domingo, 13 de novembro de 2016

Ukraina e o "mundo russo". Quem teme "substancial ukrainização?"
Radio Svoboda (Rádio Liberdade), 21.10.2016
Sergei Grabovski


Axioma. Autor: artista Victória Tseluyko. "A quantidade de tanques russos na Ukraina aumenta proporcionalmente ao desprezo do idioma ukrainiano.

Na Ukraina continua a russificação. Não se trata sobre aumento da parcela do idioma russo no espaço público (embora tais fatos há suficiente), mas sobre o desalojamento do idioma ukrainiano dos locais onde ele deve estar naturalmente presente. E, ainda - a imposição à sociedade ukrainiana de comportamento segundo estilo russo, no espaço público e na vida cotidiana. Isto é, trata-se de processos gerais, que frequentemente não são notados por aqueles que se preocupam com estas questões, devido a sua preocupação com inúmeras particularidades. Enquanto isto, o "Mundo Russo" não entrega suas posições, nem mesmo na capital, e espontaneamente explicar este processo não é possível. 

Idioma de negócios - russo?

Primeiro observe as propagandas. Mesmo sob o presidente Kuchma, e até mesmo na Criméia, ela, praticamente toda já usava o idioma ukrainiano! E isso estava certo - tratava-se sobre  integridade do espaço de informação do país. E olhem agora para Kyiv, sob este ângulo e ouçam a áudio-propaganda  nas lojas...

Ou visitem os supermercados "Silpo". Todas as inscrições lá, pelo menos em Kyiv - em ukrainiano.  A maioria dos caixas dirige-se a você, primeiro em russo, mas passam para o ukrainiano, se você fala com eles em ukrainiano. Mas, dando-lhe o recibo, estes "meio falantes" do idioma ukrainiano, necessariamente dirão "Pryhodite yescho" ( "Venha sempre" - em russo), - geralmente com não falsificado sotaque de Poltava ou Chernihiv (províncias ukrainianas - OK). Será que esta é a posição de princípios dos proprietários da rede?

Mas o que falar dos supermercados - veja as feiras de Kyiv, onde quase 90% dos vendedores - falantes ukrainianos, e até mesmo tártaros da Crimeia, que por força de motivos conhecidos, tornaram-se lá numerosos, entregando-lhe o objeto comprado, dirão "Obrigado". (Em ukrainiano). Mas os preços nas etiquetas, com raríssimas exceções, no idioma russo: "luk" (cebola), "kartoshka" (batatinha), "arbusi" (melancia)... Esta é a posição de princípio dos proprietários dos mercados?

E, como para você "Varenychnaya Katyusha" e pintada estilizada a la Russe? Desde quando que  "vareneke" (pastéis cozidos) eram prato nacional de Katiusha? Mas todos nós a isto insistentemente habituam, ao fato de que Ukraina - é também Rússia...


Historicamente aconteceu que os alemães                             tem "Doich", alemão e língua russa - os russos.                       Eu sou alemão russo falante.
Historicamente assim aconteceu.                                                         
Colagem frequente nas redes sociais.

Bem, com as "farmácias de preços baixos" geralmente a situação é circense. Tudo no idioma ukrainiano. Os farmacêuticos falam em ukrainiano - frequentemente até com aqueles que dirigem-se a eles em russo (protestos contra isto eu não soube - afinal é capital  ukrainiana...). No entanto, ao lado da inscrição "Farmácia de preços baixos" - alguns meses atrás escrevia-se assim: "Oksana Velerevna", Petr Yhnatevych", Nadezhda Vyktorovna"... (em russo - OK)
É que a gestão das farmácias acredita que a língua ukrainiana era inadequada, para com ela dirigir-se aos trabalhadores, isto é, para ser educado, somente falando em russo? No entanto, a situação com os distintivos parece que normalizou-se, - mas deveria ela ocorrer?

Quem teme "ukrainização rica em conteúdos"?

Trata-se também, digamos, que na TV SBT em quase todos os programas-show, inequivocamente domina o russo, como idioma "civilizado", "urbano". Assim mesmo os membros ukrainianos destes show esforçam-se passar para o idioma russo, porque de fato a eles impõem os condutores.



Colagem difundida nas redes sociais. 
Se começarem a perguntar por que cantou à criança "materneie chastushki, dirás que um produto de valor alemão ainda não criaram.

Este escritor não é partidário de "total Ukrainização"; ao mesmo tempo não se pode considerar uma situação normal onde, de acordo com o senso de 2001, para 2/3 dos cidadãos a língua nativa é ukrainiana, para 1/3 - russa. Este - é o resultado de anos de prática imperial - chauvinista de russificação" e "sovietização", isto é - um indivíduo pós - colonial e pós-genocida do estado da Ukraina. Tal situação pode e deve ser mudada. Os meus colegas Oksana Pashlovska e Igor Losev e autor destas linhas escreviam sobre isso, ainda antes da Revolução da Dignidade e durante, dirigindo o idioma sobre os métodos da descolonização e rico em conteúdos (mas não apenas oral-filológica, embora esta última também é necessária) de ukrainização.

A descrição destes métodos - já é outro assunto. Aqui eu menciono, que nem a consolidação nacional (indispensável para solução dos problemas internos da Ukraina), nem oposição à expansão agressiva do "mundo russo" sem tais medidas é impossível. Mesmo em relação à guerra, este argumento é válido; sim, na frente com o agressor russo e seus fantoches abnegadamente guerreiam muitos falantes de russo cidadãos da Ukraina, mas as perdas humanas poderiam ser dezenas, ou mesmo centenas de combatentes menos, se o idioma russo não fosse dominante no léxico dos militares. Porque na luta, muitas vezes desempenham um papel crucial poucos minutos, se não segundos, mas a velocidade de reação ao ouvir o comando em outro idioma ou interceptada mensagem, sempre é um pouco lenta. Será que não é por isto que os agressores tanto temem os "pravosekiv", que as ordens lá geralmente são em ukrainiano, e o inimigo nem sempre tem tempo para reagir?

A isto vale acrescentar, que até agora não foi realizada uma limpeza eficaz das tropas dos partidários do "mundo russo" e pessoalmente de Putin; este fato é testemunhado por dezenas de soldados em redes sociais, na TV e rádio. Portanto, é necessário completar a significativa e a oral ukrainização das Forças Armadas, da Guerra Nacional, do Serviço de Segurança e outras estruturas de força; é necessário imediatamente fechar ou nacionalizar os canais de TV e estações de rádio que promovem o "Mundo russo", ou conduzem propaganda derrotista, mal disfarçada sob pacifismo.

Mas certas forças políticas, principalmente estruturas influentes se opõem a tudo isto, pressentindo, que neste caso, os limites de sua influência ficarão muito reduzidos, ou até acabam em nada.



E, por que nós não podemos fechar o éter para propaganda russa?       
E como fica Tchaikovskyi? Shaliapina, também proibiremos? 
 E o que há de anti-alemão na canção "Valienki, valienki?                                                                                                        
Portanto, repito mais uma vez: russificação substancial "com pleno vigor implantada pelo regime Yanukovych, não mudou com decidida "ukrainização substancial" (porque até a mesma "Varenychnaia Katiusha" - é uma das muitas ferramentas de influencia no sub-consciente dos moradores de Kyiv - como quem diz, você vive na "tradicional cidade russa). E tudo isto não é um fenômeno natural, é elemento de grande jogo político. Mas, sobre participação daqueles ou outros políticos e forças políticas - na outra vez.

Tudo isso - longe de uma relação finita de observações e conclusões. Eu enfatizo: o idioma no espaço público segundo realidades ukrainianas - é uma expressão das coisas mais comuns, especialmente orientações da nossa, perdoe Deus, "elite". No entanto, no nível do idioma tudo se resolve; na língua ukrainiana pode não apenas conduzir-se uma consciente agitação anti-ukrainiana (recentemente ouvi no metrô um bardo com guitarra que cantou uma bonita canção habilmente composta sobre a "guerra fratricida no leste" entre "irmãos eslavos", os quais a isto foram provocados por "forças das trevas") mas também realizar-se a imposição de valores e estereótipos do "mundo russo".

Então, você começa a recolher tudo junto - e recorda as palavras do diário de Kyiv, de Dmytro Dontsov, escrito em 1918, durante o período do Hetman Pavlo Skoropadsky: "Na Ukraina constroem a Rússia". Nós sabemos como terminou aquela experiência de construção metade Ukraina, metade  "segunda Rússia", embora não bolchevique, não é?

Sergei Grabowski - publicista, cientista político, membro do Conselho de Coordenação da Associação de Escritores.

Tradução: O. Kowaltschuk

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