortos. Pensaram, que ele morreu, mas ele voltou a si... naquele inferno.
Eis ela - uma guerra ordinária...
Família de Yuri Bondar - Foto FB |
Por mais de um ano passado na zona ATO, Shaman viu muito: viu a "trégua", e fases ativas, as grandes perdas no Aeroporto de Donetsk e Debaltseve, e, após a derrota do Posto 31 recolhia os restos dos soldados num saco.
Durante este tempo, nos diários de Shaman, onde ele anota, que, de onde e quando transportou - já há mais de 500 anotações.
Cadernos de papelaria comuns. Nomes comuns de ukrainianos comuns.
Nomes daqueles que conseguiu salvar, nomes daqueles que morreram defendendo a integridade do Estado.
Nomes comuns de ukrainianos que tornaram-se vítimas desta guerra.
Atualmente, a ajuda financeira a todos os voluntários e ao exército do povo da Ukraina diminuiu significativamente.
As "rápidas" do Ministério da Defesa, pouco a pouco passam para os "reanimobiles" dos médicos voluntários. Eles não podem nem manter uma velocidade normal, para mencionar, a presença neles do necessário tratamento de ferimentos graves. Então, na primeira necessidade na linha mais quente, como em todo o ano passado, a esperança é nos "reanimobiles" dos voluntários.
Tradução: O. Kowaltschuk
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