segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Ocidente: entre interesses e valores
Tyzhden.ua (Semana Ukrainiana), 17.10.2014
Igor Losev

O ocidente que quer desenvolvimento livre e normal, não pode permitir a hegemonia da atrasada e parasitária Rússia, que dita suas pobres regras ao restante do mundo.


A agressão do Kremlin contra Ukraina, o colapso do sistema das relações internacionais do pós-guerra, particularmente a ineficiência absoluta do Memorando de Budapeste de 1994, o embaraço ocidental quanto a pós República Weimar da Rússia, trouxeram as discussões sobre, por que Moscou com seu sistema autoritário e totalitário tem tão enorme impacto no mundo democrático, por que justamente ela dita a ele a ordem diária, ignorando ostensivamente e entusiasticamente, menosprezando todas instituídas normas da convivência internacional.

Não é apenas a questão de força realmente tradicional da traiçoeira "bizantina" diplomacia do Kremlin (embora ela se baseia mais na força brutal que na habilidade) mas, também, a objetiva fundamental dualidade da civilização ocidental. O ocidente - é mercado como base econômica e democracia como base política. Se democracia - é valores, o mercado - é interesses. E eles estão em constante conflito entre si. Não se pode dizer aqui que sempre vence um ou outro . Há inúmeros fatores, que asseguram o triunfo dos valores sobre os interesses, ou ao contrário. O ocidente é literalmente crucificado entre as realidades controversas.

A ilustração viva disto é o problema francês atual com a venda a Rússia dos navios portadores de helicópteros Mistral. Moscou aprendeu a jogar com habilidade nas contradições entre a idéia e cálculos especulativos. Certamente é uma grande tentação... Aliás, não é apenas arte de Moscou. O ocidente democrático seduzia-se por outros regimes anti-democráticos. Pode-se lembrar, que até o início da Segunda Guerra Mundial às atitudes dos poderes democráticos ocidentais a Alemanha nazista era bastante tolerante. (E isso apesar das sombrias leis raciais de Nuremberg!) e em 1936 os democratas de bom grado e com entusiasmo foram para as olimpíadas de Hitler.

No Ocidente tendia e tende o princípio: "Negócio a qualquer preço! Negócio apesar de tudo!", o que confirma a tese clássica do marxismo que o burguês, por uma porcentagem de lucros está pronto para vender até a corda, com a qual o enforcarão. Estados Unidos e Europa ativamente colaboraram com o bolchevismo da União Soviética nos anos 20 e 30 do século XX apesar do fato de que a União Soviética não fazia segredo de suas intenções ao mundo burguês. O que já não dizer sobre os comunistas radicais, quando até o liberal Krushchev, no final dos anos 1950, durante sua visita aos Estados Unidos carinhosamente prometeu aos americanos:  "Nós vamos enterrá-los!" Significativamente, os Estados Unidos estabeleceram relações diplomáticas com a União Soviética durante a Grande Fome na Ukraina. Nos Estados Unidos havia a Grande Depressão, por isso, negócios acima de tudo...

No primeiro plano quinquenal na União Soviética, a industrialização terminaria em fracasso (em primeiro lugar após a abolição da NEP (Nova Política Econômica) sem ajuda integral das empresas ocidentais, especialmente no complexo militar-industrial. Os historiadores russos Diakov e Bushyie, em seu livro, que centra-se na forma como a União Soviética auxiliava a destroçada, na Primeira Guerra Mundial, Alemanha na recuperação do MIC (Complexo Industrial Militar) denominaram "Espada nazista forjava-se na URSS". Mas a espada comunista forjavam países democráticos ocidentais...

Até o início de 1930 na União Soviética não havia indústria de tratores, nem tanques. Mas, em 12 anos, eles já possuíam 24 mil tanques equipados, de fabricação própria. Compreender este fenômeno é impossível sem referência ao papel da organização de tal milagre, do especialista americano Albert Khan. Como afirma o historiador russo Dmitri Khmielnitskyi, a empresa de Albert Khan "...projetou entre 1929 e 1932, 521 (segundo outros dados 571) objetos. Isto, em primeiro lugar, fábricas de tanques em Stalingrad, Chelyabinsk, Kharkiv e Tomsk; de veículos rodoviários em Chelyabinsk, Moscou, Stalingrad, Nizhby Novgorod, Samara e fábricas de ferramentas em Kaluga, Novosibirsk, Upper Salda, Moscou e fundições em Chelyabinsk, Dnipropetrovsk, Kharkiv, Kolomna, Lyubertsy, Magnitogorsk, Sormo, Stalingrad..."

Khan abraçou com suas atividades quase toda a indústria militar soviética. Por muitos anos, esses fatos eram cuidadosamente escondidos na URSS, e mesmo nos Estados Unidos, histórias sobre eles não eram muito populares.

Dmitri Khmielnitskyi escreve: "Em 1931 o empregado engenheiro da empresa da Kahn, William H. Brass, voltando para os Estados Unidos compartilhou suas impressões sobre o trabalho na URSS com jornalistas do jornal de Detroit. Ele descreveu o mercado negro, a impossibilidade de deixar o país, sobre o Judiciário selvagem, sobre polícia secreta e os problemas habitacionais. E sobre o que mais temiam nos EUA, - transformação da indústria civil na militar. Mas o mais grave foi a suposição de Brass que, o contrato de Khan com União Soviética incluía um item sobre a promoção do comunismo nos EUA. Albert Khan imediatamente desmentiu, na imprensa, a promoção do comunismo, mas as dúvidas sobre atividades de sua empresa na União Soviética, dissipar não conseguiu. 

O governo soviético propôs a Khan, em 1930, um pacote de encomendas para construção de empresas industriais na União Soviética, no valor de 2 bilhões de dólares, que no início do ano 2000 equivalia a 220 bilhões de dólares (!).

De onde vinham os dólares para pagamento de fantásticas pelo tamanho, encomendas? Isto foi o valor das vidas de milhões de camponeses ukrainianos que morreram em 1932-1933, porque lhes tiraram o pão (colheita de trigo), que era mandado para exportação. Stalin admitiu isto na carta a Molotov: "Mikoian avisa, que as provisões crescem e diariamente exportamos pão de 1 - 1,5 milhões de "pud" (o peso desta medida é de 16.36 kg - OK) no mínimo. Do contrário corremos o risco de ficar sem as nossas novas fábricas de engenharia e metalurgia... Em outras palavras, devemos ferozmente forçar a exportação de grãos".

Interessante, que então, como agora, Moscou usou magistralmente a competição e contradições entre países e empresas ocidentais, preferencialmente contrapondo USA e Europa. Aliás, Stalin escrevia sobre isto a Kaganovich no verão de 1.931: Por causa das dificuldades das condições monetárias e não aceitáveis condições de crédito na América sou contra quaisquer encomendas da América. Proponho proibir novas encomendas, cessar quaisquer negociações sobre novas encomendas e, se possível, desistir dos acordos já realizados sobre encomendas anteriores, transferindo-as para Europa..." Kaganovuch apoiou o líder e avisou: "Verifica-se, que 80 - 90% das encomendas podem ser transferidas para Inglaterra". Os americanos começaram afastar, substituindo-os pelos europeus, e em 1935 nas fábricas soviéticas trabalhavam 1,719 alemães, 871 austríacos e somente 308 americanos. Interessante, que antes da chegada de Hitler ao poder, os especialistas alemães nas empresas da União Soviética havia muito menos.

Difícil não concordar com o historiador Khmielnitskyi: "É muito alta a probabilidade de que, se Khan não tivesse se entendido com Stalin em 1929 e não projetasse a ele as maiores fábricas de tanques no mundo, então, possivelmente, não haveria suficiente decisão de Stalin para estabelecer em 1939 o pacto com Hitler para juntos iniciarem a guerra, para divisão do mundo. Mas, a empresa de Albert Khan existe até hoje...

Claro, para os ukrainianos é muito importante e dolorosa a questão sobre, o que vencerá hoje na sociedade ocidental: os valores ou os interesses? É esta questão não é acadêmica, é uma questão de vida ou morte não apenas para Ukraina, mas, no mínimo para toda Europa Central e Oriental. 

Hoje, pela abordagem mais racional pode-se constatar que os interesses e valores do Ocidente encontram-se, porque, se ao Kremlin for permitido quebrar a ordem mundial, então dominarão não as normas do direito, não os cálculos econômicos, mas a força brutal e a arrogância que rapidamente transformarão a vida num caos total, na guerra contra todos, o que  inevitavelmente fará absolutamente impossível o mundo sem armas nucleares. Pois cada país, que desejará sobreviver, será obrigado, não contando com as garantias que nada valem, criar um equilíbrio de medo para um potencial agressor.

O anacronismo político e econômico não pode seu um modelo forçado para a humanidade. Hoje, o Ocidente, para proteger seus interesses, deve partir dos valores.

Tradução: O. Kowaltschuk

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