terça-feira, 15 de agosto de 2017

720 mil nomes. Já por 25 anos Ukraina recolhe informações sobre vítimas da repressão do período soviético.
Radio Svoboda (Rádio Liberdade), 12.08.2017
Alexandra  Wagner                                                                                                                                              

Crânios de vítimas da repressão stalinista da vala comum, em barranco próximo a Demyaniv Laz, Ivano Frankivsk. Foto de 1989. Foto de 1989. Durante as escavações encontraram restos humanos e, em seguida, identificaram 524 pessoas, executadas em junho de 1941. A descoberta e abertura de valas comuns de vítimas das repressões stalinistas era parte dos processos da libertação nacional na véspera do colapso da URSS.

25 anos atrás o Gabinete de Ministros da Ukraina aprovou  o programa "Reabilitados pela história" que, com base em dados de arquivos, recolhessem informações sobre cada não fundamentado condenado no período de 1917 a 1991, como também fazer um estudo detalhado sobre as repressões na URSS. No início planejava-se editar 25 livros - um por cada região (estado) da Ukraina. No entanto, aqueles pesquisadores, que iniciaram este trabalho no início dos anos 90, não podiam imaginar qual a escala do que aconteceu.

Hoje, a lista de nomes dos represados no território da Ukraina e materiais de arquivos sobre a máquina punitiva soviética - são 110 enormes volumes, e em planos - mais 20. Em algumas regiões para descrição das repressões, precisarão de alguns volumes, por exemplo, na região de Donetsk, onde a repressão afetou o maior número de pessoas, de todo o território da Ukraina.

De acordo com o funcionário do Instituto de História da Ukraina Oleg Bajan, o qual participou do programa "Reabilitados pela história", o impulso para o início de tão grande trabalho no espaço pós-soviético a investigação fez a sociedade, que após o início da reestruturação necessitava resposta à pergunta, de quem aqueles corpos no local de valas comuns na floresta Bykivnia. A Comissão Estatal do Conselho de Ministros da URSS, criada em 1987 não foi capaz de quebrar o silêncio e dizer que trata-se das vítimas da NKVD - prisioneiros executados, principalmente, nas prisões de Kyiv. Ao mesmo tempo, as publicações na imprensa sobre sepulturas em Bykivnia continuavam, e descobriu-se, que ainda no início dos anos sessenta o poeta Vasyl Symonenko, a artista Alla Horska e o diretor teatral Les Tanyuk, depois de visitarem as valas comuns dirigiram-se ao prefeito de Kyiv (a aldeia Bykivnia fica nos limites da cidade) com a proposta de criar lá um memorial. Pouco depois, em circunstâncias estranhas foi assassinada Alla Horska, muitos acusaram KGB pela sua morte.



Crânios de vítimas da repressão stalinista, da vala comum no barranco Dem'ianiv Laz próximo a Ivano Frankivsk, executados em junho de 1941.

Depois destas publicações em 1992, o Parlamento aprovou, em nível estatal, o apoio à intenção de responder a todas as questões, relativas à natureza do governo bolchevique e das repressões políticas durante a era da União Soviética. O presidente do Conselho Editorial do programa "Reabilitados pela história" foi nomeado o acadêmico Petro Tymofiovych Tronko, do Instituto de História da Ukraina e um dos que escreveram ao presidente e aos deputados com o pedido de apoio ao programa. Em cada província da Ukraina foram criadas redações com cientistas, jornalistas, historiadores locais, que se envolveram com o tema das repressões.

Hoje, o número de pesquisadores em todo o país chega a milhares de pessoas. Bastante tempo eles dedicam aos arquivos, portanto, nas preparadas publicações muito espaço é dedicado aos documentos da polícia secreta soviética, que refletem a específica da repressão nos lugares. Além disso, na medida do possível, os pesquisadores coletaram relatos de testemunhas oculares, memórias de sobreviventes para preparar os perfis de cada pessoa reprimida.




Restos dos prisioneiros do regime soviético, que foram fuzilados em Lutsk, 22 e 23 de junho de 1941. Verão 2.017.

Segundo o historiador Oleg Bajan, os especialistas ukrainianos, no início, não acreditavam na estatística, utilizada pela polícia secreta soviética, e decidiram verificá-la mais uma vez.

Oleg Bajan
- O fato é que, alguns documentos sobre a estatística da repressão política são mantidos nos arquivos do SBU (Serviço de Proteção da Ukraina). Isto é aquilo, que se comentava. Nós, com base nos arquivos, agora podemos conhecer os números reais. Nós personificamos esta estatística. Hoje, nos arquivos, há dados sobre 720 mil reprimidos. A relação, com base no arquivamento investigativo da questão é instituída para cada pessoa. Mesmo, se a questão fosse coletiva, tudo é registrado no cartão, menciona-se, quem pertencia a esta questão e era preso, quem foi baleado ou enviado para campos de trabalhos forçados. Através deste programa nós podemos saber o nome e sobrenome desta pessoa, seu destino e, com responsabilidade, falar sobre o corte social e nacional. 

Isto é muito importante, porque no período do Grande Terror foram feitas muitas falsificações com documentos, que 
eram entregues do alto, do centro do distrito à região (província), não eram confiáveis.  Isto se aplica não tanto a quantidade, quanto ao estatuto social ou nacionalidade. Era relacionado com isto, é que os chequistas forneciam o plano que, por exemplo, na linha polonesa, na romena, etc. deveriam prender tal e tal número de pessoas. E, o gráfico de "nacionalidade" concluíam conforme a exigência no alto; afinal, eles precisavam receber os distintivos para não se transformarem em inimigos da nação ou traidores da causa comum, que não realizam política indispensável...



      Livros da série "Reabilitados pela história."

Além dos livros por nós editados, listas nominais dos reprimidos podem ser encontrados no "Banco Nacional dos Reprimidos" - é um site criado em conjunto com o Instituto Ukrainiano de Memória Nacional. Lá, por enquanto foram incluídos os nomes de 209.000 pessoas. (O endereço para quem quiser é:  "Національний банк репресованих". Em breve nós incluiremos dados de mais 180 mil, para que as pessoas possam encontrar informação de seu parente. La pode-se procurar pelo sobrenome, e pelo local de residência. Um programa similar existe na Rússia. Nós sabemos que a Sociedade "Memorial" já publicou mais de 4 (quatro) milhões de reprimidos em todas as regiões da URSS. No entanto os nossos questionários são mais detalhados. Esperamos que, quando introduzirem os dados de todas as pessoas, o programa nos ajudará calcular, quantos foram reprimidos pela nacionalidade, pela composição social (trabalhadores, camponeses, intelectuais), o programa fará a seleção para as regiões. E tudo isso ajudará análise mais profunda.

- O quanto dizem respeito à estatística oficial os números que você recebe graças a estes estudos?

- Todos nós sabemos que durante o Terror Vermelho, e isto na Ukraina foi de 1919-1921, foi o menos preservado nos arquivos. No entanto, devido ao programa atual, pelo menos alguma coisa podemos saber sobre este período. Isto nos dará a possibilidade, de avaliar com precisão, a extensão da repressão do período NEP (Nova Política Econômica).  Não é segredo, que no período da Segunda Guerra Mundial, quando houve a evacuação do território da Ukraina, muitos documentos foram destruídos. Não devemos esquecer que Krushchev, que começou a crítica do culto a Stalin, deu ordens para destruir os documentos relacionados com ele pessoalmente. Mas ele, então, era o primeiro secretário da organização do Parido Republicano Ukrainiano. Por isso muitos documentos foram "apagados" no arquivo do partido, e no SBU. Somente na base de questões de investigação criminal, nós podemos reconstruir o quadro das repressões. Com simples meios mecânicos, tendo informações sobre cada condenado, nós podemos obter resultados importantes.

- A estatística ainda não é definitiva, porque há alguns anos foi permitido o acesso a uma ampla gama de documentos nos arquivos. Mas, ainda assim, já agora há a idéia de que, por exemplo, em que províncias havia mais reprimidos, e em quais menos, quantas pessoas sofreram repressão?

- Na Ukraina de 1917 a 1991, sob o peso da repressão caiu mais de um milhão de pessoas. Mais afetada pelo número sofreu a região de Donetsk. Ela, nos tempos soviéticos era a mais populosa, se considerar sobre limites administrativo-territoriais. No final dos anos 30 as repressões foram maiores nas regiões da Ukraina que limitam-se com a Polônia e Romênia. Relacionado com isto, é que neste período, especialmente iniciado de 1935 - 1936 começou o despejo de "elementos não confiáveis" (Esta referência não era aos bandidos, era às pessoas mais esclarecidas e cansadas do jugo dos ocupantes russos - OK) de zonas fronteiriças. Segue a região de Odessa, a então região Kam'ianets Podilskyi - agora Vinnytsia, Khmelnytsky, Zhytomer - antiga Volen. Nós também podemos falar sobre as regiões metropolitanas até 1934 - Kharkiv e em seguida Kyiv.

- E as pessoas? De que segmento da sociedade eram?

- Certamente, sofreu mais a aldeia ukrainiana. E agora nós estudamos não apenas o arquivo do SBU, como também o arquivo do Ministério dos Assuntos do Interior, aonde agrega-se a mais nova relação dos reprimidos durante a coletivização, porque trata-se de deportados, contra os quais não havia questão. Eles eram levados de acordo com as listas. Na aldeia havia a desapropriação e luta com o movimento rebelde do período da revolução ukrainiana, período de política do comunismo militar. Certamente, isto era relacionado com o fato dos agricultores serem portadores de identidade ukrainiana a qual queriam erradicar.

Durante o grande terror na Ukraina maciçamente realizavam-se as chamadas operações nacionais. Ukraina fazia fronteira, como considerava Stalin, com países hostis à União Soviética. Eram a Romênia e a Polônia. Nos anos 30 deportavam ou exilavam aos campos os representantes de nacionalidade polonesa, de Odessa deportavam romenos. Sob suspeita estava cada um, que estivesse relacionado com a revolução ukrainiana, com o movimento ukrainiano nacional-libertador, quem participava ativamente no serviço dos órgãos estaduais - Diretório, do tempo de Petlhura, Conselho Central Hetman Skoropadsky. Quando as instruções vinham de cima para iniciar as prisões em massa, essas eram as primeiras pessoas candidatas para aprisionamentos. Neste sentido pode-se falar sobre especificidade ukrainiana. Embora, se nós falamos sobre o Grande Terror, então as prisões em massa e as operações chekistas foram semelhantes: tanto em Novosibirsk , quanto na Ukraina ou na região de Moscou, tudo vinha de cima, os dados indicavam-se anteriormente.

- Criméia anexada. Donetsk e Lugansk, parcialmente sob a autoridade dos separatistas. Como vai o trabalho? Se conseguiram os pesquisadores dessas regiões estudar todos os arquivos, antes do início dos recentes eventos?

- Preparação dos dados pessoais dos reprimidos terminou terminou antes da ocupação. Agora, a questão é a publicação destes documentos. Se em Lugansk e Donetsk o trabalho já foi concluído, então sobre a Crimeia nós ainda não digitamos tudo. Alguns arquivos da Criméia, por algum tempo ficaram em Kyiv, quando, por exemplo, durante a publicação da coleção de documentos sobre deportações da Criméia. Um banco de dados dos reprimidos na Criméia, está em Kyiv.

Comentários:
Lyudmila Markevich: 
Meus bisavô e primos, de Chernigov, foram condenados porque não aceitaram entrar na fazenda coletiva. Foram levados para minas de urânio... e lá morreram ignotos... O avô era o mais moço, ganhando uma porção de feridas não curráveis , voltou para aldeia, casou com a avozinha. Eles tiveram três rapazes, entre os quais meu pai, mas depois da guerra o avô morreu. O pai e os irmãos, na aldeia, eram considerados inimigos da nação... (Ideia plantada pelo governo) O medo devido a esta história familiar, tanto tempo ficou no coração do pai, que apenas a alguns anos atrás, quando ele atingiu 70 anos, ele me contou a verdade, porque antes havia algumas meias respostas.  Escrevo e coração rompe-se da dor pelos parentes e ódio aos verdugos e aos seus apoiantes, que espero queimem no inferno... Mas sobre parentes gostaria saber mais. Espero, que isto será real... 
Obrigado por seu trabalho.

Svitlana Rozhkova - Kumeiko:
Os arquivos todos em Moscou, no Kremlin e por isso é preciso depois da mudança do governo pulicar e sacudir como o colchão na luz do dia, da poeira e traça. Mas a Rússia tudo acomoda... e enquanto Rússia existir, sossego não haverá para ninguém... infelizmente.

Victória Oshovska:
É claro, que já ninguém responderá por todas estas atrocidades, mas os ukrainianos, necessariamente, precisam saber a verdade que tem sido escondida da nação. Para que os atuais protetores do sovietismo não se atrevam enganar a juventude e contar-lhe, como tudo era bom na lama soviética.

Ippolit Ostashewski, de Kyiv:
Isto serão  verdadeiros e terríveis testemunhos do período bolchevique. A resposta por tais atrocidades deve assumir quem? qual regime? ou os cúmplices vivos q​recebem alguns benefícios?

Tradução: O. Kowaltschuk

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