Três histórias sobre como os voluntários armam o exército ukrainiano
Ukrainska Pravda Zhyttia (Verdade Ukrainiana Vida), 11.07.2014
Dois meses atrás eles nada sabiam sobre o exército ukrainiano e a sua munição. Agora sabem quase tudo. Três ukrainianos distantes dos assuntos militares contam sobre suas experiências de voluntariado em prol do exército ukrainiano.
Começamos com compra de 1-2 armaduras, agora sob cuidados de cada um dos milhares de combatentes.
Roman Sinitsyn, especialista da esfera técnica. Dois meses de experiência em voluntariado. Todos os dias envia para zona da ATO (Ação Antiterrorista) uniformes, técnica e medicamentos.
Ajuda a dois regimentos especiais (3º e 8º), rotas de reconhecimento e franco-atiradores da 95ª brigada aerotransportadora, batalhões voluntários "Aydar" e "Donbass".
O ponto voluntário de Roman Sinitsyn encontra-se na rua Zhylyanskyi, próximo ao elegante prédio de um dos edifícios habitacionais.
Em quatro salas separadas há caixas de suprimentos médicos, munições, produtos alimentícios para as brigadas dianteiras. Uma sala está vazia - lá haverá armazenamento médico.
"Veja aqui, esta batata no canto! A uma hora atrás coloquei um post no Facebook, que na 12ª brigada eram necessários produtos, e já trouxeram tudo. Comodidade da comunicação em redes sociais."
Roman mostra a compra mais valiosa que vai para a zona da ATO - aparelho para pontaria noturna comprado por 35 mil hryvnias. "Imagine, ele é de fabricação russa", - sorri o voluntário.
Com voluntariado Roman Sinitsyn começou como todos, por acaso: Nós tínhamos amigos na zona da ATO. Eles procuravam "collimators" (dispositivo para melhor visão de determinado ponto -OK). Nós os compramos, e depois eles nos enviaram uma lista e nós entendemos que nossos fundos pessoais para todas as necessidades não seriam suficientes.
Absolutamente espontânea surgiu a ideia para postar um anúncio para arrecadar fundos às necessidades do exército e expusemos o número do cartão. E isto, gradualmente crescia, como uma bola de neve. Em média, até agora, já juntamos um milhão de fundos. Isto não contando aqueles produtos que nos trazem.
O principal foco nosso grupo direciona para os batedores e franco-atiradores, isto é, àqueles cujos desafios estão nas complexidades da retaguarda, àqueles, cujos desafios estão da retaguarda do inimigo.
Eu, pessoalmente, viajei até nossos rapazes. Eles não tinham nem os elementares sacos de dormir, as botas abriam-se, os uniformes completamente desgastados. Eu fiquei apavorado, porquanto as Forças Especiais do Exército - é uma escola de elite. Lá estão os experientes oficiais que estiveram no Afeganistão, pessoas sérias. Em tão lastimável estado de segurança!
Armas de estilo soviético - muitas. Porém não há nenhum meio de comunicação, e transporte para mobilidade também não há.
Se a blindagem está em todos os lábios, a situação com pontaria noturna e dispositivos que transformam os raios infravermelhos e que podem melhorar a visão, é complicada. Eu tenho certeza, que todos estes materiais, que já estão na posse do exército ukrainiano, - foram comprados com a ajuda dos voluntários.
A última vez que fui, vi que, algo novo, finalmente, chegou ao exército ukrainiano. Encontrei os combatentes da rota de Lviv da 80ª brigada, vejo - eles tem novas armaduras. Pergunto: onde pegaram? Disseram que vieram ao Donbass com elas. Isto quer dizer que, aos poucos, o governo já está providenciando.
A situação com capacetes ainda é terrível. Levamos aos poucos. Contrabandeados.. Fazemos encomendas em alfaiatarias. São 50 - 60 por semana. Assim podemos considerar as preferências dos soldados quanto a atualização.
Nós desenvolvemos um modelo especial para os franco-atiradores, porque o que serve para os soldados dos postos de controle, nem sempre é adequado para os atiradores que estão em constante movimento. Agora vamos começar uma série para eles.
Metade de tudo que nós entregamos - contrabando. Este indispensável material nos trazem do exterior em bagagens de mão. Recentemente trouxeram 400 unidades. Os guardas de fronteira viram, mas silenciosamente ignoraram, porque sabem que é para a frente.
Muito nos auxilia a diáspora - mandam capacetes, aparelhos de pontaria, muitos bens de consumo.
Com o Ministério de Defesa não mantemos contato. Todos eles precisaria dispensar e re-estabelecer a logística.
Há um tal momento. Para ninguém é segredo que na zona da Ato as forças especiais andam em carros tomados dos separatistas, porque se você usa veículos do exército, imediatamente é alvejado.
Nós fomos abordados por uma das forças especiais - rapidamente encontrar-lhes um carro. Conseguimos - em meio dia! Se isto fosse feito pelo Ministério da Defesa, demoraria um mês - concorrência pública, burocracia. E conosco é assim - postagem em redes sociais, dois telefonemas e as garotas já embalam as caixas para zona da Ato, que amanhã já estarão nas mãos dos combatentes.
Chega a ser "hilariante" - os militares pedem comprar cartuchos com embalagens de 45, porque não lhes dão. Guarda Nacional, no início, davam de um em um.
Olga Reshetylova está em licença maternidade, cuida da criança. Trabalhava na rede de correspondentes do jornal "Dia". Em meados de maio, no Facebook encontrou o grupo "Volte vivo". Desde aquele tempo, com seu coordenador Vitali Deynega mandaram perto de dez grandes quantidades de grãos à zona da ATO.
Hoje os dois dirigem um grupo e já passaram para helicópteros. (São os MANPADOS - um sistema de mísseis projetados para transportado, atado e disparado por uma pessoa - OK). Pupilos: 95ª brigada aeromóvel, 80ª brigada aeromóvel em separado, brigada de Rivne, 79ª brigada aeromóvel em separado, 51ª brigada mecanizada, posto de travessia "Novoazovsk".
Enviamos para nossos pupilos pára-quedistas grandes remessas - óptica, dispositivos diversos, procuramos saber sobre pequenas necessidades - uniforme, calçados.
Os rapazes dizem que, se não houvesse voluntários, seria... Porque o Ministério da Defesa só começou fazer encomendas, e não comprar armaduras, em 23 de maio, quando a guerra já não estava no início.
As vezes nos telefonavam rapazes que corriam na linha de frente em chinelos, porque os calçados que lhes deram no Ministério da Defesa - serviram apenas para machucar os pés, mal conseguiam andar.
Com uniformes também há problemas. Os rapazes usam o mesmo conjunto.
A situação no exército não me surpreende, porque meu marido também serviu. Quando ele foi para mobilização, foi chamado por um ex-militar, que abriu seu armazém com todos os tipos de necessidades a militares e disse - pegue o que quiser, eu estou vendendo.
Eu penso constantemente que nós já vivemos no século XXI - a humanidade já domina o espeço. Mas o Ministério de Defesa é incapaz de assimilar a armadura. Nós comprávamos as alemãs, elas já estão ultrapassadas, já têm 15 anos. Mas são melhores que as ukrainianas. Porque as alemãs têm um colar no pescoço, proteção para virilha e dos lados. Os voluntários do serviço médico dizem que as lesões mais graves ocorrem na virilha e no pescoço.
Certa vez ofereceram aos nossos rapazes capacetes dos anos 40. No entanto, eu estou convencida, de que cada general, em casa tem o aparelho de TV, e o carro com últimas tecnologias modernas.
Há muitas histórias quando os militares traziam armaduras, mas depois do tiroteio elas se transformavam em peneiras. Então àqueles, que querem comprar armaduras aconselho pedir o vídeo de disparos, ou melhor, faça o teste sozinho.
Infelizmente, há comerciantes que inflam os preços dos equipamentos de proteção. São saqueadores comuns...
A muitos rapazes ajudam os locais, especialmente em Luhansk. Tem a moça de Svatov, que a apelidaram "fundo de pasteizinhos militares". Ela, numa ilimitada quantia assa pasteizinhos para militares ukrainianos.
Os cidadãos conscientes depositam dinheiro no cartão da moça, ela compra os produtos e prepara o alimento. Com o tempo também passou a comprar medicamentos. Assim as pequenas iniciativas crescem em grandes projetos.
Em nosso batalhão temos um homem que serviu no exterior, participou de ações de combate. "Alguns anos atrás retornou a Kyiv onde ocupou-se com restaurante e hotelaria. Mas, quando começou a guerra, decidiu que tinha experiência e devia defender sua pátria.
Atualmente ele foi, para o setor de reconhecimento e preparou uma lista elementar de como, num país civilizado deve estar assegurada uma infantaria comum. Desta lista, nossos militares não tinham nada.
Em dinheiro, o indispensável para cada soldado, custa aproximadamente 100 mil hreyvnias. Se comparar este valor com os milhões, que enviavam para 565 pessoas, é uma quantia insignificante.
Quanto ao voluntariado temos um problema sério - nós estamos fora do campo jurídico.
Os custos para munição para o Exército transferem como remessa. Nós temos uma conta atrelada ao fundo, mas lá é preciso preencher uma série de informações pessoais, por isso as pessoas têm medo e disponibilizam os fundos diretamente no cartão.
Infelizmente aumentaram os casos, em que o esquema é usado por fraudadores.
Além disso, a nós em qualquer momento pode vir o fiscal e proibir-nos, porque a nossa atividade é realmente ilegal!
Outro problema - todo o nosso material de ajuda, frequentemente é contrabandeado. Os guardas de fronteira poloneses e ukrainianos, vem ao nosso encontro, fecham os olhos, mas eles também violam as leis.
Todos entendem que o nosso país esta, de fato, em guerra. Mas gostaríamos que a legislação nacional estivesse em conformidade com os requisitos.
Agora nós temos um pedido urgente - organizar a atividade voluntária e cancelar as taxas alfandegárias sobre equipamentos de proteção individual e ótica. Mas nós não somos ouvidos."
Taras Chmut, coordenador da rede social Apoio, administrador do site militar ukrainiano. Tornou-se voluntário após as eleições. Com o jornalista do Canal 5 Oleksandr Argatov criou um grupo que já enviou o terceiro grande carregamento de equipamentos para militares à zona da ATO.
Entre os pupilos: 8º regimento especial, aeroporto de Kramatorsk, unidade especial de Khmelmytskyi, 3ª bateria de artilharia auto propulsionada, rota especial de defesa antiaérea.
"No site do exército temos um fórum que reúne pessoas interessadas nas Forças Armadas. Em maio, no tema sobre operação anti-terrorista nos escreveu um nosso conhecido que já estava na vanguarda em Luhansk. Perguntava aonde conseguir pelo menos 1 - 2 armaduras, porque o motorista do "Ural" é totalmente desprotegido - viaja apenas de uniforme.
A nós, no fórum ficou desconfortável, que nós apenas falamos sobre assuntos alheios da realidade, enquanto as pessoas no Donbass enfrentam problemas reais. Enviamos as armaduras e, após as eleições reunimos um grupo e, seriamente, decidimos auxiliar o exército ukrainiano.
Nosso primeiro envio foi para Starobilsk: armaduras, dispositivos óticos, radioscanner, colimador - no valor de cerca de 100 mil hryvnias...
Todas as parcelas nós levamos pessoalmente. Quero jogar uma pedra para o lado do Ministério da Defesa - se a ajuda não é diretamente aos soldados, mas a partes para oficiais superiores, ela frequentemente não chega aos destinatários.
Houve uma situação com uma parte da doação a Khmelnytskyi quando parte da doação - capacetes, aparelhos de radiotelegrafia (portáteis) - encontravam-se no estoque - porque à liderança é melhor quando estão guardados e não usados para salvar vidas. Por exemplo, se vier a verificação - têm algo para mostrar.
Minha primeira impressão quando fui levar as doações, foi muito emotiva. Na vanguarda estavam as forças especiais da elite, mas elas pareciam guerrilheiros, que se reuniram a partir das aldeias vizinhas.
Não havia equipamento indispensável - tudo foi esfregado e desgastado - e com estas roupas eles ficam 24 horas. Os rapazes, no próximo dia teriam campanhas de combate, condições severas, tarefas extremamente complexas!
A comunicação, no entanto, foi muito positiva - os rapazes decididos à proteção de seu país. Mas, quando os enviavam para vanguarda, o país lhes deu apenas a roupa e os automáticos.
Antes de nossa chegada, eles lutaram sem armaduras e óptica.
No 8º Regimento de Forças Especiais absolutamente não há armas pesadas. Anteriormente havia, mas sob as ordens do ex-ministro de Defesa Lebedev, no governo Yanukovych a rota foi desfeita (rota - subdivisão militar que entra na composição do batalhão -OK).
É preciso admitir, que há um pouco de armas, mas a técnica indispensável ao exército ukrainiano é um desastre. Faltam aparelhos de pontaria noturnos. Há problemas até com os mapas - os próprios voluntários os procuram e trazem. Muitas vezes os rapazes foram salvos através do celular.
Na verdade, as grandes brigadas, como a 95ª ou 79ª todos conhecem, mas as pequenas como a da defesa aérea, com aproximadamente 100 pessoas poucos conhecem. Aqui os rapazes pedem para trazer coisas básicas. Eles são muito modestos. Nossos pupilos da sub-divisão de Khmelnytskyi pediram óculos apenas depois que a um deles caiu uma lasca e poeira nos olhos.
Entregamos mais 27 capacetes e armaduras. Isto apesar de que eles são considerados elite e que sua proteção é tida como melhor.
Houve ocasiões quando os rapazes tinham vergonha de pedir e doavam 100 - 200 hryvnias para comprar binóculos.
Houve a situação, quando os militares de Kramatorsk nos pediram uma máquina de costura porque o uniforme chegou em ruína completa. Agora recolhemos dinheiro para uniforme novo.
Um dos maiores problemas de queixa é que não lhes dão cartuchos suficientes para o AK-74. Na verdade há pilhas no Ministério da Defesa. Mas na lei diz que nas mãos podem ser dados apenas 4 quatro pacotes de "magazines". Isto são 120 cartuchos ou 5 minutos de combate intensivo. Os militares nos dizem: "Nós podemos lutar sem nada, mas sem cartuchos nós não podemos. Portanto nós compramos os "magazines" (parte do aparelho ou arma, com aparência de uma caixinha, onde colocam alguns objetos ou cartuchos). Na verdade precisa, simplesmente, caçar um certo pedaço de papel, ou dar uma ordem a alguém do Ministério da Defesa e entregar aquilo que está sob poeira, sem uso.
Muito nos ajuda a diáspora ukrainiana, Nos enviam fundos dos EUA, Canadá, Europa - 100 ou 200 euros, ou dólares. Talvez para eles não seja a quantidade muito perceptível, mas para nós, cada centavo é importante à vida de alguém no exército ukrainiano.
Em geral o clima entre os combatentes militares é a esperança, que até outono tudo terminará e eles voltarão para casa.
(Peço compreensão para as explicações, possivelmente errôneas ou insuficientes sobre as armas. Nada entendo sobre o assunto. No entanto quis traduzir este texto que é muito elucidativo sobre a situação na Ukraina-OK)