quarta-feira, 11 de maio de 2016

Maiores danos à memória comum sobre Segunda Mundial, do que cria Putin, é difícil imaginar - Kipiani.
08-09 de maio na Ukraina são dias comemorativos do 71º aniversário da vitória sobre o nazismo na Segunda Guerra Mundial.
Radio Svoboda ( Rádio Liberdade), 09.05.2016
Yuri Matviichuk




Kyiv - após os eventos em 08 de maio ao Dia da Memória e da reconciliação da Ukraina, celebra-se em 09 de maio o Dia da Vitória sobre o nazismo na Segunda Guerra Mundial. Além do nome, mudou a simbologia do feriado: a bandeira vermelha foi proibida pela descomunização, em seu lugar já por vários anos, o principal símbolo tornou-se a papoula vermelha. No entanto, ainda uma parte significativa da sociedade ukrainiana percebe a Segunda Guerra Mundial, suas lições e resultados, através do prisma de mitos, impostos pela propaganda soviética.

Na Ukraina as comemorações do Dia da Memória e Reconciliação, e Dia da Vitória sobre o nazismo na Segunda Guera Mundial, pela primeira vez acontecem em termos de ações da lei, de condenação dos regimes comunista e nazista e proibição de sua simbologia, mais conhecido como lei da descomunização, que proíbe o aproveitamento em eventos públicos de símbolos soviéticos: bandeira vermelha, imagem da estrela de cinco pontas, foice e martelo, com exceção de tais imagens nos prêmios dos veteranos.


O principal símbolo comemorativo dos últimos anos na Ukraina, segundo tradição européia, tornou-se uma papoula vermelha. 
Outro, anteriormente tradicional, mas hoje símbolo controverso - "Fita de São George", formalmente não é proibida, mas após a anexação da Criméia e combates em Donetsk e Luhansk, na Ukraina é considerado um símbolo do separatismo pró-russo.

Como observou o jornalista, editor-chefe do recurso da Internet "verdade histórica" Vakhtang Kipiani, ele não encontrou  nesses dias em Kyiv nenhuma "Fita de São George" ou sua imagem, o que considera significativo. Também observa que, gradualmente destroem-se outros mitos soviéticos sobre Segunda Guerra Mundial: para a maioria das pessoas, é óbvio que a guerra para a Ukraina não começou em  22 de junho de 1941, mas em setembro de 1939, quando a União Soviética com a Alemanha nazista dividiram Polônia. 




Para se livrar dos mitos e oposição pública neste motivo, é aconselhável ler mais as novas pesquisas, ouvir os testemunho dos poucos veteranos ainda vivos de todas as frentes que estiveram na  guerra. Então,  depois de um tempo a sociedade ukrainiana poderá chegar a uma visão mais ou menos comum da tragédia, que foi a Segunda Guerra Mundial, disse Kipiani.

"A posição do Estado, da sociedade civil, posição dos jornalistas ou historiadores deve ser naquilo, que  nós temos para oferecer às pessoas para tomar conhecimento de novos fatos sobre a história,  novas interpretações, avaliar, pesar na balança pessoal, o que deve ser mais importante: conhecer a verdade de Zhukov, (russo) ou saber a verdade de Shukhevych (ukrainiano). Talvez conhecer melhor a história de sua família ", - disse o jornalista.

Hoje a Rússia por sua agressão à Ukraina estimula o processo de eliminação  dos velhos mitos históricos, diz Vakhtang Kipiani

"Se dois ou três anos atrás, antes do início da agressão da Rússia contra a Ucrânia, nós podíamos falar de uma irmandade de combate conjunta, a vitória comum dos povos da União Soviética sobre a Alemanha nazista ou agressor fascista, então agora vemos que esse agressor, como vândalo arrogante  vem à  nossa terra, a fim de matar, torturar, destruir riquezas materiais, museus e exportar nossas empresas - o mesmo que a Alemanha nazista fez - hoje no leste da Ukraina faz a Rússia de Putin. Então, mais danos à "memória compartilhada" sobre a Segunda Mundial, do que Putin faz, seria difícil de imaginar ", - disse o jornalista.

O perigo não é apenas que o presidente Vladimir Putin apela para os chamados estereótipos russos heroicos do período soviético e mitos da Grande Guerra. Todas essas conversas sobre a nação vencedora e paradas militares,  são realizadas na Rússia, de acordo com o doutor em ciências históricas, professor Yuri Shapoval são necessários a Putin para reservar uma justificação da expansão russa, iniciada em 2014, ano da guerra russo-ucrainiana, onde na qualidade do inimigo e "fascistas" designaram os ukrainianos.


"O que deve fazer Ukraina nesta situação? Do meu ponto de vista, é necessário, antes de tudo acentuar, e isso está dando certo, nos últimos dois anos, que Ukraina padeceu muito durante a Segunda Guerra Mundial. O segundo ponto - é preciso ressaltar que os ukrainianos lutaram nos exércitos de vários países no lado da coalizão anti-Hitler. O terceiro ponto é muito importante - precisa falar sobre o importante papel dos ukrainianos no Exército Vermelho e mais tarde o exército soviético, onde havia pelo menos 300 generais de origem ucraniana, um grande número de condecorados. Nisto é preciso enfatizar e lembrar ", - diz o historiador.

Yurii Shapoval também observou que com todos os presidentes anteriores da Ukraina, a política da memória tendia ao compromisso e reconciliação interna, o que não conseguiu-se  alcançar. Segundo o professor, esta questão deve ser abordada a partir do ponto de vista que todos eles eram vítimas daquela guerra, bem como a própria Ukraina, que encontrou-se entre as duas potências - Alemanha e Rússia stalinista, e foi condenada, a fim de ser dividida sobre o que realmente, Rússia pretende agora.

"Nós temos que fazer a nossa própria obrigação: introduzir novos conceitos, apelar a inteligência das pessoas, nos dirigir principalmente às novas gerações, não para enfatizar a importância da reconciliação daqueles que lutaram pelas "diferentes Ukrainas", -  disse Yurii Shapoval.

À frente, trabalho longo e difícil relacionado com a de-ocupação de consciência - historiador.

Formato duplo de eventos comemorativos - reconciliação e reverenciamento à memória  dos mortos e também distinção da Vitória, o que, de fato, conserva as  tradições soviéticas - agora é o que mais responde à imaginação de diferentes partes da sociedade e moradores de diferentes regiões da Ukraina sobre os acontecimentos e a vitória na Segunda Guerra Mundial. Tais considerações expressou o vice-diretor de pesquisa do Instituto de Sociologia da NAN (Academia Nacional de Ciências da Ukraina) Yevhen Golovakha.

No entanto, ele ressaltou que agora adquire um significado especial para os ukrainianos o conceito de reconciliação, busca daquilo que une as pessoas.

"Entendemos que temos uma situação muito difícil com as contradições ideológicas regionais. Devemos lembrar o que é a guerra, que horror é isso e, portanto, buscar a reconciliação, mesmo que apenas dentro do país. Agora a situação é muito mais complicada - reconciliar aqueles que se opõem a ATO. Isto para nós é o principal problema agora - reconciliação entre regiões e entre as pessoas que estavam em lados diferentes da fronteira. Esta é uma situação muito difícil, mas acho que haverá inteligência suficiente para ukrainianos, o bom senso e tolerância, para resolver este problema ", - disse o especialista.

A vida de pessoas de diferentes países sob ocupação durante a Segunda Guerra Mundial explora Elena Styazhkina. Extrapolando história sobre a atual situação nos territórios ocupados de regiões Donetsk e Lugansk, ela salienta que à frente - houve um trabalho longo e muito difícil conectado com a de-ocupação de consciência, tanto após a luta quanto concomitantemente ao passado soviético e desde o passado soviético.

"O mito histórico soviético conduzia a ocupação às sombras. Porque conceptualmente vê-lo era possível  somente, num triângulo histórico "heróis, vítimas-traidores". Mas na verdade a ocupação trabalha com mecanismos muito diferentes: mecanismos de sobrevivência, de salvação a si e a seus filhos. Mas esta não é toda a verdade. O homem na ocupação todos os dias  resolve para si o problema de escolher entre o bem e o mal. E em algum momento, mesmo a pior pessoa pode ser um herói - diz Elena Styazhkina. - História, é claro, não repete-se absolutamente, mas os cenários de ocupação são sempre os mesmos. Então, quando nós vencermos, nós precisaremos ter muito cuidado com as pessoas. Porque aquele, que parece ser um traidor, realmente pode ter sido todo esse tempo nosso guerrilheiro. E aquele que parece patriota-herói poderia ter sido um dos agentes do Kremlin. Estes são pontos extremos entre os quais há muitas vidas e cenários de vida. Eu entendo que todos nós estamos traumatizados pela guerra. Mas passo a passo,  cuidadosamente, nós devemos sair desta guerra, compreendendo não só a história desta ocupação, mas  também a ocupação da Segunda Guerra Mundial ".

O analista político e historiador Kost Bondarenko  adverte para que o processo de se livrar dos mitos históricos soviéticos não se transforme em outros mitos novos, porque a verdade está algures no meio, disse ele.

"Não podemos construir uma certa concepção histórica, a fim de neutralizar completamente outro conceito histórico. Tentarão crescer certas qualidades do revisionismo em relação ao lado oposto. Qualquer revisão pode levar a consequências bastante desagradáveis. Sim, há necessidade de reescrever a história - cada geração reescreve a história, mas não revisá-la "- disse Kost Bondarenko.

De acordo com ele, a história da Segunda Guerra Mundial deve ser a história sintética, sem quaisquer ocultações ou distorções. Devemos dar adequado reconhecimento, tanto  aos soldados que lutaram nas forças militares soviéticas, como  àqueles que lutaram nas fileiras do Exército Insurgente Ucraniano, subterrâneos, partisans, não importa com que slogans e bandeiras eles combatiam - todos eles forjaram a vitória, e não devemos diminuir um lado ou o outro, porque isso também faz parte da nossa história, acrescentou o especialista.

Dia da Memória e Reconciliação foi aprovado pela legislação da Ukraina. "Sobre perpetuação da vitória sobre o nazismo na Segunda Guerra Mundial de 1939-1945". Data programada para o aniversário da rendição da Alemanha nazista 08 de maio de 1945. Com o mesmo documento foi decidido celebrar o 09 de Maio como o Dia da Vitória sobre o nazismo na Segunda Guerra Mundial.

Tradução: O. Kowaltschuk

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