quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016


Andrew Parubyi: "Eleições antecipadas - um mecanismo chave de desestabilização".
Ukrainskyi Tyzhden (Semana ukrainiana), 19.02.2016
Roman Malko, Dmytro Krapyvenko

Primeiro vice-orador, ex-secretário do RNBO (Conselho de Segurança Nacional e Defesa da Ukraina), um dos líderes do Maidan, Andrew Parubyi, falou a "Semana" sobre os acontecimentos passados a dois anos, seu significado hoje, cenários de desestabilização da Rússia e configuração de segurança atual.

Andrew Parubyi: "Eleições antecipadas - é a chave do mecanismo da desestabilização.
- A "Primavera russa" se não conseguiu-se parar, então, pelo menos foi localizada, mas quando virá a "Primavera ukrainiana"?

- "Primavera russa" - isso foi claro plano de medidas e ações, com tarefas e datas concretas. Comparando-se a escala daquela operação, aqueles territórios que desejavam capturar, e aquele pedaço das regiões de Donetsk e Luhansk, que hoje controlam os exércitos da FR, podemos dizer que ele falhou. Dois anos atrás, o exército ukrainiano não era efetivo para luta, nossa inteligência - recheada com agentes do FSB, mesmo em Kyiv, por mais de um mês, não deu plantão na rua, nós mantínhamos a ordem pública e controlávamos os principais objetos na capital com forças da Auto Defesa.
E, apesar de tudo, detivemos a "primavera russa". Se falar sobre a primavera ukrainiana, então esta é certa, metáfora. Talvez ela comece, quando os nossos chegarem a Kuban. Meu motivo de participação no Maidan foi: preservação do estado. O Acordo de Associação com UE - isto não era simplesmente acordo econômico, o importante é, que este documento tornava impossível a assinatura de acordos de integração com a Rússia, correspondente recusa a tal acordo, na verdade, previa a entrada automática para a União Aduaneira e outras semelhantes uniões com a FR, o que, de fato, significaria a perda gradual do Estado. O que temos agora, após dois anos do Maidan? Nós temos as Forças Armadas, que ficam mais fortes a cada dia. Nosso exército, embora lá serviam muitos bons especialistas, até recentemente, era uma espécie de enclave da URSS. O exército é uma estrutura conservadora em qualquer lugar, por isso resiste às reformas. Então, no começo foi necessário quebrar o sistema mental "meu - estranho". Na Ukraina, muitas pessoas foram educadas no espírito "inimigo - é OTAN, mas russos - Irmãos". Enquanto os voluntários não começaram atirar, não deram o exemplo, o exército para tal não estava moralmente pronto. Hoje o estado de espírito dele mudou radicalmente, como o nível de formação e equipamento. No geral, temos hoje, um qualitativo setor de segurança e defesa.

Mais um ponto importante: nos tornamos energeticamente independentes da Rússia. Lembre-se, quantos escândalos e confrontos em torno da importação do gás, nós tivemos. E sempre Moscou vencia, porque nossos políticos ou se rendiam, ou eram subornados. Nós aprovamos uma das melhores leis anti-corrupção da Europa. Elas começam trabalhar mas a base jurídica foi criada. Para mim é muito importante que agora foi banido o Partido Comunista, e dezenas, centenas de cidades e vilas não terão os nomes dos assassinos do meu povo, e receberão nomes ukrainianos, isto também é uma mudança fundamental. Ou vejamos os indicadores de apoio a OTAN na sociedade: mais de 50% - isto é sinal de que, psicologicamente, na concepção da nação, ocorreram mudanças dramáticas. Assim que podemos dizer que a "primavera russa" malogrou, mas a "primavera ukrainiana" começa.

- Você sente responsabilidade pela nossa derrota na Crimeia?

- Não há Criméia separada da Ukraina. Pode-se falar sobre vitórias ou derrotas na escala de todo o país. Quero lembrar: quando a Duma russa, de fato, aprovava a decisão sobre a intervenção militar em nosso território, nós, na verdade, não tínhamos influência no setor da força, no qual estavam difundidas as disposições, como diziam, Yanukovych - presidente legítimo, que dirigiu-se a Moscou com o pedido de enviar tropas. Aqueles, que nos acusam, que nós não enviamos o exército para a península ou não aproveitamos as localizadas lá algumas divisões, não percebem que algumas partes foram desmobilizadas, algumas passavam para o lado do inimigo, ocorreu lá a sabotagem em todos os departamentos de aplicação da lei.
No entanto, ao longo da fronteira com Ukraina a FR implantava enormes grupos militares. Do norte, a partir de Chernihiv, em algumas horas os tanques do inimigo poderiam chegar a Kyiv. Então, nós conseguimos trazer todas as unidades de combate, efetivos, para Shyrokyi Lan, depois alguns arcos de defesa nas áreas do norte, leste e sul, direções susceptíveis a prováveis golpes. Acho que nós fizemos todo o possível. Se isto é verdade, que julguem os historiadores. Nós nos encontramos com um dos exércitos mais poderosos do mundo, e eu não falo da derrota,porque os planos de Putin em relação a Ukraina falharam.

- No entanto seu intento em relação a Criméia ele realizou. Teria sido possível evitar isto? 

- Você sabe qual é a porcentagem das forças de segurança que passou para o lado da FR. Nós, então, falávamos sobre os nossos heroicos e constantes combatentes, que realmente existiram, mas quantos traíram o juramento? A todos os comandantes lá, de fato, foram colocados curadores - antigos colegas; familiares, que agitavam pela entrega de unidades. Lembro, como simplesmente durante uma reunião do RNBO
nos telefonaram, dizendo que há uma tentativa de capturar o navio. Então, havia uma tese popular, que partes bloqueavam civis - mulheres, crianças. Mas o navio não poderiam assaltar essas pessoas, isto é obvio, foram homens preparados. Deram a ordem para abrir fogo. Em resposta: "Sirvo o povo da Ukraina!" Uma hora depois, o navio se rendeu sem um único tiro.

Na concepção da nação, ocorreram mudanças dramáticas. Então podemos dizer, que a "primavera russa" falhou, mas a primavera ukrainiana começa.

A mim, como secretário do Conselho de Segurança Nacional, num primeiro momento, foi difícil apoiar-me na precisão das informações dos disponíveis órgãos de segurança. A partir do SBU (Serviço de Segurança da Ukraina) frequentemente recebia desinformações. Por isso nós o quanto pudemos, tanto conservamos a situação sob controle. Eu não falo exclusivamente sobre a liderança do país. Em Mykolaiv, Odessa, e outras cidades  papel significativo desempenharam os ativistas locais, que pararam os separatistas. 

- No Maidan você garantia a comunicação entre os radicais e o braço político moderado. As contradições entre aqueles ativistas, que mais tarde se tornaram a principal força dos batalhões de voluntários e as autoridades, existem até hoje. Você continua a mesma comunicação.  No que consiste a natureza dessas contradições?

- Exatamente graças a esta comunicação apareceram batalhões de voluntários, que formaram os fundamentos de concepção da nossa guerra. Custou esforço excepcional organizar os primeiros dois batalhões da Guarda Nacional da Ukraina. Literalmente quebrando o Estado-maior conseguiu-se formar o 24º batalhão "Aydar". Mas no exército até hoje surge atitude cético crítica em relação aos voluntários. Ainda maior preconceito contra eles tem a Procuradoria, sobre o que eu, muitas vezes falei. O movimento social hoje é representado em diferentes níveis: 4,5 mil combatentes da Autodefesa Maidan foram para a frente, hoje temos 16 deputados  - da Autodefesa no Parlamento, muitos entraram na nova polícia, é claro, muitos permaneceram no exército. O movimento voluntário continua ser um fator importante na vida do país.

- Mas nem todos os seus representantes estão no poder ou cooperam com ele. Por que não legalizaram o Corpo Voluntário Ukrainiano do "Setor Direito?"

- Eu, com Dmytro Yarosh temos relações amigáveis, mas discussões táticas começaram imediatamente após Maidan. Ele dizia: "Não podemos esperar!" Mas eu considerava e considero, que as pessoas devem receber as armas e usá-las sob o controle estatal. Nós realizamos muitas conversas com várias estruturas quanto à legalização do "DUKy" (Corpo ukrainiano voluntário - Setor Direito). Decisão por enquanto não há, mas devo dizer, que todas as suas ações na frente, o Setor Direito coordenou com o comando da ATO (Operação Anti Terrorista). Luta armada de formações anarquistas não houve, como alguns muito tentaram convencer do oposto. Eu desenvolvi a lei sobre a reserva do exército, isto é, um dos mecanismos que ajudaria legalizar os voluntários, que, ainda não entraram a nenhum dos nossos órgãos de segurança.

- Você, provavelmente, ouve as chamadas para um terceiro Maidan. Seus proponentes estão se voltando para você como um dos líderes em potencial?

- Como no Maidan, assim hoje eu, frequentemente, cito paralelos históricos. Temos uma maldição de mil anos: desde a batalha de Kalka, quando cada príncipe ia sozinho e depois das ruínas quando nossos  "hetmany" (dirigentes dos cossacos) levantavam espadas um contra outro, até as lutas de libertação nacional do século XX, quando os ukrainianos perdiam não por causa da fraqueza militar, mas por causas internas. Mas a perda do estado sempre causava terríveis tragédias. Assim depois da "Otamanshchyna" (domínio de grupos armados, descontrolados, na ausência ou falta de força do governo. O termo apareceu na Ukraina pela primeira vez na descrição de unidades irregulares na Ukraina em 1918-1923).  Nos anos 1920 nos recebemos Holodomor, 1932 - 1933, que levou milhões de vidas. E porque ir muito longe, buscar exemplos: lembremos Maidan de 2004, quando contradições internas, em resumo, levaram à revanche.
Quanto aos chamamentos. Claro, eu os ouço. E no Maidan ouvi: "Precisa derrubar aqueles três do palco. Arrebatá-lo, André, você apenas dê o sinal" Mas eu então, como agora, proclamava, que deve ser mantida a unidade, caso contrário perderemos. Da mesma forma hoje. E observem também: como testemunha o jornalismo investigativo, frequentemente nos sites, que convocavam para o terceiro Maidan, estão os serviços especiais russos ou separatistas de Donetsk e Luhansk. É por isso que eu insisto, que nós precisamos preservar a unidade diante da ameaça externa e desafios internos e eliminar as deficiências que temos.

- Se podem as eleições antecipadas ao Parlamento tornar-se alternativa para um terceiro Maidan? Serão capazes de remover a tensão na sociedade?

- Re-eleição hoje - é o mecanismo chave de desestabilização. Cenário russo. Querem saber como isto trabalha? Vejamos os últimos acontecimentos na Moldávia. Lá surgiu escândalo com a remoção do governo um mês antes de receber a próxima parcela do FMI, e sua ausência causará irreversíveis processos econômicos. Durante o ano houve tês gabinetes administrativos, o país simplesmente ficou pendurado. Os líderes de dois, dos três, partidos, que organizam os protestos de rua em Chisinau, não escondendo isto, a cada semana viajam, para consultas políticas, a Moscou. Com isto é difícil compreender o quanto são argumentadas as alegações de funcionários na corrupção, porque lá, até hoje, não foram formados órgãos que investigariam tais crimes e os quais obteriam confiança da comunidade. O mesmo sistema pretendem aplicar aqui.
Certa vez eu li num informe de Guirkin (Strelkov - um dos líderes dos ocupantes do leste da Ukraina - OK) palavras que em um país que é objeto de ataque, "é preciso semear o descontentamento de qualquer tipo". Estas tecnologias trabalham hoje aqui, e na Moldávia. Eleições antecipadas
na Ukraina - param todas as reformas pelo menos por um ano. Nas nossas condições é perdição. Recentemente, George Soros disse algo interessante: agora há a questão, a FR  desintegrará a UE ou o contrário. Da mesma forma, em nosso confronto com Moscou: se manterá? Tudo, como no Maidan: nós nos juntaremos, apertaremos os punhos - resistiremos, se nós nos fragmentaremos - perderemos. Então, no Maidan nossas forças e forças de Yanukovych não eram comparáveis, mas vencemos.
Na Rússia nem tudo está bem: caem os preços do petróleo, cai o rublo. Ela está à beira do colapso. E pode entrar em colapso em um momento, como a URSS.

- O colapso da Rússia pode causar uma reação em cadeia, a  qual nos afetara?

- O mundo temia, que a União Soviética desmoronaria. Todos diziam: "Como pode"? Armas nucleares sem controle!"  Mas nada aconteceu. E hoje sobreviveremos, encontraremos possibilidades.

- Aguentará a coalizão experiências de mudanças constitucionais?

- Esta questão, no momento, é muito adiada. De um lado, o estatuto especial de certas regiões de Donetsk e Luhansk desperta grande aborrecimento no público, por outro - Rússia ignora a execução dos Acordos de Minsk.  Então, hoje a mudança constitucional não é assunto para discussão.

- É relacionada a deterioração na frente com a tentativa da Rússia em obrigar-nos a introduzir modificações na Constituição?

- Sim, eles intimidam, mas o exército ukrainiano não é o mesmo de dois anos atrás. O russo - neste período não mudou, mas nós chegamos a um nível qualitativamente novo.

- Como você imagina o controle da fronteira do estado, na parte ocupada de Donbas?

- Este problema está intimamente ligado a realização de eleições.Os processos (de acordo com Minsk) devem ocorrer, de fato, simultaneamente. Mas a própria pergunta sobre a definição da data das eleições prevê  a garantia de processo democrático: liberdade da palavra, liberdade de reunião, segurança para os eleitores... Como organizar isto, quando lá agem gangues e militantes russos? Eleições - é quando eu ou outro político ukrainiano tiver a possibilidade de ir agitar em Donetsk e Luhansk. Quão seguro é hoje? Precisa desarmar as gangues, estabelecer, lá a ordem, garantir a ação da legislação eleitoral ukrainiana, assumir o controle da fronteira do Estado e só então faz sentido falar em eleições.

- ATO tem a duração de quase dois anos. Talvez, ele requer outras definições, interpretações daquelas ações de combate no nível de Estado?

- Na guerra hibrida diante de nós está não apenas desafio a ações militares, havia a ameaça de isolamento de um novo governo ukrainiano. Rússia fechou a embaixada. Nosso governo chamavam de "junta", questionavam sua legalidade, por isso a realização da eleição presidencial foi o objetivo número um. Sob condições da lei marcial isto é proibido. Além disso era necessário, de alguma forma, envolver o exército. Os militares diziam: "Yanukovych queria nos atirar nas pessoas, agora, contra elas, nos enviam vocês, deve haver um certo status legal". Assim nós encontramos o formato ATO, que deu a possibilidade de incluir as Forças Armadas, e ainda foi preciso estender este status, porque era tempo para eleições parlamentares. Em seguida surgiu a questão da introdução da lei marcial. Eu, como secretário do RNBO (Conselho de Segurança e Defesa da Ukraina) avancei com tal iniciativa, preparei toda a documentação necessária, mas a decisão era do presidente que vê a situação global. Ele preferiu não introduzir. Em minha opinião, agora esta questão não é determinante.

Tradução: O. Kowaltschuk

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