Radio Svoboda (Rádio Liberdade), 16.08.2017
Valentina Odarchenko.
Em Lutsk acharam os restos dos prisioneiros fuzilados pelo regime soviético. Verão 2017. |
- Isto são balas deformadas, encontradas nos restos... Neste caso - a bala do rifle Mosin (munição 7,62 calibre) - é sinal, que ela bateu em algo sólido, ela deforma-se ao bater no esqueleto, osso da pessoa.
- E este é resíduo de zinco, dos cartuchos, e aqui os invólucros do sistema. Mosin, todos eles no carregador - o que significa, que depois das execuções levadas a cabo eles ainda apresentavam relatórios. Estes invólucros são soviéticos. Aqui há mitos.
- Consideravam-se restos de roupa, roupas de lã. As pessoas eram pobres, calçados com emendas, embora fossem diversos. De modo geral eram pessoas jovens, primeiro sinal - todos os dentes preservados. 18 - 20 - 35 - 40 anos.
"Em 1944, já após a libertação de Lutsk, a prisão, pelas autoridades soviéticas, novamente era utilizada de acordo com a sua finalidade e, como evidencia um ex-prisioneiro, Ivan Manuylyk (ele esteve nesta prisão), ele era forçado cortar as cruzes destas sepulturas. Ele se recusou. Mas isto foi realizado. As covas foram arrasadas, depois asfaltadas. E, até o nosso período perderam-se os sinais visuais dessas sepulturas. Nos anos 90 a comunidade colocou sinais memoráveis nos lugares onde localizavam-se estas valas irmãs. A comunidade, repetidamente, levantava a questão de re-enterro destas sepulturas, mas não havia local conhecido, onde começavam as sepulturas. Apenas no ano passado, durante o paisagismo do território, em consequência de explorações arqueológicas, localizaram um destes sepultamentos, acumulação de restos humanos", - diz Yuri Mazuryk.
Neta do executado no território da prisão de Lutsk Franz Scherbinskiy, Tatiana Ponomarova conhece a tragédia de sua família das palavras da avozinha. Nativo do Radom (cidade polonesa), Franz Scherbinskiy, após a vinda do poder soviético permaneceu em Volyn, trabalhando como rádio-comunicador. A família tinha uma filha de 5 anos de idade, quando o marido foi preso sob acusações artificiais.
"Mamãe, naquela época, tinha 5 anos. Vovô foi preso durante a noite, no ano 1940, sem nenhuma explicação e a avozinha procurou por um longo tempo, aonde o avô desapareceu. Depois ele foi encontrado na prisão. Até o final esperou pelo tribunal e tinha certeza que não devia nada. Mas, quando saiu da sala do tribunal - pelo rosto rolavam lágrimas, e gritava para vovozinha: diga às crianças, que eu não tenho nenhuma culpa!" Minha mãe queria dar-lhe um pãozinho porque ele estava muito extenuado, caíram seus dentes. Mas o vigia bateu na mãe com o pé e ela rolou do segundo andar pelas escadas de ferro. Quando a mãe, com a vovozinha, no terceiro dia após o fuzilamento vieram aqui - vovozinha viu o braço arrancado com as veias, e pelos botões reconheceu o braço de seu marido. Ela desmaiou", - conta a neta do falecido, Tatiana Ponomareva.
Alguns conterrâneos, milagrosamente, conseguiram salvar-se. Um deles, chamado Rozmyslovych era organista e estava familiarizado com a família Scherbinskiy.
Ele veio até nós, e contou, que no momento do fuzilamento o avô estava na sua frente. Rozmyslovych caiu antes, e foi coberto pelos corpos que caíam. E depois, a nado chegou até vovozinha e pediu ajuda. A avó, por alguns dias escondeu-o, isto está registrado nos materiais da KGB", - diz Tatiana Ponomareva.
Entre aqueles, que desde a infância sabiam o lugar assustador, em primeira mão - é a bisneta do famoso em Volyn, conhecedor de Shevchenko,(Grande poeta ukrainiano - ukrainiano - OK) Mykola Kudeli, Maria Filonyuk. No museu regional de Volyn, onde ela trabalha, há uma exposição permanente de Mykola Kudeli, um dos elementos importantes é o seu livro "Sob os muros da prisão de Lutsk". Mykola Kudeli foi seu prisioneiro político e milagrosamente escapou. Durante muitos anos Mykola Kudeli lembrava e procurava os nomes dos fuzilados, e de suas famílias. Graças a ele nos seus túmulos apareceram as placas memoriais nominais.
"Pelos seus pontos de vista políticos, dedicação a Ukraina, a Shevchenko, ele foi aprisionado ainda pelas autoridades polacas. E, com o advento do poder soviético, ele foi parar na prisão de Lutsk. No dia 23 de junho ele foi testemunha desse evento trágico. Em nossa família sempre conversavam sobre isto, o avô contava. Os muros da prisão de Lutsk também levaram meu bisavô, isto é, o sogro de Mykola Kudeli, que era um prisioneiro apolítico - ele tinha uma grande fazenda, trabalhava duro (grande fazenda na Ukraina pode ser comparada, em tamanho, com o que nós chamamos aqui de chácara, ou, no máximo, um sítio - OK). Com a chegada do regime soviético - é considerado "kurkulh" e, é preso. (Kurkulh era uma designação pejorativa e de acusação à pessoa rica. Como se ninguém pudesse adquirir bens, honestamente - OK). Antes de ir ao fuzilamento, Mykola Kudeli encontrou-se com Sydor Ivanov, seu sogro. Ivanov, sinceramente acreditava, que eles seriam dispensados e voltariam para casa. Mas, voltar não conseguiram. O sogro, que já estava com 80, perdeu a visão. Depois do fuzilamento Mykola Kudeli viu o corpo de seu sogro, que também foi enterrado em um dos buracos próximo da prisão de Lutsk", diz Maria Fionyuk.
O próprio Mykola, à noite, saiu de entre os corpos, porque conseguiu fingir-se de morto, e dele desviou-se a bala dos carrascos. Então considerou que era sua responsabilidade compor o martirológio dos mortos e perpetuar sua memória. Com isto e, paralelamente com o estudo e popularização das obras de Shevchenko ocupou-se ao longo de sua vida.
As famílias dos torturados e executados esperavam, que a sepultura seria descoberta, e eles poderiam identificar e enterrar o avozinho. No entanto, a primeira sepultura, sobre a qual souberam os de Lutsk, estava vazia, disse o participante das escavações, o historiador e etnógrafo Sergei Godlevskiy. Sergei resolveu encontrar e re-enterrar os mortos ainda no final dos anos 80, quando soube sobre a tragédia em Lutsk em junho de 1941. Mas isto não foi fácil.
"Há relatos, que nos anos 50-60, quando a prisão já não funcionava, lá havia uma auto-coluna (auto-comboio ?), a instalação estava fechada, e à noite trabalhavam as escavadeiras e, parece, que retiravam algo. Existe a lenda, que eles foram jogados em Lutsk, no aterro, dizem que levaram sob a construção da estrada de Lutsk-Dubno. Mas o primeiro buraco descobriu-se vazio. Aqui, depois de breves pesquisas encontraram um buraco começaram içar os corpos. Encontraram boquilhas, piteiras, colheres de madeira, pentes, restos de vestuário. Prometeram que até o final de setembro haverá perícia forense. e revelarão a idade, sexo, causa da morte. Isto nós já sabemos, mas há nuances processuais, que devem ser feitas," - diz Sergei Godlevskiy.
"Foi possível estabelecer, que isto é realmente enterro na cratera da bomba, que nesta sepultura foram enterradas 107 pessoas, colocadas muito próximas, sem qualquer sistema, continua ele. - Em alguns restos na caixa craniana - buracos de bala, sinais de morte nos ossos, de ferimentos com armas de fogo, no solo sobre o túmulo foi encontrada grande quantidade de cartuchos da espingarda Mosin, metralhadora do sistema Degtyaryova e revólver "Naga". Os restos guardam-se aqui, no mosteiro, os funcionários do bureau de Volyn realizarão perícia, para avaliar a causa da morte das vítimas".
A vice presidente do Conselho Público de Volyn Mariana Sorochuk diz, que durante o ano, ativistas civis reuniam historiadores, etnógrafos, deputados, os quais finalmente decidiram, que é necessário honrar corretamente e enterrar os restos mortais desses inocentes mortos. O governo da cidade alocou para estes trabalhos 100 mil UAH.
Todos os dias no templo dos Novos Mártires os monges rezam pela alma dos mortos.
Pelo fato do assassinato em massa, cometido pelo regime totalitário no território da prisão de Lutsk, foi instaurado processo penal.
Tradução: O. Kowaltschuk
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