Cartas do ocupado Donbas.
Donetsk 10 meses depois: agora nós viveremos, precisamente, em "DNR"
Deenerivtsi (pessoas da "DNR") prometeram, que transformarão Donbas numa "pequena Suiça". Transformaram: agora em Donetsk, viver é tão caro, como nos países europeus.
Pessoas olham das janelas o "Grad" dos militantes. Donetsk, 22 de janeiro de 2015. |
Radio Liberdade (Rádio Liberdade), 07.04.2015
Alex Valeriyev, engenheiro, Enakieve-Donetsk
Em Donetsk, estive pela última vez em maio do ano passado. Evidentemente, já então sentia-se a tensão na cidade, mas ainda podiam ser vistas até mesmo bandeiras ukrainianas sobre algumas instituições. Também nos carros. Havia muitas pessoas na cidade. Muitos veículos. Ainda não havia o tão terrível cheiro de pólvora queimada, que é sentido hoje em toda a cidade. Ainda trabalhavam os magazines, havia muita mercadoria com preços acessíveis. Trabalhavam empresas e instituições, onde, regularmente pagavam salários. Assim eu recordo Donetsk, no final da primavera de 2014.
Então, eu fui no mercado de rádio "Farol". O comércio era muito ativo. Lá, você poderia comprar de tudo. No mercado de livros também havia muitas pessoas. Destaco isto, porque não pode apresentar a nós, donchan (pessoas de Donetsk - OK) como massa de analfabetos, grosseiros, que sempre enganam.
Manifestação anti-guerra em Donetsk - 5 de março de 2014 |
O que aconteceu depois com as pessoas, para mim é mistério. Eles dizem que, naquele referendum não havia nem 30% das pessoas. E o número foi pintado, como exigiam em Moscou (Lembro: os jornais ukrainianos constataram presença mínima - OK). Mas, eis Donetsk no final de março de 2015. Apenas 10 meses de diferença - agora nós, verdadeiramente, vivemos em "DNR"!
Saí pela manhã, o ônibus meio vazio. Isto nunca acontecia antes - ficava completamente entupido. No banco da frente desmoronou um "voluntário" com uma moça muito gorda. Fala alto quase gritando ao telefone, diz que achou a moça que era procurada. A garota, ao seu lado, quase inatingível em sua grandeza. Na japona do "voluntário" algumas medalhas mal colocadas. As pessoas desviam os olhares. No interior propaga-se o cheiro de álcool. No entanto, ao sentar no banco, ele pagou ao motorista. Dizem, que o pagamento é indispensável. Se não pagar haverá problemas.
Quando o casal sai, todos suspiram de alívio. Em tempo, nos checkpoints da "DNR" não é raro encontrar mulheres. Elas, com roupas rasgadas, sujas: guerra.
Os checkpoints quase vazios. Param, seletivamente, os carros. Os ônibus passam livremente.
A entrada à "capital" simplesmente impressiona. Rasgada a publicidade externa de antiguidade anual. Desenterrados com tanques "outdoors", desmoronadas as orlas. Naturalmente, isto não é visto em todos os lugares, mas vê-lo chama muito a atenção. Nos checkpoints sacos de areia rasgados, e isto já não são barricadas, mas a pilha habitual de areia suja e, provavelmente, muito perniciosa.
Depois que do ônibus saiu o parzinho, a conversa começou estabelecer-se.Dois homens de meia idade conversam sobre a retomada do trabalho em dois conjuntos industriais de Ahmetov em Yenakiyeve e Makeyevka. (Ahmetov é o empresário mais rico da Ukraina. Não tenho lido nada sobre queixas de perdas econômicas que tenha sofrido com a guerra. Ele não é ativo na política, mas é a favor da Ukraina russificada - OK).
Bairro Kyiv em Donetsk - 27 de março de 2015 |
Donetsk impressionou: quase não há pessoas nas ruas (Donetsk possuía um milhão de habitantes - OK). Os que aparecem, caminham com muita rapidez, param apenas nos pontos de ônibus. Não há pessoas no parque, todos os bancos estão vazios. Os rostos dos idosos, principalmente, são amarelados ou cinza. Nas paradas não conversam, de esguelha olham para os vizinhos. Nas ruas passam veículos militares com russos. Muitos já ostentam bandeiras russas costuradas nas mangas.
Nas ruas não se vê juventude. Mesmo próximo às escolas os jovens são poucos. Lembro, como em maio, antes do referendo, gritavam, que com a "DNR" Donbas se transformaria em "pequena Suiça". Parcialmente, os militantes cumpriram suas promessas: Hoje, viver nos territórios ocupados tornou-se tão caro quanto nos países europeus. Preços "cósmicos", em UAH (hryvnia) e rublos, mas o curso é de roubo: 0,4 UAH por rublo (No câmbio internacional UAH, apesar de forte desvalorização recente, vale mais que o rublo - OK).
No ônibus, o tempo todo soa voz sepulcral: "Exijam, na compra cheques "DNR" e "Vocês são esperados no próximo posto militar, inscrevam-se ao exército da "DNR", - e mais umas dez insanidades semelhantes. O ônibus anda rápido, na rua quase não há carros.Às vezes, em desenfreada rapidez passam os carros dos "deenerivtsi". Eles são facilmente reconhecidos, porque não seguem as regras de trânsito, e mesmo nas vias de passeio não diminuem a velocidade.
Finalmente, após uma caminhada pelas lojas, acabei no "Mercado Coberto". Assisto a negociação de munição militar e divisas militares. Alguns "voluntários" escolhem divisas para luvas. Sobre a tenda, o aviso: "Vendas apenas com apresentação do certificado".
Coisas interessantes em "DNR": as insígnias da Rússia vão aos mercados e são vendidas, não são dadas aos militantes.
Produtos há, mas compram principalmente os russos e os "voluntários" locais. Tudo muito caro.
Cheguei também ao mercado "Farol" onde havia um grande mercado de livros, que competia com Kyiv, na Petrivka, e quase faliu. Vendem apenas brinquedos e material de escritório. Nem a literatura russa é procurada Sobrou apenas uma tenda, as demais fecharam. Um pouco mais ativo é o mercado de rádio. Mas, dá para ver que as pessoas vendem o último para comprar comida.
E, na parede este aviso: "A administração da região "Kubashevska" avisa: o cemitério no trecho 15, cemitério Zhabunky, visitar, infelizmente, categoricamente não pode!" Nenhuma explicação.
Tradução: O. Kowaltschuk
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