Ukrainskyi Tyzhden (Semana Ukrainiana), 17.02.2014
Olena Orlyk
Stanislav Kulchytskyi: "Construção do alinhamento vertical do governo segundo modelo soviético conduz ao beco sem saída, as ações e planos dos atuais políticos e politólogos perderão a consciência, se nós não compreendermos o nosso passado comunista. A voz da corporação dos historiadores deve ser ouvida."
Análise, pelo historiador Stanislav Kulchytskyi sobre a realidade e perigo do apelo vermelho no século XXI. |
O grande historiador Arnold Joseph Toynbee caracterizou a dinâmica positiva ou negativa do processo histórico com duas palavras: desafio - resposta. As comunidades humanas, por vezes, têm de responder a desafios do tempo: políticos, ideológicos, ecológicos, etc. Se eles o fizerem de forma convincente, continua seu desenvolvimento. Se não, lhes ameaça a perda de identidade ou morte. Meu livro é dedicado à investigação, de como os cidadãos da Ukraina reagiram ao desafio ideológico, consubstanciado na forma da abolição da propriedade privada. Isto é, ao desafio comunista, vermelho.
Trata-se de três gerações, cada uma respondia ao apelo vermelho a seu modo. A terceira praticamente adaptou-se completamente ao comunismo, que durante a sua vida adquiriu a aparência de "socialismo desenvolvido". De 52 milhões de cidadãos, revelaram-se manifestantes ativos apenas alguns milhares de dissidentes. De repente ocorreu uma espontânea auto-desintegração do comunismo - sem ameaça interna ou externa visível para sua existência. A parte da terceira geração, cuja vida ainda está em curso, com seus filhos (quarta) e netos (quinta) geração) encontrou-se num mundo específico - pós comunista.
Tal nome já existe no quotidiano ("renovação"), e na política ("Euromaidan"). A maioria dos ukrainianos deseja viver como vivem na parte da Europa, que esteve fora da experiência comunista. Quando estas pessoas foram traídas surgiu Euromaidan.
Exatamente isso mostra, que na Europa Oriental continua a época pós-comunista. Leais à ideologia comunista nem são tantos, como evidenciam os baixos índices do partido comunista. Mas a parte da população que não entrou na economia de mercado, lembra com nostalgia o passado soviético e seu paternalismo estatal. Tais sentimentos usam os governantes do Kremlin, cuja meta é reviver o Império Russo, já não na forma da União Soviética, como deu certo aos bolcheviques, mas em outra, muito mais sinistra.
Espero que compreendam isto os que lamentam o colapso da União Soviética. Após o Conselho de Pereyaslav (1.654), a então elite ukrainiana foi incluída à nobreza, como Pequena Rússia. Aos camponeses permitiu-se o uso da língua nativa, considerada dialeto. As pessoas instruídas que não passaram para o idioma russo, tornaram-se inimigas do império, Mazepa¹ separatistas. Quando os bolchevistas tomaram o poder, eles reconheceram o direito dos povos à formação de Estados-nações, mas apenas sob um poder vertical - o soviético. Ukraina continuava unitária e altamente centralizada. A realizada ukrainização dos órgãos direcionais e estruturais de educação e cultura favoreceram a enraização das autoridades soviéticas, como ao renascimento nacional. Em 1932 a campanha da ukrainização fora da URSS foi proibida, e na própria república ela foi artificialmente dividida em dois tipos: bolchevique e dos seguidores de Petliura ². A luta contra o "nacionalismo burguês foi declarada como prioridade, e Ukraina se viu no epicentro do terror stalinista.
O início da década de 1970 caracterizou-se como perseverante e de grande escala na russificação de ukrainianos e bielorussos.
Deste modo Kremlin queria impedir a transformação de russos numa minoria nacional na URSS. Na Rússia atual existem áreas com a maioria muçulmana, e as regiões do Extremo Oriente e da Sibéria já estão sendo colonizadas pelos chineses. Os líderes do Kremlin necessitam não somente o território da Ukraina, do qual retiram sua tradição histórica, mas também o seu povo, através do qual eles pretendem aumentar o número de russos. Então, os círculos dirigentes da FR abraçam para armamento a ideologia pré-revolucionária da nação ortodoxa. Com a ajuda da igreja, e também a elite pró-russa na Ukraina realiza-se um extenso trabalho, direcionado na absorção do território e nação. Anteriormente isto não era muito acentuado, a fruta precisaria amadurecer. Mas a recusa da Associação com UE (pelo ex-presidente Yanukovych - OK) causou uma tempestade de alegria furiosa nos talk-shows na TV e nos fóruns da Internet russa. Ainda maior agitação, mas desta vez a indignação causaram os intelectuais ukrainianos após a rejeição da associação.
A experiência comunista pode ser comparada com uma cirurgia, após a qual a pessoa demora para sair da anestesia. Para os países bálticos, esta condição já a muito foi resolvida, mas precisa considerar que eles foram sovietizados em consequência do Pacto Ribentrop - Molotov. Moldova, com sucesso resolve seus problemas, também, em parte, relacionadas com este pacto. Resta determinar com que velocidade se livram da anestesia três outros países pós-soviéticos da Europa: Rússia, Ukraina e Belarus.
Estes três países foram muito traumatizados pelo comunismo, Rússia mais fortemente. Mas ela sofreu menos repressões estalinistas pois era o país-formador. E, exatamente por isso desempenhou o papel principal nos acontecimentos relacionados com o colapso da URSS. Isto não impede aos atuais árbitros do destino da FR considerá-lo como maior catástrofe geopolítica do século XX. Eles reuniram como símbolos estatais e no trabalho educacional, os opostos valores da era anterior e a pré-soviética. Alguns publicistas da era da reconstrução, Perestroika de Gorbachov dizem: "Isto é esquizofrenia, não pode colocar numa cabeça valores opostos!" E, de fato, essa posição leva em conta o estado de espírito de todas as pessoas, que em diferentes velocidades se distanciam da anestesia. Na Belarus, os valores soviéticos geralmente tentam salvar, isto revelou-se conveniente para a afirmação da pós-ditadura soviética. Na Ukraina a situação é diferente. A luta em curso agora é transparente.
Há cientistas que evitam os termos "comunismo" e "socialismo", denominando o regime, que existia na URSS como capitalismo de Estado. No enanto, devemos considerar que a sociedade soviética foi privada da propriedade privada, ou seja, comunizada. Portanto, tornou-se dependente de um proprietário monopolista dos meios de produção, com auxílio do qual produzem-se bens materiais, - da comunidade-estado. E isto significa, que o comunismo preservou-se não apenas nas cabeças de partes da sociedade como uma relíquia ideológica. A situação é mais trágica: as pessoas passaram a contar, não com a própria vida, mas com o Estado. A dura verdade, é que a Europa Oriental permanece em algum lugar entre a UE e Coréia do Norte.
Na Ukraina está presente uma dinâmica positiva de mudanças. Nós participamos ou vemos na TV a crise da sociedade pós-comunista: revoluções do colapso em 1989-1991, a Revolução Laranja de 2004, Euromaidan de 2013-2014. As crises são oportunidade para recuperação. São desafios que exigem uma resposta decente. Quando até uma pessoa essencialmente soviética, como Viktor Yanukovych (ex-presidente), jura que sonha com Associação com a UE, mesmo com ela há uma oportunidade de afastar-se dos padrões de vida da Coréia do Norte e aproximar-se da Coréia do Sul.
Já por 50 anos eu estudo a era de Stalin e sou obrigado a reconhecer, que essas leis desenvolviam os discípulos dignos de Lenin e Stalin: a essência delas é soviética, mas a forma é europeia. Não eram formuladas em Kyiv, não era de tal inteligência o ambiente de Viktor Yanukovych. Todos nós devemos viver sob as leis aprovadas pelo Parlamento e assinadas pelo Presidente. No entanto, nem o Parlamento, nem o Presidente não devem tratar seu eleitorado como gado. Esta palavra recentemente soou na TV direcionada da boca de uma senhora de Kyiv, que a si mesma, provavelmente, assim se considerava. Os cidadãos têm o direito ao protesto, se as leis contrariam a Constituição. Todos sabem que sob as assinadas leis de Hitler e Stalin, realizavam-se genocídios.
Nosso presidente levaram ao impasse Nós nem sabemos exatamente, que formas de "constrangimento em direção à união aduaneira" empregaram-se, apesar de que impressiona o que estava à tona. Mas precisa convencer o líder do Estado (e não apenas ele), que a construção do poder vertical de acordo com o modelo soviético leva a um beco sem saída. As ações e planos dos atuais políticos e politólogos perderão o sentido se nós não desmontarmos o nosso passado comunista. A voz da corporação dos historiadores deve ser ouvida.
Os historiadores, durante o último quarto de século revelaram muitíssimos fatos problemáticos na relação do ditador com o povo. Os mais impressionantes estão citados no meu livro. Totalizando tudo no epílogo, eu fiz esta conclusão sobre "democracia": A sociedade soviética da era Stalinista era parecida com jardim de infância, no qual a sorridente professora podia dar uma palmadinha na bochechinha de uma criança, acariciar a cabecinha de outra e torcer o pescoço da terceira, sem violar com isto o silêncio e a tranquilidade". Como você pensa, a nossa atual sociedade se parece com o que havia em 1933 e 1937? Então para que criar um sistema de governo, no qual tudo depende da vontade de uma pessoa? A autoridade isolada da sociedade, que no século XXI tecnicamente já não pode ser intimidada, é instável. Suponhamos que Euromaidan não terá consequências. Mas na frente eleições presidenciais. Será que elas não se transformarão em uma crise politica?
Os nossos cidadãos não desejam que a nação ukrainiana, com seus mais de mil anos de existência desapareça na escuridão dos próximos anos, não se torne adubo para outros. Mesmo próximo a nós pelo idioma, cultura e religião. Na Ukraina surge uma sociedade civil que sob o comunismo, em princípio, não podia existir. As pessoas agora unem-se em redes sociais da Internet. Cada pessoa tem seu telefone celular, com o qual pode capturar qualquer crime do governo e colocar a prova na rede. O próprio governo tem dinheiro nos bancos estrangeiros, e não deseja perdê-lo. Existe a aplica-se a lei internacional sobre o genocídio. A lista continua.
Quando a propriedade privada dos líderes do Partido Comunista da União Soviética deixou de existir, dela se aproveitaram pessoas que nós agora denominamos "oligarcas". Apossando-se dela, eles abandonaram o que foi proletarizado, o que dependia completamente do governo. Tal foi o padrão geral da transformação da propriedade nos países, onde houve o colapso do sistema comunista. Mas Rússia, ao contrário da Ukraina, tinha aparelho estatal forte, de longa tradição. Ela subjugou os oligarcas e continuou a política de paternalismo e prendeu, a si, a sociedade. E ainda assumiu a vizinha Belarus. Minerais capazes transformaram-se em moeda convertível, Rússia tem bastante. Vladimir Putin, nem tanto assustou, como comprou a sociedade local. Mas na Ukraina minas de minerais transformáveis em moeda, não há, há apenas oligarcas, que transferiram os cuidados com a nação para o orçamento do Estado, e seus lucros, na maioria não colocam na produção, mas depositam em bancos estrangeiros. Daí vem as crises, e também as esperanças na aceleração do processo de transformação.
O paternalismo estatal é inseparável da economia comunista. As duas primeiras décadas (1919 - 1938), quando a sociedade, por todos os meios era proletarizada, na Ukraina foram, simplesmente terríveis. Não menos assustadores revelaram-se "transformações sociais" nas regiões ocidentais na primeira década pós guerra (1945 - 1954). Feito todos os cidadãos economicamente dependentes de si, o estado-comuna também tornou-se dependente deles. Gerenciar o processo de produção, como fazia anteriormente o expropriado proletário, ele não podia. Portanto, os grupos trabalhadores receberam plenos poderes na gestão da produção. Na agricultura o estado teve que aceitar o direito a propriedade dos agricultores, aos produtos por eles cultivados, e limitar-se com imposto fixo, embora muito essencial. Privada de um concreto patrão, a economia soviética permanecia dispendiosa e ineficiente, mas o Estado-comuna não permitia desemprego e garantia o mínimo das necessidades para todos. A fé na futura divisão segundo necessidades reforçava-se de que na divisão do fundo de salários foram criados fundos de consumo, por conta dos quais apoiavam-se os órgãos de educação, saúde, economia, serviços de enfermagem e veraneio. A vantagem de concentração de todos os recursos em suas mãos Kremlin usava, principalmente, para reforço militar, então a União Soviética transformou-se numa superpotência. No período de Nikita Khrushchev e, posteriormente, realizava-se em grande escala a construção de casas, de distribuição gratuita, para os necessitados. Agora os cidadãos recebem cem por cento do salário, mas somente se estiverem empregados. E, este salário, não pode ser comparado com os disponíveis nos países de economia de mercado livre e sindicatos independentes, de empresários. P que fazer com os problemas de habitação e proteção da saúde, com a reforma capital do fundo habitacional, aquecimento e redes de gás, com clubes e bibliotecas, especialmente nas áreas rurais, o roubado país pelos oligarcas não sabe e saber não quer. Especialmente a terrível situação formou-se no Donbass, cuja economia continua a ser uma relíquia da anterior era industrial no desenvolvimento humano.
Será que o que falei anteriormente pode ser interpretado como um chamamento "fora de Moscou!"?
A todos nós - ukrainianos, bielorussos, e russos - há espaço suficiente na Europa Oriental. Meu apelo pode ser formulado da modo diferente: "Fora do Império russo!" Minha língua nativa - é russa, eu tenho amigos e parentes na Rússia, estive lá muitas vezes. Como historiador estou agradecido aos russos que organizaram a revolução de Fevereiro e com isto permitiram a Ukraina reaparecer depois de alguns séculos ausente no mapa.
Também estou agradecido a outra geração de russos, que derrubaram a União Soviética e libertaram o meu povo da pior das ditaduras que tinha a capacidade de entrar no corpo e na alma de cada pessoa.
1 - Mazepa - Hetman (líder dos cossacos e da Ukraina). Cansado de ver Ukraina ser limitada em seus direitos e explorada por Moscóvia (primeiro nome da Rússia), resolveu libertar Ukraina aproveitando a guerra entre Moscou e Suécia, em 1708. Mazepa passou para o lado sueco porém eles não obtiveram êxito. O czar russo, Pedro I, venceu a disputa e mandou destruir Baturyn, a capital dos cossacos. Todos os ukrainianos que apoiaram Mazepa, foram declarados traidores e submetidos a execração religiosa.
2 - Petliura - 1879 - 1926. Político e militar ukrainiano. Principal dirigente do Exército e frota ukrainiana. Presidente do Diretório da República Popular da Ukraina em 1919-1920.
Tradução: O. Kowaltschuk
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