domingo, 19 de junho de 2016

Sem nenhuma chance. Afanasyev e Soloshenko sobre como o Serviço Federal de Segurança alquebra as pessoas no cativeiro. 
Ukrainska Pravda (Verdade Ukrainiana), 17.06.2016
Oksana Kovalenko, Galyna Tytysh 

Segunda parte - Yuri Soloshenko

 

Nascido em Poltava, formou-se pela Universidade Nacional de Kharkiv, trabalhou 48 anos na fábrica de 
produtos de defesa "Znam'ya" - de engenheiro chegou a diretor geral. 


A empresa especializava-se na fabricação de radares e componentes para complexos anti-mísseis. O único cliente para estes detalhes era Rússia. Em 2010 ele aposentou-se mas apesar do fechamento da fábrica, utilizando as antigas ligações, ajudava Kyiv e Moscou no comércio do equipamento especial. Ele tem esposa e filho. Yuri Danelovich foi aprisionado quando tinha 72 anos. 11 dias atrás ele completou 74 anos.


Eu até hoje não sei o que está escrito nestes papeis secretos. Eu era diretor da fábrica, constantemente trabalhava com o Ministério da Defesa da Rússia. Era o nosso único comprador, porque nós fabricávamos produtos técnico-militares; produtos que se exploravam nas Forças Armadas da FR.

Nós trabalhávamos normalmente ainda dos tempos da União Soviética. Nós eramos convidados para seminários, que por causa de nossa presença eram considerados internacionais. Nós íamos lá com a nossa bandeira, e a arriávamos ao som do hino da Ukraina. E isto era tão agradável,  respeito tão sincero.

Certa vez um dos principais clientes, coronel do exército russo, telefonou e disse, que eles queriam uma quantidade maior de nossos produtos e pedem o nosso "acordo" para aproveitamento em seu complexo.


Digo a ele - precisa verificar, se os produtos apresentam condições conforme os requisitos. Ele perguntou: "Você pode fazer isto?"

Eu me recusei por um bom tempo - preparava-me viajar para  tratamento da esposa, já havia comprado os bilhetes. E da fábrica eu já me despedi ainda em 2010. Mas insistiram: 

Convenceram. Chego em Bilgorod, passo pelo controle de passaportes, a funcionária verificou meus documentos, foi a outra sala e voltou: "Preciso ver seu passaporte, por favor".


Dei-lhe o meu passaporte. Ela entrou na sala vizinha e, escuto que pelo telefone envia meus dados para alguém.  E, eu compreendi, que me "conduziam". (VAT "Ruseletrônica" , a qual chamou Soloshenko para Rússia - Verdade Ukrainiana) era a empresa na qual Soloshenko trabalhou 12 anos.

Eu nem este sobrenome pronunciar quero. Não posso considerá-lo pessoa. Quantas vezes já me persuadia, que eu sou cristão, e preciso perdoar - mas alguns indignos perdoar simplesmente não é possível. 


Em Moscou me encontram Kolehov e Demianov, também ex-coronel: "Por que veio assim, sem nada?"


Eu respondo a eles: "Vim para algumas horas, sem nada. Vocês tem os aparelhos para verificação?" - "Sim".

Chegamos à oficina, no pátio há um carro, dentro produtos fabricados que eu conheço. Não consegui eu, cumprimentar as pessoas, quando as portas se abrem  - e de acordo  com as regras de gênero policial: "Todos permaneçam nos seus lugares! FSB!"

Penso: "Provavelmente, estes rapazes fizeram algo... É por causa deles, não é nada comigo".


Quando o tenente-coronel se aproxima, me coloca contra a parede, mãos na parede, pernas afastadas. Eu nada entendo. Procuraram, levaram dois telefones, colocaram num saco plástico, me deram: "Pegue seus telefones". Olho, lá com os telefones há alguns papéis.

Eu digo: "Isto não é meu". - "Não, isto é seu. Você viajou com isto".



Revela-se, eles prepararam certos documentos secretos, pelos quais eu vim, para roubá-los na Rússia.

"Materiais secretos" revelaram-se papéis sobre S-300, operados pelas Forças Armadas da Ukraina 40 anos, e componentes feitos na fábrica "Generator".


Colocaram algemas, fotografaram, tudo conforme o esperado.


A única "prova" - são aqueles telefones com documentos, que eles mesmos forneceram. Nos papéis nem minhas impressões houve. Eu não os li, até hoje eu não sei, o que lá estava escrito. Eles, absolutamente, não me interessaram.

Chegamos ao Departamento de Investigação. Penso, que agora perceberão o problema, e eu irei para casa. O meu bilhete é para 9 horas e 15 minutos. Eu observo, eles com muita seriedade redigem o protocolo de detenção.


O investigador avisa: nós notificamos a embaixada".  Chegamos ao tribunal, mais uma vez eu começo dizer, que esta acusação é absurda.


Mas o juiz diz: "A questão não é acusação, mas para rever,  a medida de precaução." E decide para, por dois meses me colocar na prisão no "Lefortovo".

Eles me fecharam em confinamento solitário. No dia seguinte, sob guarda, me levam para o departamento de investigação.

Depois o operatório diz: "Você escreve essas petições, todos riem. Nós sabemos escrever, nós escrevemos tudo e fundamentamos devidamente.


Aceite a cidadania russa, e você será transferido para o status de testemunha. Nós não estávamos atrás de você, mas atrás de Kolehov. Você sabe, ele tem tal posição, ele sempre esteve sob nossa supervisão. Você é como companheiro de viagem. Se você aceitar a cidadania russa, nós o transferiremos para o status de uma testemunha que será protegida pelas leis da Rússia.


Bem, eu, é claro, não concordei.

Então eles, simplesmente, me aprisionaram.

Se você se reconhecer culpado de espionagem, após uma semana transferiremos para prisão domiciliar.

Meus amigos de Moscou ajudaram, forneceram tudo o que deve ter o prisioneiro, porque até minha escova de dentes deixei no trem - pensava voltar no mesmo.

No Departamento de Invesigação me disseram: "Aqui anda um advogado, de seus amigos. Ele só lhe prejudicará, porque ele foi enviado especialmente, para pesquisar os motivos de sua detenção, para proteger os seus líderes". De todos os modos insistiam, para que eu recusasse este advogado.

2 de outubro novamente tribunal  de medida preventiva. Depois do tribunal... novamente medida preventiva de dois meses.

Quando eu soube, que não me deixarão ir, eu quase tive um ataque deo coração, eu me senti muito mal. Esperava que em dois meses os mal-entendidos terminassem.

Passa um mês, eu não saio da câmera.  Depois de um mês e alguns dias me conduzem, sob escolta ao Departamento de Investigação, dizem: "Nós não podemos conduzir investigações. Seu advogado não quer vir. Portanto, aconselhamos este outro advogado, que é maravilhoso, tem princípios."

Em suma, "recomendam". Trouxeram o advogado, e ele diz: "A partir de amanhã começaremos preparar os materiais para reclassificação do artigo porque espionagem - um artigo particularmente difícil, a partir de 10 a 20 anos, a nenhuma anístia está sujeito, a nenhumas concessões".

Prometeu muito - mas apenas o dinheiro adiantado, em seguida começaremos o trabalho.

Bem, meus filhos lhe pagaram.

O advogado, assim que recebeu o dinheiro, imediatamente declarou: "Você tem duas opções - declarar-se culpado, então serão, no mínimo dez anos. Se não se declarar culpado, serão 20 anos.

E eu disse a ele: "Olhe para mim, 10 ou 20 anos para mim, realmente tem sentido? Claro, eu não vou admitir a culpa."

No total, sem advogado fiquei 10 meses, e 8 meses sem o cônsul. E eles precisavam ter algo para fechar.

Eu não reconheço - e eles, obviamente tem insuficiência de materiais. Convocam-me outra vez e dizem que a seguinte condição é acordo pré-julgamento com investigação. "Se você se reconhecer culpado de espionagem, nós, depois de uma semana transformaremos sua prisão em prisão domiciliar", - à residência de seu amigo, que vive perto de Moscou.

Eles prometem que o chefe tem um amigo - Vice-Presidente do Tribunal da cidade de Moscou, ele concordou - eu receberei uma sentença condicional.

Meus filhos escrevem, que medidas estão sendo tomadas, que viajam até Kyiv, negociam, depois vieram os defensores. O defensor russo Ella Pamfilova disse: "Eu agora não posso lhe ajudar, apenas depois do Tribunal".

Eu sei que as acusações são absurdas, que na Ukraina ninguém acreditará, que eu tentei roubar exatamente estes materiais - porque eles existem lá.

Eu penso: Tudo bem. "Concordo com prisão domiciliar".

Mas no início disse a este investigador: "Eu não acredito em você, que venha qualquer outra pessoa de sua chefia e confirme".

Veio o chefe do departamento, coronel Rastvorov e diz: "Danylovych, meu pai também é Yurui Danelovych, e também de 1942. Eu tenho muito respeito por você. Quando eu avisei ao vice-presidente do tribunal, quantos anos você tem, ele disse: Mas que conversas? Condicionalmente, que vá para casa, tudo será feito".

Eles foram até o meu amigo, pegaram uma declaração que ele possui uma moradia, onde eu posso ficar sob prisão domiciliar. Mostram a carta, eu conheço a letra. Penso - pode ser assim...

Assinei este terrível papel. 

Eu nem terminei de lê-lo, o quanto isto era improvável, absurdo e assustador.

Depois de algum tempo, me convidaram ao Departamento de Investigação. Na chefia a mesa está coberta, uma garrafa de conhaque e sanduíches. "Compreende, todos concordam, exceto um problema. Ele disse, que eu não tinha registro na Rússia, então não podia estar sob prisão domiciliar... Vamos beber". Eu não bebi...

A mim o investigador, certa vez, em uma explosão de sinceridade, disse: "Se eu emitir a assinatura para sua absolvição, isto significará  que eu pedi demissão. A questão de sua detenção resolvia-se a nível da Procuradoria Geral e FSB.

Eu não tinha lá absolutamente nenhuma chance. Eu escrevi para a administração do presidente e chefe do Departamento de Investigação. Nem resposta, nem saudação.




O tempo passa, preciso me familiarizar com os materiais do caso. Novamente não tenho advogado, eu estou sozinho.

Li o primeiro volume. No primeiro volume FSB escreve uma informação, que na Ukraina estes produtos produzem-se numa só fábrica. A informação é a meu favor, se alguém inteligente  a lesse.

Em nenhuma parte do texto, nenhuma conversa de minha iniciativa.  Tudo isto é especialmente assim preparado.  Telefonavam, conversavam, e tais perguntas... Depois eu compreendi - especialmente me provocavam, para que eu dissesse , que isto pode me interessar.

Um volume eu assinei. Eram 4 volumes. Me apressam: "Corra, porque tudo é acordado, tudo deve ser rápido".

Então tudo girou rapidamente. Dia 11 eu assinei todos os volumes, dia 16 os receberam no Gabinete do Procurador e registraram a minha questão, e dia 19 recebi o aviso que tudo foi enviado ao tribunal.


Eu penso: "Talvez de verdade, lá resolveram, condicionalmente, me enviar para casa?... E vem imediatamente do tribunal uma mensagem - marcada uma reunião pública em 1 de outubro.

NÃO ME BATERAM - TENTARAM QUEBRAR MORALMENTE.

O tribunal foi fechado, ninguém pôde entrar, nem TV, nem cônsul.

Na terceira sessão, eu falei em minha defesa. O juiz me ouviu. Mas no veredicto escreveram, que minhas palavras "o tribunal percebeu de forma crítica".
No dia 14 leram o veredicto. Todos foram liberados. Os ativistas dos direitos humanos, o cônsul.

E eis que vem uma carta - executar a sentença e enviar-me ao lugar de cumprimento da pena. Neste período eu estive no hospital, "Silêncio do marinheiro". Ella Pamfilova através de direitos humanos, Zoe Svetova avisou, que em 10 de dezembro no encontro com o presidente Putin vai discutir a questão do meu perdão.

E dia 10 de dezembro eu espero. Liguei a TV, lá mostram Ella Pamfilova sentada com Putin, fala sobre algo... Aqui se abre mais uma esperança: "Solochenko com os pertences na saída". Os rapazes dizem: Tudo bem, "Pamfilova resolveu tudo". Eu também pensei assim, junto minhas coisas.

 ... Estes vagões Stolypin. São semelhantes aos normais: corredor, ao longo dele compartimentos, apenas ao longo deles, grades. Janelas não há. três prateleiras dos dois lados. 12 pessoas no compartimento fumam. Perguntei ao guarda de segurança: Se começasse o fogo neste cupê, você abriria as grades, para que nós pulássemos?" Ele diz: "Não, para mim é mais simples relacioná-los, do que depois informar, para onde vocês correram.

Da coluna me colocaram, no início, em Nyzhny Novgorod, no hospital da prisão, para duas semanas, e depois preparavam-se para próxima etapa. Mas eu fiquei doente, me colocaram no hospital regional da prisão, no território da colônia 5. Lá, permaneci de cama 2,5 meses. De lá transferiram para colônia. 

Lá eu já podia telefonar. Eu já sabia, que já havia algumas ações, esperava algo.

Eu fiquei detido com pessoas muito respeitáveis - dois doutores em ciências. Um coronel de Forças Especiais, homem autêntico, de guerra, com distintivos. Com um georgiano eu ensaiava, a seu pedido, o hino da Ukraina e baixinho cantávamos na câmera. Com o rapaz de 22 anos Oleksii de Kuzbass certa vez eu lembrei palavras de Tychyna (foi grande poeta ukrainiano - OK):
"Para viver, não devo pedir direito a ninguém, para viver eu despedaço todas as algemas. Eu me afirmo, eu me reafirmo, porque eu vivo". E ele pediu para escrevê-los na página principal de seu diário.

Não me batiam - tentavam destruir moralmente. Eu perder... Claro, eu queria conhecer meus netos. O investigador dizia: "Claro, é melhor morrer em casa", - mas eu pensava: "Não espere". Bem, eu estou quase em casa. (Quando ele chegou em Kyiv, foi direto para hospital - OK).

Tem a organização "Prisioneiro russo"- escreviam para mim. "Há Rus sentada". E há simplesmente pessoas, que viram na internet, e escreviam. Do Canadá uma certa menina Olia, escrevia. 

Quando me transportavam, entregaram as cartas, uma delas do artista homenageado da Ukraina Sergey Arkhypchuk que me cumprimentou com o meu aniversário em 06 de maio. Mas eu recebi a carta no dia 06 de dezembro. Também escreviam Valéria Lutkovska (ombudsman, funcionária que monitora os direitos e interesses da pessoa - OK) e Klimkin (Ministro dos Assuntos do Exterior).

Na Rússia contar com humanismo não vale a pena. Neste monstro, Rússia, a autoridade - uma autocracia com FSB.

Àqueles que agora encontram-se como reféns da Rússia, quero dizer que não percam as esperanças, acreditem, porque Ukraina não os esqueceu - ela luta por cada cidadão seu.


Perder a fé não pode. 

Se eu não acreditasse, que um dia estarei em casa - não sei, se viveria até hoje.

Eu adormecia e acordava com este pensamento, isto tornou-se minha oração.
Tradução: O. Kowaltschuk 

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