domingo, 9 de novembro de 2014

Dois mundos
Tyzhden.ua (Semana Ukrainiana), 08.11.2014
Olga Vorozhbyt

História do Muro de Berlim - é, principalmente, a história de vidas humanas - as quais ele partiu, alterou ou levou com um tiro do rifle do guarda da fronteira.


Quando ela tinha 7 anos, soldados soviéticos materializaram a barreira entre o ocidente e o Bloco do Leste. Talvez a única lembrança sobre este acontecimento - foram as lágrimas de sua mãe na igreja da cidadezinha Templin, da Alemanha Oriental. Angela Merkel (então Angio Kasner) verá a parede já adulta, quando mudará para Berlim para fazer o seu doutorado, no entanto, na sua pequena cidade, sentirá ela bem.

Berlim, que foi dividido entre os aliados e a União Soviética, localizava-se a 160 quilômetros da fronteira da República Democrática Alemã e República Federativa Alemã. Sua parte ocidental era uma espécie de enclave capitalista por trás da Cortina de Ferro, que mais claramente demonstrava a diferença entre os dois mundos. Lá criaram mais postos de trabalho, e ao seu desenvolvimento parceiros ocidentais faziam investimentos, para lá dirigiam rios de dinheiro, o que não podia deixar de atrair migrantes "orientais".

No início de 1960, a União Soviética e Alemanha Oriental estavam realmente preocupadas com a saída da força do trabalho e "cérebros" de Berlim Oriental ao irmão gêmeo capitalista. Em onze anos aproximadamente três milhões de cidadãos deixaram a Alemanha Oriental e foram para Alemanha Ocidental através do "portão de Berlim". Ao mesmo tempo, no verão de 1961 - 60 mil moradores de Berlim Oriental trabalhavam "no Ocidente". Mas uma noite privou-os de seus empregos, dividiu as famílias e tornou-se símbolo da divisão da Europa.

Compreendendo todas as ameaças de tal processo, a União Soviética resolveu o problema a seu modo. Na noite de domingo, 13 de agosto de 1961, a fronteira entre Berlim Oriental e Ocidental foi completamente bloqueada pelos militares, que até a manhã delimitaram tudo com arame farpado. Durante as próximas semanas, tijolo por tijolo, construíram uma parede de concreto, de dois metros, "decorando-a" com arame farpado. Um pouco mais tarde acrescentaram uma cerca de aço. Entre elas havia a "faixa da morte" onde morriam os fugitivos.

Mais de dois milhões de habitantes de Berlim Ocidental, nos próximos 28 anos sentir-se-ão donos da ilha, à qual tentarão nadar seus parentes e amigos, para salvar-se do naufragoso "Titanic" - do outro lado do muro. Quando Horst e Karl Mueller, e suas famílias finalmente cruzaram a fronteira para Berlim Ocidental, os passageiros do trem- metrô, que os levou até lá, alegravam-se não menos que eles próprios. Para chegar àquele trem, eles construíram uma chave para a mina subterrânea, arriscaram suas vidas para detê-lo, e nas cinco estações orientais, imóveis e quase desfalecidos, olhavam os militares nas plataformas. Histórias semelhantes, ainda mais fascinantes, mas frequentemente trágicas, há muitas.

Mais de cinco mil alemães conseguiram fugir para Alemanha Ocidental. No início era mais fácil, os guardas eram menos minuciosos, a parede - "mais fina". No entanto, este caso, necessitava aumento de sofisticação e risco mortal. Para tanto construíam túneis subterrâneos, saltavam de janelas dos prédios, alguns até voavam nos balões. Mas, nem todos foram tão afortunados como os Muller, ou o soldado Conrad Schumann, cujas fotos da fuga tornaram-se símbolos da Guerra Fria. Assim, que o muro de Berlim foi construído, imediatamente tentaram superá-lo dois jovens rapazes - Peter Fechter e Helmut Kulbayk. O primeiro levou um tiro, o segundo superou o obstáculo. O rapaz, aproximadamente, por uma hora sangrou. Soldados americanos no Chekpoint Charlie não tinham o direito de se aproximar dele. Isto poderia levar a uma nova guerra, como lhes foi dito. Alguém jogou o kit de primeiros socorros, mas ele caiu longe, o ferido não conseguiu arrastar-se até ele. Os moradores de Berlim Ocidental, durante o tempo todo, imploravam aos soldados para ajudar o moço, mas ninguém se atreveu. Hoje lembram cerca de 130 corajosos que morreram cruzando essa barreira simbólica.

"Você não pode ser escravo do inferno durante toda vida" - tranquilizava os "orientais", o então prefeito de Berlim Oriental Willy Brandt.  Ele exigia parar de atirar nos fugitivos, no entanto nada para modificar isto podia fazer. Mais tarde, como chanceler, exatamente ele fez o máximo para aproximação dos dois países graças a sua política. Em 1970, em Erfurt, na Alemanha Oriental, pela primeira vez desde a divisão, encontraram-se o chanceler Brandt e o primeiro-ministro da Alemanha Oriental Villi Shtof. Este encontro não foi menos simbólico, do que quando Brandt se ajoelhou em frente ao memorial de Varsóvia.

No entanto, nos anos 60, no Comitê Central do Partido Socialista Unificado da Alemanha - partido governista da Alemanha Oriental, pela segurança respondia o futuro secretário-geral Erich Honecker. Já então ele usava todos os meios possíveis para que o mínimo de alemães pudessem conseguir ir do leste para o ocidente. Os guardas de fronteira, quando matavam os que tentavam atravessar a fronteira, recebiam recompensa. Isto investigava pessoalmente Honecker. Ampliava-se o trabalho da Stasi (polícia secreta da Alemanha Oriental). No final dos anos 60, quando o pai da Angela, pastor protestante, Horst Kasner, discutia no seminário a carta de Andrey Sakharov, ele recebeu uma advertência das autoridades. Sua família já vinha sendo observada, porque a família Kasner era uma das poucas, que pretendiam mudar da Alemanha Ocidental para Alemanha Oriental. Horst se recusou a cooperar, sua filha mais velha Angio fez o mesmo, mas um pouco mais tarde.

Em 1971, quando Honecker chega ao poder, a parede se transforma em um posto de controle ainda mais inacessível. Inicia-se um grandioso projeto para fortalecê-lo. Em cinco anos construiu-se  "Grenzmauer 75" (A partir de 1975, a 3ª geração do muro de Berlim foi substituída pela quarta geração. Novos segmentos de concreto foram utilizados, que eram fáceis de construir e mais resistentes a inovações e poluição ambiental) o que tornou a fuga quase impossível. 45 mil blocos de 3,6 metros de altura e 1,2 metros de largura se estenderam em mais de 150 km  ao redor de Berlim Ocidental. Derrubá-lo algum dia parecia impossível.

Quando se iniciou a construção do "Greszmauer 75" Angela Merkel apenas havia estudado por dois anos na Universidade de Leipzig, e em 1978 mudou-se para Berlim para trabalhar em seu doutorado. Então a parede crescia diante de seus olhos. Em 1986 ela conseguiu uma licença para viajar à Alemanha Ocidental para assistir ao casamento de um primo. Foi sua primeira viagem desde quando pequena foi levada para o leste. Claro, ela ficou impressionada com as cores do mundo ocidental, rápidos trens, mas a queda do muro ainda parecia impossível. "Senhor Gorbachev, abra este portão! Sr. Gorbachev, derrube este muro!" - em 1987 exortava seu colega soviético o presidente americano Reagan, parado diante do portão de Brandemburgo. Enquanto isso, a ascensão de Gorbachev ao poder assinalava enfraquecimento de apoio soviético ao Bloco do Leste. Em 1988 o PSUA (Partido Socialista Unificado da Alemanha) até começou distanciar-se da União Soviética por se tornar muito liberal e, observando assustado o processo de abertura gradual da "Cortina de Ferro". No verão de 1989 pela "janela" na fronteira entre a Hungria e Áustria à República Federativa da Alemanha entraram alguns milhares da República Democrática Alemã e, durante quase todo 1989 a crise política na Alemanha Oriental aprofundava-se o que levou à demissão do secretário geral Honecker em outubro. O governo ficou paralisado. Em Leipzig, cada segunda-feira havia demonstrações. Em 9 de novembro em Leipzig e Berlin houve grandes ações. Algo amadurecia e Angela sentia isto mas não queria mudar seus planos. Havia planejado ir à sauna, e foi. Mas, quando veio a notícia de que Schabowski permitiu atravessar a fronteira, Angela ficou curiosa e também foi, como milhares de berlinenses. Ninguém no Leste, nem no Oeste estava pronto para tal desenvolvimento dos acontecimentos. Entretanto, Merkel não sentia a mesma euforia de seus compatriotas. Ela observava. Hoje ela observa, como outra nação demonstra: "Nós somos povo", como o seu próprio 25 anos atrás.

Tradução: O. Kowaltschuk

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