terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

A evolução do bazar político.
Como mudava o populismo na Ukraina durante os anos da independência.
Ukrainskyi Tyzhden (Semana Ukrainiana), 23.01.2016
Denis Kazanskyi


Populismo ukrainiano - fenômeno não exclusivo. Os populistas, como mostra a prática, podem ter êxito, como nos pobres, sem sucesso estados, também nos países civilizados da UE. Há o triste exemplo da Grécia, a qual os populistas conduziram à catástrofe econômica, à vista de todos. O mal da Ukraina é que aqui os populistas são muitos, tantos que, atrás deles não se vê e não se ouve mais ninguém. As vozes sadias perdem-se nas altas e histéricas disputas e promessas de felicidade a todos e imediatamente. Os políticos a muito concorrem, não com programas construtivos, mas sim na distribuição de rações alimentícias nas eleições. O país, concomitantemente, acumula mais dívidas e cava sua ruína esforçando-se para garantir a execução das irresponsáveis promessas eleitoreiras dos inflamados "combatentes pela felicidade do povo".

É difícil dizer, quem é o maior culpado no fato de que a retórica populista tornou-se dominante na Ukraina: políticos ou eleitores. É claro que, se os eleitores abordassem as questões com mais sabedoria e responsabilidade, então não votariam pelos evidentes garganteadores, que distribuem promessas irrealistas. Mas, às pessoas trazidas ao desespero, diante de cujos olhos entrou em colapso primeiro a "pátria soviética", depois a economia do jovem Estado ukrainiano, que encontrou-se nas difíceis condições do mercado, deseja-se ouvir quaisquer palavras de esperança, quaisquer garantias que logo tudo será ajustado. E no momento necessário, pessoas estão prontas para propor ao mercado tal produto.

O populismo ukrainiano nasceu praticamente simultâneo com o Estado independente e durante os 23 anos de sua existência passou por um tortuoso caminho evolutivo, cada vez adaptando-se às novas condições e desafios.

A década de 1900 passou sob a bandeira do populismo vermelho. Desde o seu início na Ukraina ganhavam popularidade as várias forças marrom-vermelhas (no sentido russo do termo), que tentavam atrair a nação com o retorno da anabiose soviética, utilizando juntamente os símbolos da União Soviética, e o apreciado slogan da nação "tomar tudo e dividir" em diferentes variações. O eleitorado "vermelho" formava-se de todos que não se adequaram à nova vida: aposentados, funcionários de empresas aos quais atrasavam os salários, os mineiros que perderam os seus empregos após o encerramento das minas, pessoas que não aceitaram Ukraina por motivos ideológicos, - nacionalistas russos, chauvinistas, imperialistas.

Neste campo eleitoral ativamente trabalhavam vários jogadores. Partido Comunista de Petro Symonenko, Partido Social de Oleksandr Moroz, e o odioso Partido Socialista Progressivo de Natália Vitrenko.

O pico de sua popularidade ocorreu no final da década de 1990, quando agitavam as greves dos mineiros. Se olharmos o mapa eleitoral da Ukraina no momento das eleições parlamentares de 1998,ficará claro em que difícil situação encontrou-se o país. Naquele ano o Partido Comunista Ukrainiano com grande margem venceu as eleições, recebendo 24,6%. Os socialistas em bloco com outro partido esquerdista - Partido Camponês, conseguiu 8,5% e o Partido Socialista Progressista conseguiu 4%. No geral, os três partidos juntos conquistaram 171 assentos parlamentares (O total são 450 assentos - OK). 
Os comunistas ganharam - 16, e o Partido Social de O. Moroz -2.

Cenário ainda pior desenvolveu-se na eleição presidencial de 1990. Na primeira rodada Vitrenko, Symonenko e Moroz conseguiram 44%. No entanto, estimular a nação com emocionantes mas vazios slogans era impossível. Em continuidade a popularidade dos marrons-vermelhos, que conseguiram sucesso apenas no próprio enriquecimento, começou cair rapidamente.

A ascensão econômica do início dos anos 2000 acabou com a era do populismo vermelho. Em 2002, o Partido Comunista, ainda por inércia conseguiu 20% dos votos, mas perdeu a liderança à "Nossa Ukraina" de Viktor Yushchenko. O Partido Socialista conseguiu pouco mais de 6%. O  Partido Socialista Progressivo já não entrou ao Parlamento. Em dois anos os populistas, que usavam a retórica soviética, irremediavelmente se perderam entre a luta de dois titãs - Yanukovych e Yushchenko, candidatos de grandes empresas de diferentes regiões. Em 2004, os slogans pró-comunistas, descaradamente dominaram os representantes dos clãs financeiro-industriais, que desde então dominam o campo eleitoral dos ex-populistas vermelhos. Os últimos, com o tempo, foram ao esquecimento.

No início dos anos 2000 os preços mundiais do aço subiram e, portanto, também ganhou vida a economia ukrainiana. A exportação de metais ferrosos tornou-se o principal artigo da economia doméstica, o que garantiu o ingresso da moeda estrangeira no orçamento. A melhoria da situação econômica ajudou o populismo sair num novo nível. Agora os populistas já, não somente podiam criticar o governo, prometer um futuro melhor, mas também alimentavam os eleitores com dinheiro, estando junto ao leme. Iniciou este volante o primeiro-ministro Viktor Yanukovych que ordenou aumentar as pensões e os pagamentos sociais antes das eleições de 2004. O cálculo era simples: o eleitorado foi simplesmente comprado. Por sorte, no orçamento para isso já havia dinheiro. 

O intento falhou, e a vitória Yanukovych precisou adiar. No entanto, a bomba de ação lenta foi introduzida na economia do estado, para dois anos.
Em meados dos anos 2000 a batuta de Yanukovych interceptou Yulia Tymoshenko, que também recorria à banal distribuição de dinheiro aos cidadãos, esperando vitória nas eleições. O célebre "milhar de Yúlia"  por longo tempo permaneceu no folclore e tornou-se assunto para muitas piadas, no entanto, elevou a cotação do primeiro-ministro.
Depois veio mais uma atração de generosidade, sem precedentes - Lei "Sobre elevação do prestígio do trabalho dos mineiros", que aumentava os salários dos mineiros. Deste modo, Tymoshenko jogava com Donbas e tentava arrastar para seu lado o eleitorado nuclear de Yanukovych. A tragédia consistia no fato de que o esbanjar dos resíduos dos fundos do orçamento acontecia durante uma crise devastadora que eclodiu em 2008, após o colapso dos preços mundiais do metal. Para garantir o seu populismo, o governo foi obrigado contratar empréstimos e encurralar o país em dívidas.

No entanto, mesmo essa tática não ajudou Tymoshenko ganhar a corrida. Quando na cadeira presidencial se sentou Viktor Yanukovych ele interceptou o estafeta na concorrência e também assumiu a compra do eleitorado e aumento dos pagamentos sociais. Antes das eleições de 2012 no curso já apareceu "Milhar Vitina" (Vitina - derivado de Viktor, nome de Yanukovych, isto é, milhar de Yanukovych - OK), na qual, novamente alinharam-se os ex-depositantes do Oshchadbank da União Soviética. De passagem queimaram-se as reservas de ouro do estado, necessários para apoiar o curso da "hrevnia" (moeda oficial) que por causa da crise econômica diminuiria gradualmente. Afinal, a dissipação das reservas levou ao fato de que Ukraina precisou de assistência financeira, que Yanukovych recebeu da Rússia em troca de uma mudança externa do país. Até o momento da fuga do quarto-presidente da Ukraina as reservas de ouro  do estado praticamente esgotaram-se.

Os trágicos acontecimentos de 2014, a invasão russa da Criméia, guerra e morte de milhares de pessoas, radicalmente, reformularam a retórica populista. O farto populismo dos anos 2000 mudou para senhas ameaçadoras dos tempos de guerra. Rapidamente ganhou popularidade Oleg Lyashko, que brandia um forcado e gritava palavrões e ameaças durante suas performances. Anedotista do tempo feliz, o personagem, durante a crise econômica e ameaça de guerra transformou-se em "doutor", que propõe ao doente grave uma miraculosa pílula.

No campo eleitoral da esquerda agora joga a experiente populista Tymoshenko. Ela promete reduzir as taxas de serviços públicos e libertar Ukraina dos oligarcas. Obviamente, as promessas são irrealistas, no entanto a avaliação política aumenta. O papel de protetora do povo de Yulia Tymoshenko, segundo a tradição joga muito bem.

"Curiosamente, as novas realidades da Ukraina, novamente forçaram a evolução do populismo. - O espírito do tempo gerou uma especial variedade para pessoas com posição ativa - populismo anti-populista. Retórica anti-corrupção radical promete mostrar aos estelionatários (palavra intradutível-OK) e tem demanda, primeiramente entre a classe média e inteligência criativa, pessoas que não acreditam na luta contra as altas tarifas comunais e consideram que o principal problema do país está nos funcionários corruptos e gigantesca burocracia.

Com esta categoria de eleitores, recentemente trabalha o ex-presidente da Geórgia, Mikheil Saakashvilli, que a muito tem autoridade num determinado auditório.  Seu cálculo revelou-se preciso. Os políticos ukrainianos repetidamente pegos nas mentiras e questões não claras, cansaram os ukrainianos, mais que um rabanete amargo. Nesta falta de perspectivas Saakashvilli agradavelmente impressionou como novidade e ausência de fatos negativos na Ukraina. Não surpreende, que a inteligência, trabalhadores comunitários e voluntários viram nele, pelo menos, alguma alternativa e esperança. (Quero acrescentar que li vários elogios ao seu governo na Geórgia, elogios de jornalistas ukrainianos. Mas também, comparavam com quem na Ukraina? Yanukovych? E isto deve ter contribuído às esperanças do povo ukrainiano. No entanto ele, desde o início, declarou guerra aberta ao primeiro-ministro ukrainiano. Comentam que este cargo é ambicionado por ele, atualmente ele é governador de Odessa, cargo não eletivo, indicado pelo presidente. Mas, segundo más línguas, Saakashvilli só não pretende a presidência da Ukraina porque, de acordo com a Lei Maior é necessário ser nativo ou naturalizado há dez anos. Ele adquiriu a nacionalidade ukrainiana a cerca de um ano e, em vista disto perdeu a georgiana. Na Geórgia Saakashvili , segundo os elogios da imprensa ukrainiana na época, fez bom governo. No entanto perdeu as eleições presidenciais para um candidato pró-Rússia - OK). Seus discursos anti-corrupção são pouco concretos. Ele não apresenta documentos e cifras, cada vez cita mais frases gerais, das quais é difícil discordar. Seus fóruns anti-corrupção são lotados, a sua performance é brilhante e inflamada, mas nada além de acusações contra o governo de Yatseniuk, com o qual guerreia desesperadamente, seus discursos não contém. A crítica também é seletiva. Após as possantes acusações quase nunca ocorrem ações.

É claro que o político georgiano pretende continuar sua carreira já no posto da política ukrainiana em escala nacional, e está se preparando para criar a sua própria força política. Mas, qual programa poderá oferecer esta força, além de combater os fraudadores da equipe de Yatseniuk, por enquanto ainda não se sabe. Afinal, não é nenhum segredo, que os êxitos de Saskashvili em economia, são bastante modestos. Durante o seu governo na Geórgia, não se conseguiu sair da pobreza e superar o desemprego. E, para superar a crise na Ukraina é indispensável, antes de tudo,  usar medidas para salvar a indústria e ressurgimento de negócios, mas também reduzir fortemente os gastos inchados do governo.

Ajudar aos ukrainianos na atual situação podem apenas medidas impopulares. Mas quem, entre os políticos ukrainianos é capaz de reconhecer honestamente, que vai ao governo para implementar tal programa? Atualmente, a questão permanece em aberto.

Tradução O. Kowaltschuk

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