quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Vácuo em Donetsk
Ukrainska Pravda Zyttia (Verdade Ukrainiana Vida
Catherine Serhatskova


"Rezar pela "DNR"? (República Popular de Donetsk) Para que vença, certo?" - O menino de jaqueta rasgada e chapéu monástico, como se tivesse saído do filme sobre Ivan, o Terrível, aceita das mãos do passageiro do ônibus uma cédula de vinte "hryvnias". A passageira acena timidamente. Os olhos do menino com a menção da "DNR" brilham.
- E se quiser colocarei uma vela por você e rezarei? Isto vale cinquenta", - acrescenta ele e, ouvindo a recusa, deixa o ônibus. 

Os forçados migrantes, em massa voltam para casa. A assinada trégua em Minsk trabalha: Na entrada de Donetsk - fila de carros se estende por quilômetros. Para capital de Donbass voltam, apesar das estradas, periodicamente bombardeadas.
No meio da rodovia de Mariupol, próximo do posto de controle, por exemplo, da cratera, aponta um obus.

O tiroteio aqui não cessa: todos os dias, uma ou duas vezes por hora, de diferentes extremos da cidade, ouvem-se explosões. Em alguns locais funciona Grad (sistema soviético de lançamento de foguetes múltiplos - MLRS),  em outros, obuses e morteiros.
Os epicentros das guerras anteriores: as piores áreas são próximas do aeroporto e da estação, um pouco menos visado bairro Petrovsky, na fronteira com Mar'inka, na retaguarda estão os exércitos ukrainianos.

Kolia, 10 anos, me conduz em excursão pelos abrigos em Petrivka.
Aqui, diz, vive a minha família, e aqui - mostra uma pequena mesa, cheia de louça - nós comemos. As famílias preparam em suas casas - no abrigo não tem gás - e comida pronta trazem para cá, para o abrigo. Chuveiro e banheiros aqui também não tem.
"E como vocês vivem?" - Pergunto eu, compreendendo como, em tais circunstâncias pode-se passar pelo menos um dia.


"Bem, quem tem casa próximo, vai ao banheiro lá, e quem não pode... você sabe... na rua", - envergonhando-se, responde o menino.


O próprio Kolia vive no abrigo desde julho. Acontece que sua casa foi o epicentro dos ataques, e quando ele e sua família mudaram-se para outra região, os tiroteios começaram também lá. À escola ele não vai, em nenhum lugar.


Não longe deste abrigo, está a escola bombardeada. No quadro permanece uma anotação, intencional ou não, escrita com mão infantil: "Muito obrigado! Donetsk, 2014".
O diretor da escola não cuidou de seu abrigo, por isso as condições aqui não são boas. O chão é frio e úmido, em suportes de madeira colchões velhos, cobertos com lençóis, eletricidade não tem.
Num desses colchões, estendida como uma estrelinha, tranquilamente dorme Lisa, de um aninho, sem ligar ao frio e ao barulho. 
Enquanto ela dorme, sua mãe, 30 anos, Svetlana, fuma na rua e fica sabendo que chegaram com ajuda humanitária os 
voluntários do grupo "Cidadãos Voluntários"...

Seu marido, quarentão desdentado e com a pele escura, dispensaram do trabalho. Ele trabalhava como porteiro.
"Senhora irá para Berdiansk com as crianças? Passar o inverno?", - perguntam os voluntários a Svetlana. Ela, sem pensar, dá de ombros: não precisa, diz.
Com o marido ela não tem casamento civil, e seu passaporte perdeu quando fugia do tiroteio. De casa saiu, onde estão os documentos agora, não sabe, e para o diabo com eles, o importante é estar viva - reflete ela.
"E em Berdiansk há o quê? Lá estão os "natsyky", - (natsyky é o apelido popular de nazistas. Os simpatizantes da Rússia, bem como os russos, chamam os soldados ukrainianos de nazistas - OK) continua Svetlana. Melhor aqui, em Donetsk, ficar aqui é mais seguro." "Porque nós soubemos, como lá eles matam, estupram", - diz seriamente Svetlana. E sua tia Natasha confirma.

Tia Natasha é a chefe nos abrigos. Recebe ajuda humanitária, divide, resolve problemas. Na vida civil ela trabalhou como guarda-livros. Entre seus amigos - totalmente "ativistas" da "DNR"!
"Olhar para Yatseniuk (primeiro-ministro) é repugnante, Avakov é azul-claro (seriam os olhos? - OK) e Poroshenko sim, em geral..." Tia Natasha lista tudo o que sabe sobre os políticos.


O tema sobre funcionários de Kyiv abandona-a após meio segundo. Eis que, em voz alta conta, que aqui em Petrivka, regularmente vem grupos de sabotagem dos "natsyky" com metralhadoras, e bombardeiam a região. Sendo que "natsyky" vestem como regra roupas civis ou uniforme dos combatentes da "DNR" - "disfarçam-se"!

Pouco tempo depois eu vejo na rua, que leva à escola bombardeada, um grupo de militares, vestidos com uniformes do "exército" da assim chamada "Nova Rússia" num veículo com um lançador de granadas anexado. Após alguns minutos, ao pátio da escola, exatamente onde não existe apenas a luz, também comida e água. Especificamente, durante o período chuvoso, a água vem até a altura dos joelhos, mas para beber os moradores dos abrigos compram nos mercados nos intervalos dos tiroteios. Um homem, numa dessas buscas foi morto com projétil.
Muitos moradores do abrigo não saem durante o dia - se permitem sair para "respirar" apenas tarde da noite, quando não há tiroteio.

Os militantes da DNR, que a alguns meses atrás se gabavam que limparam os abrigos e abasteceram as pessoas com todas as necessidades, já a muito não aparecem aos pupilos.

As pessoas permanecem sozinhas, com sua vida escura e crua.

"Enquanto está calmo - alguém corre para trazer água quente, - conta calmamente a velhinha - uma das moradoras do abrigo, e de repente grita - Nós, aqui, logo morreremos! Vocês vão nos retirar daqui!"
"Ontem, um sanduíche dividiram para todos."
"Um!" Acrescenta outra.

"Eles (DNR - autor) fornecem aos distritos de Voroshylov e Leninskyi, onde há calmaria, mas aqui, onde há bombardeio, não há ninguém. - continua a primeira velhinha. - Esqueceram-nos. Dizem: venham até nós buscar a ajuda. E quem de nós irá?"

Abandonados também ficaram os velhinhos que foram aos albergues centrais, de prédios abandonados. Num quarto vive uma velhinha diabética. Sua perna está apodrecendo, e não há ninguém para ajudá-la.
A pessoas como ela, os médicos não visitam: Em Donetsk médico é luxo. Aqueles que ficaram para trabalhar na cidade sitiada ocupam-se, principalmente, com os ferimentos dos terroristas - para outros não sobra força.

Praticamente tudo em Donetsk realiza-se com voluntários, que não são molestados pelos militantes da DNR. Eles entendem: se aos voluntários não darem possibilidade de se envolver em seus assuntos, aos civis ficará ainda mais difícil.
São os voluntários que viajam às cidades livres da DNR para buscar remédios, produtos, materiais de higiene, que Donetsk cada vez mais tem menos.


À frente inverno e os voluntários já preparam-se para trazer a Donetsk "forninhos de ferro (servem para aquecer o ambiente. Como, já que falta gás e eletricidade, o texto não explica - OK) porque nas áreas bombardeadas, é improvável que o governo municipal tenha tempo para ajustar o aquecimento.

E, enquanto os voluntários ocupam-se nas estimativas dos custos futuros, os dirigentes dos terroristas da "DNR" e comandantes de campo  jantam nos mais caros cafés de Donetsk. Tudo isto observam. Entre eles e "povo", para o qual eles, supostamente, organizaram a guerra - precipício.

Em Donetsk, já ninguém espera nada. Nem eleições para o Conselho, que aqui não se destinaram acontecer, nem eleições para "DNR" -  todos entendem que isto é farsa. Nem guerra, nem paz. A cidade é como se tivesse sido colocada em embalagem plástica e extraíssem o ar, e às pessoas, a vontade.

Donetsk tornou-se uma cidade -fantasma, (possuía mais de um mlhão de habitantes - OK) que mantém apenas aparência de vida. A capital de Donbass afunda, cada vez mais, em coma. Como sairá dela - a questão é grande e complexa - por enquanto sem resposta.

Tradução: O. Kowaltschuk

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