Crianças da guerra
Dzerkalo Tyzhnia (Gazeta dt. ua),27.05.2016
Alla Nefedov
Às vezes eles dizem coisas terríveis: "Melhor, se então me matasse". Eu não quero viver desse jeito". "Se este é o destino, seria melhor não ter nascido. Então eu não saberia como é - correr". Eles - não são simplesmente crianças, são meninos e meninas, mutilados pela guerra.
Yenakieve. Aqui mora Andriyko Dmytriev. E, aos oito anos parecia, que sua vida seria sem nuvens. Mas veio a guerra. O ponto de viragem na vida de Andrezinho e sua grande família tornou-se o dia 2 de setembro de 2014. Na véspera Yenakieve sofria tiroteio de todos os lados. Quando veio a calmaria Andrezinho saiu para o quintal. Da casa muito não se afastou - sabia que não podia. E, novamente tiroteio. O projétil explodiu ao lado. Lina correu em busca do filho e viu que foram feridas três pessoas: à mulher arrancou a perna, a outro menino os fragmentos alojaram-se na virilha. Andrezinho estava deitado próximo à entrada. Múltiplas lesões em todo corpo, depois os médicos removiam os fragmentos da coluna vertebral e dos pulmões. Os menores ainda estão no corpo do menino. Mas o maior prejuízo receberam as costas: foram atingidos os nervos da coluna, por isso suas pernas estão paralisadas. Em seguida a situação agravou-se com problemas nos rins e sistema digestivo.
Lina com quatro filhos permanece em Yenakieve e, de tempo em tempo, viaja com Andrezinho para curso de reabilitação.
08 de dezembro de 2014. Durante o tiroteio em Avdiivka, sob as janelas do prédio de apartamentos explodiu o projétil. Os estilhaços voaram para o apartamento, no qual residia Maria Goncharova com cinco filhos e sua mãe. A primeira onda atingiu a avozinha, atingiu sua perna, arrancou os dedos da mão e estilhaços abriram a barriga.
No momento da explosão Maria abaixou-se para pegar no colo a nenê Masha, de um ano e, com seu corpo, acabou protegendo o nenê e Varya de dois anos. Que perdeu o pé esquerdo, Maria viu no ato: a carne estava pendurada nos tendões. Varya estava ao lado da mãe, graças a Deus não foi atingida. Katia, 10 anos, e os gêmeos de seis anos. Os estilhaços machucaram as pernas de Varya e Kolha. As crianças no corredor gritavam, esvaindo-se em sangue, pelo socorro. Rastejando, a mulher arrastou-os para um lugar seguro.
Os médicos levaram os feridos ao hospital em Avdiivka. Depois a família foi evacuada para Dnipropetrovsk, onde continuaram a salvar Maria, sua mãe e as três crianças. Entre as crianças sofreu mais Vanya. Ele foi submetido a várias cirurgias, mas a função motora das pernas não foi recuperada totalmente. A situação de Katia e Kolha é um pouco mais fácil, mas seus corpos estão cobertos com inúmeras cicatrizes. Agora a família tenta sobreviver numa região mais tranquila.
Como Maria Goncharova, Tatiana Subina sozinha cria dois filhos. A família vive na aldeia Berestova. No verão de 2014 Tatiana foi para o trabalho por algumas horas. Seus filhos - Sasha, de 14 anos e Danilo de 4 - brincavam no quintal, ao lado de Pola, de um ano, e Igor de 17. De repente - fulguração e estrondo. Sasha desmaiou, recuperando os sentidos devido aos gritos. Da perna sobressaia o osso. Ao lado, deitados rezavam pela ajuda , ensanguentados adultos, crianças e seu irmãozinho Danilo. O tio da menina, sua esposa grávida e filha Polina receberam ferimentos graves nas extremidades. Igor morreu imediatamente: a ele arrancou a mão e a perna. Lá morreram dois vizinhos, que foram ao quintal por um momento.
A "ambulância" se recusou a ir debaixo do fogo. Os residentes locais sozinhos levaram os feridos para Artemivsk (hoje Bakhmut). No hospital descobriu-se, que a vida de Sasha salvou o telefone - foi justamente nele que penetrou um grande fragmento. Não fosse isto, haveria ruptura da artéria femoral e morte por perda de sangue. Sasha teve uma fratura exposta em ambas as pernas e lacerações no corpo. A Danilo muitos fragmentos causaram ferimentos na cabeça, tronco e extremidades. Sua mãe Tatiana imediatamente veio ao hospital.
Depois das primeiras cirurgias Sasha, Danilo e a pequena Polina, acompanhados por Tatiana, com helicóptero levaram para Kharkiv. Aqui, literalmente, remendavam as crianças. Os médicos constataram: a Danilo, o fragmento arrancou o nervo, por isso o menino não pode mexer o pé. A família voltou a Berestove. Passaram-se quase dois anos, mas das crianças até agora saem fragmentos que Tatiana extrai com pinça, quando eles aparecem na superfície.
Ilovaysk. 13 de agosto de 2014. Naquele período a família Pavlenko mudou-se para a casa da avó, porque lá havia um porão confiável. Nele, por algumas semanas escondiam-se os adultos, Dima de 9 anos e Lara, de 7. Cada saída para o ar fresco - felicidade.
Aquela manhã estava tranquila. Todos, para um breve momento, subiram para superfície. E, de repente - um rugido ensurdecedor. Eduardo e sua esposa foram afastados e cobertos por fragmentos da cozinha de verão, na qual acertou o projétil. Seus filhos, como a vovó estavam próximos dessa construção. Dima viu o projétil voando sobre eles, conseguiu cobrir, com seu corpo, a irmã menor. A avó ferida estava deitada ao lado, com a perna cortada. Dima, inconsciente, permaneceu sobre Larry, sua perna decepada manteve-se apenas pelos tendões. Subsequentemente, os médicos diagnosticaram fraturas de extremidades em Lara.
Na cidade, então os hospitais não funcionavam, os rápidos" não saíam. O vizinho levou de carro a família toda para o hospital em Khartsyzk. Os médicos lutaram quatro dias pela vida de Dima, ele perdeu muito sangue. Salvar a perna não conseguiram. Após uma semana em Khartszyzk também começaram as ações de combate, os médicos ajudaram transferir Dima a Mariupol. Somente aqui fizeram a primeira transfusão de sangue. Depois houve novas transfusões e lições para andar numa só perna.
Vladek Potin, 9 anos, sonhava em se tornar jogador de futebol. Jogava em Avdiivka na equipe local. E ainda - era vencedor da dança de salão no torneio da cidade.
Em 26 de janeiro de 2015 Vladek visitava a avó, na região mais tranquila de Avdiivka. Quando ele saiu com a vovó para um passeio, começou o bombardeio, e em seu quintal explodiu um projétil. O estilhaço acertou a cabeça de Vladek: atravessou a parte frontal, tocou em ambos os hemisférios e alojou-se na nuca. A comunicação móvel na cidade já não trabalhava - "rápido" não havia como chamar. Os vizinhos levaram o menino ao hospital, mas lá não havia o que fazer (havia apenas um traumatologista e um anestesista). Salvar Vladek decidiram no hospital da campanha. Os cirurgiões militares removeram o estilhaço. Imediatamente, após a cirurgia, enviaram Vladek para Dnipropetrovsk. Depois de nove dias em coma, ele acordou. Mas 60% do cérebro foi danificado, os médicos não fazem nenhuma previsão.
No entanto, a criança não apenas sobreviveu, mas um ano depois começou a andar. Mas, o cérebro ficou "esquecido" quanto às competências linguísticas. O menino precisou reaprender as letras e como juntá-las para formar sílabas e palavras. Matemática Vladek lembra, leitura e escrita - não. Mas, a cada dia ele domina novos conhecimentos, em Dnipropetrovsk foi para escola, verdade, para a primeira série.
Estas são apenas algumas tragédias de crianças que se alegravam com a vida, cresciam, brincavam com amigos na escola. Saudáveis e alegres. Mas a guerra dividiu suas vidas em "antes" e "depois". Hoje eles têm de aprender a viver de novo: se acostumar com as características do seu corpo, construir relacionamentos com seus pares, superar o medo e a dor...
Em 2014 - 2015 os médicos, voluntários, instituições de caridade lutavam pela vida das crianças, proporcionavam ajuda de emergência. Agora, essas crianças precisam ampla recuperação. Portanto, neste ano, a Sede Humanitária de Rinat Akhmetov começou um novo programa - "Reabilitação de crianças feridas". O primeiro certificado recebeu Vladek Potin. Mais tarde, a ele juntaram-se outras crianças.
- Por exemplo. Dima Pavlenko já precisa de prótese. Na Ukraina, o programa do Estado, gratuitamente, fornece próteses de primeiro e segundo nível de funcionalidade. Para voltar à vida normal (correr, subir escadas e até mesmo jogar futebol), os meninos precisam ajustes de terceira e quarta mobilidade. O estado-maior, humanitário, já encomendou tal prótese para Dima. Katia, Vanya e Kolha Goncharov foram para o centro especializado em Zaporijja, onde com eles trabalham médicos e psicólogos.
Danilo e Sasha Subina passaram por um curso completo no sanatório. Aqui os médicos disseram, que a Danilo, para recuperação são necessários sapatos ortopédicos. Depois de alguns dias ele recebeu os sapatos necessários. Os passos do menino começaram a melhorar, ele começou caminhar com mais confiança.
Segundo dados oficiais da Organização Mundial de Saúde, o número de crianças feridas no Donbas chega a 200. A assistência de Rinat Akhmetov contém informações sobre 163 crianças, metade das quais necessita reabilitação. 70% foram feridas em Donetsk, 30% em Lugansk.
Tradução: O. Kowaltschuk
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