Sem nenhuma chance. Afanasyev e Soloshenko sobre como o Serviço Federal de Segurança alquebra as pessoas no cativeiro.
Ukrainska Pravda (Verdade Ukrainiana), 17.06.2016
Oksana Kovalenko, Galyna Tytysh
Libertados em 14 de junho os presos políticos Gennady Afanasyev e Yuri Soloshenko encontramos no hospital, onde eles foram enviados logo após a sua chegada a Ukraina. Mesmo os parentes não puderam vê-los no aeroporto, o primeiro encontro teve lugar nos quartos do hospital.
"Muitas impressões, cansamos... Nós acostumamos, que conosco nada acontece - Nos últimos anos nós estivemos na prisão. E certo movimento para nós causa estresse, " - desculpam-se nossos interlocutores.
Assim relatam, alternadamente, folheando na memória os dias dos últimos dois anos. Apoiam um ao outro e de meia palavra entendem aquilo, que para nós é difícil imaginar.
Gennady lembra da prisão, espancamentos. A mãe, presente, com lágrimas nos olhos, sai do quarto.
Depois ele lembra, como o obrigavam a assinar o depoimento - e Yuri o abraça, para acalmar e dizer: "Ninguém sabe, o que eu faria nesta situação".
Eles estão sentados lado a lado.
Gennady, 25 anos - numa camiseta com tridente e também igual pingente no pescoço, ao lado - bandeira ukrainiana.
"Tudo isso os amigos presentearam", - alegra-se ele e imediatamente se desculpa que falará devagar em ukrainiano, porque há muito com este idioma, não se comunicava. À proposição para usar o idioma que lhe é mais conveniente, responde: "Não, em ukrainiano - isto é de princípio".
Inteligente, Yuri de 74 anos - numa simples camiseta branca, calça hospitalar, com lenço que constantemente retorce nas mãos. Durante o relato de Gennady sobre as torturas, os olhos de Yury ficam vermelhos.
Ambos tem pela frente - exames e tratamento, retorno à vida civil na Ukraina. No momento eles não olham muito à frente - a questão do futuro várias vezes paira no ar e permanece sem resposta. (Yuri tem câncer, Gennady - contaminação de sangue, segundo outras notícias. - OK).
A eles realmente é difícil falar, os médicos não permitem perturbar os pacientes. Mas Gennady e Yuri falam muito e emocionalmente.
"As pessoas devem saber sobre isto", - explicam eles.
Gennady Afanasyev
Nasceu em novembro de 1990 em Simferopol. Formou-se na Universidade Nacional Tavriya, na especialidade "Direito", trabalhava como fotógrafo. Durante a captura da península pela Rússia, ajudava os militares ukrainianos, que permaneciam na Criméia, participava das ações de protesto. Em 2014, quando foi aprisionado, tinha apenas 23 anos. Agora tem 25.
ISTO PRECISA DIZER. AS PESSOAS DEVEM SABER, O QUE ESTÁ ACONTECENDO. PORQUE EU NÃO SOU O ÚNICO.
Em 09 de maio de 2014 eu ia para o desfile do Dia da Vitória em Simferopol com a foto do meu bisavô.
Em seguida fui para casa da namorada, que vivia próximo - no centro da cidade. Mas, no caminho me atacaram rapazes, em trajes civis, com armas de fogo e empurraram para o veículo. Ao lado havia jornalistas, que fotografaram tudo.
No carro, me jogaram no chão, colocaram um saco na cabeça e levaram.
Enquanto viajávamos - batiam no estômago e cabeça, perguntavam sobre diferentes pessoas, ameaçavam, que me levariam para floresta, que eu mesmo vou cavar minha sepultura.
Finalmente, me levaram para casa - eles já sabiam onde eu moro. Tomaram as chaves do apartamento, e, com saco na cabeça levaram -me para dentro do apartamento, jogaram no chão. No apartamento procuravam algo, mas não encontraram nada. Depois disso levaram-me para o FSB na Criméia, e depois - ao local de detenção para 10 dias.
Normalmente lá seguram por três dias, depois transportam para prisão. Mas me mantiveram 10 dias - eles precisavam.
Advogado eu não tinha, mas vieram muitos investigadores de Moscou e muitos rapazes grandes do Cáucaso, colaboradores do FSB. Eu estava acorrentado a uma mesa de ferro. No início eles conversavam, ameaçavam, eu não entendia nada.
No primeiro dia foi apenas espancamento.
Levaram-me para o segundo andar - lá havia pessoas especiais e investigador. Novamente diversas perguntas.
Compreendendo, que eu não conhecia os fatos que os interessavam, começaram exigir depoimentos contra mim mesmo. Que eu confessa-se que, supostamente, queria explodir o monumento de Fogo Eterno no dia 9 de maio.
Isto é um absurdo, porque eu mesmo estive entre as pessoas, que iam ao monumento! Lá me prenderam, e isto foi visto por muitas pessoas.
Neste segundo andar, eles usavam luvas de boxe e batiam na cabeça - para não haver hematomas.
Isto foi no primeiro dia.
Me levaram, para a noite, a um local de detenção temporária. Todos os 10 dias, enquanto estive neste local, - não deixavam dormir, comida não havia, nem papel higiênico, não havia nada. Um certo porão, muito frio.
Nos primeiros cinco dias utilizavam... Simplesmente colocavam um pacote na cabeça, estrangulavam...
(Gennady silencia, em instantes recomeça).
Isto é preciso dizer. As pessoas precisam saber o que está acontecendo. Porque eu não sou o único. Eu vi muitos exemplos: assim não faziam com todos - mas com aqueles que achavam necessário.
Para minha câmera levavam Alexei Chernii, que na minha presença dizia, que eu era tal, tal e tal.
Nós nos conhecemos antes. No início da ocupação da Criméia eu organizava a comunidade, que ocupava-se com ajuda médica para os nossos prisioneiros. É nesta comunidade que conheci Chernii.
Isto foi a pressão psicológica: quando a pessoa dá testemunho contra si própria, quando os investigadores dizem que você já não tem chances: "Você receberá 20 - 25 anos. Se você admitir poderá ser condenado a menos.
Eu decidi que, se sobre mim deram testemunhos, e trata-se apenas sobre incêndio - eu assinei o acordo.
Eu não testemunhei sobre ninguém, apenas admiti minha culpa.
Em seguida, eles interessaram-se com Oleksander Kolchenko e Oleg Sentsov. Sobre eles testemunhou Chernii.
Depois disso começaram sérias torturas.
Colocavam na cabeça uma máscara de gás, com mangueira, desaparafusavam a válvula de fundo e pulverizavam lá com balõezinhos - começavam vômitos, você começava afogar-se com isso, por causa da máscara.
Quando você engasga, retiram a máscara e dão amônia para cheirar - e tudo se repete.
Continuava com o fato de colocar os fios elétricos nos órgãos genitais - e aplicar choques. Se o estrangulamento ainda era possível aguentar, esta já era uma dor diferente. ASSIM obrigavam colocar assinaturas nos documentos.
Simplesmente colocar assinaturas, e tudo.
Eu compreendia, o que havia. Eu via, o que estava escrito. Mas eu não escrevi, tudo estava preparado, o texto todo.
Quase no final, quando eles exigiam a concluir conosco o acordo, me despiram, colocaram no chão, algumas pessoas me seguravam - e com ferro de soldar passavam próximo ao corpo e contavam o que acontecerá, quando este ferro for colocado debaixo de mim.
A coisa mais importante - eu tenho mãe - e eles ameaçavam chegar a ela. Isto funcionou...
Eu me culpo, me castigo porque não fui mais forte. Eu me retratei, mas...
Eu assinei aqueles documentos, e me levaram para Moscou. Com as mesmas ameaças me obrigaram a falar na TV, dizer o que eles precisavam. Eu lembrava o que fizeram comigo nos últimos dias - e não acreditava, que alguém poderia me proteger, para que isto não se repetisse. Então, eu repeti aquilo, que eles exigiam.
A mim diziam: "Assim você ficará calmamente na prisão, próximo de sua casa, onde há calor e beleza, mas se não - você irá para lugares muito ruins". Eu acreditava que eles podiam fazer isto.
Quando a mim vinham os direitos humanos, eu era cauteloso. Bem, eu direi a estas pessoas, o que houve comigo. E o que acontecerá depois? Não sei.
DEPOIS QUE NO TRIBUNAL EU DISSE, QUE KOLCHENKO E SENTSOV NÃO ERAM CULPADOS, ALGO MUDOU EM MIM - EU PAREI DE SENTIR MEDO.
Todo o primeiro ano e meio em minha alma realizava-se uma terrível luta por causa de meus testemunhos contra pessoas inocentes.
Eu me aguentei até o seu julgamento, porque achava que se eu me expusesse, eles não permitiriam eu ir ao tribunal. Eu queria que houvesse surpresa no tribunal. Eu esperei.
Eu decidi, que tudo, ainda não era o fim. Escrevi cartas com desculpas pelos meus pecados, a todos meus amigos, minha mãe - e fui ao tribunal.
Imediatamente após minha declaração os agentes do FSB em Rostov, realizaram espancamento. Graças ao fato de aparecerem advogados e defensores, e que puderam documentar as lesões que foram infligidas a mim.
Os russos cumpriram sua promessa - levaram-me ao atual GULAG na República de Komi, única na Rússia tal colônia correcional. Lá eu não estive numa colônia, mas num severo barraco.
Eu não consigo explicar isto para vocês - quem não esteve lá, não compreende.
Sim, a própria viagem foi muito difícil - externamente 40 - 45 graus, os vagões esquentam tanto, que precisam ser resfriados com caminhão de bombeiros. Dentro - nem água, nem banheiros. Estas são as condições gerais para prisioneiros russos. Eles vivem como animais, dizer o contrário nãoé possível.
Quando me levaram à colônia, lá, entre minhas coisas plantaram uma lâmina.
Nós questionamos, mas eles se recusaram mostrar o vídeo da noite, dizem: "Isto não tem relação com o caso". Sem testemunhas, sem proteção - simplesmente recusam, e tudo. Por causa desta lamina eu, imediatamente, fui transferido da quarentena para a cela de castigo, e depois para o barraco de regime estrito.
Este é um grande barraco, a uma distância da parede de um metro ou 1,5 m há grades de ferro, e após elas anda a guarda.. Parece que você está em um zoológico. Ao seu redor há pessoas, elas vêem você. Ao lado 100 pessoas em 150 m².
Não há onde sentar, deitar é proibido, tudo é proibido. Este é o primeiro barraco de regime rigroso em toda a Rússia.
Mas eu me queixava das condições, reclamava constantemente. Sabe, depois de eu ter ido ao tribunal e dizer que Kolchenko e Sentsov (sobre estes dois há conversações. Na Ukraina esperam sua libertação - OK)não são culpados, algo mudou em mim - eu parei de ter medo.
Mas eu não acreditava em ninguém. Mesmo quando a mim veio o meu advogado Popkov, e me mostrou seus testemunhos, passaportes, eu disse: "Eu não vou falar com você".
La, na República Komi, eu fiquei gravemente doente.
O diagnóstico eu ainda não sei, me examinam. Na pele tive grandes inflamações, que não passavam, eles precisavam ser tratados, mas ninguém fazia isto. Então eu as cortei. Nós com os outros rapazes rasgávamos os lençóis, fazíamos curativos. Pegávamos um creme de bebê e colocávamos nas feridas - o que podíamos, fazíamos.
Depois de algum tempo, começaram a me trazer pílulas - antibióticos. Mas, por causa deles começou outra doença, problemas com o estômago.
As inflamações da pele desapareciam, mas depois de uma ou duas semanas apareciam novamente.
Depois de algum tempo colocaram na jaqueta de inverno um cartão de telefone. A jaqueta estava em sala separada, que era fechada à noite. Na parte da manhã eu fui para rua - nós tínhamos uma busca planejada.
Quando eu voltei, vieram a mim e disseram: "Nós temos uma informação operativa". Como se dissessem, antes de hoje, você por quatro dias foi ao hospital, e quando ausente, outros prisioneiros adicionaram este cartão. Apesar de que eu estive sozinho no isolador de penalidades.
Eu insistia, para que este cartão fosse excluído da colônia com investigação da FR, para que eles fizessem uma decifração, e veriam que isto não são minhas conversas. Mas eles, nos primeiros dias, destruíram este cartão.
Me transferiram à cidade Mikun - lá há uma colônia de correção feminina, Nº 31. Num pequeno alojamento encontram-se os criminosos mais perigosos. Eu fui mantido num confinamento solitário.
Por dois meses e 15 dias, eu estive sempre sozinho, não vi ninguém. Em torno de mim havia apenas livros. No início havia cartas. Mas, no último mês elas não chegaram, e as minhas não eram enviadas ou, elas começaram perder-se, como me explicavam - "Hoje nós tivemos algumas ações, talvez, aquelas pessoas as perderam", ou a mulher pediu, entregou-as através de seus funcionários, e eles as perderam.
Depois de um ano e três meses fui para Rostov. Foram, me entregues todos os meus pertences. Entre eles estavam todas as cartas, que eu envia às pessoas, e as que as pessoas enviaram a mim. Lá também havia o livro de Taras Shevchenko, que eu trouxe comigo.
Até este tempo vinham apenas as cartas da mãe.
À colonia penal também vinham as cartas, mas não por muito tempo - eu reclamava, escrevia cartas para todos os lugares. Então me proibiram as cartas, e elas cessaram completamente.
...O fato de que nós (com (Yuri Soloshenko - VU) lhes contamos - muito resumidamente.
Nós temos muito a dizer - sobre a ilegalidade na investigação na Rússia, e sobre história e destinos de outros rapazes e moças, que estiveram ao nosso lado. Isso deve ser passo a passo - para lembrar, sentir e transmitir a vocês. Dois anos e dois meses - não podem ser transferidos em 10 - 20 minutos.
NÓS, OS PRESOS POLÍTICOS, COMO UMA ÚNICA PESSOA NUM ÚNICO PAÍS, ALGO COMUM NOS UNE.
Yuri Danilovich (Soloshenko - VU)me chama de seu neto, eu a ele - meu avô.
Nós queremos nos reunir com todos os presos políticos, porque sentimos, que nós somos como única pessoa em um único país, temos algo em comum.
Portanto Oleg Sentsov para mim - é herói. Ele já é como parte da família. Nós faremos tudo, o que pudermos, para voltar para casa todos os moços. Esta é a nossa finalidade.
Eu vi Sentsov uma vez na Criméia em algum festival, lá nós nos conhecemos. Eu o vi apenas uma vez e, talvez, não lembraria, se não fosse esta a situação.
Então, você pergunta, o que dizer a outros ukrainianos que se encontram mantidos no cativeiro russo?
Melhor não se encontrar lá, porque um julgamento justo e um tratamento humano esperar lá é em vão.
Se o ukrainiano está em desesperança - que salve a vida, e nós o salvaremos do cativeiro.
E nós teremos uma pessoa saudável, um cidadão nosso.
Não precisa morrer, não precisa entregar sua vida, se você não pode, de modo algum, protegê-la.
Tradução: O. Kowaltschuk
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