quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Riscos para Ukraina. Poroshenko, idioma e o Patriarcado de Moscou.
Radio Svoboda (Rádio Liberdade), 02.01.2016
Oleg Romanchuk

Porque não desaparece o colonialismo cultural de Moscou? O idioma russo, particularmente a esquizofrenia bilíngue no rádio e televisão mata a identidade ukrainiana.
Soldados do batalhão de propósito especial do Ministério do Interior do "Corpo Oriental" durante a cerimônia do envio à zona da ATO. Pç. da Liberdade em Kharkiv, junho de 2015.
O assessor de imprensa do presidente da Ukraina Svyatoslav Tseholko anunciou, que em janeiro de 2.016 realizar-se-á uma grande conferência do presidente com a  imprensa. Por alguma razão lembrou-se o encontro de Petro Poroshenko em 11.12.2015 com os representantes da comunidade, órgãos e cientistas sobre a criação do Conselho para a Unidade Nacional.  Valeri Pekar, estadista público, um dos participantes desta reunião, comentou com muito ceticismo o visto e ouvido: "O final da reunião foi horrível. Nada parecido como unidade nacional não evidenciou-se.

De fato. O cabeça do estado, por exemplo, disse que a sociedade não mais será dividida com a questão do idioma. A informação, para dizer o mínimo, é controversa. Porque para mudança ativa da russificação veio uma "rasteira", costumeira. Mais insidiosa, mais agressiva. Depois da Revolução da Dignidade o idioma ukrainiano perde posições nas estruturas de poder, na televisão, na mídia, escondendo-se engenhosamente atrás do falso slogan "Único país - Única direção". (E veja, o slogan em ukrainiano diz: "Yedena kraina (país) - Yedena strana" - a palavra "strana" não encontrei no Grande Dicionário do Atual Idioma Ukrainiano - editado em Kyiv, pelo Ministério de Educação e Ciências, em 2006, e que, acredito, ser a última edição do gênero. No entanto, encontrei a palavra "straná" - traduzida como "país" e mais "straná dos Soviets, no Dicionário Russo-Português, de N. Voinova, S. Starets, V. Verkhucha, A. Zditoveski, 2ª edição - Moskovo, Edições "Ruski Yazik" (Língua Russa), 1989.) Então, o próprio slogan, já vem russificado.-OK).

Voltando ao texto:
Este slogan é deliberadamente programado para o bilinguismo, legaliza o idioma russo como idioma do Estado. Esta é uma especulação política que basicamente proíbe levantar a questão da discriminação dos ukrainianos, que falam em ukrainiano. Porque, dizem, assim também violam-se os direitos dos cidadãos de língua russa, da Ukraina.
Que evidências mais precisa o fato, que o idioma oficial e o idioma de comunicação - não é o mesmo? Eles desempenham funções diferentes, e neles colocaram diferentes tarefas. Língua oficial - é a legalização da ordem. 

"Dever do Estado - como exigem as normas européias - é ensinar a todos os cidadãos o idioma estatal. Eu - assim como você - não tenho obrigação em dominar o idioma estatal. Portanto, quando comigo não querem comunicar-se no idioma ukrainiano, com isto desprezam não somente a mim como pessoa, mas também desprezam o instituto da condição do Estado ukrainiano, e, portanto - o próprio Estado" (Serhiy Holovaty).

Em junho do ano passado, dirigindo-se com uma mensagem ao Parlamento, Petro Poroshenko declarou, que o ano de 2016 na Ukraina, será declarado o ano do idioma inglês. Em 15 de outubro de 2015, na cerimônia de comemoração do 400º aniversário da "Kyiv Mohyla Academia" (Academia de Ensino-OK), o presidente da Ukraina propôs que "na Ukraina, não só na Academia, além do idioma ukrainiano, deveria surgir também o seu idioma de trabalho. E este idioma, pelo direito, deve ser o idioma inglês, já que muitos funcionários públicos, a princípio, não visam aprender o domínio do idioma nacional. (Parece que Poroshenko está sendo ingênuo, mal orientado, ou mesmo mal intencionado. Pelo que deduzo de minhas leituras de jornais, os ukrainianos estudam dois ou três idiomas, além do seu idioma nacional, nas escolas, Claro, só os filhos de pessoas com condições financeiras para cursos particulares, o que é uma grande minoria. A motivação é viajar, trabalhar nos países europeus ou, poder fugir da pobreza na Ukraina. Então, a solução do problema não seria criar melhores condições econômicas para todos, através de diversas estratégias, inclusive contra o enriquecimento ilícito de alguns? Tendo melhores condições, as pessoas sozinhas aprenderão idiomas estrangeiros que necessitarem, a exemplo daqueles que já o fazem, estimulados pela
necessidade e vizinhança de outros países - OK).

"Ao leitor interessado proponho ler, mais uma vez a citação e prestar atenção à frase "além do ukrainiano, surgiu agora o seu idioma de trabalho". Você compreendeu, que agora além da alheia língua ukrainiana deve surgir a sua inglesa? ( ... ) . A partir de 01 de janeiro de 2016 introduzem-se novos passaportes internos, onde em vez da língua russa agora será inglesa. Pergunta: Por que num documento interno é necessária uma língua estrangeira. É isso mesmo: para conveniência da nova administração de ocupação, que não domina a alheia língua ukrainiana. (Vladimir Bohaychuk, membro da Comissão de Direitos Humanos e Civis do Congresso Mundial Ukrainiano).

A razão é simples: temos o governo NÃO UKRAINIANO. Ele é ukrainiano apenas segundo a forma, o conteúdo é russo. E, o conteúdo, como se sabe, é mais importante que a forma.

Falando sobre as tarefas do recém-criado Conselho para Unidade Nacional, o presidente disse: "A questão do nosso desenvolvimento humano devemos decidir de modo, para demonstrar convincentemente a unidade única ukrainiana, porque iguais a nós, no mundo não há outros". Bem dito. Mas por que o espaço informativo da Ukraina até agora é permeado com fedor espiritual russo? Por que não desaparece o colonialismo cultural de Moscou? O idioma russo, incluindo a bilíngue esquizofrenia nos canais da televisão e rádio, mata a identidade ukrainiana, mata a alma ukrainiana. "Grande parte da elite ukrainiana... continua servir-se da língua russa e dirige-se com ela aos ukrainianos. Como consequências desse caos a língua ukrainiana deixou de desempenhar sua função básica - identificação" (Igor Kahanets).

Ivano Franquivsk, 25.02.2014.
Na já referida reunião com os representantes da sociedade, órgãos do governo e cientistas, quanto a criação do Conselho para a Unidade Nacional, que deve ser independente: "Ter uma Igreja única - não é vontade do presidente, do governo ou decisão do Parlamento. Isto é a vontade do povo, que é capaz de mostrar unidade". Será que é realmente capaz? Em 28 de dezembro, durante a reunião do clero da diocese de Kyiv, o Metropolita da Igreja Ortodoxa Ukrainiana (Patriarcado de Moscou) Onufry bruscamente manifestou-se contra a implementação do serviço em ukrainiano. Esta posição é caridosa? Ela contribui para a unidade nacional? (A Igreja Ortodoxa na Ukraina pertence, ou ao Patriarcado de Kyiv, ou ao Patriarcado de Moscou. A do Patriarcado de Moscou perde paróquias para o Patriarcado de Kyiv - OK). 

A Igreja ortodoxa Russa aproveita todas as alavancas, para manter as paróquias e os bens. Sangue - já não é estranheza. O Patriarcado de Moscou envia combatentes em batinas para o oeste da Ukraina - seminaristas - "titushok" ("titushke" apelido dado a homens jovens, incluindo atletas. Foram muito utilizados pelo ex-governo de Yanukovych. Envolviam-se em grandes batalhas, principalmente contra os ativistas pró-Ukraina, nas ações de protesto de rua, colocando fogo nos carros, espancamento e dispersão de manifestantes. Inclusive formaram gangues criminosas contra a ação democrática "Euromaidan" - OK). "O Estado Ukraina, no momento, demonstrativamente afastou-se da questão da transição (das comunidades religiosas do Patriarcado de Moscou para a jurisdição do Patriarcado de Kyiv - Ed). Mas, o mais provável, que isto apenas aumentará o número de conflitos e rostos machucados. Especialmente após a conclusão da formação de unidade de força do Patriarcado de Moscou. Os emissários de Kiril (chefe-mor da Igreja russa -OK). farão de tudo para que Ukraina não tenha sua própria igreja ortodoxa".

Caricatura de Alex Kustovsky: O bispo Kiril segurando a placa que diz "Mundo russo".
Falando de um modo geral, à retórica de Petro Poroshenko contradições não falta.
Em uma entrevista ao jornal suíço Neue Zurcher Zeitung de 20 de janeiro de 2015 Pero Poroshenko disse, "de agosto a janeiro eu construí um exército muito forte". É assim que está escrito: "Von August bis Januar habe ich eine sehr starke Armee aufgebaut". E mais adiante: Nossas tropas estão na fronteira com a Rússia, as tropas russas atiram sobre nossos soldados que sentaram lá e bebem café. ("die dart sitzen Kaffee trinken"). E nós não respondemos ao tiroteio, para evitar provocações"...

Em maio o cabeça do Estado Ukrainiano assinou a Lei sobre a decomunização. Nos documentos proíbem-se os símbolos soviéticos. E o quê? no nome JSC "Fábrica "Ferraria de Lenin" cujo acionista é Petro Poroshenko, nenhuma mudança ouve...
E, ainda em 04 de dezembro de 2015, o presidente fez uma declaração polêmica, que causou indignação entre o movimento voluntário... Será que não são muitas as manifestações controversas na retórica presidencial?
Bem, o que nós gostaríamos muito, é que a anunciada conferência de imprensa fosse construtiva, sem desnecessária ênfase e contradições. 
Muito não gostaríamos ouvir do presidente ukrainiano, que sob pressão do Ocidente e Moscou, na primeira metade de 2016, no Donbas, território não controlado por Kyiv, serão realizadas eleições sob o cenário dos terroristas - leia: de Vladimir Putin. Tal perigo existe. Lembremos a história do aparecimento do "Apelo do presidente quanto ao projeto de alterações à Constituição" - alterações da Principal Lei da Ukraina...

Caricatura política de A. Kustovsky. Bandeira russa, sobre a bandeira ukrainiana, eliminada. Lema: Idioma ukrainiano na televisão ukrainiana.
P.S. Voltando à afirmação do garante da Constituição, que a sociedade não é mais dividida pela questão do idioma, mais  uma vez temos certeza da contradição.

O embaixador da Ukraina na Áustria, Oleksandr Shcherba, em comentário no dia 2 de janeiro, no Twitter falou sobre a distorção da realidade e falta de respeito do canal "Inter": Assisti um pouco "Inter", no Ano Novo. Parece, que o canal vive a realidade que Ukraina é Rússia, não há guerra, e ukrainianos - uns animais".
Caricatura política de Alex Kustovsky: Na placa -"Cuidado minas", "mundo russo", "Inter", "Lenin", outros.
O ressentimento do diplomata dá para entender. O show de Ano Novo foi ukrainiano apenas 4%. Assim, os representantes da comissão de filmes exigem a aprovação da lei para indispensável porcentagem de aproveitamento do idioma ukrainiano, não apenas nos filmes, como nos próprios programas dos canais.

Oleg Romanchuk - jornalista, editor-chefe do jornal "Universum".
No texto permanecem as observações do autor.
Os pontos de vista do autor não refletem, necessariamente, os da Rádio Liberdade.

Tradução: O. Kowaltschuk

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