quinta-feira, 27 de março de 2014


"Loucura" pragmática de Putin. O aspecto econômico da captura da Criméia.

Tyzhden (Semana), 25.03.2014
Liúbomyr Shavaliúk

A crise da Criméia fortaleceu firmemente na mídia ukrainiana e internacional a imagem do líder de Kremlin como esquizofrênico com complexo imperial. Mas esta imagem superficial está longe dos verdadeiros motivos da agressão russa.


Em 3 de março depois de uma conversa com Putin, Merkel disse a Obama, que o presidente da Rússia "vive um mundo diferente" e que ela não está certa, se ele "mantem contato com a realidade". Isso não era esperado da chanceler alemã, que sempre se refere ao senhor de Kremlin com benevolência e compreensão, recorrendo sempre a truques diplomáticos, quando ele comete provocações, mesmo a nível da União Européia. Desde então aqui vamos nós: Putin é tal e qual, ele é chamado "Putler", penduram sobre a psique desse político tudo o que acontece na Criméia, tornando-o grande, o que realmente ele não é. Jornalistas lembram desfiles de Hitler, propaganda de Goebbels, etc...

Tal abordagem não é infundada. Mas inteiramente atribuir as ações dos dirigentes de Kremlin como estupidez ou complexos pessoais é  pouco perspicaz e errado, porque pode-se perder motivos profundos da anexação da Criméia. E há uma série delas, porque os diversos passos da geopolítica sempre são feitos na base de complexa análise e comparação dos efeitos positivos e negativos. Assim é agora.

Nos primeiros dias da crise da Criméia Yevhen Marchuk num de seus programas disse, que com a desestabilização da situação na península Moscou quer criar um eixo de Transnístria - Criméia - Abkhazia (e Ossétia do Sul), que seria uma zona de pára-choque entre Rússia e OTAN no sul.

Na ocasião isto soou estranho, porque parecia que a agressão russa acelerará o movimento da Ukraina para o lada da OTAN e, portanto, a presença da referida zona perderá o sentido. Agora está claro, que o general Marchuk em algo, tinha razão.

Observemos: no Mar Negro tem enormes depósitos de hidrocarbonetos. Pela avaliação de especialistas, as reservas locais de gás natural respondem por 45-75 trilhões de m³, a maioria dos quais encontra-se na zona econômica da Ukraina, pelo menos assim era antes da anexação da Criméia. Essas reservas de gás natural são comparáveis com todas as reservas da Rússia (48 trilhões de m³), que atualmente é o maior exportador de gás no mundo e regularmente abusa de sua posição monopolista. A perspectiva de desenvolvimento em massa dos depósitos do Mar Negro era bastante próxima: tratava-se de alguns anos por causa de dificuldades, mas agora já existe tecnologia especial para eliminação do metano e perfuração em águas profundas.

Se acrescentar a isso 7 - 22 trilhões de m³ de depósitos de gás de xisto encontrados na Ukraina continental, o potencial da produção de metano da camada de carvão (6,8 bilhões de m³ por ano), então o quadro torna-se totalmente completo. Porque o total de reservas ukrainianas de gás natural será suficiente para nós por mil anos, mesmo se o consumo da energia permanecer nos níveis atuais, de 3 - 5 vezes maior do que em países desenvolvidos. Usando a tecnologia disponível na íntegra, Ukraina pode assegurar mais uma revolução, de energia global, que terá uma série de consequências de longo alcance. Primeiro, nós não apenas asseguramos a própria independência energética, como  nos tornamos um jogador global no mercado de hidrocarbonetos. Segundo, o preço do gás cairá em resultado do surgimento da concorrência, do cujo déficit sofre, principalmente, o mercado europeu. Terceiro, o monopólio de petróleo e gás da Rússia desaparece e Kremlin não poderá impor suas condições políticas não apenas para Ukraina: ele não terá recursos para continuar sendo um jogador geopolítico global. Quarto, empresas de petróleo e gás que são a base do poder dos oligarcas perderão o poder. Portanto, Rússia terá que transformar o seu sistema político-econômico-oligárquico, e será acompanhada com instabilidade social e terá consequências imprevisíveis. Quinto, os preços do gás alinham-se. Em consequência da revolução do gás de xisto, hoje o preço do gás natural nos EUA é de US $ 156 por mil m³, enquanto a Europa compra o gás russo por $ 388. Com o gás de xisto os EUA conseguiram uma enorme vantagem sobre UE, no nível do sistema econômico que permeia através de seus sucessos e fracassos financeiro - econômicos, nos últimos anos. além disso, apoiam este desequilíbrio favorável de preços, porque eles tem a proibição para exportação da energia, o que poderia equilibrar os preços mundiais.

É claro que Kremlin entende tudo isso. Para ele a realização do potencial energético da Ukraina - morte em todas as suas formas. Por isso todos esses jogos e esquemas que Moscou joga com Kyiv ao longo das décadas, retorcendo-nos as mãos em direção a apenas um ponto: não permitir a verdadeira independência da Ukraina, quando um verdadeiro poder soberano poderá organizar a segurança energética do país. Neste contexto contos sobre nações irmãs são vistos como mitos e até a ideologia do "Mundo russo"é uma estória velada dos verdadeiros interesses da Rússia. Caso contrário, por que Moscou não se apressa para pegar sob seu patrocínio os países da Ásia Central e ou até mesmo Belarus?

Alguns especialistas falam sobre atração, e até sobre ativos críticos para FR dos ativos ukrainianos no complexo industrial militar na construção naval e de aeronaves. Dizem que, para garantir as ambições geopolíticas de Putin é necessário um forte exército. Kremlin, supostamente, pode financiá-lo mas não tem capacidade física suficiente para provê-la com armas, e sem produtos ukrainianos (Motor Sich, Antonov, Zoria-Mashroekt, estaleiros de Mykolaiev e Criméia, etc.) aqui não dispensar. Suponhamos, que, apoderando-se da Criméia, Rússia ganhou alguns estaleiros e empresas, que permitirão reduzir as taxas de atraso no ritmo previsto na modernização do programa federal. Mas, do jogo espera-se muito mais: a possibilidade de realizar o jogo político, a sua base econômica, aquilo que fornece, aquilo que garante os recursos financeiros da Rússia. Então não é surpresa, que um dos primeiros passos das "autoridades da Criméia" foi o confisco do Naftogaz do Mar Negro e anúncio de planos para transferir a empresa para Gazprom, que supostamente interessou-se na extração de hidrocarbonetos no Mar Negro. Na verdade, ao monopolista da FR aqueles depósitos não são interessantes, pelo menos por agora, mas para ele, como para toda Rússia de Putin, é fundamental que se mantenham lá, onde estão agora, - sob a terra.

A independência da Ukraina - uma questão de vida ou morte para Putin, seus oligarcas e Rússia em geral. As apostas no jogo, que nos últimos meses desenrolou-se em nosso país, para Kremlin é sombrio, por isso ele não pode ser apenas dirigente e ficar de lado, mas é forçado tornar-se jogador colocando-se no nível de Kyiv. Aquilo que denominam "loucura" de Putin, na verdade é guerra pela sobrevivência. Anexação da Criméia não é loucura, mas história do lider da FR, causada pela fraqueza geopolítica. Ele reconhece, que o sistema econômico russo é fraco, o modelo orientado para recursos da economia nacional ao colapso no momento que Moscou perder a posição monopolista no mercado global dos recursos naturais, especialmente energéticos. A tal posição inspira-lhe pavor e empurra-o à ação. A Ukraina permanece a ameaça, porque na Criméia Putin não vai parar. Certamente, ele está pronto para "morder" exatamente tanto do nosso território, quanto for suficiente, para Ukraina não se tornar concorrente da Rússia no mercado global da energia. Mas, ao mesmo tempo, agarrar os ativos, necessários para abastecer as forças militares do Kremlin na perspectiva estratégica. A quantidade de sangue de ukrainianos e russos, que Putin pode derramar, viu, talvez, a II Guerra Mundial. Portanto não convém tranquilizar-se com a sua "loucura" e complexos imperiais.

E como se colocam UE e USA? O problema é que não se colocam. Enquanto Europa compra o caro gás russo, Estados Unidos calmamente esfregam as mãos. Eles estão além da concorrência pois usam benefícios óbvios, que lhes dá, para sua economia, o gás natural barato, e ao dólar como moeda de reserva global. Verdade, a instabilidade na Ukraina afeta interesses de empresas individuais norte-americanas, que planejavam aqui extrair petróleo e gás, no entanto, enquanto os EUA tem gás de xisto, os americanos estão dispostos a sacrificar os interesses privados em proveito dos nacionais. Em troca Europa ocupa-se com diversificação das fontes de fornecimento dos recursos energéticos. A UE compreende a diversificação da condução dos negócios à Ukraina. A produção de petróleo e gás da nossa produção nacional e declínio de preços relacionados com ela parecem aos europeus muito distantes e de perspectiva sombria. Na UE já expressaram chamadas para dar a Ukraina a adesão direta como membro, mas por enquanto isto são as primeiras andorinhas que, como sabemos, não trazem a primavera.;

Por isso, para Europa e EUA as participações em nosso jogo agora são muito baixos, para que eles começassem participar do nosso jogo não com palavras e sanções, mas com ações mais decisivas, inclusive militar. Portanto, o que nós denominamos como disposição do mundo a Ukraina e nossa nação, só é uma forma de conformismo. Ações são sanções, mas passará o tempo, sobre bloqueio a FR esquecerão, mas a dependência energética de países desenvolvidos aos recursos energéticos permanecerá. Talvez seja isto que Putin espera. Aos europeus e americanos há o que perder em um confronto aberto, enquanto Rússia pode conquistar não qualquer coisa, mas a vida - algumas dezenas de anos de existência despreocupada. Sob tais condições confrontação global não haverá, e que neste caso, pode derramar  muito sangue ukrainiano, no mundo não interessa a ninguém. Ukraina está abandonada a Rússia como David contra Golias. Portanto, trabalhar duro para desenvolvimento econômico, bem como a oração e a esperança em Deus podem inclinar a balança a nosso favor: outros meios para combater a "loucura" pragmática de Putin não temos.

Tradução: O. Kowaltschuk 

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