terça-feira, 26 de abril de 2016

No caminho para o abismo
Ukrainska Pravda (Verdade Ukrainiana), 04.04.2016
Alexander Solonko

Combate à corrupção na Ukraina tornou-se uma tendência política com enorme potencial. Poder-se-ia mesmo falar de uma ideologia política se não houvesse uma especialização estreita e desvantagens sociais que levam ao conceito "luta com corrupção" aqueles  que tentam criar para si um capital político por conta da exploração do tema.

Na verdade, muitos lutadores com corrupção conscientemente ou não, não falam publicamente, que esta luta tem caráter superficial, porque a luta, de fato, trata com a metástase de doença, que é, simplesmente derivada da doença. Em vez disso, a própria doença nós conseguiremos destruir somente liquidando as condições que tornam possível a corrupção na Ukraina, em escala total.

Se há condições para existência de corrupção - ela existira´. Tal é a natureza humana. Mesmo entre as pessoas decentes, frequentemente supera a ganância e a incapacidade de resistir à tentação. O que falar sobre funcionários públicos, que simplesmente não sabem, que podem viver e trabalhar de modo diferente.

Em 03 de abril trovejou outro escândalo de corrupção. Veio à tona mais um escândalo de corrupção. Informações sobre  a criação de uma piramide offshore do presidente Petro Poroshenko. Além disso, seu nome aparece numa lista com o ex--Premier da Ukraina Pavlo Lazarenko, como proprietário de grandes offshore.

Antes foi publicada uma série de investigações, incluindo maquinações com terras, onde mencionava-se o sobrenome de Poroshenko. E o que dizer sobre os escândalos de seu cerco.

"Simplesmente porque eu posso". Talvez, assim seria a resposta honesta à pergunta: "Por quê?"

No entanto, na política, contar com respostas honestas, não vale a pena esperar. É um luxo muito grande e perigoso.

É evidente, que o escândalo ocorreu "oportunamente" - justo no período entre a visita presidencial aos Estados Unidos e o referendo na Holanda em relação à associação UE - Ukraina.

O contexto internacional é importante, mas para nós, ukrainianos, vale agora concentrar-se nas questões domésticas. E começar com introspecção brutal.

Após a vitória do protesto civil na Ukraina nos anos 2013 - 2014, da qual participou um grande número de grupos sociais, o país foi confrontado com extremamente complexos desafios. Para respondê-los, primeiro precisamos delegar um novo governo. Delegamos. Os resultados de sua atividade são decepcionantes.

Além disso, hoje temos uma revanche do sistema antigo. Trata-se de órgãos de força política, procuradoria, poderes judiciais e elite política que deve ceder à nova geração, mas ferozmente resiste a isto.

O pêndulo revolucionário com ranger e faíscas parou e agora teimosamente se move na direção oposta.

Governo representativo. Projetos políticos novos e antigos assumiram slogans que se tornaram populares na sociedade após a Revolução da Dignidade. No contexto da invasão russa, essência e métodos de luta com o regime bandido de Yanukovych que, eram principalmente slogans que, anteriormente eram usados pelas forças direitistas e nacionalistas. Antes seu impulso na comunidade não era crítico, fundamental - porém adquiriu impulso com a história da independência. Os representantes da velha estrutura política imediatamente se aproveitaram e adotaram estes slogans. As pessoas lhes acreditaram e votaram neles nas eleições presidenciais e parlamentares.

No entanto, sob as novas tabuletas vieram pessoas que já estavam junto ao governo até antes da eleição de Yanukovych, e mesmo aqueles, que fizeram parte de seu regime. Os representantes da velha classe política corrupta não planejavam viver "de uma nova maneira", não tinham intensão de iniciar a "lhustratsia", tomar decisões realmente vitais.

Vieram os representantes de grupos financeiro-oligárquicos, cresceu o número de demagogos, que a tempo organizaram-se sob o humor da irritada sociedade.

Formada assim a composição do parlamento, por definição não podia responder à demanda do público. E um sistema informal de cultura transferia a responsabilidade de um ramo do governo para outro, de um funcionário para outro - transformaram o Parlamento numa suja cloaca, na qual foi enterrada a maioria das esperanças dos ukrainianos para uma outra vida melhor. 

Sistema judicial. Não foi feita uma total "lhustratsia" de juízes (lhustratsia" - não sei se termo equivalente existe no idioma português. Na Ukraina "lhustratsia" significa verificação, na base de documentos, se determinada pessoa trabalhou nos órgãos soviéticos. Em caso positivo, a pessoa não pode trabalhar nos órgãos do governo. Na Polônia "lhustratsia" existe até hoje, e vai continuar ainda por 10 anos, até a existência de pessoas cuja idade permitia ocupar cargos na ex-União Soviética. Na Ukraina começaram falar em "lhustratsia" e alguns projetos até foram elaborados". Somente parte dos funcionários passou pela "lhustratsia". - OK).

A responsabilidade coletiva que existia no sistema judicial, só fortaleceu-se diante da ameaça de perder cargos e fortunas provenientes da corrupção. Ao mesmo tempo surgiu a chance de preservar a ordem existente.

Obviamente, que os tribunais irão utilizar ao máximo suas possibilidades para preservar o status quo, e também irão prejudicar a punição de juízes que foram apanhados no recebimento de corrupção e exigência de suborno. Nisto serão auxiliados pela corrupção de políticos, funcionários, agentes de segurança e homens de negócios.

Os últimos, por sua vez, farão todo o possível para que o sistema judicial não seja demasiado balançado. Em troca receberão "corretas" decisões judiciais.

O presidente, como pessoa jurídica, teimosamente se move na direção de plenos poderes e controle sobre maximamente amplo espectro da vida social.
Ele procura reforçar, não tanto o instituto presidencial, quanto o poder pessoal, independentemente da posição. 
Tudo entra em funcionamento. Conchavos políticos, perseguições dos "discordantes" através das controladas forças de segurança, manipulação da sociedade e jogos perigosos com o parlamento não subjetivo, esforço para receber o controle sobre os órgãos de segurança e do governo.

O desejo de Poroshenko ser presidente, primeiro-ministro e Procurador Geral em uma só pessoa simplesmente é assustador. Ainda mais nojento tudo isto se apresenta no fundo de mesquinhas fraudes mercantis e escândalos de corrupção ao redor de seu séquito. Além disso, imediatamente transparece o quanto ele se agarra ao negócio próprio, o qual prometeu vender.

Mas, ainda mais desmoralizante é que, no contexto de toda essa oposição agressiva à sociedade e ao senso comum, o presidente, como pessoa responsável pela política externa, e de defesa, demonstra posição absolutamente passiva nas relações com o Ocidente e o Kremlin.

De fato, neste plano executam-se apenas as diretrizes do Ocidente. Com a perseverança e pontualidade suicida. Sem nenhuma iniciativa.

No entanto, parece que a concentração de esforços para os problemas de enriquecimento pessoal e fortalecimento do poder pessoal - estão em primeiro lugar.

O tema em separado - a estrutura do poder. Aqui, nem tudo é claro e idêntico, no entanto a presença é óbvia e influência decisiva nas estruturas do poder que bloqueiam e desacreditam quaisquer tentativas reformistas.

Algumas tentativas solitárias que tentam resistir ao sistema com a intervenção de ativos cidadãos - são severamente reprimidas. Frequentemente à força.

Durante a Revolução da dignidade o pêndulo foi muito abalado. As pessoas, finalmente perceberam, que no confronto com forças de segurança armadas elas não são estranhas e podem fazer resistência decente, tendo uma motivação pura.

Mas, por exemplo, polícia é um grupo social. São centenas de milhares de pessoas. Lá existem leis próprias. Própria hierarquia. E grande parte desse grupo social não perdoou ao público que durante o confronto no Maidan deu troco.

Não perdoaram também os "procuradores". O pêndulo da violência estacionou e com ranger começou mover-se na direção oposta. Os mais atrevidos vingadores populares foram destruídos fisicamente. Parte acabou na prisão.

Com o passar do tempo, o sistema torna-se mais ousado. Começam perseguições aos participantes de combates no leste do país, que são ameaça potencial ou real para o atual governo. Funcionários do Ministério do Interior tentam evitar a "lhustratsia" e por todos os meios fazem o processo re-certificação pura formalidade.

Mesmo se parte do lixo policial for banido da polícia, o esqueleto, se continuar nos cargos e retendo o poder, muito rapidamente "digerirá" os iniciantes e voltará tudo como antes. Mas um potencial protesto seguinte será sufocado na raiz com muito maior motivação.

Esta é apenas uma parte dos processos destrutivos, que agora enfraquecem o país e levarão a um estado de hipertrofia política na sociedade.

Importante - que deste modo criam-se condições favoráveis para crescimento de apoio da coluna do Kremlin na aparência do "Bloco de Oposição". O "Opoblok" usa slogans sociais e joga com os sentimentos das pessoas cansadas, segurando por trás de Putin uma faca embebida com veneno de Putin. Aliás, Vilkul em Krevyi Rig ganhou na repetição das eleições, para prefeito exatamente assim.

Enquanto isso, a oposição nacional tem muito menos possibilidades para propor alguma alternativa. Além disso, ela não tem apoio financeiro externo, nem a outras formas de patrocínio.

O governo ukrainiano não se comporta como ukrainiano. A fadiga da sociedade pode levar ao fato, que nós simplesmente não percebemos nosso Rubicão negativo - e cairemos no abismo.

Devemos acordar, enquanto não é tarde!

Tradução: O. Kowaltschuk

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