terça-feira, 19 de maio de 2015

Como gado eram expulsos de suas casas...
Vysokyi Zamok (Castelo Alto), 18.05.2015
Oryssia Khomiak

A 71 anos, em 18 de maio de 1944, os tártaros crimeanos foram deportados.


Na primavera de 1944, o governo soviético na Criméia recorreu a repressão em massa contra a população. Ao número dos "não confiáveis"entraram os cidadãos reprimidos anteriormente por razões políticas, bem como os representantes dos "povos desleais", aos quais incluíram os tártaros da Criméia... As verdadeiras razões para deportação de tártaros da Criméia, os historiadores consideram a guerra potencial com a Turquia, uma vingança banal pela rejeição do poder soviético e até mesmo um plano de criação na Criméia de uma autonomia judaica.

Em 13.04.1944 foi assinado um decreto conjunto do comissário de Assuntos internos da União Soviética, Beria, e comissário de Segurança do Estado da União Soviética Merculov: "Sobre medidas em relação a limpeza do território da República Autônoma, Social, Soviética da Criméia, de elementos anti-soviéticos". Tratava-se, principalmente, dos tátaros da Criméia, acusados de "traição à pátria" e "colaboração com os ocupantes alemães". Para execução desta tarefa à Criméia vieram cinco mil agentes da NKVD e NKGB  (Comissariado do Povo de Segurança do Estado da URSS). A operação secreta envolveu 20.000 soldados e oficiais das tropas internas da NKVD. Segundo dados oficiais das tropas internas da NKVD - NKGB, de 10 a 27 de abril foram presos 49 membros de comissões muçulmanos criadas pelos tártaros da Criméia durante a guerra, encontradas mais de 5.000 pessoas de "mentalidade anti-soviética".
Em meados de maio, seu número cresceu para mais de 8 mil.

"A imaginada cooperação de tártaros da Criméia com os alemães foi apresentada como razão oficial para deportação - disse ao Castelo Alto, o historiador, professor associado de História Moderna de países estrangeiros da Universidade Nacional de Lviv "Ivan Franko", Andrew Kozytskyi, - Naturalmente, havia outras.  Uma delas podia ser a preparação para a guerra contra Turquia. A União Soviética após a Segunda Guerra Mundial tinha a intenção de ocupar certos territórios, que no início do século XX foram perdidos pela Rússia czarista a favor dos turcos. Nestes territórios a URSS queria criar bases militares no estreito de Bósforo e Dardanelos. Os tártaros da Criméia etnicamente são próximos aos turcos. Em 1945, no Cáucaso, dos territórios adjacentes à fronteira turca, foram despejados todos os muçulmanos... Segundo outra versão da deportação que, no entanto, deve ser interpretada com cuidado, pode ser uma grande provocação relacionada com o desejo de receber financiamento de industriais judeus, dos Estados Unidos. 
Em 1943-1944 existia um plano de grande ajuda financeira para reconstrução da economia nacional da URSS em troca da criação de autonomia judaica na Criméia. É difícil dizer, se Stalin realmente tinha a intenção de criar uma autonomia judaica na Criméia. Talvez isto fosse apenas um jogo. Em algum momento os judeus americanos compreenderam, que eram conduzidos pelo nariz, e se recusaram a empréstimos à URSS. Mais um motivo para deportação poderia ter sido uma vingança banal. Os tártaros da Criméia sempre tiveram alto grau de sentimentos anti-soviéticos.

Um memorando em nome de Beria, de 7 de maio de 1944 relatava: "Trabalhos preparatórios sobre a extradição podemos terminar em 18 - 20 de maio, e toda a operação - até 25 de maio". 
O Comissário de Assuntos Internos, em 10 de maio de 1944 informava a Stalin:  "Dadas as ações traiçoeiras de tártaros da Criméia contra o povo soviético e com base na inconveniência de prolongamento de estadia dos tártaros da Criméia nos arredores de fronteira da União Soviética, NKVD da União Soviética submete à sua consideração o projeto da decisão sobre expulsão de todos os tártaros do território da Criméia. Consideramos oportuno alojar os tártaros crimeanos como colonos especiais em zonas da República do Uzbequistão para aproveitamento nos trabalhos agrícolas - nas fazendas coletivas, na indústria e na construção".

Em 11 de maio de 1944 o Comitê de Defesa da URSS aprovou a resolução sobre a transferência dos tártaros crimeanos , da Criméia para a República do Uzbequistão. A razão para a expulsão indicava o documento:  "Durante a Segunda Guerra Mundial muitos tártaros traíram a Pátria, desertavam do Exército Vermelho que defendia a Criméia, passavam para o lado do inimigo".

A operação da "retirada dos tártaros" da Criméia começou na manhã de 18 de maio. Foram transferidos 180 mil pessoas. Durante três dias, os órgãos punitivos enviaram da península mais de 70 trens, com 50 vagões abarrotados de migrantes...

De acordo com os pesquisadores, as perdas humanas durante o transporte para o leste, foram responsáveis por sete mil pessoas. Como observado no informe da República de Uzbequistão, em 1944 entre os migrantes especiais morreram mais de 16 mil pessoas, e em 1945 - mais de 13 mil do número total de deportados... Considerável parte dos tártaros crimeanos trabalhavam nas minas, fábricas e construções. Maioria deles não tinha condições básicas de vida e trabalho. O deslocamento forçado da nação tártara era acompanhado de pilhagem - confiscaram todos os bens das pessoas. A cada família permitiram levar apenas os itens pessoas, roupas, utensílios de cozinha e alimentos. Em resultado da deportação apreenderam mais de 80 mil casas, mais de 34 mil construções adjacentes, aproximadamente 500 mil cabeças de gado e todas as reservas de alimentos. Fecharam as mesquitas em Eupatoria, Bakhchisarai, Sevastopol, Feodócia e em muitas aldeias..." Os tártaros crimeanos depois da transferência para o novo lugar de residência não tinham possibilidade de reproduzir a própria cultura , tradições, - continuou a conversa Andrew Kozytskyi.
No novo local os tártaros crimeanos não puderam dar aos filhos a possibilidade de receber educação em sua língua nativa. Se ensinavam o idioma - então, unicamente, em casa.

Imediatamente, após a expulsão dos "elementos anti-soviéticos" da península começou a liquidação de tudo, o que lembrava os grupos étnicos, que já habitaram Criméia. De acordo com o decreto do Presidium do Soviete Supremo da República Socialista Federativa Soviética da Rússia foram renomeados distritos e centros distritais.

À península chegaram migrantes da Ukraina, Voronezh, Bryansk, Tambov e Rostov - mais de 17 mil famílias...

O regime de assentamento especial para os povos reprimidos da Criméia foi abolido somente com o decreto do Presidium do Soviete Supremo da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) de 27 .03.1956 (para gregos, búlgaros e armênios da Criméia) e em 28 de abril de 1956 para os tártaros da Criméia. Este documento, apesar de prever a liberação da supervisão administrativa para migrantes especiais da Criméia, privava-os de seu direito à compensação pelos bens perdidos durante a deportação e proibia a volta à seus locais de residência. Esta proibição esteve em vigor até 1974 e, de fato, até 1989.

***
Em 20 de março de 2014 o Parlamento ukrainiano aprovou a resolução Nº 1140-18 "Sobre... garantias da nação tártara da Criméia na composição do Estado ukrainiano", com a qual reconhece os tártaros crimeanos como nação aborígene da Ukraina e garante seu direito à auto-determinação na composição da Ukraina.

Eventos comemorativos para marcar o 71° aniversário da deportação dos tártaros da Criméia realizaram-se na Ukraina.

Conforme relata Ukrinform (Notícias da Ukraina e mundo), as autoridades de ocupação (atual) na
Criméia proibiram a Mejlis da Criméia, em Simferopol, a reunião de luto dedicado ao 71º aniversário da deportação dos tártaros da Criméia.
(Mejlis - órgão análogo ao Parlamento nos países árabes e islâmicos -OK).

Tradução: O. Kowaltschuk


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