sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Oleksa Tykhei. Por que o professor de Donetsk tornou-se inimigo Nº 1 para URSS? 
Radio Svoboda (Rádio Liberdade), 10.08.2017
Aliona Kachkan


     "Eu não quero que Donbas dê apenas carvão". - 
      Alex Tykhei - professor, 1927-1984  -  co-fundador do Grupo Ukrainiano de Helsinki.

Ele foi preso por causa da carta, e pelo artigo contra russificação deram 10 anos em campos de concentração. Internacionalista por convicção, defensor do idioma ukrainiano, professor em Donetsk, estudou em Moscou, mas estava convencido, que sem o idioma cessa o progresso e morre a cultura  - tudo sobre Oleksa Tykhei (Тихий) sócio - fundador do Grupo Ukrainiano de Helsinki. Para ele a educação e pensamento crítico eram as chaves da oposição contra a ilegalidade sistemática da burocracia repressiva da União Soviética. 

Eu sou ukrainiano. Não apenas um indivíduo, dotado de certa imagem, com capacidade de andar sobre duas pernas, com o dom da fala articulada, com o dom de criar e consumir riquezas materiais. Eu sou um cidadão da URSS mas, antes de tudo eu - sou cidadão do mundo não coo órfão-cosmopolita, mas como ukrainiano", - escrevia Oleksa Tykhei em "Reflexões sobre nativa região Donetsk".

Por causa da língua e da cultura, os ukrainianos precisam conquistar sua independência, assumir a responsabilidade pelo seu futuro, considerava Tykhei. Mas estava convencido, que sem um consciente estudo, conhecimento do mundo através das obras dos clássicos mundiais  (não apenas dos reconhecidos pelo sistema soviético), viagens e novas idéias, é impossível educar pessoas e nações dignas, onde a porcentagem de cientistas será alcançada por 20 - 50% da população.

Professor rural intelectual.

Oleksa Tykhei nasceu na aldeia Yizhivka na região de Donetsk, em 27 de janeiro de 1.927. Devido à sua capacidade entrou na Universidade de Moscou, na Faculdade de Filosofia.

Já então, aos 21 anos, quase foi preso pela crítica, de não haver alternativa nas eleições, na União Soviética, com um único deputado.

Tykhei, conscientemente, foi trabalhar como professor de aldeia, para ensinar as crianças ukrainianas "fazer o bem às pessoas, elevação de nível material e cultural, busca da verdade, luta pela justiça, dignidade humana, responsabilidade cívica, para que "não apenas com pão vivesse a pessoa."

Oleksa Tykhei salientava, que o Estado não pode impor o idioma de comunicação, como realizar o entretenimento, que livros ler, impor os interesses. (Komsomol = All - União leninista da Juventude Comunista. ("All" - União leninista da Juventude Comunista ; "ALL" dá idéia de "todo, toda").

Komsomol e tabus sociais na União Soviética não podem educar indivíduos independentes e responsáveis, considerava ele.

A juventude precisa de ações concretas, direito e possibilidades de procurar e encontrar a liberdade, para seu caminho. Às vezes podem ocorrer erros, perversão, mas o dano por eles seria muitíssimo menor, do que da total dependência dos mais velhos, quando à juventude é dado o papel de, apenas, obediência e execução de instruções sem hesitação e dúvidas", - criticava o professor da aldeia os caminhos do Komsomol, da juventude soviética, que trouxe o automatismo, a "glorificação do partido, Lenin e comunismo".

Revolução húngara de 1.956: "escola soviética entrou em impasse". Mais de 20 mil manifestantes húngaros sofreram durante a "limpeza" do levante de Budapeste contra a política pró-soviética do governo húngaro. O exército soviético invadiu e sufocou a rebelião para não permitir  à Hungria sair da esfera de influência soviética. Oleksa Tykhei publicamente criticou o massacre de manifestantes e escreveu na carta, que o "comunismo na União Soviética não se constrói".

Oleksa Tykhei na juventude
Por tais pontos de vista anti-soviéticos Oleksa foi condenado para 7 anos de prisão e 5 anos de privação de direitos civis e foi enviado, no início, para prisão de Vladimir, conhecida como "Central de Vladimir", e depois para Dubovla

No veredicto anotaram: "Fazia calúnias ao PCUS (Partido Comunista da União Soviética) e à realidade soviética. Justificava as ações dos contra-revolucionários revoltosos e expressava chamadas para derrubada da ordem estatal da URSS."

"Para meu Donetsk não fornecer apenas fãs de futebol..."

Depois da prisão Oleksa Tykhei não conseguiu mais emprego como professor, ele trabalhou em bibliotecas de diferentes cidades, passava por reciclagens, viajava aos lugares históricos de vários modos apoiava seus amigos aprisionados, enviando-lhes cartas de saudações, escreveu Basil Ovsiyenko.

Oleksa Tykhei escrevia muito sobre a russificação de Donetsk e a necessidade de restaurar a cultura ukrainiana, sobre o retorno do idioma ukrainiano nas universidades e escolas. Apresentava-se contra quaisquer política de assimilação de grupos étnicos. Aqueles, que diziam ser Rússia sua terra natal é necessário cobrir de vergonha, escrevia ele em suas "Reflexões sobre o idioma e cultura da região de Donetsk".

"Como compreender aquele, que vive em Donetsk na Ukraina, mas como pátria considera Rússia? Imigrante ou ocupante? Se olhassem para um índio ou canadense, que afirmasse que sua pátria é Inglaterra (com o fundamento de que Índia e Canadá fazem parte do Commonvealth?" - pensava ele.

Oleksa Tykhei era contra a discriminação com base na nacionalidade, mas "a favor" da defesa do idioma e cultura no Donbas.
"Eu aprovo, que Donetsk dê não apenas fãs de futebol, acadêmicos - sem pai, engenheiros russo-falantes, agrônomos, médicos, professores, como também ukrainianos, especialistas - patriotas, - ukrainianos poetas e escritores, ukrainianos compositores e artistas", - dizia Tykhei.

Com tais pontos de vista Oleksa Tykhei não podia deixar de apoias os dissidentes e ativistas de direitos humanos ukrainianos, que em novembro de 1976 anunciaram a criação do Grupo Ukrainiano de Helsinki para promover a implantação dos Acordos de Helsinki. Ele tornou-se seu co-fundador, juntamente com Mykola Rudenko, Oksana Meshko e outros.

"Vocês viverão em suplício e por pouco tempo."

A punição pela atividade legal no país, "onde com tanta liberdade respira a pessoa" - não tardou. Oleksa Tykhei  condenaram para 10 anos de privação da liberdade, culpando-o de "agitação e propaganda anti-soviética". Isto aconteceu em 1977.

Como observaram os membros do Grupo Ukrainiano de Helsinki, para uma pessoa de 50 anos, que já passou 10 anos em campos de trabalho e minou sua saúde, tal sentença era de morte. 

Em Mordóvia quase todos os prisioneiros apresentavam problemas digestivos e de sistema cardiovascular. Tykhei também teve úlcera no estômago, mas ele iniciou greve de fome para 52 dias, para protestar contra as condições desumanas de detenção dos presos políticos, lembra Levko Lukyanenko (Este senhorzinho, com 88 anos, está vivo, bem de saúde, e reside na Ukraina - OK).

Tykhei era mantido no cárcere, "era, justamente, o período de mosquitos. Ele, deitado no chão, era comido pelos mosquitos", pesava 40 quilogramas, escreveu Basil Ovsiyenko. Fizeram-lhe uma cirurgia, mas depois cresceu a hérnia.

"Você viverá pouco e em tormento", - disse-lhe um dos médicos e, durante a cirurgia, costurou-lhe o estômago na aparência de relógio de areia", , para que o processo da digestão passasse extremamente doloroso, afirma Basil Ovsiyenko.

Ao gravemente doente Tykhei, com especial cinismo, todo o tempo negaram-lhe o direito a visita de familiares, culpavam-no em "violação do regime de acampamento". No entanto, tudo isto não obrigou-o a escrever "arrependimento".

Herege, que arde.

Em 1980 Oleksa Tykhei foi transferido para o campo de prisioneiros políticos em Kuchin. Lá permaneciam outros membros do Grupo Ukrainiano de Helsinki, entre os quais Vasyl Stus, Valeriy Marchenko, Yuriy Lytvyn, Levko Lukyanenko.

Basil Ovsiyenko esteve com Oleksa Tykhei na mesma célula. Ele lembra, que "Oleksa nunca se queixava, tinha uma vontade de ferro e sempre iniciava conversas sobre temas filosóficos". 
"O tema favorito de seu discurso - pedagogia. Este deveria ter sido um excelente professor ma, digo, em vez de cátedra ele teve ele teve trabalho físico duro. Nesse sentido, em sua pessoa, nós temos "força caída. Tykhei tinha clara consciência, que a questão de libertação da nação exige sacrifício dos melhores", - escreveu Ovsiyenko.

Em celas disciplinares (células de castigo) Tykhei  esteve três vezes, durante 15 dias, o que fez sua saúde tornar-se catastrófica. Ele foi transferido para o hospital e de lá voltou para cela, "como removido da cruz", - escrevia em suas "notas de campo" Vasyl Stus.

Em 06 de maio de 1984 Oleksa Tykhei morreu no hospital da prisão. Os membros do Grupo Ukrainiano de Helsinki afirmam que ele foi deixado sem assistência.

Para honrar a memória do amigo Levko Lukyanenko e Vasyl Ovsiyenko anunciaram greve de fome.

"Oleksa era o meu maior amigo. Ele era um modelo de nacionalista ukrainiano, com uma alma muito boa", - diz Levko Lukyanenko.

Em 1989 os amigos e o público trouxeram os restos de Oleksa Tykhei e os enterraram em Kyiv, junto com Vasyl Stus e Yuri Lytvyn.

Na Colônia de correção ou Câmera da morte para prisioneiros políticos. Aqui morreram quatro membros do Grupo Ukrainiano de Helsinki.:
Yuri Lytvyn, poeta, .  Foi encontrado na câmara com barriga cortada.
Valeri Marchenko - conhecedor literário. Sofria com pedras nos rins. O juiz soviético condenou-o para 15 anos e considerou-o criminoso reincidente. Depois do colapso da União Soviética o mesmo médico reabilitou-o. 
Vasyl Stus - poeta. Dirigiu-se ao Parlamento da União Soviética com renúncia da cidadania soviética. Escreveu aproximadamente 100 poesias, preservaram-se apenas seis. Nos últimos dias anunciou greve de fome "até o final". Morreu no cárcere na noite de 4 de setembro de 1985. O motivo não é conhecido.


Re-sepultamento de Vasyl Stus, Yuri Lytvyn e Oleksa Tykhei

Tradução:
 O. Kowaltschuk

Nenhum comentário:

Postar um comentário