Ukrainska Pravda Zhyttia (Verdade Ukrainiana Vida), 19.03.2015
Irina Soloshenko
Já a seis dias que Alex Litovchenko recebeu alta da reanimação cirúrgica e está na reabilitação.
Desde 29 de janeiro ele luta pela vida: no início, no hospital de Dnipropetrovsk, depois no hospital militar de Kyiv. Os médicos conseguiram o impossível e devolveram-lhe a vida. Agora Alex terá um longo caminho para recuperação, para poder voltar à vida normal.
Agora, para ele é importante ficar em pé, em todos os sentidos. Logo deve nascer sua filhinha.
Sua esposa Oksana já foi para casa, em Odessa, para dar à luz. Graças a ajuda de pessoas não-indiferentes, a pequenina já tem o carrinho de bebê, mas a caminha e todo enxoval necessário receberá da Itália.
- Como a esposa reagiu, quando você foi para guerra?
No início, disse: "quando voltar - conversaremos". Depois, quando estava próximo da morte, disse: "Quando sair do hospital - conversaremos..." (cansado, ele sorri).
...Quando eu vim para conhecer Alex, com alegria o vi no quarto, mastigando hambúrgueres do restaurante, trazidos por voluntários, por encomenda dos feridos.
Alex, orgulhosamente diz que já deu alguns passos, segurando nos apoios. Ele já sai à rua para tomar sol e respirar ar.
Todas estas coisas simples - sentir o sabor dos alimentos, desfrutar do sol e ar fresco, não ouvir a cada segundo os sons dos dispositivos de reanimação - é difícil de entender e avaliar àqueles que não oscilaram entre a vida e a morte.
Ales retorna sempre em pensamento a 29 de janeiro. Neste dia ele quase morreu.
Ao lado de Alex está sentada uma preocupada voluntária, ela segura sua mão. A imaginação de Alex povoam fortes fantasmas e ele precisa sentir apoio, simplesmente apertando a mão de alguém.
Quando falamos com Alex, sentimos que falamos com oficial de carreira, que entende o que arriscava, o que fazia, e qual é a responsabilidade que assume por suas ações.
- Como você entrou no exército?
_ Eu fui mobilizado da reserva, eu sou tenente da reserva da Marinha.
Ele constrói as frases como militar, claras e corretas.
Alex nasceu em 1985, em Odessa. Formou-se em direito, mas nos últimos anos trabalhou na construção de prédios como estucador, porque não conseguia emprego de acordo com sua especialidade.
Depois da mobilização, em agosto de 2014, por dois longos meses participou de treinamentos no campo "Amplo Lan", praticou habilidades de guerra.
- Á pergunta, "vocês foram bem treinados, ou apenas pró-forma?" respondeu severamente, que o treino foi sério.
- E, para onde você foi mandado depois do treino?
- De acordo com o número da ordem... Comando "Sul", para executar a tarefa de operação antiterrorista fui enviado para a região de Donetsk.
_ Eu fui para guerra porque eu sou pela Ukraina. Eu sou um oficial, eu fiz o juramento pela nação ukrainiana. A mim tanto faz, quem está no governo, eu prometi proteger a integridade do país. Compreende?
- Bem, muitos encontram razões para não ir à guerra, e você, não teve medo?...
- Então por que eles usam dragonas? Eles não compreenderam que será preciso morrer pelo país?
- Não, muitos não entendiam, mas ao exército iam, não imaginavam que será necessário lutar, e ainda com o "povo irmão". Esse é o problema. (São os russos que chamam, hipocritamente, os ukrainianos de "povo irmão". Historicamente são povos distintos. -OK).
Eu não posso descrever detalhes, como e onde guerreou Alex. Como ele disse, - "A guerra não acabou". Em 29 de janeiro, durante o bombardeio "da cidade", recebeu estilhaços de arma de fogo que feriram o terço superior da coxa esquerda.
Durante a conversa na enfermaria, de tempo em tempo, Alex tenta nos mandar para casa, junto às crianças. Ele, sinceramente se admira, por que nós "abandonamos" nossos filhos e perdemos tempo com ele. Foi preciso explicar, que ele também encontrou tempo para deixar sua família, esposa grávida - e foi defender o país.
- Quando recebi o ferimento, eu vi, que a perna ficou pendurada num pedaço da pele, forte sangramento e dor. Soube imediatamente que perna eu não tinha mais.
- Você tinha o kit de primeiros socorros?
- Sim, gaze, butarfanol, esponja hemostática... Os rapazes me cobriram com gaze, dois seguravam, o terceiro colocava. Injetaram 4 butarfanois. Eu estava meio desmaiado.
Em Solidove foi realizada a primeira cirurgia. E me levaram, coberto com lençol, por 279 quilômetros, ao hospital do exército em Dnipropetrovsk. Estava extremamente frio, para menos de 20 graus...
- Este frio eu vou lembrar para sempre. - Já em Dnipropetrovsk me colocaram numa cama artificial. Depois passei por muitos dias de reanimação, certos antibióticos insanamente caros, comprados pelos voluntários, pneumonia, ferida infectada... - MAS agora tudo já passou. E à frente - a alegria da paternidade, preocupação e cuidados.
- No final de nossa conversa, depois que eu pedi para tirar uma foto, ele, demoradamente e com desagrado, olha para ela e balança a cabeça.
Alex ainda precisa seguir seu caminho: aceitar e acostumar-se com a prótese, aprender a andar com ela, com joelho artificial, encontrar-se em novas condições.
Enquanto isso, Alex não tem possibilidade de manter sua família com dignidade - nós, como vocês, podemos ajudar. (Em seguida vem o número do cartão bancário. Pedidos assim sempre há em casos semelhantes. Também publicam o que conseguem, as doações - só os valores e objetos. O povo, apesar de pobre e preços em alta, ainda atende aos pedidos e ajuda. Os voluntários são as pessoas que se doam, muitas vezes abandonando o próprio emprego, para ajudar. Infelizmente, uma parte deste povo aprendeu com os soviéticos a enganar e roubar, especialidade de muitos políticos, funcionários públicos e empresários. O governo ukrainiano atual está começando fazer a "limpeza", mas o trabalho é imenso, o campo está cheio de ervas daninhas. E, ainda tem o governo russo que não dá sossego.
Tradução: O. Kowaltschuk
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