Radio Svoboda (Rádio Liberdade), 21.11.2016
Eugene Solonena
Kyiv, maidan da Independência, 1 de dezembro de 2013. |
Kyiv - Hoje Ukraina celebra o Dia da dignidade e liberdade - já é o terceiro aniversário do início dos protestos contra a recusa do governo ukrainiano, da integração européia, que transformou-se na Revolução da Dignidade. Durante estes três anos fundamentalmente mudaram a agenda política ukrainiana, e a própria sociedade, afirmam os especialistas e ativistas da Revolução da dignidade entrevistados pela Rádio Liberty. No entanto, parte de analistas políticos afirma, que entre os ukrainianos cresce insatisfação devido a ausência de reformas radicais e no fato, de que os representantes do governo anterior esquivaram-se, em grande parte, da responsabilidade por seus crimes. Nestes dias, na até agora não concluída questão sobre os crimes contra os participantes da Revolução da dignidade, a procuradoria geral questionou as testemunhas: presidente Petro Poroshenko, presidente do Parlamento Andriy Parubiy e outras autoridades, que apoiaram os protestantes.
O presidente da Ukraina, Petro Poroshenko, deu testemunho sobre os crimes contra os ativistas do Euromaidan, segundo o secretário de imprensa do presidente Svyatoslav Tseholko.
Segundo "Interfax-Ukraina", citando uma fonte do Gabinete do Procurador-Geral da Ukraina, o interrogatório durou seis horas e foi realizado no dia 18 de novembro, na Administração Presidencial.
Também para interrogação, à Procuradoria-Geral convocaram o orador Andrew Parubiy, o ex-primeiro-ministro Arseny Yatseniuk, o prefeito de Kyiv Vitali Klitschko e o líder da região do Transcarpathia Gennady Moskal. Alguns testemunharam já pela segunda vez. Moskal, afirmam na GPU (Procuradoria Geral da Ukraina) apenas enviou os materiais que possui e está pronto para testemunhar, mas sem revelar suas fontes.
O interrogatório a Poroshenko sobre Maidan: relações públicas ou uma razão para confronto com Yanukovych?
Após o questionamento ao atual cabeça do país, o advogado do ex-presidente Viktor Yanukovych, Vitaliy Serdyuk disse, que agora não existem obstáculos para o confronto entre o atual e o ex-presidente Viktor Yanukovych. Ele observou, que ainda em agosto, quando procurador-geral Yuri Lutsenko anunciou o desejo de questionar altos funcionários no caso Euromaidan, a proteção de Yanukovych solicitou a sua participação nestes interrogatórios. "Nós pedimos a realização de um questionamento simultâneo do Poroshenko e Yanukovych... Um dos motivos da recusa da Procuradoria Geral era, que as pessoas não tinham sido questionadas, inclusive o senhor Poroshenko", - disse Serdyuk.
Na noite de domingo o Procurador-Geral Yuri Lutsenko voou para Haia, para conversações com o representante do Tribunal Penal Internacional. Isso se refere sobre a possibilidade de revisão por este tribunal , de crimes cometidos contra os participantes da Revolução da Dignidade, comunica a imprensa do GPU.
Em fevereiro de 2014, o Parlamento aprovou a declaração ao Tribunal Penal Internacional para o reconhecimento pela Ukraina da jurisdição do tribunal, de crimes contra a humanidade por altos funcionários do Estado durante o Euromaidan. No entanto, o tribunal em Haia disse que havia falta de dados suficientes de que os ataques contra os ativistas do Maidan foram planejados.
"Eu tenho, repetidamente apontado os exemplos históricos, como a autoritária Moscóvia (mesmo que Rússia, usado antigamente - OK) utilizava as preferências democráticas nos países vizinhos, nos seus interesses - até a absorção desses países. Estou certo, desta vez não vai funcionar. Por quê? Porque nós, ukrainianos - pessoas sábias que é difícil reduzir a nada", - disse Poroshenko.
Ele pediu para não estigmatizar todos os participantes de forma indiscriminada de ações de massa: em sua opinião, as pessoas têm motivos de insatisfação, e "todo cidadão livre em uma Ukraina livre tem o direito inerente ao protesto.".
Os interrogatórios a Poroshenko, Parubiy, Yatseniuk e outros ex-funcionários, e atuais, como testemunhas - é elemento normal do processo investigativo para um país europeu, disse o analista Volodymyr Fesenko. Mas, em sua opinião, os diretamente envolvidos, participantes do Maidan (em particular, Arseny Yatsenyuk, Andrew Parubiy, Vitali Klitshko, Oleg Tyahnybok) - são mais valiosos, que do atual chefe de Estado, porque durante a Revolução da Dignidade eram eles que negociavam com a então liderança da Ukraina.
"No entanto, as principais testemunhas e acusados, incluindo Viktor Yanukovych, Mykola Azarov, Vitaly Zakharchenko - infelizmente estão no exterior, portanto, não são questionados. Isto atrasa a investigação. A isto se soma o lento trabalho de órgãos de investigação da Ukraina, o que causa descontentamento público", - diz Fesenko.
O interrogatório de altos funcionários - não é tanto um passo para a verdadeira investigação do Maidan, como forma de melhorar a imagem da Procuradoria-Geral, supõe o cientista político Konstantin Matvienko.
"É antes um passo ritual. Nunca antes na Ukraina interrogaram pessoas do primeiro escalão - agora questionam! Afinal GPU precisa demonstrar-se ativa. Três anos passaram, mas mesmo por episódios, como sequestro de ativistas, onde, graças a Deus, há testemunha viva, Igor Lutsenko, a investigação não alcançou progressos significativos", - indigna-se Matvienko.
A sociedade já não confia no governo, está pronta para controlá-lo, e até mesmo agir sozinha, mas ainda não conhece tudo - ativistas.
Como avaliar aquele caminho que Ukraina passou nos três anos desde o início da Revolução da Dignidade? Em 21 de novembro isto pode ser ouvido das diferentes forças políticas e dos movimentos sociais, que vêm à Praça da Independência, em Kyiv, e às praças centrais de outras cidades.
Pela ordem das cidades monitoram 18 mil policiais, avisa o Ministério do Interior. Nestes dias o risco de provocações pró-russas é alto, consideram no departamento. O tráfego rodoviário no centro de Kyiv é bloqueado..
Rádio Svoboda questionou alguns ativistas sobre sua atitude em relação ao desenvolvimento do estado após Maidan.
Participante da "Revolução da Dignidade" desde os primeiros dias, jornalista e membro do Conselho Público da Integridade (verificação de juízes) Natália Sokolenko diz, que apesar das deficiências do atual governo e lentas reformas, nestes três anos, a interação do governo e da sociedade civil na Ukraina melhorou.
"Mudanças - significativas: durante o período Yanukovych, os jornalistas aprovaram apenas uma lei - sobre a proteção da informação pública. Agora, perdi a conta: durante o ano aprovaram mais de 70 projetos. Sobre a cooperação da comunidade e parlamento, de fato não havia. Agora o Conselho de Integridade Pública participa do controle do judiciário - sobre o que, anteriormente, não havia nem pensamento. E há o voluntariado. Há, ainda, muito por fazer diz Sokolenko, mas o principal, segundo ela, é a reforma do sistema judicial e "afastamento dos oligarcas dos caixas dos partidos", ou seja, a reforma eleitoral qualitativa.
Maria Tomak, uma das primeiras ativistas de direitos humanos e, da iniciativa "Euromaidan - SOS", acredita, que as tendências dos últimos três anos são diversas. De um lado cresceu a consciência pública e continuam as reformas, por outro - guerra e posição do atual governo leva ao fato de que cada protesto anti-governo pode terminar com acusações a serviço do Kremlin.
A guerra não propicia a consolidação de práticas democráticas, porque coloca a sociedade em condições adversas. Exemplo: você investiga algo - e você, imediatamente é "shatun" e agente de Kremlin.
No exemplo de seu ambiente que, antes do Maidan não era tão pró-europeu, eu vejo mudanças significativas. Menor é a credibilidade ao governo, maior - prontidão para controla-lo. Mas, ainda falta experiência. Além disso, a guerra não é propícia para consolidação de práticas democráticas, porque coloca a sociedade em condições adversas. Por exemplo: investiga algo - e você é imediatamente "shatun" e agente de Kremlin. Situação ambivalente. O interesse do agressor consiste, em não deixar Ukraina sair da "Idade Média", não permitir o desenvolvimento de práticas democráticas. Mas, se nós aguentarmos mais alguns anos -, então teremos um grande avanço nesta área" - disse Maria Tomak.
No entanto, muitos ativistas, da Revolução da Dignidade, consideram as mudanças no trabalho do governo, decorativas, e alguns geralmente falam de revanche do governo passado e forças pró-russas.
Elena Halimon: Três anos atrás nós acreditávamos, completamente, em nossa vitória. Os mais jovens e os mais idosos trabalhavam pela Revolução da Dignidade. A luta continua hoje... em diferentes frentes. E ganharemos novamente!
Lembro, quão repugnante lia um papelzinho "azirov" que eles escolheram não a Europa, mas a Eurásia - no trabalho estava ligada a televisão. Facebook explodiu em indignação.
Hennadii Afanasiev:
Maidan mudou minha vida completamente. Mesmo depois do que se passou - eu me sinto feliz, porque nós mudamos. Maidan me fez livre. Maidan me ensinou o significado de "cidadão". A Revolução da Dignidade trouxe liberdade e independência aos ukrainianos. Primeira vez na história, a verdadeira independência.
Respeito infinito aos heróis caídos. Respeito infinito a cada um que participou desta batalha da libertação. Agradeço a cada herói, como Ivona Kostyn, Oleg Sentsov, Olesya Zhukovska e muitos outros - porque vocês são exemplo para mim e para todos que amam a nossa pátria!
Glória aos heróis!
Olena Suslov:
Agradecemos
Desculpem
Lembramos
Trabalhamos
Revolução da Dignidade - maratona, não pequena distância.
Honra aos heróis caídos, força aos vivos.
Mudanças na Ukraina - tectônicas, é por isso que nem sempre podemos senti-las.
O especialista político, ex-deputado Taras Chornovil, por seu lado observa, que os ukrainianos não percebem significativas mudanças no país porque eles próprios mudaram, e suas demandas ao governo aumentaram várias vezes.
"Em minha opinião, ocorreram mudanças tectônicas. Há mudanças muito reveladoras, críticas, mas há também tectônicas - nós não reagimos a elas, indignamo-nos. Nós não estamos satisfeitos com o governo, absolutamente, de acordo com as leis objetivas, não estamos satisfeitos. Mas quando olhamos para trás e comparamos com o que havia três, quatro, cinco anos atrás, então compreendemos, que nossas exigências ao governo deslizaram em parte, naquela "placa tectônica". E, o que era considerado, então algo inacreditável, maravilhoso, de alcance gigantesco, agora considera-se absolutamente insuficiente fator, para avaliar positivamente o governo. Este é um progresso sério não apenas no governo, também em nós mesmos. Ou seja, nos acostumamos com o fato, que as mudanças normais e sérias, reformas, etc. devem ser praticadas, realidades, e não quaisquer conquistas. Isso, em minha opinião, é o principal ponto positivo. Eu penso, que cresceu também a demanda da sociedade, e sua prontidão para viver num país normal, civilizado", - disse Chornovil.
O que aconteceu no Maidan, para muitos foi o momento da verdade. Durante três anos, houve mudanças sistemáticas na política ukrainiana, no entanto sua qualidade continua atrasada em comparação com os padrões políticos ocidentais, diz o cientista político Sergei Taran.
"A sociedade ukrainiana mudou, há competição política. E, por isso nós já não podemos prever o resultado das eleições. Em segundo lugar - foi feita a escolha geopolítica. Isto é, Europa, os ukrainianos planejam construí-la aqui. Terceiro: a qualidade política ainda não corresponde aos padrões europeus. Prospera o populismo, mas os eleitores não se orientam nos aspectos programáticos dos partidos", - diz o analista.
No entanto, pela primeira vez na história moderna da Ukraina, justamente os temas sobre reformas e luta com a corrupção definem a agenda da política ukrainiana. Embora a qualidade das reformas por muito tempo será questionada, pensa Taran.
E há avaliações negativas das consequências da Revolução da dignidade. Assim , o cientista político Konstantim Matvienko fala sobre vingança das forças pró-russas, o que hoje se reflete na esfera econômica.
Maidan foi um movimento de desespero. Simplesmente não podia permanecer no poder aquela pessoa, que estava lá. Tomaram medidas para derrubar Yanukovych, mas que estas medidas foram cruciais - a sensação surgiu apenas no final da Revolução da dignidade. Como Ukraina mudou? Em três anos a parte do capital russo no setor bancário cresceu mais que o dobro. Mais - privatização da economia. Vemos que a camada dirigente atual trabalha com o mesmo esquema que Leonid Kuchma, Viktor Yanukovych e Viktor Yushchenko. Eles também tentaram negociar com Putin como com o irmão mais velho. Mas as autoridades temem Maidan, até um ataque de soluços",- afirma Matvienko.
Principal mudança - vetor geopolítico. Relações com a Rússia nunca mais serão as mesmas - Fesenko.
Por sua parte, o analista Volodymyr Fesenko acredita que a situação nos últimos três anos é paradoxal. O último Maidan significativamente mudou Ukraina e a sua posição no mundo mas, para os ukrainianos essas mudanças não são suficientes. Os ukrainianos sempre têm grandes expectativas. As eleições, a proclamação da independência e a revolução de 1992, foram muito decepcionantes lembra Volodymyr Fesenko.
Os "ativistas do Maidan se decepcionam porque as reformas e mudanças no país não são tão radicais como eles gostariam. Mas nos temos mudanças geopolíticas radicais. Depois de mais de 20 anos de oscilações - a determinação do vetor de política externa. A UE, por sua vez, também não se apressa para se integrar com Ukraina. Mas o principal é a ruptura com a Rússia, e o fato de que ela própria empurrou Ukraina para longe de si. A longo prazo o relacionamento se normalizará, mas relações como antes com a Rússia não haverá nunca mais, - prevê Fesenko.
De acordo com o analista, depois de três anos da revolução da dignidade e de guerra real com a Rússia, incrivelmente aumentou o nível de patriotismo. Mas, paralelamente, cresce o nível de agressão na sociedade, em particular - devido as mortes no Maidan e na frente. As reformas lentas - mas até no Ocidente reconhecem que, nesta área, em três anos, foi feito mais do que nos governos anteriores, desde o início da independência em 1991.
Atualmente, as mudanças na Ukraina não são revolucionárias, mas evolutivas. No entanto, a principal tarefa do governo e da sociedade agora - é a estabilização da situação no país, do contrário, os riscos de conflitos internos serão fatais ao país, afirma uma parte considerável de especialistas.
Tradução: O. Kowaltschuk
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