Radio Svoboda (Rádio Liberdade), 13.11.2016
Igor Losev
Manifestação contra a russificação da Ukraina por ocasião do Dia da literatura e linguagem ukrainiana. Kyiv, 9 de novembro de 2.016
Para iniciar refletiremos, o que é Ukraina e cultura ukrainiana para Rússia, principalmente para sua classe instruída. Para eles, a nação ukrainiana, país, estado e cultura - um mal entendido histórico, patologia, desvio de norma. A norma - é o desejo de completa, sem resíduos, dissolução de ukrainianos, sua cultura, idioma e identidade no caldeirão imperial russo. Cultura russa, formada ao longo de séculos de vida imperial, nunca foi complementada pela Ukraina, que extraordinariamente irritava seus políticos (com poucas exceções), porque não queria usar o idioma "de gente", (isto é, russo), mas agarrava-se ao seu idioma, seus costumes e tradições. A cultura russa nunca considerou a cultura ukrainiana no nível da sua e, com ressentimento e raiva rejeitava todas as tentativas de equalização dos direitos e status. Na Ukraina dominava a atitude escrava-colonial perante a cultura russa, para ela olhavam de baixo para cima, nas estimativas usavam a fórmula: "Ou nada, ou bom."
Manifestação contra a russificação da Ukraina por ocasião do Dia do Idioma e linguagem ukrainiana - Kyiv, 09 de novembro de 2.016.
O putinismo não surgiu na Rússia subitamente. O país vinha ao seu encontro, rejeitando as fracas tentativas de alguns liberais, que seguiam a linha Herzen - Sakharov, para democratizar Rússia. A inteligência russa também o seguia. O autor destas linhas, em 1990, monitorava de perto, com muita atenção, a imprensa democrática russa. Lá havia muita má vontade, e frequentemente direta hostilidade à Estónia, Letónia, Geórgia e Ukraina. Das páginas dos jornais e revistas ecoavam gemidos sem fim sobre a morte do "grande estado" e rapidamente escreviam-se sonhos sobre restauração do império, é claro muito liberal. Com as cores de Rembrandt retratavam os "assustadores" nacionalistas locais que com todas as forças prejudicam o povo russo falante nas antigas repúblicas soviéticas. Ridicularizam com maldade e injustiça quaisquer tentativas de vítimas anteriores da russificação na tentativa da recuperação do idioma e cultura nacional. A imprensa democrática russa era preenchida com zombaria sobre este assunto. Não cessavam brados quanto a "autóctone Criméia russa", autóctone Odessa Russa" etc. E tudo isso antes de Putin.
E qual é a posição ao idioma, cultura e história ukrainiana dos oponentes de Putin? Vejamos, Pavlo Letvenov, - ativista russo de direitos humanos, que em 1968 abertamente protestou em Moscou contra a ocupação da Checoslováquia, já por muitos anos não mora na Rússia e queixar-se da pressão russa não pode. E o que ouvimos dele? Eis o que: "Ukraina deve (nós sempre "devemos" algo a todos, e apenas para nós ninguém deve nada! - redação) dizendo francamente, o bilinguismo é indispensável, e é indispensável, que as pessoas se sintam etnicamente russas, permanecendo cidadãos da Ukraina. Se elas não quiserem, também teoricamente pode haver conversa sobre separação. Ukraina também cometeu muitos erros, tentativas idiotas para introduzir ukrainização, eles a tomaram de volta, mas ela, certamente, ajudou muito à propaganda antiukrainiana." Ou seja, restaurar a língua ukrainiana, praticamente conduzida às margens pelo "bilinguismo" oficial soviético, preservar a identidade ukrainiana, cultura ukrainiana na terra ukrainiana - isto são "tentativas idiotas". Mas a russificação insolente, sucessiva, cínica e impiedosa que ainda hoje não desapareceu da Ukraina, isto não é russificação idiota, isto verifica-se como algo normal, e auto-compreensível.
É significativo, que preocupando-se apenas por um grupo étnico, Letvenov demonstra completa indiferença à situação dos ukrainianos na Ukraina, a ele não interessa, como eles se sentem na sua terra e o quanto a eles permitem continuar ukrainianos em sua casa. A situação, como mostraram todos estes anos, é muito simples na Ukraina: se não houver ukrainização - haverá total russificação. O senso da existência do Estado ukrainiano consiste no apoio e desenvolvimento do idioma ukrainiano, cultura, identidade nacional ukrainiana, na auto-preservação da nação ukrainiana. Se o Estado da Ukraina não fizer isto, sua existência torna-se sem sentido. Mas tudo o que não tem sentido é condenado à extinção. Sem o idioma russo Ukraina vivera, sem o ukrainiano ela, simplesmente, desaparecerá. Sem ukrainização (o que não compreendem os atuais líderes oligárquicos do país) Ukraina não sobreviverá em perspectiva histórica. Os sentimentos anti-ukrainianos no sudeste - são consequências da falta de ukrainização.
Justamente lá, onde não havia nem cheiro de ukrainização, a disposição da "primavera russa" era mais agressiva. Exatamente isto foi obrigado reconhecer Lytvynov mas, ao mesmo tempo ele, de fato, tomou sob proteção os apóstatas de Putin, de Donetsk: "Lá há certos bandidos, mas eles, ainda assim, expressam as opiniões de parte do povo, falantes do russo, da nação ukrainiana, lá tem pessoas, que realmente não se associam com a cultura ukrainiana,
com o Estado ukrainiano", E diante destas pessoas, diante destes bandidos, (termo de Lytvynov), Ukraina deve capitular - assim falando, "autonomia seria suficiente". Parece, que com a questão ukrainiana até agora, acaba não somente a democracia russa, mas também a proteção russa, a lógica russa e a moral russa. Pelo menos, isto diz respeito a absoluta maioria não apenas aos plebeus da "Criméia Nossa" como também aos intelectuais eruditos.
Frase à direita: Prometem defender, todos os dias a população russo falante no Donbas.
Abaixo: Mundo russo
"Quinta coluna" marcha pela Ukraina.
Tudo descrito acima não constituiria tão grande perigo, se não houvesse fatores internos na Ukraina. Não se deve esquecer: muitas estruturas de poder, particularmente repressivos, em todos os anos da independência da Ukraina educavam-se no espírito anti-ukrainiano, na hostilidade ao idioma ukrainiano, cultura e às pessoas com identidade ukrainiana distinta. O Estado procurava apoio no patriotismo soviético, não ukrainiano. Todo o chamado ensino militar-patriótico era inteiramente soviético, construído sobre o culto de vitórias stalinistas, marechais e heróis. Bem, os quadros para grupos de "DNR" e "FSC", na Ukraina independente foram preparados solidamente... Como esta hoje o trabalho educativo nas Forças Armadas, Ministério do Interior? Serviço de Segurança? Se foram superados os erros do passado recente? Nisto há dúvidas.
O idioma da nação os ocupantes temem.
Pelo idioma russo...
Pela nossa união...
Autor - Igor Losev - PhD, Professor Associado de Estudos Culturais, NaUKMA.
Tradução: O. Kowaltschuk
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