terça-feira, 15 de novembro de 2016

Guerra entre Ukraina e Rússia. Frente cultural e linguística.
Radio Svoboda (Rádio Liberdade), 13.11.2016
Igor Losev

   Manifestação contra a russificação da Ukraina por ocasião do Dia da literatura e linguagem ukrainiana. Kyiv, 9 de novembro de 2.016

Para iniciar refletiremos, o que é Ukraina e cultura ukrainiana para Rússia, principalmente para sua classe instruída. Para eles, a nação ukrainiana, país, estado e cultura - um mal entendido histórico, patologia, desvio de norma. A norma - é o desejo de completa, sem resíduos, dissolução de ukrainianos, sua cultura, idioma e identidade no caldeirão imperial russo.  Cultura russa, formada ao longo de séculos de vida imperial, nunca foi complementada pela Ukraina, que extraordinariamente irritava seus políticos (com poucas exceções), porque não queria usar o idioma "de gente", (isto é, russo), mas agarrava-se ao seu idioma, seus costumes e tradições. A cultura russa nunca considerou a cultura ukrainiana no nível da sua e, com ressentimento e raiva rejeitava todas as tentativas de equalização dos direitos e status. Na Ukraina dominava a atitude escrava-colonial perante a cultura russa, para ela olhavam de baixo para cima, nas estimativas usavam a fórmula: "Ou nada, ou bom."

    Manifestação contra a russificação da Ukraina por ocasião do Dia do Idioma e linguagem   ukrainiana - Kyiv, 09 de novembro de 2.016.
   
Será que Dmytro Dontsov e Mykola Khvylovy foram capazes de avaliá-la de forma realista, vendo nela não apenas e não tanto o fenômeno estético, mas também um poderoso fator político da expansão russa. O algoritmo aqui é simples: no início vem a cultura russa, a língua russa, e atrás delas - exército russo. Então, esta cultura, em seu próprio modo, nunca foi contra a política imperial da Rússia, mas ao contrário, apoiava ela (e apoia agora).​

O putinismo não surgiu na Rússia subitamente. O país vinha ao seu encontro, rejeitando as fracas tentativas de alguns liberais, que seguiam a linha Herzen - Sakharov, para democratizar Rússia. A inteligência russa também o seguia. O autor destas linhas, em 1990, monitorava de perto, com muita atenção, a imprensa democrática russa. Lá havia muita má vontade, e frequentemente direta hostilidade à Estónia, Letónia, Geórgia e Ukraina. Das páginas dos jornais e revistas ecoavam gemidos sem fim sobre a morte do "grande estado" e rapidamente escreviam-se sonhos sobre restauração do império, é claro muito liberal. Com as cores de Rembrandt retratavam os "assustadores" nacionalistas locais que com todas as forças prejudicam o povo russo falante nas antigas repúblicas soviéticas. Ridicularizam com maldade e injustiça quaisquer tentativas de vítimas anteriores da russificação na tentativa da recuperação do idioma e cultura nacional. A imprensa democrática russa era preenchida com zombaria sobre este assunto. Não cessavam brados quanto a "autóctone Criméia russa", autóctone Odessa Russa" etc. E tudo isso antes de Putin.

   Manifestação contra russificação da Ukraina por ocasião do Dia do idioma e linguagem ukrainiana. Uzhgorod, 09 de novembro de 2.016

Liberais imperialistas russos e Ukraina.

E qual é a posição ao idioma, cultura e história ukrainiana dos oponentes de Putin? Vejamos, Pavlo Letvenov, - ativista russo de direitos humanos, que em 1968 abertamente protestou em Moscou contra a ocupação da Checoslováquia, já por muitos anos não mora na Rússia e queixar-se da pressão russa não pode. E o que ouvimos dele? Eis o que: "Ukraina deve (nós sempre "devemos" algo a todos, e apenas para nós ninguém deve nada! - redação) dizendo francamente, o bilinguismo é indispensável, e é indispensável, que as pessoas se sintam etnicamente russas, permanecendo cidadãos da Ukraina. Se elas não quiserem, também teoricamente pode haver conversa sobre separação. Ukraina também cometeu muitos erros, tentativas idiotas para introduzir ukrainização, eles a tomaram de volta, mas ela, certamente, ajudou muito à propaganda antiukrainiana." Ou seja, restaurar a língua ukrainiana, praticamente conduzida às margens pelo "bilinguismo" oficial soviético, preservar a identidade ukrainiana, cultura ukrainiana na terra ukrainiana - isto são "tentativas idiotas". Mas a russificação insolente, sucessiva, cínica e impiedosa que ainda hoje não desapareceu da Ukraina, isto não é russificação idiota, isto verifica-se como algo normal, e auto-compreensível.

É significativo, que preocupando-se apenas por um grupo étnico, Letvenov demonstra completa indiferença à situação dos ukrainianos na Ukraina, a ele não interessa, como eles se sentem na sua terra e o quanto a eles permitem continuar ukrainianos em sua casa. A situação, como mostraram todos estes anos, é muito simples na Ukraina: se não houver ukrainização - haverá total russificação. O senso da existência do Estado ukrainiano consiste no apoio e desenvolvimento do idioma ukrainiano, cultura, identidade nacional ukrainiana, na auto-preservação da nação ukrainiana. Se o Estado da Ukraina não fizer isto, sua existência torna-se sem sentido. Mas tudo o que não tem sentido é condenado à extinção. Sem o idioma russo Ukraina vivera, sem o ukrainiano ela, simplesmente, desaparecerá.  Sem ukrainização (o que não compreendem os atuais líderes oligárquicos do país) Ukraina não sobreviverá em perspectiva histórica. Os sentimentos anti-ukrainianos no sudeste - são consequências da falta de ukrainização.

Justamente lá, onde não havia nem cheiro de ukrainização, a disposição da "primavera russa" era mais agressiva.  Exatamente isto foi obrigado reconhecer Lytvynov mas, ao mesmo tempo ele, de fato, tomou sob proteção os apóstatas de Putin, de Donetsk: "Lá há certos bandidos, mas eles, ainda assim, expressam as opiniões de parte do povo, falantes do russo, da nação ukrainiana, lá tem pessoas, que realmente não se associam com a cultura ukrainiana,
com o Estado ukrainiano", E diante destas pessoas, diante destes bandidos, (termo de Lytvynov), Ukraina deve capitular - assim falando, "autonomia seria suficiente". Parece, que com a questão ukrainiana até agora, acaba não somente a democracia russa, mas também a proteção russa, a lógica russa e a moral russa. Pelo menos, isto diz respeito a absoluta maioria não apenas aos plebeus da "Criméia Nossa" como também aos intelectuais eruditos.

Frase à esquerda: Se você fala russo - os russos virão defendê-lo.
Frase à direita: Prometem defender, todos os dias a população russo falante no Donbas.
Abaixo: Mundo russo

Mas outro oponente de Putin, apresentador de TV, disse: "Há pessoas, e eu inclusive, que pensam, que Ukraina tem uma oportunidade maravilhosa para tornar-se uma América pós-soviética... Ukraina poderia tornar-se um certo caldeirão imã, aonde as melhores pessoas, do espaço soviético... poderiam vir e encontrar um emprego". No entanto, Ukraina, tipologicamente é um Estado-nação europeu, onde, apesar dos melhores esforços de vários "libertadores", o povo indígena sobreviveu. E, por isso, no território ukrainiano não há lugar para "correto caldeirão". Os chegados da Rússia desejarão obter na Ukraina - Rússia nº 2, e eles vão criála aqui, instruindo os "estúpidos "khokhliv" (хохлів - em ukrainiano. É um apelido pejorativo usado pelos russos em relação aos ukrainianos - OK), como precisa viver. Kiselev (referência a político ukrainiano - OK) ou não entende isto ou suas intenções são outras, mas seu apelo "fazer da Ukraina uma América européia" soa como provocação. Na prática tudo se reduzirá a mais uma, mas supostamente "européia e democrática" Rússia, de Lviv a Luhansk. E Ukraina será forçada se tornar vítima na "salvação da democracia russa", que termina na questão ukrainiana.

"Quinta coluna" marcha pela Ukraina.

Tudo descrito acima não constituiria tão grande perigo, se não houvesse fatores internos na Ukraina. Não se deve esquecer: muitas estruturas de poder, particularmente repressivos, em todos os anos da independência da Ukraina educavam-se no espírito anti-ukrainiano, na hostilidade ao idioma ukrainiano, cultura e às pessoas com identidade ukrainiana distinta. O Estado procurava apoio no patriotismo soviético, não ukrainiano. Todo o chamado ensino militar-patriótico era inteiramente soviético, construído sobre o culto de vitórias stalinistas, marechais e heróis. Bem, os quadros para grupos de "DNR" e "FSC", na Ukraina independente foram preparados solidamente... Como esta hoje o trabalho educativo nas Forças Armadas, Ministério do Interior? Serviço de Segurança? Se foram superados os erros do passado recente? Nisto há dúvidas.

   Zaporizhzhia (foto de arquivo.
O idioma da nação os ocupantes temem.

E no canal NEWS ONE, seu chefe e líder (junto com Vadim Rabinovech) do partido "Pela vida" Eugene Murayev , apresentando-se como apoiante do estado unitário, de fato exige federalização, insistindo que cada região escolha seu idioma, cultura e história. Anteriormente, na mais brilhante apresentação eu ouvi tudo isto de Mykola Levchenko, secretário d Conselho da cidade de Donetsk e deputado do Partido das Regiões. E Levchenko e Co. não só pregou mas também agiu. O resultado é conhecido... Pavlo Amitov - nativo de Donetsk, hoje um refugiado, escreveu o livro "Guerra infame" ("Stylos", Kyiv, 2016). Lá, ele escreve, que os eventos atuais na região preparavam-se por um longo tempo e com solidez, com absoluta e completa indiferença do governo central. " Não é possível não lembrar os serviços especiais da mídia local de informação de massa. Por muitos anos eles serviram fielmente à mafia regional. Eles, praticamente sem dúvidas e recriminações da ausente consciência passaram ao serviço dos separatistas. Semelhante transição tornou-se questão de técnica elementar, porquanto a maioria dos jornalistas de Donbas - "patriotas" automáticos de sua terra. Eles, ainda antes igualavam-se à Rússia, com atitudes de desprezo colocavam-se perante a tudo ukrainiano - idioma, cultura, independência nacional". E, continuando, o russo falante de Donetsk, pessoa de certa idade, justifica com detalhes a necessidade de insistente ukrainização - tanto de conteúdo, quanto de linguagem - desse país...

   O deputado Ivan Krulko, no Parlamento, mostra ao colega um cartão com a seguinte legenda: "Eu desejo conversar em ukrainiano. Kyiv, 4 de novembro de 2.016.

... Não a muito tempo na mídia ativamente discutiam sobre "copo de Avakov", lançado pelo ministro do Interior ao ex-dirigente da região de Odessa Saakashvili. O conflito na presença do presidente Poroshenko deu-se no idioma do país agressor, ninguém dos "líderes" da Ukraina não disse uma palavra em ukrainiano, o que é muito significativo. A TV de Moscou escarneceu: Khokhly ("хохли" - a grafia mudou - lembram das declinações em latim, no idioma ukrainiano também existem - OK) com seu idioma ukrainiano fazem-se de bobos. Na verdade, ele não lhes é necessário, tudo isto é espetáculo, pequeno vaudeville. Sim, à pseudo elite, que hoje "roda" com Ukraina, realmente tudo ukrainiano - idioma, cultura, tradições, história - não são necessários. Para eles é uma máscara política, jogo, espetáculo. Sua verdadeira natureza - pequeno russo oportunista que não tem e nunca teve convicções, nem ideais, são pessoas cínicas e hipócritas, pessoa cata-ventos.


Inscrição na camiseta d do deputado do Partido das Regiões Vadym Kolesnichenko, um dos autores do projeto de lei, sobre o idioma, na sala de sessão do Parlamento ukrainiano, 25 de maio de 2012:
Pelo idioma russo...
Pela nossa união...

Então, é por acaso que não foi assinada a decisão do Parlamento sobre cancelamento da anti-ukrainiana "lei" Kivalov - Kolesnichenko, ou é por acaso que surgiram os rumores, que o Tribunal Constitucional da Ukraina, em 17 de novembro (depois de amanhã - OK) pode reconhecer esta "lei" como tal, que corresponde à lei Básica da Ukraina? E isso apesar do fato, que todos lembram, como foi "aprovada" esta "lei" e que um de seus autores é um traidor da Ukraina "confirmado pelo tabelião" traidor da Ukraina, e antes - antigo agente de serviços especiais da Rússia, o que confirma toda a sua atividade...

Autor - Igor Losev - PhD, Professor Associado de Estudos Culturais, NaUKMA.

Tradução: O. Kowaltschuk

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