quarta-feira, 19 de março de 2014

Problema dos tártaros da Criméia - uma história de pessoas reais.

Ukrainska Pravda - Zhettia (Verdade Ukrainiana - Vida), 18.03.2014
Marichka Paplauskayte, jornalista


"Daqui nós não iremos a nenhum lugar. Nós demoramos muito para voltar para cá" - disse-me em uma conversa telefônica minha conhecida tártara da Criméia no dia seguinte após o chamado "referendo". Tais palavras nos dias de hoje podem ser ouvidas, talvez, de cada tártaro na Criméia. Nelas não há nada de exclusivo, em compensação neles está reunida toda dor desta nação.

Nós nos conhecemos há 6 anos. Cheguei com uma amiga para um fim de semana junto ao mar. A aldeia escolhemos quase cegamente - "Sonhichnohirske" (algo como "morros banhados pelo sol" - OK) - pelo bonito nome e esperança de praias acessíveis e livres. Por um bom tempo procuramos uma acomodação - não havia vagas disponíveis. Caminhávamos lentamente pela quente rua central. A esperança reduzia-se na última casa - além dela terreno baldio e montanhas ao longe. Lugar não havia, mas o proprietário, simpático tio Mike, prometeu ajudar.

- Ulia, é possível você acomodar as moças para duas noites? - e ele, em alguns minutos, já negociava por nós com sua parente, proprietária da casa vizinha, escondida na profundeza da rua lateral.

E Ulniara nos aceitou. No sentido literal, porque dormimos em um dos dois quartos. Ela com o marido e dois filhos adultos, apertava-se no outro.

Então num pequeno terreno havia apenas uma casa inacabada e três quartos separados para turistas. Banheiro e cozinha improvisados na rua. Nenhuma árvore ou arbusto. Este foi o primeiro ano desta família depois da volta de Uzbequistão.

E para nós foi uma viagem de estudantes. Comíamos verduras e mivina (?). Salvava-nos novamente Ulniara - deixando panquecas para o pequeno almoço, oferecia deliciosos pratos orientais.

Ao longo desses três dias Ulia, e seu calado, mas bom marido Emir, simpática filha Elizara e terrivelmente amigável filho Rustin tornaram-se uma família. Quando nós despedíamos, queria muito abraçá-los. Impediu tio Misha, que no último momento trouxe-nos para viagem um saquinho cheio de figos frescos de seu próprio quintal.

Eu voltei lá. Já no ano seguinte havia 8 quartos para hóspedes. Em separado havia uma cozinha independente. Mais um ano e este mini-pensionato mergulhava na vegetação e flores.

Tudo a família fez com suas mãos. Sem qualquer ajuda externa. Fizeram isto depois que Emir foi forçado vir 7-8 vezes buscar os direitos deste, então, pedaço nu de terra.

- Tanto meus, como os pais dele, em 1944 foram deportados. Meu pai contava, que nos dias da deportação ele, com outros homens da aldeia foram levados para uma construção em Kuibyshev. Voltar de lá não havia para onde. Procurava parentes já em Uzbequistão, - conta-me Ulia agora.

Os deportados por um longo tempo não podiam encontrar um lugar em país estrangeiro. O pai de Ulniara sozinho construiu sete casas, para si e familiares. Porque havia desabamentos das montanhas, ou outra coisa - eram forçados a muitas mudanças.

 - Nós sempre vivemos muito pobres. Apenas após meu casamento, começamos, eu e meu marido, nos erguer.
Eu trabalhei como educadora no jardim de infância, - ouço a voz calma e suave da Ulia no telefone e imagino quão boa ela, com certeza, era como educadora. - Depois fui obrigada vender roupas na feira. Eu ficava muito envergonhada - sempre me escondia quando via minhas crianças do jardim de infância. Meu marido serviu no Afeganistão, depois trabalhou na mina. Nós, mesmo quando começamos ganhar um pouco, não gastávamos - poupávamos para voltar para nossa pátria e construir nossa casa aqui.

Para todas minhas perguntas, como planejavam viver nas novas realidades políticas, Ulia diz apenas "não sei". E repete este terrível "não sei" várias vezes durante a conversa.
 
- Será que nossos filhos vão sofrer como nós? - pergunta ela.

Eu não tenho resposta. Mas eu sei o que eu gostaria de responder-lhe.

Nos últimos dias muitos reclamaram, que Ukraina durante 20 anos nada fez pela Criméia. Isto é absurdo porque, do mesmo modo pode-se dizer, que Ukraina nada fez por Lviv, Mykolaiv. Bom é lá, onde as pessoas sozinhas constroem suas vidas. Assim é na Criméia - os melhores locais turísticos foram criados pelas mãos trabalhadoras dos tártaros da Criméia. Mas, exatamente agora Ukraina deveria fazer algo especial pela Criméia - protegê-la.

País, que durante três meses, com suor e sangue lutou pelos direitos humanos, liberdade e justiça, agora simplesmente observa enquanto lhe, descaradamente, arrancam parte do território. E se fosse apenas território. Mas lá vivem pessoas - não algumas pessoas abstratas, mas bastante específicas, como Ulia e sua família. Pessoas, que depositavam e ainda depositam esperanças no país, que lhes deu uma chance depois de tantos anos de sofrimento, finalmente encontrar sua casa.

A aversiva de hoje pomposa assinatura do "acordo" da entrada da Criméia à composição da Federação Russa aproxima ao pensamento, ao qual, até agora, não queríamos acreditar. - que Criméia nós perdemos. O que, neste caso espera pelos tártaros da Criméia, não é difícil imaginar - já aparecem declarações das autoridades pró-Kremlin, que as terras deles devem ser tomadas.

É assustador por eles. Este, não muito numeroso, mas tão espiritual povo tornou-se refém do grande jogo geopolítico.

É vergonhoso para Ukraina, que deixou os seus cidadãos - tártaros da Criméia - a sós com seus ocupantes.

Nós devemos defender Criméia. E, apesar da cara arrogante e presunçosa dos invasores russos, ainda tenho esperança, de que ainda não é tarde. O principal é, finalmente, começar agir.
(A Ukraina é um país pequeno e não tem condições de enfrentar a gigante e poderosa Rússia para defender Criméia. Não terá condições nem para defender a si própria, sem ajuda do Ocidente, caso Rússia resolva ocupá---lo. Esta é a dura realidade. - OK).

Tradução: Oksana Kowaltschuk

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