sábado, 5 de abril de 2014


Como vivem os refugiados da Criméia na Ukraina

Ukrainskyi Tyzhden (Semana Ukrainiana) 04.04.201
Oleksandr Sertsov

Nos centros de recreação na região de Lviv (Ukraina Ocidental) vivem famílias de tártaros da Criméia - principalmente mulheres e crianças às quais voltar para península é perigoso.

 

Até recentemente na região de Lviv quase não havia tártaros crimeanos - nem mesmo a estatística oficial os destacava. A algumas semanas a situação mudou, quando milhares de moradores da península, principalmente tártaros crimeanos foram forçados a deixar suas casas em busca de paz e tranquilidade.

Uma grande parte deles encontrou refúgio temporário na Halychyna (Galiza). Na região de Lviv surgiram alguns lugares para residência coletiva dos crimeanos - a maioria em pequenas cidades e grandes aldeias como Truskavets, Drojobych, Grã Liubin. Parte dos refugiados ficou em casas particulares, as quais ofereceram os moradores locais para ajudar aos compatriotas em apuros. No entanto, a maioria dos crimeanos encontrou amparo em vários sanatórios ou spas - exatamente aqui é mais fácil organizar a sua estadia (O governo de Lviv ofereceu ajuda a todos crimeanos que quisessem vir). 

Mais de uma centena de tártaros crimeanos estabeleceram-se na aldeia Briukhovychi - aqui os recebeu a base recreativa "Pérola de Lviv" e o hotel "Valentina".

Briukhovychi - é aldeia resort, localizada a poucos quilômetros da capital da Halychyna, na mata de pinheiros.


Crianças crimeano - tártaras na "Pérola de Lviv"

Março - pico da temporada da estação com tradicional carneiro no espeto - até no centro da aldeia há poucas pessoas - tranquilidade. E, certamente, é o que precisam as pessoas que acabaram de sair de um ponto quente, que se tornou Criméia. Já sei que predominam mulheres com crianças pequenas. Com tantas crianças, na base de recreação deveria haver barulho.

Na entrada me recebe um guarda, que prontamente fala sobre os novos clientes, diz que as pessoas são extremamente calmas - sem festas, sem álcool e até não há comunicação  com pessoas estranhas, principalmente com homens. "Quando eles passam, nem sequer olham em seus olhos" - diz o guarda. Seguimos ao "corpo diplomático" crimeano, por uma estradinha asfaltada e somente na entrada nos encontra uma jovem mulher, que imediatamente nos dá a mão e apresenta-se - Sevilia. Próximo a entrada encontram-se alguns carrinhos infantis. Numa distância considerável, uma mulher passeava com uma criança no carrinho. Deduzo que as moradoras atuais raramente afastam-se da base de recreação, e mesmo dentro passeiam pouco.

Logo percebi que Sevilia é única mulher que, por assim dizer, está autorizada a se comunicar com o mundo exterior. A questão é que, diferentemente da maioria dos refugiados, ela não é uma muçulmana ortodoxa. 


Yasmin, de três anos, e seus brinquedos favoritos

No corredor encontramos umas dez crianças, mas antes que o fotógrafo Dashkovych prepare sua máquina, as mães retiram as crianças do corredor. A questão, é que a Lviv vieram apenas as esposas com os filhos pequenos para passar a situação perigosa. Os maridos ficaram na Criméia. Sevilia é uma das poucas que veio com a família - marido e duas filhinhas - Yasmin de 3 anos e Rianta de 5. 

"Nós vivemos aqui, como num albergue", - explica. Nossa conversa é constantemente interrompida por telefonemas que a mulher deve responder. Para sua família, eles já decidiram - a Simferopol não voltarão embora lá tenha ficado sua casa, mas começarão vida nova em Lviv. Agora ela e o marido procuram uma moradia e trabalho. Ela é dentista. "Agora ambos deveremos trabalhar, porque parte significativa será para pagamento do aluguel - até, de algum modo, resolvermos o problema com a nossa casa em Simferopol" - diz Sevilia. Yasmin, que está adoentada, não foi à escolinha, ela trava conhecimento: "Como você se chama?" pergunta e imediatamente mostra seus brinquedos favoritos e se coloca na frente da câmera. "Nós observamos como mudaram nossas crianças, pois lá, nos últimos tempos a situação esteve muito nervosa, até no jardim de infância, as crianças são afetadas quando nas ruas há muitos militares até as babás ficam nervosas. Eu não quero que elas cresçam em tal atmosfera",  - diz a mãe. 

"Nossas crianças sabem, que estas meninas são da Criméia, e que lá tem guerra, então elas foram muito bem aceitas. Riana já se prepara, com outras crianças, para o Dia das Mães e aprende uma cantiga ukrainiana" - contou sobre seus alunos a chefe do jardim de infância, senhora Bohdana.

Embora com os crimeanos vieram muitas crianças, ao jardim de infância vem apenas estas duas menininhas. E isto, apesar de que o jardim de infância fica do outro lado do muro. "Eu ofereci a eles, enviar-nos seus filhos, pois há mães com muitas crianças, e seria um alívio para elas, porém recusaram" - disse Bohdana. Segundo suas observações, até no campo de jogos no território do hotel, as crianças vêm apenas à tarde, e somente, se não houver estranhos.


Rianta, de cinco anos, já frequenta o jardim de infância

O latente comportamento das tártaras na Criméia contrasta mesmo em comparação com algumas freiras locais grego-católicas. "Acontece, que nem mesmo eu, diretor da Pérola" não posso ir ao terceiro andar, onde elas estão instaladas" - diz o Sr. João, que administra este estabelecimento." A alguns dias tivemos que levar uma criança para hospital, então a mãe com a criança foi de carro - toda comunicação com o motorista foi através da criança, apesar de que foram apenas algumas palavras - cumprimento e agradecimento pela ajuda - tal é a fé deles". No entanto, aqui os tratam com compreensão - eles receberam uma sala separada para orações, outra para crianças. Na aldeia, a organização pediu apoio e moradores trouxeram brinquedos, carrinhos e alimentos. Posteriormente aderiram numerosas organizações de caridade que forneceram produtos e objetos de primeira necessidade - tudo está armazenado na instituição. Também o Majlis - (órgão legislativo análogo ao Parlamento , nos países árabes e islâmicos) nomeou para Lviv seu representante oficial, que preocupa-se com a permanência de seus compatriotas na Galiza. "Do nosso lado, nós lhes demos a louça e uma sala para refeições em separado. Organizamos uma excursão por Lviv e garantimos sua permanência até primeiro de abril.  Quanto ao futuro, de alguma forma deve resolver o Estado, mas no momento, temos apenas uma carta oficial de um dos líderes da prefeitura com o pedido de auxílio aos crimeanos" - diz o dirigente da "Pérola". Apesar de que primeiro de abril já passou,os crimeanos ainda vivem na base de ajuda aos refugiados da península. Na verdade, o Estado transferiu a decisão deste problema para os próprios tártaros crimeanos Benfeitores e empresários que concordam com as perdas mas, ainda assim dão abrigo a pessoas que se encontram em situação difícil e inusitada. Enfim, executa sua função o ar dos pinheirais de Briukhovychi que, com o ritmo do resort de subúrbio possibilita adquirir forças de tão pesada provação. Parte dos crimeanos continua com a intenção de voltar para casa, mas, pelo menos uma família permanecerá na Galiza, construindo aqui sua felicidade...

Tradução: O. Kowaltschuk

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