domingo, 16 de novembro de 2014

Rússia: A crise passará?
Ekonomichna Pravda (Verdade Econômica). 04.11.2014
Olga Dubenska


A Federação Russa deve lutar com todas as forças para evitar recessão. Isto acontecerá, se os preços do petróleo caírem abaixo de 80 dólares por barril, ou mesmo permanecerem nos níveis atuais por um período prolongado.
Como sabemos, o petróleo e gás respondem por dois terços do total das exportações. De acordo com o banco de investimento Morgan Stanley, "a cada 10 dólares de queda no preço do petróleo correspondem  32,4 bilhões de dólares da exportação de petróleo e gás, o que equivale a 1,6 do PIB" ou cerca de 19 bilhões de dólares em receitas do governo.
Assim, ultimamente, Rússia pode ter perdido 4,8% do PIB potencial e 600 bilhões de dólares de receita.
Os gestores da companhia consideram, que com o preço de 80 dólares por barril, o déficit orçamental aumentará em 2% do Pib, e a inflação atingirá 9%. Se o petróleo cair para 50 dólares pelo barril, isto poderá causar inflação de 13-15% e levar a uma redução do PIB de 60%.
De acordo com alguns especialistas, as reservas ajudarão Rússia sobreviver os tempos difíceis. Mas, nem tudo é tão simples.
Com os preços do petróleo a 75-80 dólares por barril as reservas da Rússia bastarão para dois anos, disse a USAToday o analista-chefe do departamento moscovita "Uralsib" Alexandr Holovtsev. E, se as sanções não retirarem e o preço do petróleo cair abaixo de 60 dólares, as reservas podem ser gastas em um ano. De acordo com o relatório Goldman Sachs "A nova ordem do petróleo", os preços do petróleo já são perigosos para alguns países. Os analistas dizem que, por exemplo,  para o Iraque é necessário um preço estável de US$ 126 por barril, para o Irã - 133 dólares e para Rússia - 101 dólares por barril.

As previsões de especialistas sobre os preços futuros diferenciam-se, mas nenhum deles não conta com rápida recuperação dos preços. A OPEP (Órgão dos Países Exportadores de Petróleo) pretende manter o nível de produção do óleo nas condições de excedente global, por isso o pára-choque de segurança da FR na forma de reserva pode acabar rapidamente.

Segundo dados do Banco Central da Rússia, de 01 de outubro de 2014, as reservas internacionais da Rússia - 454 bilhões de dólares. Com exceção das reservas de ouro e posição de reserva no FMI é menos - 396 bilhões de dólares. Assim, desde o início de 2014 as reservas já "emagreceram" cerca de 9%.

Corredores de valores
A situação complica-se pela rápida desvalorização do rublo. Em 2014,  a moeda russa perdeu mais de 25% do valor do dólar, e nos últimos tês meses - 16%. De acordo com várias estimativas, somente em outubro o Banco Central para apoiar o rublo gastou 13 a 20 bilhões de dólares. Assim, no primeiro semestre de 2014, segundo palavras da presidente da instituição Elvira Nabiullina o regulador do rublo gastou 40 bilhões de dólares.
Curso rublo/dólar:

Fonte: Projeto de lei "Sobre o orçamento Federal para 2015 e no período de planejamento para os anos 2015-2017.
Por enquanto o regulador segue o corredor comercial de 9 rublos para enfraquecimento do rublo, mas já em 2015 o Banco Central planejava passar para uma taxa de câmbio flutuante. Quais serão os próximos passos do banco não se sabe.
Ainda em meados de outubro a presidente do Banco da Rússia disse que a idéia de fixação do curso do rublo é uma decisão "contraproducente".  Ao mesmo tempo Nabiullina expressou confiança de que a queda dos preços do petróleo e a desvalorização da moeda da FR é "fenômeno temporário"
Curso rublo/dólar
Fonte: investing.com
Temporariamente a economia cai em um círculo vicioso. O Banco Central entra no mercado de câmbio para suavizar a queda do rublo. No entanto, isso reduz significativamente as reservas e leva a um maior risco e a queda da moeda nacional. 
Segundo o analista Sherbank S/V Tom Levinson, quando o rublo sai além dos limites do corredor, o Banco Central desloca o corredor em 5 copeques para cada 350 milhões de dólares, gastos para fortalecer a moeda.
Se lembrarmos que, desde o início da rápida desvalorização da moeda nacional Rússia perdeu, frente ao dólar, mais de 10 rublos, então pode-se contar: no apoio total do curso gastou-se não menos de 70 bilhões de dólares.

Capital: fuga à revelia
Durante janeiro - setembro de 2014 a saída líquida de capitais da Rússia foi de 85 bilhões de dólares. Sobre isto em 27 de outubro disse o vice-ministro do Desenvolvimento Econômico da FR Alexei Vyedyev. Segundo suas palavras, o departamento mantém perspectiva quanto a saída de capitais em 2014 - 100 bilhões de dólares. Segundo UE, este número chegará a 120 bilhões de dólares.

No entanto, o problema não reside apenas na redução do capital. Depois da introdução das sanções as empresas russas perderam o acesso aos mercados financeiros ocidentais, e agora eles terão dificuldades para refinanciar as dívidas durante um período não estabelecido. No entanto, para criar as condições a um crédito barato e a longo prazo pode não ter tempo suficiente. Este sistema inclui medidas relativas a offshore e aumento da efetividade de regulações monetárias, sem as quais o refinanciamento pode resultar em mais saídas de capitais. 

No cartaz: Vova (diminutivo de Vladimir) não se trata.  Sob a foto: Moscou, manifestação de médicos contra diminuição em massa de estabelecimentos de saúde.
De acordo com o vice-chefe do comitê da câmara do Parlamento da Rússia da legislação constitucional Konstantim Dobrenin, um dos redatores do projeto de lei sobre anistia de capital, a soma de dinheiro exportado legalmente é 200 bilhões de dólares. Somando com a exportação na "sombra" este número pode chegar a US $1 trilhão.
A falta de empréstimos disponíveis obriga as companhias russas buscar ajuda do governo. Assim, "Rosneft" pediu ao Fundo de Previdência Nacional 2,4 trilhões de rublos ao VTB (Banco comercial russo com participação estatal de 60,9%) - com quase 200 bilhões de rublos, e do Banco Agrícola precisou de 40 bilhões de rublos.

No final de 2013 o governo aprovou a destinação de 150 bilhões de rublos para construção do Anel Viário Central e do desenvolvimento do BAM (linha ferroviária Baikal - Amur, que atravessa a Sibéria Oriental e o Extremo Oriente Russo - OK).

No verão de 2014 o governo aprovou a destinação de 114 bilhões de rublos aos projetos "Rosset" , "Rostelecom" e "Kyzyl - Kuragino". Ao "Rosset" liberaram-se 1,1 bilhão de rublos, ao "Rostelecom" - 27 bilhões de rublos, ao Kyzyl - Kuragino" - 86 bilhões de rublos.

"Gazprom", que pretende construir um gasoduto até a China, também precisa de aumento de capital por parte do Estado. O montante de fundos que o governo poderá fornecer, ainda está sendo estudado. Esta construção custará 400 bilhões de rublos, e a infra-estrutura - mais 70 bilhões de rublos.
Deste modo, o fundo, cujo tamanho é estimado em 3,2 trilhões de rublos, destinados aos próximos anos, e não é certo, se o dinheiro será suficiente até mesmo para os projetos planejados.

Viver no modo antigo
Apesar da complexidade da situação, muitos funcionários russos acreditam que o pior já passou, e que o crescimento econômico será retomado em 2015.
Isto é evidenciado na aprovação da primeira leitura do projeto de orçamento para os anos 2015 - 2017, com base em previsões de desenvolvimento econômico de preço médio do petróleo a US $ 100, o levantamento das sanções a partir de 2015 e aceleramento do crescimento já em 2015.

O governo prevê, que nos próximos três anos as cotações do petróleo vão variar entre 90 - 100 dólares. De acordo com Vyedyev, "não se pode argumentar que a economia mundial entrou na fase de baixos preços do petróleo".
Preços do petróleo crú, dólares por barril:
Fonte: investing.com
Se não considerar as "contra-sanções" com aparência de cem por cento pré-pago gás, a limitação da cooperação internacional no uso dos módulos da Estação Espacial Internacional ou moratórias sobre a exportação de instalações de petróleo e gás da Rússia, então não parece que Moscou desenvolve mecanismos eficazes para combater a crise.

Um dos fatores de progresso poderia ser o negócio de pequeno porte. Mas, devido a burocracia e corrupção, mais de três anos na Rússia sobrevivem apenas 4% de empresas de pequeno porte, por isso este caminho parece improvável.
Outra opção seriam os projetos de infraestrutura, mas esta opção é irrealista. A chamada modernização de cima é ilusória devido a falta de fundos. De acordo com o presidente da FR Vladimir Putin, Rússia fez a sua escolha em favor de "patriotismo e valores tradicionais", mas isto não ajuda a economia. 
A empresa Morgan Stanley em prognósticos quanto a FR fala em estagnação, indecisão, ausência de investimentos, baixo consumo e congelamento de salários.
De acordo com os analistas, a inflação ultrapassará o nível-alvo devido a restrições de importação e rublo fraco. As reservas continuarão a reduzir-se através da saída de capitais e dos gastos do fundo de reserva para financiar o déficit.

Quando os países ocidentais reconsiderarão as sanções - por enquanto não se sabe mas, mesmo depois as manifestações negativas e revelações de inércia na economia serão sentidas por um bom tempo. Como distinguiu o economista russo Slava Rabinovich, as sanções trazem à Rússia grandes riscos. Apesar de que elas afetam significativamente a economia russa, sem precedentes e estatística é impossível determinar como serão as consequências. "Nós não sabemos que erros ainda pode permitir-se Putin", - disse Rabinovich.

Barack Obama e Vladimir Putin. Foto theglobeandmail.com
De acordo com o analista, outros países, inclusive China, não ajudarão a FR. "As sanções tornam Rússia tóxica tanto como objeto de investimentos, quanto como parte do sistema financeiro internacional", - frisou Rabinovich.
De acordo com o economista, o presidente de FR e o poder financeiro-econômico do governo, com decisões impopulares como "queima" de reservas e recursos FND (Fundo Nacional da Previdência), e também a retomada à regulação de preços, o que, inevitavelmente, conduzirá à escassez.

Deve-se motar, que semelhantes declarações - são raridade entre especialistas russos. A maioria deles  recusou-se de comentários sobre o estado atual da Rússia e não quis fazer quaisquer previsões.  "Obrigado por sua atitude em relação a comentários do "Deutsche Bank". De acordo com a política interna do banco, nós não comentamos o tema das sanções, nem questões relacionadas ao assunto", - respondeu o serviço de imprensa "Deutsche Bank" ao pedido do autor.

Apesar de que os cenários da economia russa podem ser diversos, o futuro de uma das maiores economias do mundo não se apresenta sem nuvens. O mais provável, no horizonte - continuação da saída de capitais, desvalorização do rublo, redução de investimentos e redução dos rendimentos reais, que já se iniciou.

Tradução: O. Kowaltschuk

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