quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Debaltseve. Sem esperança de paz
Ukrainska Pravda (Verdade Ukrainiana), 17.02.2015
Oksana Kovalenko e Anastácia Mahazova

Pelos eventos ao redor de Debaltsevo na última semana observam atenciosamente não apenas na Ukraina. Líderes da França e Alemanha Angela Merkel e François Hollande, em 16 de fevereiro, por telefone debateram a situação com Petro Poroshenko.

Debaltseve - ponto estratégico para "DNR" e "FSC" - é através dele que passa a linha ferroviária, que facilitaria o transporte e a comunicação das duas "repúblicas".
Por esta razão, os militantes não deixam tentativas de obter o controle sobre a cidade. Os militares ukrainianos, por sua vez, fizeram todo o possível para manter a área sob controle ukrainiano.

Durante os últimos três dias correspondentes da "Verdade Ukrainiana" estiveram na região de Debaltsevo, e conversaram com os militares ukrainianos e com os cidadãos pacíficos das aldeias vizinhas. 

Continuamos acompanhando a situação.
Os moradores da aldeia Kalenove, localizada a 15 km de Debaltseve, já se acostumaram aos ataques constantes, e aprenderam manter a vivência ao lado de ações de combate.

Na manhã de 14 de fevereiro, 12 horas antes da trégua oficial, no campo, não longe da casa do agricultor Mykola instalaram obuses.

No campo próximo do sítio de Mykola a artilharia trabalhava constantemente
- Vocês não se assustem, logo haverá uma salva, - diz o agricultor, quando nós nos aproximamos de sua casa. - Oh, ouça agora?! Logo virá a resposta.
Ouve-se o ribombar, e no horizonte é visto como projetos voam a algum lugar para o lado de Debaltseve. Esta pequena cidade, na qual, segundo o Conselho local, antes da guerra, viviam 45 mil pessoas - hoje um dos pontos mais quentes na linha da frente.  E, aqui, nada indica o regime de cessar-fogo".

As pessoas que não conseguiram ou não quiseram sair da cidade e de suas adjacências, já por mais de duas semanas vivem sem água, gás, aquecimento e comida.
Os militares ukrainianos continuam mantendo suas posições sob constante bombardeio dos militantes.

GUERRA OU PAZ?
A nós, por enquanto, apenas cobrem com a onda de explosão, então nós continuamos a trabalhar para manter nossas atividades. Agora eles concordam sobre cessar-fogo. E o quê? Hoje atacam com força redobrada. Durante a noite toda - queixa-se o agricultor. Quando você tenta convencer o homem, que tudo pode mudar após a meia-noite, Mykola inflama-se num segundo, fica vermelho e começa praguejar em voz alta.

- Que acordos?! Sobre o que você está falando? Esta é uma guerra eterna, não há nenhuma esperança!

Eis os presentes que recolhem os moradores locais depois dos ataques noturnos na região de Debaltseve
Apesar de seu pessimismo, após meia-noite de 15 de fevereiro os ataques realmente pararam.

E, mesmo pareceu incomum o silêncio nestes locais pela primeira vez em muito tempo. 

Às 10 horas da manhã saímos na rodovia Artemivsk-Debaltseve. Nos postos de controle como antes, de suas posições ninguém se afasta. Ainda no outono estes lugares eram "profunda retaguarda". Agora, ao longo da estrada, à aldeia Luhanske (Não confundir com Luhansk), que está a 18 km de Debaltseve, estão as casas com vidros quebrados pelas ondas das explosões.
A rodovia está quase vazia. Nela, ocasionalmente pode-se encontrar veículos militares. Os soldados nos advertem que a estrada pode receber tiroteio, e recomendam passar em alta velocidade a ponte, danificada pelos militantes, e a passagem através do reservatório de água na região de Svitlodarsk.

Rodovia Artemivsk - Debaltseve
Próximo de Debaltseve nós ouvimos um som que lembra o som de avião durante a decolagem. Diante de nossos olhos o míssil "Grad" (MLRS) voando em direção a cidade.

"CALDEIRÃO NÃO?  SIM LÁ ESTÁ ELE!"
A posição dos combatentes ukrainianos, à qual nós com os voluntários trouxemos utilidades e alimentos, encontra-se a poucos quilômetros da cidade, cujo nome já por vários dias não sai dos relatórios informativos da zona da ATO.

Os militares ukrainianos contam, que no primeiro dia da trégua, depois de uma noite relativamente calma, contra eles dispararam com armas pesadas.
Como prova de suas palavras mostram recentes crateras de meio metro de profundidade, e também totalmente destruído abrigo.

Crateras após tiroteio noturno nas posições dos militares ukrainianos
Bom, que os nossos não se encontravam aqui naquele momento porque todos morreriam, - suspira um combatente.
Os militares esforçam-se para não mostrar suas emoções - eles brincam, não se queixam das condições em que vivem nos últimos meses.
- Aqui, na guerra, todos os sentimentos embotaram, - diz um deles, que aparenta uns 35 anos.
Depois de mais uma batalha ele precisou separar os pertences do amigo morto, com o qual ele lutou ombro a ombro nas últimas semanas. Neste momento o telefone do morto tocou e na tela surgiu o nome do assinante: "Filha".
- Então não resisti, - secamente diz ele. - Foi difícil.

Pergunta número um, que nos interessa - será verdade que os militares em Debaltseve, de fato, encontram-se numa caldeira desde meados da semana passada. Os soldados comuns que encontram-se a alguns quilômetros de Debaltseve, como no Estado-Maior, não têm uma resposta exata para esta pergunta.
- Não, caldeirão não há - com certeza responde um deles.
- Sim, ele existe, verdade - interrompe o outro.
- Não é bem caldeirão. Sim, a principal via está bloqueada, mas aqui próximo nós garantimos a estrada da vida - explica um terceiro. Para isto nossos carros constantemente vão a Debaltseve. 
- Eles chegam? Os militares ukrainianos queixam-se, que os militantes constantemente bombardeiam as estradas. Sob seus tiroteios encontram-se também carros de civis.
- Diante de meus olhos eles bombardearam com MLRS um carro civil. Ao motorista feriram muito a perna. Graças a Deus, a esposa e a criança não sofreram. Depois nós os retiramos do carro, e cuidamos dos ferimentos - conta o militar.

Enquanto nós conversávamos com os militares, a artilharia, do lado do Debaltseve não silenciava nem por um minuto. Os militares nos apressam.
- Vocês precisam ir o mais rápido daqui, enquanto não veio resposta, - pede um militar.
No final, gravamos um pequeno vídeo com um soldado, que fala sobre a situação em Debaltseve.


POR QUE MORREM PESSOAS
Nós saímos da estrada vazia de Debaltseve para aldeia vizinha - Myronivka. A entrada ainda estava fechada. Não permitem, não somente voluntários e jornalistas, mas também representantes da missão OSCE.
As ruas em Myronivka estão completamente vazias, somente, às vezes encontramos famintos e magros cães em busca de alimento. No final da estrada principal esta um prédio de cinco andares, no qual, a partir de constantes tiroteios os vidros estão completamente quebrados - e paredes danificadas.



Em Myronivka os moradores,a mais de uma semana vivem no porão sem luz, água e aquecimento.

Myronivka - tudo o que restou do prédio residencial no centro da aldeia.
De longe chegam vozes. Sim, nós encontramos nesta vazia aldeia alguns homens que saíram de seus esconderijos para buscar água potável.
Já por mais de uma semana, eles e suas famílias vivem no mal iluminado e pequeno porão do prédio, e quase não o deixam devido a constantes tiroteios.
As pessoas estão muito cansadas e muito irritadas, então falar com elas é difícil.
- Por que vieram estes militares? Nós não os esperávamos! Eles trouxeram a guerra para nossa casa! Nós não escolhemos estes governantes. Nós queríamos aqui a "DNR", nós não queremos nada em comum com Kyiv. Que se afastem daqui! - indigna-se Olesia, 35 anos, que vive no porão com marido e filho.

Enquanto os pais discutem conosco sobre suas preferências políticas, as crianças desenham no canto. Para desenhos os pais permitem apenas 3 horas por dia - economizam energia do gerador, por isso, a maior parte do tempo, no porão está escuro.

Na varanda da casa ao lado nós encontramos alguns pensionistas, que acenderam o fogo diretamente no chão e se esforçam no preparo do almoço.
- Vocês são da imprensa? Interessa-se um dos moradores locais. - Venham comigo, vou lhes mostrar algo. Nós seguimos o homem, e pelo caminho ele conta, que a poucos dias Myronivka foi fortemente bombardeada  com MLRS. Um obus caiu a apenas alguns metros do prédio.
- Estão vendo as latas de lixo? Ali, a coberta vermelha, e sob ela o cadáver de um homem. Ele está ali já por vários dias. E ninguém consegue reconhecê-lo e enterrá-lo. No outro dia um dos locais retirou dele as quentes botas.

Cadáver de um homem jovem, que morreu durante o tiroteio, não conseguem reconhecê-lo e enterrá enterrá-lo já por cinco dias.
O homem queixa-se, porque na aldeia não há governo, com o cadáver desconhecido ninguém pode resolver algo.
- Pelo quê? Pelo quê morrem pessoas, explique-me? - pergunta o morador local Vasily. - Dizem, que em Debaltseve ficaram 600 pessoas, mas eu não acredito. Quantos lá permanecem nos porões, os quais ninguém pode encontrar! Eu estive lá duas semanas atrás. Ajudava retirar as pessoas e levava produtos. Na voz de Vasily ouve-se desespero. Ele, como outros moradores desta pequena aldeia, que ficou sozinha com seus problemas e "MLRS", com os quais bombardeiam constantemente, não acredita que as ações militares, em breve, poderão cessar.

DEBALTSEVE: É SITIADO OU NÃO?
Na terça, 17 de fevereiro, depois de dois dias do oficial cessar-fogo, as lutas por Debaltseve continuam, bombardeiam  as posições dos militares ukrainianos também em torno da cidade.
A partir das 18 horas, os militantes conseguiram o controle de parte de Debaltseve. Um grupo de militares ukrainianos que deveria entregar suprimentos militares às posições das Forças Armadas, foi
capturado pelos militantes.
Sobre Debaltseve - fumaça negra. Repelimos ataques de militares russos e militantes. A pouco nos cobriram com MLRS. A batalha continua", - conta por telefone um dos soldados ukrainianos. A situação na área muda de hora em hora.
(O fato de haver muitos russificados nesta região não admira, pois o leste da Ukraina caiu sob o domínio dos russos ainda em 1654. O admirável é que lá também havia muitos verdadeiros patriotas ukrainianos. Não sei se todos saíram desta região, provavelmente não. Por isto, este povo usa o idioma russo. Eu, aqui de longe, penso que a maior parcela de culpa pela não recuperação deste povo foram os governos ukrainianos. O primeiro presidente, li que ele era comunista. O segundo ficou dois períodos e, culturalmente também nada fez. Aliás, houve uma questão, que permanece obscura até hoje, durante  seu governo. Um jornalista, a favor dos interesses ukrainianos, foi decapitado e não encontraram a cabeça nem para enterrar. Seu sobrenome era Gongadze, ele era filho de mãe ukrainiana e pai georgiano. Depois, um ministro se suicidou com dois tiros na testa. É possível??? 
O presidente, pela cuja vitória o povo promoveu a Revolução Laranja, foi coisa de uns 8 - 10 dias, na praça, na neve, entrou com muitos planos e também nada fez.No fundo, nenhum deles quis entrar em colisão com os demais políticos ukrainianos pró-Rússia, muito menos com a Rússia.
É natural este povo não ter sentimentos patrióticos ukrainianos ainda mais presenciando tantos desvios econômicos durante o último governo do presidente Yanukovych. Eles precisam conhecer um pouco de história ukrainiana e russa, mas história verdadeira. Espero que o presidente atual, presidente Poroshenko, consiga fazer algo bom pelo país, como já mostrou que pretende, e que a Rússia se satisfaça com a parte que está roubando agora e que deixe o restante em paz. Mas, Putin já declarou que o maior erro foi a dissolução da União Soviética. 
Durante o dia de hoje, as tropas ukrainianas saíram de Debaltseve, não sei se saíram todos. Há mortos e feridos. Amanhã mandarei notícias. - OK) 

Tradução: O. Kowaltschuk
 

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