quinta-feira, 21 de maio de 2015

Setenta anos de solidão
Ukrainska Pravda (Verdade Ukrainiana), 07.05.2015
Michael Dubynyanskyi


Os anos 2014 - 2015 nos deram um maravilhoso paradoxo histórico. 
Quanto mais próxima a septuagésima vitória sobre Hitler, e quanto mais fantástico o culto da vitória na vizinha Rússia, mais entusiasticamente a comparam com a Alemanha nazista, e o presidente Putin - com o endemoninhado führer.

Os paralelos são realmente verdadeiros - em todo caso, na política externa. Aqui você tem o "Anschluss"(Política de ocupação da Áustria pela Alemanha, conduzida pelo imperialismo alemão após a 1ª Guerra Mundial - OK) austríaco e a anexação dos Sudetos, e demonstrativos referendos, e filmes propagandistas sobre o retorno de terras ancestrais de origem alemã. Bem como as linhas de Remarque dedicadas à imprensa nazista, parecem muito atuais: "Os principais jornais eram terríveis - mentirosos, sanguinários, arrogantes. O mundo inteiro além da Alemanha representava-se degenerativo, estúpido, burro, traiçoeiro. Parecia, que ao mundo nada mais restava, que ser conquistado pela Alemanha".

Será que isto é suficiente, para considerar Vladimir Vladimirovych como Hitler em nossos dias? Mas analogias históricas - coisa enganosa, embora atraente. E antes de colocar a Rússia de Putin em pé de igualdade com o Terceiro Reich, é necessário considerar um fato importante.

Em 1930 - 1940, Adolf Hitler foi o principal, mas não único conquistador revanchista. O sistema de Versailles não satisfazia a muitos, e cada um tinha seu próprio "Krymnash" (A Criméia é nossa - OK). - Por exemplo, a Itália fascista considerava "nossa" toda a bacia Mediterrânea (simplesmente - "mare nostrum"), apoderava-se da Abissínia, anexava Albânia e invadiu a Grécia.

O militarizado Japão ainda antes da chegada de Hitler ao poder mandava pessoas polidas à Mandchúria e Xangai, mas depois disparou com toda a gravidade. A União Soviética dividia com os nazistas a Polônia, aterrorizava Finlândia, anexou os Estados Bálticos, anexava Bessarábia e Bucovina. Os satélites hitleristas contentavam-se com migalhas da mesa senhorial: Romênia ocupou as terras entre o Dniester e Bug, Hungria - Transcarphatia e Vojvodina, Bulgária - norte da Grécia e Macedônia.

Mesmo os pobres poloneses, que caíram vítimas do agressor, um pouco antes participaram da divisão da Checoslováquia e recuperaram a região de Ciezyn. A absorção de território estrangeiro não era considerada flagrante - cada um acreditava sinceramente que apenas restabelecia a justiça histórica.
Em outras palavras, Adolf Hitler era um produto típico de sua época - o mais cruel dos incontáveis grandes e pequenos rapinantes, o mais violento paciente na enfermaria mundial Nº 6.

Ao contrário, Vladimir Vladimirovich - único em sua geração. Ele permanece em orgulhoso isolamento. 
Ninguém apoiou sua aventura ukrainiana, ninguém planeja reconhecer a anexação da Criméia. Da política externa da Federação Russa prudentemente distancia-se até Lukashenko (Bielorrússia) com Nazarbayev (Cazaquistão). Potenciais "aliados", que a diplomacia russa procura no mundo todo, no melhor dos casos observam neutralidade. Porque atualmente, nenhum jogador sério, exceto Moscou, não está interessado na destruição da ordem estabelecida. Se comparamos Putin com Hitler, então, diante de nós o Fürer, que passou 70 anos em anabiose e após acordar descobriu, que com a paz acontece algo errado.

Trabalhar decididamente não há com quem. Próximo não se avista nem o vetusto Benito, nem Stalin com Molotov, nem belicosos japoneses, nem mesmo o empobrecido Antonescu, que sonha com uma grande Romênia. Além disso, até agora não se conseguiu encontrar os verdadeiros Chamberlan e Daladier, que reconheceriam oficialmente, que o Tribunal... oh, Criméia - nossa. Ninguém percebe, como é magnífico redesenhar o mapa político da Europa e anexar terras estrangeiras. Uma anexação ordinária provoca nos lideres estrangeiros uma resposta.

Que diabos aconteceu com a política mundial?

Mas aconteceu o seguinte. Durante os 70 anos, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a humanidade deu um grande passo para frente. Ela aprendeu nos próprios erros e evoluiu. Ela tornou-se mais sábia e mais humana. 

As pessoas civilizadas convenceram-se, que anexar territórios alheios - é perigoso e prejudicial. Cuspir no direito internacional - é sem perspectivas. Unir-se ao agressor na esperança de lucrar com sua presa - é estúpido. Valorizar a força bruta, mas não a previsibilidade e a capacidade de acordos - irracional.

O mundo aprendeu e mudou, mas Rússia - infelizmente, não. Ela encalhou nos anos quarenta do século passado, na era do tio Adolf e beligerantes avôs. Setenta anos se passaram em vão para a sociedade russa: ao contrário de outros participantes da guerra, nosso vizinho extraiu da máquina de moer carne de 1939 - 1945 não aquelas lições. O mais demente fragmento do século vinte tornou-se o período mais belo, mais virtuoso, mais nobre.

O culto semi-religioso da Grande Vitória construído, de modo algum na tristeza, mágoa, mas na admiração pela antiga glória. Daqui o tilintar de armas enferrujadas, prontidão para ignorar a realidade atual e o mal para a comunidade mundial viver segundo as leis de 1940.

A Rússia atual não é perigosa com tanques e "Grad", mas seu singular arcaísmo, seu desejo de voltar o mundo ao passado. Ela lembra o Neanderthal com um porrete, que adentrou à moderna metrópole e ataca o moderno despreocupado.

Mas o que o pobre rapaz moderno, confrontado com a ameaça, poderá fazer? Como vencer o recém-chegado da escuridão dos séculos? Pode-se zombar de seu atraso e exibir seu próprio avanço, mas na luta com Neanderthal iPone e ipad não ajudarão. Para repelir a visita inesperada, não convidada, precisará descartar o brilho civilizatório, pegar em mãos algo pesado e lutar com o agressivo gigante. E, no meio da luta parecerá, que entre os que lutam não há nenhuma diferença. Mas a diferença existe: no caso da vitória do homem moderno, ele poderá voltar para o seu iPone e ipad. Mas, se vencer o Neanderthal, não haverá nada ao redor, além de querida ao seu lado Idade da Pedra.

Algo semelhante ocorre na sociedade ukrainiana. Infelizmente, os queridos russos já obrigaram Ukraina a jogar pelas suas regras. Junto com Rússia, nós mergulhamos no passado distante.

Eles nos chamam "fascistas" - nós comparamos o seu presidente com Hitler.

Eles acenam com as fitas de St. George - nós consideramos o conflito russo-ukrainiano como Guerra Patriótica.

Eles retiram da venda soldadinhos com uniforme alemão - nós proibimos os símbolos comunistas.

Assim Ukraina realmente vive no paradigma soviético de 1940: "Tudo para frente, tudo para vitória!"
"Não daremos ao inimigo nem uma polegada de terra natal!", "Nossa causa é justa, nós venceremos!"

Mas, se a pressão do Kremlin conseguirmos repelir, nós temos chance voltar para o século XXI. Mas, se prevalecer o vizinho do norte, então retorno não haverá. Porque  na Rússia realmente gostam viver no passado. Porque nos anos quarenta era legal.

Porque os avôs lutaram e durante os 70 anos, seus descendentes não aprenderam nada diferente.

Tradução: O. Kowaltschuk

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