Segunda Parte
Provas únicas de dentro do sistema prisional da Rússia
Radio Svoboda (Rádio Liberdade), 14.11.2015
Amina Umarova
Segunda Parte - Movsar
Ele chamou à meia noite e disse: "Estou ligando do inferno". Movsar, 49 anos, lutou na primeira guerra chechena. Agora ele está preso na região de Arkhangelsk, foi condenado a 24 anos em uma colônia de regime severo, por terrorismo e atentado aos princípios do regime e integridade da Rússia. A sentença, palavra por palavra repete as milhares, de outros chechenos que aprisionaram durante as varreduras dos primeiros anos da Segunda chechena.
Ele não lamenta por ter participado da resistência, mas não consegue perdoar-se, que depois dos acordos de Khasavyurt (Daguistão), em 1996, que colocou final à Primeira chechena, ele não tornou-se ativo da política chechena, mas ocupou-se com a reconstrução da casa da família. "Minha primeira prioridade, foi assegurar a nossa casa", - diz ele.
Há muito eu já morri, aquela pessoa, que eu era, já não há. Se há inferno na terra, então estou nele."
Em meados de dezembro de 1994 - Movsar, 27 anos, no velho carro do pai, em casaco de pele de ovinos e capuz de tricô viajou para defender Grosny. No caminho ele parou perto de um café e comprou uma grande tigela de bolos de queijo checheno, e algumas garrafas de chá para defensores da capital. No dia seguinte, nas ruas de Grozny ele adquiriu um uniforme e automática. Os soldados do exército separatista de Dudayev não queriam pôr em perigo a vida de civis chechenos - a eles davam tarefas, como ajudar os feridos ou distribuir alimentos e água. Movsar não esconde que, quando os bombardeios e tiroteios expulsaram as forças de resistência chechena de Grosny ele se juntou a elas. "Eu defendia meu país dos exércitos do invasor. O presidente da Rússia, Boris Yeltsin, simplesmente apelava a todos"tomar tanta soberania quanta conseguissem". E, após inúmeras humilhações os chechenos decidiram separar-se. Nós não demos nenhum tiro no território russo. Então eles vieram até nós com armas, e nós os encontramos com armas. Se eles viessem com música, nós alcançaríamos os nossos instrumentos musicais. Eu costumo ter claro, que eu lutei contra o terrorismo do Estado russo", - diz Movsar.
Soldados em máscaras vieram a ele na madrugada de 26 de fevereiro de 2.000. Arrastaram-no, mal desperto à rua e jogaram, com o rosto para baixo, numa poça de lama. Um cachorro latiu, o soldado matou-o imediatamente, o mesmo que fumava um cigarro e mantinha a bota sobre a cabeça de Movsar. "Oh, criatura chechena, vou ensiná-la como manter a goela fechada", - resmungou o soldado e apagou a ponta do cigarro na cabeça de Movsar. O cabelo neste lugar nunca mais cresceu.
Enquanto isso, os soldados reviravam de cabeça para baixo toda a casa, à procura de armas. Não encontraram. Então eles, sem dissimular, trouxeram um saco de armas do seu transporte blindado, despejaram e disseram: eis, é isso. Sob os gritos da mãe e esposa e choro de duas crianças pequenas eles jogaram Movsar no caminhão, sobre uma pilha de corpos nus e frios, com mãos e pés amarrados, e foram embora. Junto com Movsar eles levaram o tapete da sala, frigideiras de ferro fundido, panela de ferro e alguns vidros de pepino em conserva do porão. Eles viajaram muito tempo, com longas paradas, até chegarem à unidade militar. Lá, dois soldados contratados afastaram a lona e começaram o jogo sombrio "vive - não vive": os corpos batiam com as pontas do calçado sob as costelas. Era evidente que eles não faziam isto primeira vez. Se o corpo gemia, então estava vivo. Se ficava quieto, então rolavam para a borda e derrubavam.
Solados russo revistam chechenos, colocado junto a parede, na aldeia chechena,Chernokozovo.Foto EPA/Alexander Nemerov. |
Apenas dois estavam vivos. Movsar e um rapaz, com olho machucado e sangrenta metade inferior do rosto. "O rapaz tentou abrir os lábios colados e dizer algo, mas então me atingiram na cabeça, e eu desmaiei. Não o vi mais. Provavelmente ele morreu. Fui colocado numa gaiola, onde não conseguia nem sentar, nem levantar. Lá eu fiquei quase três semanas, com o queixo pressionado contra o peito, e joelhos próximos às orelhas. Ao banheiro ia uma vez por dia. Estava tão frio que eu queria morrer. Tais gaiolas com pessoas havia muitas. Cada meia hora um guarda passava em torno delas e batia forte nas tampas. Não era possível dormir ou cochilar. Dessas gaiolas nos levavam aos interrogatórios, nos quais nos torturavam com choques elétricos.
O guarda vinha, abria a gaiola, e era necessário rastejar rapidamente, levantar e correr. Escusado dizer, que eu não conseguia levantar ereto, muito menos correr. Então, eles, espancavam brutalmente por isto. Se você tropeçar e cair, soltam os cachorros. E, nos interrogatórios sempre perguntavam: "Onde está Maskhadov?". E, mesmo se eu soubesse, não diria. Eles exigiam os nomes das pessoas que lutavam. Com uma pinça arrancavam a pele das pessoas, e também arrancavam as unhas. Penduravam pelos pés, vestiam sua cabeça num saco de celofane e fumavam, direcionando a fumaça para dentro do saco. Queimavam os calcanhares com ferro de soldar. Batiam nos rins com garrafas com água, e isto ainda era o menor suplicio. Arrastavam-nos nus para rua e encharcavam com água de mangueira e obrigavam permanecer de pé. Penduravam. Quando a pessoa já parava de contorcer-se, desciam. E novamente, e novamente. Aos desmaiados aplicavam injeções.
Após a explosão dos corpos permanecia apenas a poeira, unhas e dentes. Não há corpo - não há crime.
As pessoas das gaiolas morriam às dezenas.Diariamente forçavam outros prisioneiros para retirar os corpos. Os braços e pernas eram quebrados, orelhas decepadas, mandíbulas quebradas. Os corpos eram escuros, até pretos de tanto espancamento e torturas. Nos mandavam colocá-los em pilhas e introduzir ali explosivos. Após a explosão dos corpos permanecia apenas a poeira, unhas e dentes. Não há corpo - não há crime.
No final de março retiraram todos nós das gaiolas e levaram para um campo alinhados numa fila comprida - semi-nus, malcheirosos, - e mandaram ir em frente. Nós não sabíamos, que estávamos na beira do campo minado. Nós pensamos pensamos, que iriam atirar nas nossas costas. Um preso, de repente correu, como louco, mas os soldados ficaram com medo de segui-lo pelo campo minado. Nos obrigaram ir atrás dele, e imediatamente, começaram as explosões. Corpos e pedaços de corpos voavam pelos ares. Nós, imediatamente fomos cobertos com sangue alheio, vísceras e pedaços de pele queimada. Mas o "louco" continuava correndo, como em transe. Talvez, eu, desta vez, comecei delirar, porque eu vi, como por trás das nuvens surgiu um raio de sol e iluminou somente ele. Eu rezava e ia para frente, até que fui jogado para o ar. Mas, foi o mu vizinho-checheno que explodiu. Eu, apenas recebi contusões e fui ferido com fragmentos.
Quando, no campo, todas as minas explodiram, mandaram a segunda fila de chechenos, para assegurar-se que não havia mais minas, e recolher os restos daquilo que foram corpos humanos. Eles foram forçados a cavar uma trincheira e enterrar tudo isso numa pilha. Eu rezava para morrer, de uma vez, lá, mas de alguma forma sobrevivi. Na volta, à gaiola já não me colocaram. Minhas feridas começaram sarar, e eu lavava-as com a água que me davam para beber. De repente, após uma semana, me levaram para Pyatygorsk. E, lá - tribunal e sentença para 24 anos.
Movsar já permaneceu na prisão por 13 anos e meio. O tribunal não incluiu aqueles seis meses, que o torturavam - talvez, com tristeza, brinca Movsar, consideraram que aquilo era sanatório. Mas, à questão, de como ele sobreviveu a todas as torturas, fome e frio, ele tem uma resposta: Só o Todo Poderoso sabe. Há muito eu morri, a pessoa que eu era, já não existe. Se há um inferno na terra, então eu estou nele. Apenas Todo-Poderoso ajudará a mim e a outros rapazes chechenos, que apodrecem nas prisões - no sentido mais literal da palavra".
"Certa vez me penduraram na câmara quase o dia todo, algemado e nu, num extraordinário frio. Dizer que foi doloroso - é não dizer nada. Eu gritava e me torcia, mas depois sussurrei orações e pedi minha morte. Eu clamei a Deus, e pareceu-me, que lá, onde estava eu, Ele não estava, e minhas orações desprendiam-se das paredes e deslizavam para baixo. Eu via isso e entendi que estava enlouquecendo", - lembra Movsar.
Ele - um dos chechenos, que não perderam a dignidade. Ele não concorda na "cooperação" com a administração penitenciária e rejeita suas tarefas humilhantes. Ele não escreve apelos, não tem intenção de solicitar a liberdade condicional e, geralmente, se comporta como aquele, que sabe, que nunca sairá vivo da prisão. Quase todo tempo permanece na cela de castigo, onde das 6:00 horas da manhã às 22:00 horas deve ficar em pé, no escuro. Nas paredes há uma camada de gelo, do teto caem gotas no chão de concreto e sempre há água suja.
No início de agosto do ano passado, a ele vieram os funcionários do FSB. Eles transmitiram cumprimentos calorosos de Ramzan Kadyrov e propuseram para ele, como voluntário ir lutar pela Rússia na Ukraina. Por isso lhe propuseram liberdade - se sobreviver. Movsar escolheu a prisão. O principal, diz ele, - é que este caso esclareceu que Kadyrov sabe, que milhares de chechenos apodrecem nas prisões, sem qualquer motivo.
Desde meados de agosto do ano passado, eu perdi contato com Movsar.
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Conselho de Segurança e Defesa Nacional (Ukraina): Rússia, urgentemente, reforçou o grupo ofensivo no norte da Criméia
Vysokyi Zamok, 24.11.2015
Ao aeródromo Dzankoi transferiram dois grupos de pára-quedistas.
"Rússia, urgentemente reforça seu grupo ofensivo no norte da Criméia. No dia 24 de novembro 5 aeronaves de transporte militar Il-76 realizaram a transferência de dois batalhões táticos, grupos de para-quedistas da composição 98, divisão aérea de tropas de desembarque, das Forças Armadas da FR (cidade Ivanov), do aeródromo de Ivanov para o aeródromo Dzankoi" - diz a mensagem.
- Além disso, em Kalinivka (3 km ao sudoeste de Dzankoi) iniciou-se a implantação do 97.º Regimento
de desembarque da 7ª Divisão de Assalto, de Novorossiysk.
"Deste modo, o potencial ofensivo das tropas russas na Criméia ocupada, aumenta consideravelmente, por conta de unidades mais bem treinadas, prontas para ações de assalto", - disseram no Conselho de Segurança Nacional da Ukraina.
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Ukraina fechou completamente o espaço aéreo aos aviões russos.
Ukrainska Pravda (Verdade Ukrainiana), 23.11.2015
O Gabinete Ministerial decidiu por um fechamento completo do espaço aéreo da Ukraina para os aviões russos, anunciou o primeiro-ministro Arseny Yatseniuk.
Ele lembrou que Ukraina esperava, que Rússia levantasse a proibição de todo trânsito das companhias aéreas ukrainianas através do espaço aéreo da FR, mas isto não aconteceu.
Antigamente já havia proibição para aeronaves militares.
"A decisão sobre tal proibição inclui significativo agravamento político e militar da situação. Rússia pode usar o espaço aéreo para implementar provocações." - declarou Yatseniuk.
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Em Moscou arrasaram a Embaixada da Turquia.
Vysokyi Zamok (Castelo Alto), 25.11.2015
Várias centenas de pessoas participaram da ação de protesto perto da Embaixada da Turquia em Moscou. O edifício foi atingido por pedras, ovos e frascos de tinta. Os manifestantes quebraram vidros das janelas. Polícia não interveio e ninguém foi preso.
Tradução: O. Kowaltschuk
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