quarta-feira, 24 de junho de 2015

Ferido na ATO: a luta de Sergey Hrapko
Ukrainska Pravda Zhyttia (Verdade Ukrainiana Vida), 12.06.2015
Iryna Soloshenko

Sobre Sergey nós soubemos quando ele voava para Kyiv. É assustador lembrar, mas então ele estava em estado muito grave, e nós pensávamos, ele chegará ou não. Rezávamos para que chegasse.

Grave ferimento da explosão da mina, seguido de amputação de membro superior e inferior esquerdo, ferida aberta do peritônio, trauma abdominal grave.
Depois, nas longas três semanas, à pergunta sobre o estado de Sergey, ouvíamos uma resposta: "Difícil, estável, mas difícil". Pesava na alma, os médicos não tinham certeza na sobrevivência de Sergey.
Mas ele sobreviveu. E como não sobreviver, se a seu lado estava a maravilhosa esposa Natasha.


Quando no primeiro dia após reanimação, Sergey foi transferido para enfermaria, eu fui conhecê-lo. Próximo da cama havia uma mulher, uma jovem mulher num roupão de banho. Ela massageava a mão direita de Sergey.
- Posso perguntar, você é a esposa? - Dirigi-me a ela. Ela assentiu com a cabeça, em silêncio.
Sergey cumprimentou baixinho, sua voz é quieta após a intubação, e sob a clavícula ainda está o
cateter  intravenoso.
- Desculpe, mas eu vou cansá-lo um pouco com perguntas.  
Quando eu não ouvia o que dizia Sergey, suas palavras repetia Natasha.
Antes da guerra Sergey trabalhava como gerente-distribuidor da empresa produtora "Uchmebel". Ele foi mobilizado em 31.01.2015. Foi para 30ª Brigada. Em casa ficaram duas crianças: filho de 7 anos e filha de um ano.


Eis o que ele lembra, quando foi ferido:
- Isto aconteceu em 16 de maio, na aldeia em Luhansk. Havia tiroteio, eu e amigo levamos um combatente ferido para um reflorestamento próximo. Eu peguei a caixa de primeiros socorros. Assim que cortei a armadura, a nós chegou uma mina. O ferido tornou-se 200, e eu 300 (Em ordinais, 200 ou 2 centenas é o número que designa os mortos, e 300, pelo exemplo, deve ser designação de feridos, ou feridos gravemente. É gíria. Não tenho certeza - OK). 

O outro meu amigo estava logo atrás de mim, e teve apenas uma concussão. Ele me puxou, cortou as armaduras, deu os primeiros socorros. Depois me levaram num BMP (máquina de guerra), evacuaram para Artemivsk, lá havia um médico do hospital de Kyiv. (Nós hospitais centrais das regiões trabalham médicos de Kyiv para reforçar a composição - OK)).

- Este médico depois vinha para sala da reanimação, dizia que se lembrava de mim. Mas eu não lembrava dele...
- Sim, Sergey não lembrava nada, - diz Natasha. - Eu, na reanimação, todos os dias contava e repetia tudo o que acontecia.


- Natasha, e como você soube sobre o ferimento?
- A mim telefonaram logo depois do acontecido, e pediram para que eu me segurasse... Então eu voei para Kharkiv.
- E como o filho recebeu a notícia, de que o pai está gravemente ferido?
- Ele ainda não sabe, eu quero que o próprio pai lhe conte, mais tarde.

Eu percebi que Sergey estava ficando cansado, e decidi acabar com o interrogatório. Natália nunca pediu ao marido que se recusasse da defesa de seu país. Ela o apoiava e apoia em tudo. Amor tão terno e devotado eu quero desejar a todos nós.

Estas são as pessoas, que sendo essencialmente pacíficas, não hesitam e vão defender a Pátria, diante das quais estremecemos, sempre sentimos respeito e desejamos fazer de tudo para que elas se restabeleçam.

Pessoa iluminada Vadim Svyrydenko
Vysokyi Zamok (Castelo Alto), 23.06.2015
Mila Ivantsova

Você se sente inseguro quando, pela primeira vez, vai ao hospital para visitar feridos. Quem sabe, como falar com eles, com que palavras e ações apoiar a pessoa na adversidade, nutri-la com sua energia, acrescentar forças e vontade de viver e lutar.

Abre-se a porta da enfermaria, e lá... na mesa de massagem esta um soldado em shorts e camiseta e... faz treinamento sob a orientação do instrutor - reabilitador. Com intensidade balança os músculos das mãos e pés, amarrados com uma faixa de borracha especial, que o treinador segura a distância. E tudo seria nada se os antebraços finalizassem com as mãos e as pernas com os pés.

- Sentem-se, contem. Eu, enquanto isso vou continuar. Eu ouvirei tudo! - alegra-se Vadim com os quatro visitantes - seu amigo de Debaltseve e nós, três mulheres, que vieram visitá-lo.
Penso - "Deus, que força de vontade! E eu apenas prometo exercitar-me todos os dias! Mas nós lhe trouxemos livros, como irá lê-los..."

Enquanto isso trava-se conversa, trocamos notícias sobre os acontecimentos e amigos comuns, ouvem-se piadas... Então o treino termina. Vadim veste uma camiseta seca, já ocupa seu lugar na cama, e nós voltamos novamente, às conversas.

Incrivelmente amigável e equilibrada pessoa. Não reclama, não se irrita, nada pede. Pergunta sobre as novidades, brinca...
Depois de uma hora e meia nós saímos, com a impressão de estarmos inflados com energia, sorrisos, força e crença em nossa invencibilidade. E ainda - com percepção de que os problemas, devido aos quais todos nós nos queixamos, não são problemas, mas pequenas contrariedades.

Ele tem 42 anos, mas parece mais jovem. Escapou milagrosamente da caldeira de Debaltseve. Enfermeiro com educação econômica superior. Ajudava os outros, tratava soldados e civis, salvava vidas, mas sozinho recebeu ferimentos causados por estilhaços quando, com outros soldados ia prestar ajuda ao cercado checkpoint. No hospital de Debaltseve recebeu a primeira ajuda e na noite de 16 de fevereiro foi enviado a Artemivsk. Mas o comboio de carros, inclusive o carro com os feridos foi alvejado, depois o carro arruinou-se numa mina.

Ao longo de dois dias, no auge do inverno, ferido e contuso passou entre corpos congelados de seus colegas mortos. Comia neve e esperava sobreviver. Sabia que precisava lutar, precisava voltar à sua casa.
Ele foi recolhido pelos "deenerivtsi". Interrogavam, chamando-o de fascista, não acreditavam que era médico. Por sorte, durante o dia foi trocado (troca de prisioneiros - OK) e levado a Dnipropetrovsk. Em seguida, para uma clínica especializada em Kyiv.
Infelizmente, reviver os tecidos congelados não conseguiram, e os médicos foram forçados a amputar os pés e as mãos. Mesmo os médicos experientes mal continham as emoções, quando falavam sobre esta única possibilidade.

É terrível imaginar-se no lugar de homens jovens e fortes, obrigados a passar por tanta dor e tais testes. Mas nisto a vida não termina. Parentes, amigos, voluntários, simplesmente pessoas estranhas apoiam Vadim como podem. E ainda o homem é estimulado para uma rápida reabilitação com o nascimento, em setembro, do bebê que ele e a esposa esperam, e que Vadim planeja balançar com suas mãos.

- Os maiores planos - Instituto de Prótese em Kharkiv.

Novamente treinos para se acostumar à nova vida, novas barreiras e novos caminhos. Ele conseguirá. Todos, que estão familiarizados com ele, não duvidam. E eu acredito, que Deus salvou-o para uma missão especial , porque viverá por si mesmo, e por aqueles que não voltaram vivos.

Tradução: O. Kowaltschuk

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