segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Heróis entre nós: ukrainiano de Kyiv perdeu no Donbas as mãos e os pés, mas não a força espiritual.
Ukraina Moloda (Ukraina Jovem), 26.01.2017
Mykola Patsera




Vadym Svyredenko com ajuda de próteses modernas aprendeu fazer muitas coisas. Até trabalha no computador.

No caldeirão do Debaltseve. 

Na guerra do Donbas Vadym Svydorenko recebeu a convocação do serviço militar durante a terceira onda de mobilização, no verão de 2014.

Como possuía diploma de médico e "um ano inteiro" de experiência como enfermeiro técnico pela Faculdade de Prospecção, ele foi designado para a mesma posição da rota médica 128, brigada de infantaria Transcarpathian, das Forças Armadas da Ukraina.

Aqui ele viu pela primeira vez os horrores da guerra, que aleijava rapazes jovens, ajudava os feridos, salvando-os da morte. E encontrou-se com ela cara a cara em fevereiro de 2015 sob Debaltseve...

Então nossos soldados do posto de controle "Balu" foram cercados, e a eles em socorro veio BTR (transporte blindado) com seis lutadores, entre os quais estava Vadym com seu comandante de 23 anos, Denys Chabanchuk. 

Eles, mal tiveram tempo para colocar-se na defensiva, quando o inimigo iniciou o ataque. O projétil do tanque russo explodiu a poucos metros deles, e ambos foram feridos - ao enfermeiro quebrou o antebraço direito e atravessou a coxa.

Conseguiram levá-los, num veículo blindado, à sede da brigada, onde o cirurgião Alexander Danyliuk "costurou" as feridas. À tardinha deviam ser enviados ao hospital em Artemivsk, mas não aconteceu... BMP (veículo blindado de transporte de tropas) no qual viajavam Vadym e Denys, de repente explodiu na mina e pegou fogo.

O enfermeiro desmaiou, mas o comandante não desnorteou-se e puxou-o através da portinha lateral, praticamente salvando-lhe a ida.

Ao redor desenrolava-se a batalha, e como ferro morto estava a técnica avariada, na qual transportavam os feridos.  Eles morriam devido a perda de sangue, e para salvá-los não havia ninguém.

Os vivos foram colocados no ainda inteiro "Ural", mas quando ele avançou alguns metros, na proximidade explodiu mina inimiga, e, a onda explosiva jogou Vadym que bateu com as costas em alguma padiola e prejudicou os ossos da bacia e coluna, depois disso não conseguia andar - dificilmente fazia alguns passos. 

Noite de fevereiro com 25 graus de geada, ele com Denis, decidiram sentar-se na cabine com janelas quebradas. Os soldados feridos, que eram uns dez, simplesmente congelavam até a morte, mas Vadym sacudia o comandante e gritava em seu ouvido: "Não dormir!". No entanto, não conseguiu salvá-lo...

Assim, de todos os feridos restou apenas o paramédico. Tentou chegar à mata próxima, mas não conseguia mover-se nem nos joelhos. Decidiu esperar por socorro no carro com o motor ligado.

A fome combatia roendo a congelada carne enlatada, que encontrou sob o assento, em vez de água sugava neve. O mais difícil era lutar com o sono, e ele, afinal, derrotou Vadym na terceira noite.

Acordou quando o motor silenciou, e, de repente, disparou o alarme.

O inimigo ativou o lançador de granadas e metralhadoras, fragmentos açoitavam "Ural", e o lutador começou a rezar, apesar que isto nunca fazia. Surpreendentemente, o tiroteio cessou...

De manhã ele viu, como se aproximava um veículo blindado, e na esperança de salvação, acenou. Mas, eram inimigos. Mandaram ir até o BTR, mas Vadym disse que não conseguia, forçaram a rastejar. Ele foi jogado num compartimento e perdeu a consciência.

Retornou à vida em Donetsk, onde sobre ele - ferido e com queimaduras - literalmente voaram os jornalistas de "Live Nyuz" com a pergunta: "Por que você veio para cá?"

Depois houve um interrogatório dos separatistas, que terminou com duas costelas quebradas, e primeira ajuda médica - a enfermeira Lucy colocava gotejamento e tratava os ferimentos. Até alimentou Vadym - deu mingau de trigo mourisco e chá.

Posteriormente um atirador disse, que à noite o entregarão ao lado ukrainiano, em troca de seus. E realmente, para Vadym veio uma ambulância e ele foi levado a Dnipropetrovsk, ao hospital Mechnikov.

Logo veio o amigo Ruslan, de Kyiv, o qual por telefone "colocou todos em pé", para encontrá-lo, e sua esposa com a irmã. O encontro foi muito emocionante.

Após dois dias de tratamento do paramédico e mais alguns soldados gravemente feridos, levaram de avião para capital, ao centro de cirurgia plástica e cirurgia terminal.

Por alguns dias os médicos davam-lhe ajuda e examinavam a difícil situação de seu organismo. Finalmente, chegaram à conclusão, que era necessária a amputação de mãos e pés, porque eles foram severamente queimados pelo frio e começou crescer, rapidamente, a necrose-morte de tecidos biológicos, gangrena.

Este veredicto Vadym recebeu com coragem, apesar de compreender, em que condições terá que viver, mas não havia escolha.

Um mês inteiro ele ficou sob cuidados intensivos, depois foi transferido para enfermaria.

Todo este tempo ele sofreu dor física e mental mas, ao mesmo tempo sentia grande apoio de todos os profissionais de saúde, familiares amigos e até estranhos, o que adicionava vitalidade e não deixava cair em desespero.

Embora a sepse, diariamente, esgotava seu organismo, o lutador não perdia o ânimo. "Incutia" em si, que a sua doença - não era sentença, apenas um sério desafio, que ele devia vencer, para ser uma pessoa normal, não um aleijado fraco.

Então ainda em reanimação, superando insuportável dor, ele tentava balançar a prensa, porque, como um médico sabia, que o principal em seu estado - manter o tônus muscular.

Começou fazer exercícios para braços e pernas. Certa vez os voluntários trouxeram-lhe um livro sobre os paraolímpicos, então precisou aprender a virar as páginas sem as mãos. Em seguida dominou a prancheta, na qual pode até escrever. Vadym definiu sua meta: ser independente o quanto for possível, então fez tudo para conseguir isto.

A sua maior conquista no centro de queimaduras, que ele conseguiu ficar de pé, sobre as próteses e começar a andar. Quando fez isto pela primeira vez, para ele olhavam como a um herói os médicos e os doentes, para os quais ele tornou-se um exemplo de coragem e determinação.

Proezas americanas do paramédico ukrainiano.

Uma nova etapa na vida de Vadym Svydorenko foi o seu "período americano". Durante a sua permanência no hospital, a ele, como a herói famoso, vinham muitas pessoas diferentes, entre as quais houve um grupo de americanos, que descreveram um programa especial do Pentágono para o tratamento, próteses e reabilitação dos participantes da operação antiterrorista no Donbas.

Eles propuseram a Vadym passar este curso nos EUA,  para o qual selecionaram 24 dos nossos guerreiros. No entanto concordaram participar apenas 11, inclusive Svydorenko. E foram levados com avião militar para o Centro Médico Militar Nacional Walter Reed em Washington.

Aqui, além da instalação médica, foram criadas as condições para reabilitação ativa de soldados - para isto há um estádio especialmente equipado, e ao redor - uma floresta real com animais, onde podem passear. Imediatamente após a chegada a todos  os lutadores fizeram um exame completo. 

Depois, por um mês foram colocados em quarentena, durante a qual era proibido sair até da enfermaria. Os médicos americanos, perplexos, olhavam para as próteses nacionais de Vadym e diziam, que já não se lembravam, como eram feitas. Então substituíram pelas atuais, mais confortáveis e mais funcionais.

Com elas o nosso lutador treinava todos os dias, logo aprendeu a comer sozinho, usar utensílios domésticos, cozinhar e até mesmo costurar. 

Também realizavam-se treinamentos intensivos físicos, especialmente corrida. Para isto havia uma faixa especial, equipada com um dispositivo incomum - uma cúpula, que é usada no corpo, e o mantém, inflada com ar, que gradualmente sai da cúpula, aumentando a carga sobre as pernas.

Foi justamente com este dispositivo que Vadym aprendeu correr, passando em seguida ao treinamento no estúdio, com o uso de próteses especiais. Embora, é claro, foi muito doloroso - precisou usar medicamentos, e prótese mudaram várias espécies, selecionando as mais adequadas para que não esfregassem as pernas.

Para piscina prepararam especiais prótese-lasty (Tradução do google, única que encontrei, é "flipper" e significa barbatana, membro natatório - OK.

Durante a estadia de oito meses no hospital, nosso lutador travou conhecimento com os militares americanos, que também tiveram ferimentos graves, entre os quais, não havia nenhum sem quatro extremidades, e pôde comunicar-se com eles, através de um intérprete e, até sozinho.  Com eles aprendia muitas "sabedorias"  de reabilitação, eles admiravam a coragem do nosso lutador.

Também ele, frequentemente, era visitado pela diáspora ukrainiana, e voluntários que o apoiavam moralmente, e que lhe traziam diversas guloseimas e lembranças.

Todos ficavam chocados com suas histórias sobre a guerra no Donbas, condenavam Putin e agradeciam ao rapaz pelo heroísmo, pois na América os soldados são muito respeitados.
Nos finais de semana os voluntários levavam nossos lutadores à cidade, realizavam excursões, adaptando-os às condições citadinas. 

Depois dos passeios Vadym contava aos médicos, o que e como ele conseguia fazer, e eles ajustavam as próteses. E, na assim chamada "cozinha inteligente" ele até servia os americanos com bolos de queijo ukrainianos e tomates recheados.

Depois dessa reabilitação Vadym voltou para casa mais adaptado para vida não apenas dentro de casa, mas também na cidade.

No entanto, depois que duas vezes no transporte público lhe pediram para dar lugar a uma avozinha e mulher com criança, começou pedir ajuda aos amigos ou com automóvel "Associação ukrainiana dos inválidos ATO", na qual trabalha hoje. Embora aqui também hajam casos curiosos.
Certa vez, nesse carro, ele esperava um amigo "afegão" (que lutou em Afeganistão -OK) no local de não permitido estacionamento, porque o "afegão" também tem dificuldades de locomoção. Aproximou-se um oficial de polícia e pediu para sair. Vadym explicou a situação. O oficial pediu para ver o certificado de ações da ATO.
Vadym simplesmente virou a mão protética e disse que seus pés também tem próteses. O policial atordoado permitiu estacionamento.

E viajar a Vadym Svydorenko é preciso quase todos os dias, porque ele não é ocioso, não lamenta-se por causa das dificuldades de pessoa com necessidades especiais, mas leva uma vida ativa ajudando aos ATOshnykam resolver os
seus vários problemas na organização social, no serviço ao qual foi  convidado os antigos "afegãos" liderados por Sergey Triskachem.

Frequentemente visita o hospital, onde com próprio exemplo apoia soldados gravemente feridos, diz-lhes o que é preciso fazer para uma recuperação mais rápida.
Além disso,o ex-enfermeiro três meses atrás realizou mais uma proeza. Em 30 de outubro ele participou da 41ª Marine Corps Marathon EUA - percorreu a distância de 10 km em Arlington, subúrbio da capital americana, onde está o edifício principal do Ministério da Defesa.

Nesta corrida extraordinária ele foi convidado pelos americanos, que viram como ele ocupava-se com corrida durante sua reabilitação em seu hospital. O concurso realizou-se pela filial de Washington, do fundo de caridade Allied Forces Foundation, do Fundo fiduciário da OTAN de reabilitação de feridos, da Embaixada da Ukraina nos EUA e organizações de voluntários do Pentágono.
Esta maratona - a maior do mundo, porque envolve milhares de corredores de todo o mundo.

Os feridos da ATO ukrainianos estiveram lá´primeira vez. E Vadym era o único sem os dois pés. e no final foi o melhor entre os feridos - ele correu a distância toda em uma hora e sete minutos quando foram atribuídas duas horas.

Pela participação na maratona recebeu uma medalha especial, que tornou-se um verdadeiro reconhecimento de sua força de vontade e indestrutibilidade do espírito.

Ele foi parabenizado pelos americanos e representantes da diáspora ukrainiana, que o apoiou durante todo o percurso com bandeiras azul-amarelas.

No aeroporto "Borispol" nossa delegação de quatro feridos e quatro atendentes, que também participaram da maratona, foram recebidos como verdadeiros heróis - com flores, cumprimentos e dezenas de câmeras.

O presidente da Ukraina Petro Poroshenko organizou uma recepção em honra dos participantes da maratona, e premiou nossos patriotas com relógios nominais.

Com estas insígnias americanas e ukrainianas agora podia-se orgulhar não apenas Vadym, mas também suas duas filhinhas, uma das quais ainda é pequenina e muito quer que o pai leve-a nos braços.

Tradução: O. Kowaltschuk

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