Radio Svoboda (Rádio Liberdade), 12.08.2017
Crânios de vítimas da repressão stalinista da vala comum, em barranco próximo a Demyaniv Laz, Ivano Frankivsk. Foto de 1989. Foto de 1989. Durante as escavações encontraram restos humanos e, em seguida, identificaram 524 pessoas, executadas em junho de 1941. A descoberta e abertura de valas comuns de vítimas das repressões stalinistas era parte dos processos da libertação nacional na véspera do colapso da URSS.
25 anos atrás o Gabinete de Ministros da Ukraina aprovou o programa "Reabilitados pela história" que, com base em dados de arquivos, recolhessem informações sobre cada não fundamentado condenado no período de 1917 a 1991, como também fazer um estudo detalhado sobre as repressões na URSS. No início planejava-se editar 25 livros - um por cada região (estado) da Ukraina. No entanto, aqueles pesquisadores, que iniciaram este trabalho no início dos anos 90, não podiam imaginar qual a escala do que aconteceu.
Hoje, a lista de nomes dos represados no território da Ukraina e materiais de arquivos sobre a máquina punitiva soviética - são 110 enormes volumes, e em planos - mais 20. Em algumas regiões para descrição das repressões, precisarão de alguns volumes, por exemplo, na região de Donetsk, onde a repressão afetou o maior número de pessoas, de todo o território da Ukraina.
Depois destas publicações em 1992, o Parlamento aprovou, em nível estatal, o apoio à intenção de responder a todas as questões, relativas à natureza do governo bolchevique e das repressões políticas durante a era da União Soviética. O presidente do Conselho Editorial do programa "Reabilitados pela história" foi nomeado o acadêmico Petro Tymofiovych Tronko, do Instituto de História da Ukraina e um dos que escreveram ao presidente e aos deputados com o pedido de apoio ao programa. Em cada província da Ukraina foram criadas redações com cientistas, jornalistas, historiadores locais, que se envolveram com o tema das repressões.
Hoje, o número de pesquisadores em todo o país chega a milhares de pessoas. Bastante tempo eles dedicam aos arquivos, portanto, nas preparadas publicações muito espaço é dedicado aos documentos da polícia secreta soviética, que refletem a específica da repressão nos lugares. Além disso, na medida do possível, os pesquisadores coletaram relatos de testemunhas oculares, memórias de sobreviventes para preparar os perfis de cada pessoa reprimida.
Segundo o historiador Oleg Bajan, os especialistas ukrainianos, no início, não acreditavam na estatística, utilizada pela polícia secreta soviética, e decidiram verificá-la mais uma vez.
Oleg Bajan |
Isto é muito importante, porque no período do Grande Terror foram feitas muitas falsificações com documentos, que
eram entregues do alto, do centro do distrito à região (província), não eram confiáveis. Isto se aplica não tanto a quantidade, quanto ao estatuto social ou nacionalidade. Era relacionado com isto, é que os chequistas forneciam o plano que, por exemplo, na linha polonesa, na romena, etc. deveriam prender tal e tal número de pessoas. E, o gráfico de "nacionalidade" concluíam conforme a exigência no alto; afinal, eles precisavam receber os distintivos para não se transformarem em inimigos da nação ou traidores da causa comum, que não realizam política indispensável...
- O quanto dizem respeito à estatística oficial os números que você recebe graças a estes estudos?
- Todos nós sabemos que durante o Terror Vermelho, e isto na Ukraina foi de 1919-1921, foi o menos preservado nos arquivos. No entanto, devido ao programa atual, pelo menos alguma coisa podemos saber sobre este período. Isto nos dará a possibilidade, de avaliar com precisão, a extensão da repressão do período NEP (Nova Política Econômica). Não é segredo, que no período da Segunda Guerra Mundial, quando houve a evacuação do território da Ukraina, muitos documentos foram destruídos. Não devemos esquecer que Krushchev, que começou a crítica do culto a Stalin, deu ordens para destruir os documentos relacionados com ele pessoalmente. Mas ele, então, era o primeiro secretário da organização do Parido Republicano Ukrainiano. Por isso muitos documentos foram "apagados" no arquivo do partido, e no SBU. Somente na base de questões de investigação criminal, nós podemos reconstruir o quadro das repressões. Com simples meios mecânicos, tendo informações sobre cada condenado, nós podemos obter resultados importantes.
- A estatística ainda não é definitiva, porque há alguns anos foi permitido o acesso a uma ampla gama de documentos nos arquivos. Mas, ainda assim, já agora há a idéia de que, por exemplo, em que províncias havia mais reprimidos, e em quais menos, quantas pessoas sofreram repressão?
- Na Ukraina de 1917 a 1991, sob o peso da repressão caiu mais de um milhão de pessoas. Mais afetada pelo número sofreu a região de Donetsk. Ela, nos tempos soviéticos era a mais populosa, se considerar sobre limites administrativo-territoriais. No final dos anos 30 as repressões foram maiores nas regiões da Ukraina que limitam-se com a Polônia e Romênia. Relacionado com isto, é que neste período, especialmente iniciado de 1935 - 1936 começou o despejo de "elementos não confiáveis" (Esta referência não era aos bandidos, era às pessoas mais esclarecidas e cansadas do jugo dos ocupantes russos - OK) de zonas fronteiriças. Segue a região de Odessa, a então região Kam'ianets Podilskyi - agora Vinnytsia, Khmelnytsky, Zhytomer - antiga Volen. Nós também podemos falar sobre as regiões metropolitanas até 1934 - Kharkiv e em seguida Kyiv.
- E as pessoas? De que segmento da sociedade eram?
- Certamente, sofreu mais a aldeia ukrainiana. E agora nós estudamos não apenas o arquivo do SBU, como também o arquivo do Ministério dos Assuntos do Interior, aonde agrega-se a mais nova relação dos reprimidos durante a coletivização, porque trata-se de deportados, contra os quais não havia questão. Eles eram levados de acordo com as listas. Na aldeia havia a desapropriação e luta com o movimento rebelde do período da revolução ukrainiana, período de política do comunismo militar. Certamente, isto era relacionado com o fato dos agricultores serem portadores de identidade ukrainiana a qual queriam erradicar.
Durante o grande terror na Ukraina maciçamente realizavam-se as chamadas operações nacionais. Ukraina fazia fronteira, como considerava Stalin, com países hostis à União Soviética. Eram a Romênia e a Polônia. Nos anos 30 deportavam ou exilavam aos campos os representantes de nacionalidade polonesa, de Odessa deportavam romenos. Sob suspeita estava cada um, que estivesse relacionado com a revolução ukrainiana, com o movimento ukrainiano nacional-libertador, quem participava ativamente no serviço dos órgãos estaduais - Diretório, do tempo de Petlhura, Conselho Central Hetman Skoropadsky. Quando as instruções vinham de cima para iniciar as prisões em massa, essas eram as primeiras pessoas candidatas para aprisionamentos. Neste sentido pode-se falar sobre especificidade ukrainiana. Embora, se nós falamos sobre o Grande Terror, então as prisões em massa e as operações chekistas foram semelhantes: tanto em Novosibirsk , quanto na Ukraina ou na região de Moscou, tudo vinha de cima, os dados indicavam-se anteriormente.
- Criméia anexada. Donetsk e Lugansk, parcialmente sob a autoridade dos separatistas. Como vai o trabalho? Se conseguiram os pesquisadores dessas regiões estudar todos os arquivos, antes do início dos recentes eventos?
- Preparação dos dados pessoais dos reprimidos terminou terminou antes da ocupação. Agora, a questão é a publicação destes documentos. Se em Lugansk e Donetsk o trabalho já foi concluído, então sobre a Crimeia nós ainda não digitamos tudo. Alguns arquivos da Criméia, por algum tempo ficaram em Kyiv, quando, por exemplo, durante a publicação da coleção de documentos sobre deportações da Criméia. Um banco de dados dos reprimidos na Criméia, está em Kyiv.
Comentários:
Lyudmila Markevich:
Meus bisavô e primos, de Chernigov, foram condenados porque não aceitaram entrar na fazenda coletiva. Foram levados para minas de urânio... e lá morreram ignotos... O avô era o mais moço, ganhando uma porção de feridas não curráveis , voltou para aldeia, casou com a avozinha. Eles tiveram três rapazes, entre os quais meu pai, mas depois da guerra o avô morreu. O pai e os irmãos, na aldeia, eram considerados inimigos da nação... (Ideia plantada pelo governo) O medo devido a esta história familiar, tanto tempo ficou no coração do pai, que apenas a alguns anos atrás, quando ele atingiu 70 anos, ele me contou a verdade, porque antes havia algumas meias respostas. Escrevo e coração rompe-se da dor pelos parentes e ódio aos verdugos e aos seus apoiantes, que espero queimem no inferno... Mas sobre parentes gostaria saber mais. Espero, que isto será real...
Obrigado por seu trabalho.
Svitlana Rozhkova - Kumeiko:
Os arquivos todos em Moscou, no Kremlin e por isso é preciso depois da mudança do governo pulicar e sacudir como o colchão na luz do dia, da poeira e traça. Mas a Rússia tudo acomoda... e enquanto Rússia existir, sossego não haverá para ninguém... infelizmente.
Victória Oshovska:
É claro, que já ninguém responderá por todas estas atrocidades, mas os ukrainianos, necessariamente, precisam saber a verdade que tem sido escondida da nação. Para que os atuais protetores do sovietismo não se atrevam enganar a juventude e contar-lhe, como tudo era bom na lama soviética.
Ippolit Ostashewski, de Kyiv:
Isto serão verdadeiros e terríveis testemunhos do período bolchevique. A resposta por tais atrocidades deve assumir quem? qual regime? ou os cúmplices vivos qrecebem alguns benefícios?
Tradução: O. Kowaltschuk
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