domingo, 24 de abril de 2016

Escravos do século XXI
Vysokyi Zamok (Castelo Alto), 22.04.2016
Suzana Bobkova

Como os trabalhadores da construção, que vêm da Ukraina Ocidental à região de Kyiv, transformam-se em "ostarbaiter"...
(Ostarbaiter - em alemão. Trabalhador do Leste. Definição adotada pelo Terceiro Reich a pessoas trazidas do Leste da Europa, para aproveitamento em trabalhos sem salário ou com baixos pagamentos (1942 - 1944). Pessoas provenientes dos territórios do Leste Europeu, que se tornaram soviéticos desde 17 de setembro de 1.939 - OK).   


Corrupção escandalosa na cidade Vyshgorod, na região de Kyiv, não sai das páginas dos jornais e informações das televisões. O prefeito de Vyshgorod acusam em solicitação de suborno no valor de um milhão de euros. Os recursos financeiros exigia o funcionário com passado criminal, pela licença de construção. Isto indica que na região é intensa a construção de prédios, e cada pedaço de terra vale seu peso em ouro. A população local está dividida: há aqueles que dizem que o prefeito foi "enquadrado", outros acreditam na culpa dele... No entanto, aos funcionários em altos cargos, não interessam muito as condições de vida e de trabalho dos construtores, que vêm do oeste da Ukraina, para Kyiv, atrás de trabalho e salários. A estas pessoas chamam "ostarbaiter" de Kyiv, ou escravos do século XXI. Sobre como vivem esses migrantes, o jornalista do "Castelo Alto" conversou com o consultor do chefe administrativo de Vyshgorod sobre a proteção dos direitos dos trabalhadores contratados Stepanie Sidlyar.

- Senhora Stepanie você também veio trabalhar em Vyshgorod, do oeste da Ukraina. Que problemas enfrenta diariamente?

- Para trabalho em Vyshgorod vim em 2.006. Em Peremyshyl trabalhei na agricultura, mas os ganhos eram míseros. Em Kyiv trabalhei em gerenciamento de construção, no último ano - como assessor do chefe de administração do distrito. Os migrantes internos na Ukraina - escravidão sutil do século XXI. O pior é que não há nenhuma estatística de pessoas que vem trabalhar na região de Kyiv, das aldeias e cidadezinhas...

- Recentemente, em Kyiv desmoronou um prédio, morreram os construtores-trabalhadores...

- Isto aconteceu em 25 de fevereiro na rua Bohdan Khmelnytskyi. Cinco pessoas da Ukraina Ocidental, com fraturas na coluna vertebral estão no hospital. Duas pessoas morreram. As testemunhas disseram, que na manhã daquele dias, na construção, trabalhavam 20 trabalhadores... E, se à noite retiraram os corpos? Ninguém sabe quantas pessoas havia pela manhã, quantos ficaram até a noite. Depois de duas semanas, em Irpen, na construção também morreram duas pessoas do oeste da Ukraina. Se algo acontece o proprietário-construtor não tem nenhuma responsabilidade. Lembro o caso. Um homem, que trabalhava comigo na empresa como guarda, ficou gravemente queimado. Desligaram a luz, e ele acendeu uma vela e dormiu... Houve um incêndio. O proprietário demitiu-o e não lhe deu nenhuma ajuda financeira. Então eu fui conversar com u  alto funcionário da capital, mas ele disse que "as pessoas sozinhas tem culpa, porque vão trabalhar ilegalmente". Mas as pessoas não tem saída porque ficam sem um pedaço de pão...

- Quem é o culpado que o negócio na Ukraina opera nas sombras, e quem pode resolver este problema?

- A culpa é do governo. Os ukrainianos em todo o mundo procuram trabalho, porque as autoridades não criam um número de empregos legais. Na Ukraina, a maioria sobrevive com pensões e benefícios sociais. Tal país não tem futuro. Os trabalhadores da região de Kyiv, são obrigados a viver e trabalhar em condições terríveis. Barraco, dois - três quartinhos, tábua, colchão... Alguns têm cama, outros não. Numa acomodação mulheres e homens, de diferentes idades e status social. Cama - lugar custa de 600 a 800 UAH por mês. O empregado que não recebe mais de oito mil UAH por mês não pode permitir-se alugar uma casa/apartamento por 3 - 3,5 mil UAH (preço médio de apartamento de dois quartos. O que eu ainda não consegui entender é quando falam de apartamento de dois quartos, são dois quartos mais cozinha, sala, etc. ou são apenas dois aposentos. Porque qualquer aposento eles denominam "kimnata" o que pode ser sala, quarto, cozinha. E, geralmente, a metragem é mínima. Acho que quando falam em duas "kimnatas trata-se de uma pequena sala-cozinha e um quarto - OK). No pior caso, constroem 2 - 3 andares e dormem no cimento... No melhor - vivem em albergues, mas lá melhores condições não há. De dia as baratas rastejam sobre os móveis, à noite sobre as pessoas... Um banheiro para 40 pessoas.

- Por que as pessoas suportam tão terríveis condições de trabalho?

- Os ukrainianos que nunca viajaram ao exterior, têm medo de ir a algum lugar, eles têm uma barreira psicológica, então trabalham nas construções ukrainianas. Ilegalmente. (Muitos vão trabalhar nos países da Europa Ocidental e, até na Rússia - OK). Se disserem a alguém, onde trabalham e em que condições, então imediatamente ficarão sem trabalho e voltarão para casa sem dinheiro.

- O mercado negro de trabalho, em Kyiv, ainda funciona?

- Praticamente não. É anteriormente que nós íamos atrás das pessoas à estação. Agora, brigada puxa brigada para Kyiv. Eles tem suas instalações: Boyarka, Irpen, Vyshgorod... Constroem "aranha-céus de 16 - 22 andares e centros comerciais. Nos últimos dois anos em Vyshgorod cresceram quatro edifícios. Outros trabalham na esfera de transportes e nas granjas avícolas.

- Há casos em que as pessoas são enganadas nas questões de dinheiro?

- Há. Nenhum construtor-empregado nunca viu o construtor-proprietário. Trabalha com mediadores de segunda ou mesmo terceira fase. Em Vyshgorod cinco grandes aranha-céus constroem construtores de Donetsk e Luhansk. Certa vez uma equipe para ganhar um extra - rebocava uma casa particular. Quando concluíram, vieram dois grandalhões, colocaram os trabalhadores no carro e não deram nem um centavo. 
A localidade lá é específica. Nos tempos soviéticos à Central Hidroelétrica de Kyiv vinham trabalhar pessoas Yakut (da Sibéria) e Mordvinia (Mordávia)... Na Ukraina, eles criaram famílias. Essas pessoas apoiam abertamente a Rússia...

- Acontece, os trabalhadores defenderem seus direitos nos tribunais?

- Com que documentos a pessoa irá ao tribunal? Oficialmente empregam o mestre, contramestre, com a força de dois construtores... Por exemplo, o pedreiro fez um bom trabalho num objeto, ele é transferido para outro. Há uma vigilância secreta, quem se comunica com quem, o que a pessoa diz e onde vai. O construtor - proprietário como faz? No primeiro mês pagamento normal, depois menos e menos... Às seis da manhã - os empregados trabalham, às oito da noite ainda trabalham. As pessoas pedem a Deus para saírem vivas da construção. Se não deram dinheiro, vão até o padre. O padre dá dinheiro para o bilhete para casa...

O construtor proprietário recebe enormes rendimentos mas, às pessoas, em Kyiv, pagam centavos. Até em Lviv é possível receber mais. Se exigir melhor salário...
Recentemente, os ganhos em Kyiv, foram reduzidos. Mas o problema não é somente dinheiro, as pessoas estão longe de suas famílias. Ninguém lhes dirá uma boa palavra, nem esposa, nem filhos não vêem por meses. Você olhe nos domingos: Lá, além de "Mivina" (aletria), nada se permitem. À criança precisam comprar botas, preparar à escola... Eles sempre perguntam: "Quando haverá trabalho em casa"? (No local onde residem - OK)..

- Provavelmente não esquecem o cálice....

- Não prescindem. Mas, no trabalho, com álcool é rigoroso. Bebeu - volta para casa. Houve um caso, dois trabalhadores, conheceram num café duas "borboletas". Elas os convidaram para o chá em sua casa. Quando entraram à casa, vieram dois cúmplices - roubaram tudo. Pela manhã, quando levantam, não sabem se ainda têm calçados... Qualquer coisa pode acontecer. Famílias destroem-se. Ele de Frankivsk, encontrou uma amante, foi a Kirovograd. As crianças ficaram sem pai...

- Por que as pessoas não protestam, não dizem em que difíceis condições trabalham?

- Quantas cartas eu escrevi... Todas elas - à primeira lata de lixo. Em 18 de maio em Vyshgorod será realizada uma "mesa redonda" com a participação do governo e empregadores sobre o tema salário interno. As pessoas sabem que em nosso país não há para quem queixar-se. O governo descaradamente mente! Muitas pessoas que vêm à região de Kyiv para trabalhar tem ensino superior. Eles precisam ir para longe, para não morrer de fome.

Tradução: O. Kowaltschuk

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