Europeiska Pravda (Verdade Européia), 14.03.2016
Sergei Sidorenko
Nós conversamos com a Doutora Rice sobre Criméia, que ela considera um "conflito congelado", e sobre "guera fria", na terminologia da Rússia, que a americana se recusa reconhecer.
Mas, a cada momento, a conversa indicava, que hoje os EUA esperam mais da Ukraina, do primeiro-ministro e dos cidadãos ukrainianos. Sobre isto e mais - em entrevista à "Verdade Européia".
"Nós, com a Rússia temos áreas de conflito, também de cooperação."
- Um mês atrás, na conferência de segurança de Munique - o primeiro ministro russo Dmitry Medvedev num discurso famoso falou sobre o início da Guerra Fria entre Rússia e o Ocidente. Você concorda com ele?
- A verdade é que na relação dos EUA e Rússia começou um tempo muito complicado. Mas não penso que devemos voltar para terminologia do passado. Sim, temos muitas diferenças, em primeiro lugar, claro, é a Criméia. Também, nós com a Rússia não podemos concordar com outros acontecimentos na Europa, quanto ao Oriente Médio. Mas, ao mesmo tempo há questões, com as quais nós cooperamos com a Rússia! Então eu não acho, que deveríamos usar rótulos como "guerra fria".
- Mas os russos realmente acreditam que a Guerra Fria já começou, não é?
- Simplesmente as ações da liderança do país, que diz às pessoas sobre guerra, não dão benefício. Mas eu, como pessoa, que viveu durante a Guerra Fria, posso lembrar: então a situação era completamente diferente. Os cidadãos da União não tinham possibilidade de sair para o estrangeiro, e hoje na Universidade eu tenho estudantes russos. Durante a Guerra Fria, isto não podia acontecer!
Sim, entre os EUA e Rússia há contradições fundamentais! Há questões, em relação às quais nós nunca concordaremos - isto é, particularmente, a anexação da Criméia. Os EUA firmemente insistem, que estas ações da Rússia são violações do direito internacional. Mas a diferença é que agora, nós com a Rússia temos áreas de conflito e cooperação.
Considere, por exemplo, nosso trabalho comum na questão das mudanças climáticas, ou na questão do Irã. Acordo sobre o Irã conseguiu-se alcançar porque neste assunto trabalharam os EUA, e a FR!
- Ma você acredita, que com a atual liderança russa, em princípio, é possível encontrar uma solução para o conflito?
- Não penso, que encontraremos a opinião comum sobre questões relacionadas com Ukraina. Também não penso, que teremos abordagem comum em outros assuntos relacionados com Europa. Mas, nós já encontramos uma abordagem comum para a trégua na Síria. Há questões, nas quais as grandes forças podem trabalhar juntas.
- Portanto, você deve compreender a preocupação ukrainiana: se, os líderes mundiais sublinham a importância de interesses comuns com a FR, então um dia - por causa desses interesses - podem render-se à Rússia, na questão ukrainiana.
- Vocês não devem preocupar-se que, em algum momento USA "entregarão" sua atual posição à Ukraina para atingir um melhor nível de cooperação com a FR. Eu não vejo tal possibilidade. Washington não funciona dessa maneira.
O governo dos EUA, o embaixador na Ukraina, o secretário de Estado, vice-presidente dos EUA disponibilizam muito tempo para ajudar Ukraina, para que o seu país avance para frente, apesar de todas as dificuldades.
Mas a meta deste apoio - ajudar a vocês mesmos, finalmente, começar a governar o país. Isto - é chave.
Não viver, constantemente, em crise!
No seu país, em 25 anos, aconteceram três revoluções - o alcance da independência, Revolução Laranja e Maidan em 2.014. Talvez, finalmente, precisa começar governar o Estado?
Nós também queremos ver Ukraina forte e viável. Mas, neste sentido deve trabalhar a liderança ukrainiana.
"Alemanha não procurava desculpas no fato de que ficou dividida".
- É possível gerenciar efetivamente o estado, quando contra ele continua uma duradoura agressão do lado do poderoso inimigo?
- Mas, ao mesmo tempo, vocês têm apoio da comunidade internacional. Existem sanções contra a Rússia, há a OTAN, que envia à Rússia sinais restritivos. O mundo tenta ajudar Ukraina a lidar com problemas econômicos.
Mas Ukraina também tem sua parcela de responsabilidade. Ninguém, além de vocês, ukrainianos, não poderá dirigir o estado.
Portanto, vocês precisam não esperar apenas ajuda da comunidade internacional. É tempo de construir economia! É tempo de preocupar-se, como trabalha o seu governo. É tempo dos cidadãos fazer aquilo, que deles depende.
Foto de Sergei Ilyin, Fundação de Viktor Pinchuk |
Ninguém gosta o que aconteceu na Ukraina, ninguém nunca apoiará isto. Seu estado não deveria estar dividido, anexação da Criméia não deveria ter acontecido. Não deveria ter sido criado tantos problemas, quantos agora vemos no leste da Ukraina. Mas, apesar do que aconteceu, os ukrainianos devem desenvolver a sua economia, e o governo - dirigir o país.
- Mas a reunificação da Alemanha só foi possível quando a URSS tornou-se fraca e aproximou-se ao ponto de colapso...
- Não, não, não é este o ponto. Muito antes de 1989, ao longo de décadas, a Alemanha Ocidental construía uma economia forte. Eles governavam o Estado sabiamente.
Na altura em que as circunstâncias externas permitiram a reunificação, eles aproveitaram a oportunidade.
Mas eles não ficaram sentados cruzando as mãos e não usavam as dificuldades como desculpa de que a Alemanha continuava dividida.
E minha opinião consiste em que, os acontecimentos em seu país - anexação da Criméia e o que aconteceu no leste da Ukraina, - é inaceitável para a comunidade internacional. O mundo prova que é inaceitável pela comunidade internacional.
Mas, ao mesmo tempo, vocês tem que fazer todos os esforços para tornar seu país mais forte. E, quanto mais bem - sucedida for Ukraina - mais fácil será para vocês deter a agressão estrangeira.
- Anteriormente você declarava, que não se conseguirá deter Putin até que, os EUA não se atreverem a uma oposição mais forte à Rússia. O que, exatamente, devem fazer os EUA?
- Alguma coisa já foi feita. Sanções, juntamente com preços baixos do petróleo já têm impacto na economia russa.
- Baixos preços do petróleo - não são merecimento dos EUA.
- Mas sanções - são exatamente, nossa realização. Tínhamos posições de liderança em sua implementação. E, é importante, que as sanções agissem concomitantemente, com a diminuição dos preços do petróleo.
A decisão de reforçar a presença militar em outros países da OTAN, a Polônia, os países bálticos - também é um passo muito necessário.
Não é segredo, que eu também sou adepta da ajuda militar a Ukraina. Nós devemos ajudá-los a proteger-se. Neste ponto, a minha proposta não tem apoio do governo americano, embora lá também há pessoas, que acreditam, que nós podemos contribuir mais ativamente a Ukraina em sua defesa. Mas esta ajuda também depende de quão eficaz é o seu governo.
Quanto mais sabiamente trabalhar o governo, quanto mais ativamente realizarem-se reformas econômicas, quanto mais notável fora luta contra a corrupção - mais oportunidades de possibilidades abrir-se-ão para Ukraina em receber ajuda do Ocidente.
- Dos líderes ocidentais, ouvimos constantemente que uma solução militar para o conflito no Oriente é impossível. Na Ukraina, nem todos concordam com isso - há também a idéia de que o caminho militar - diplomático seria melhor. Qual é a sua posição?
- Justamente nisto eu não coloco interrogação à posição do governo americano. Eu entendo bem, o quão é complicado determinar as ações mais corretas em tal situação. E, além disso, agora eu não tenho todas as informações sobre o que está acontecendo. Mas eles têm. Porque eu sei quão grande atenção dispensam a esta questão o vice-presidente (Joe Biden) e o secretário assistente de Estado Victoria Nuland e John Kerry. Eles gastam horas e mais horas nas questões relacionadas com os eventos no leste da Ukraina.
Portanto, eu apenas posso repetir: o mundo está pronto para ajudar Ukraina mas, para isso Ukraina deve ajudar a si mesma..
Eu compreendo, que ouvir este sinal não é muito agradável. Mas exatamente isto é - sinal certo.
Eu não vejo nenhuma possibilidade de rápida decisão da questão da Criméia".
- Se você espera, que Ukraina se torne membro da OTAN no futuro previsível - precisará, pelo menos uma década, ou duas?
- Eu sempre, ainda desde quando, eu era secretário de Estado, apoiava a idéia de que, as portas da OTAN devem estar abertas para as democracias européias, incluindo Ukraina. Mas não nos esqueçamos o que deve vir primeiro. No início vocês devem realizar as reformas e alcançar padrões. Neste caso OTAN deve estar aberta à adesão da Ukraina, como democracia européia.
- Rússia insiste, que em seu tempo URSS recebeu promessa da OTAN, que a aliança não se expandiria para o leste, mas logo a promessa foi quebrada. Isto aconteceu?
- Esta história - é daquelas que são completamente falsas. Eu estava com o secretário de Estado Baker (nas negociações com a Rússia), e tais assuntos não foram mencionados.
OTAN - é uma organização de defesa coletiva das democracias européias . Nós, aliás, acreditamos, que Rússia deve ter um papel importante na Europa. Mas esse papel deve ser baseado no respeito aos vizinhos e sua soberania.
- Então como resolver a questão da Criméia?
Eu, honestamente, não vejo a possibilidade de uma rápida resolução da questão da Criméia. EUA, Europa, e outros representantes da comunidade internacional dizem claramente que a anexação da Criméia pela Rússia é uma violação da lei internacional. E todos eles continuam em suas posições. Age a política que não permite investimentos na Criméia, há penalidades.
Nós, categoricamente, discordamos com o fato, que a Rússia tem bases para quaisquer pretensões na Criméia. Portanto, infelizmente, na Criméia, nós recebemos mais um conflito congelado no território Europeu. Em acréscimo aos conflitos na Abkhasia , Ossétia do Sul e Transnistria.
Mas, apesar disso, eu espero que, com o tempo, Criméia novamente se tornará parte integrante da Ukraina não só pela lei, mas na realidade.
E - desculpe, que me repito - aqui novamente depende muito da própria Ukraina.
Ukraina tornou-se objeto de um grande número de ações incorretas. Mas, a fim de superar as consequências disto, vocês devem transformar seu país, torná-lo mais forte.
Nós começamos uma conversa com referência à conferência de segurança de Minsk. Vamos voltar a ela, mas ao ano 2.008. Então Putin apresentou seu famoso "discurso de Minsk".
Você concorda, que naquela época o mundo subestimou a seriedade das intenções da Rússia? E você não pensa, que hoje, depois do discurso de Medvedev sobre "guerra fira", o Ocidente e EUA repetem o mesmo erro?
- Eu, provavelmente, concordo, que nós (depois do discurso de Putin em Munique) realmente não esperávamos que, no século XXI um país europeu anexasse o território de outro. Assim, parece, as pessoas perceberam que o dia se aproximava. Mas agora nós sabemos isso.
Por isso aquilo, que nós fizemos na questão de sanções, na questão do reforço da OTAN - tudo isso envia um sinal certo de que estamos plenamente conscientes das intenções da Rússia. E isto - o melhor, que pode e deve fazer a comunidade internacional.
Mas seria muito mais fácil superar a agressão russa, tendo a Ukraina forte e reformada.
E eu vejo alguns certos e positivos sinais no aeroporto, em Boryspil. Quando eu passava pelo controle de fronteiras, lá havia pequenos cartazes com a simples inscrição: "Suborno - é crime" (em idioma inglês - V.U.). E, estas inscrições são muito esperançosas. Isto é uma brilhante ilustração de que os ukrainianos tem consciência: corrupção destrói a democracia. Então, alguma coisa realmente muda.
Tradução: O. Kowaltschuk
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