segunda-feira, 27 de junho de 2016

De "temnyky" ao "Panamá": 7 vazamentos mais famosos.
Ukrainska Pravda (Verdade Ukrainiana), 17.06.2016
Roman Romaniuk
(Primeira parte) 


No mundo da política real prevalecem dinheiro sujo e ativos ocultos, esquemas de corrupção e crime, reuniões secretas e conchavos. 
Mas mesmo os maiores mistérios um dia se tornam conhecidos. A "Verdade Ukrainiana" resolveu lembrar os mais ressonantes vazamentos de informação secreta na história da política ukrainiana.

                                           Fitas de Melnychenko

    Sputnik

(Para quem não sabe, esta página trata do assassinato do jornalista Gongadze, ocorrido no governo do presidente Kuchma. Fato muito chocante, porque mais tarde foi encontrado o corpo sem a cabeça. OK).

"Eu jurei na lealdade à Ukraina e ao povo ukrainiano. Eu não violei o meu juramento. Eu não jurei a Kuchma, que iria executar as ordens criminosas. A este respeito , minha consciência está limpa..." - assim em 07 de dezembro de 2000 justificou suas ações o autor da mais famosa exposição política na história da Ukraina Mykola Melnychenko.

Uma semana antes desta declaração um dos líderes da oposição, Oleksandr Moroz, chocou toda Ukraina, e o mundo todo.

"Tendo razões suficientes, devo afirmar, que o cliente do sumiço do jornalista Georgy Gongadze é o presidente da Ukraina Leonid Kuchma, sendo que o cliente, sistematicamente controlava a execução de sua ordem.. No decurso da preparação e execução de sua ordem, desde o início e realização dessa encomenda, era o presidente da Administração Presidencial Volodymyr Lytvyn. O imediato desenvolvente do cenário e organizador da realização da operação é o Ministro do Interior da Ukraina Yuriy Kravchenko", - declarou Moroz da tribuna do Conselho em 28 de novembro.

Nos corredores do Parlamento ele explicou aos jornalistas, que recebeu do "funcionário do SBU" (Serviço de Proteção da Ukraina) anotações de conversas do gabinete de Kuchma, nos quais é claramente estabelecido, como o presidente exige "resolver-se" com Gongadze. Esses registros, que brevemente serão batizados "fitas de Melnychenko", foi destinado tornar-se um dos pontos de viragem da história atual.


No verdadeiro sentido fitas na posse de Melnychenko não havia. Segundo sua versão, ele usou um gravador de voz cifrado, que, supostamente, foram escondidos debaixo do sofá de Kuchma.

A partir do ano 2.000 "o escândalo do cassete" criou uma massa de diferentes versões e especulações. Se, na verdade, Melnychenko agia sozinho, como ele afirmava?

O falecido oligarca russo Boris Berezovsky, que sozinho gastou muito dinheiro para manter Melnychenko e descriptografar as fitas, mais tarde afirmava, que atrás de Melnychenko estava Kremlin. 

Diversos políticos ukrainianos apontavam para o possível envolvimento dos Estados Unidos, para onde o caído em desgraça major fugiu após a publicação dos registros das fitas. Ouvem-se dúvidas de que Melnychenko anotava algo, mas não era simplesmente escolhido "face" desta história.


Embora, em geral, isto não tem nenhuma importância, se olharmos para essência de registros publicados.


Isto é para Pechersk Tribunal Distrital, que se recusa reconhecê-los com as provas no processo contra Kuchma, tem sentido, se passou Melnychenko o devido processo, quando ele colocava seus ditafones. Para os cidadãos ukrainianos era e continua sendo importante, que eles viram claramente toda a podridão e horror do sistema da "autoridade pública" de Kuchma na Ukraina.

Que nome dar ao país, onde o presidente exige  do presidente de sua administração e ministro da principal agência de aplicação da lei para encontrar "chechenos, para sequestrar e expelir" jornalista?, e eles com as próprias mãos o estrangulam? Como denominar isto, mas o principal - como sobreviver a isto?


Muito rapidamente estas questões surgiram com muita gravidade. Já em 15 de dezembro de 2000 no Maidan em Kyiv aconteceu algo  nunca antes visto - milhares protestantes recusaram-se deixar a praça enquanto na Ukraina não houver justiça. Naquela ocasião havia a ação de protesto "Ukraina sem Kuchma", a qual, de fato, foi "repetição" da Revolução Laranja.

No entanto, para Melnychenko e suas fitas nem o segundo Maidan ajudou. Na primavera de 2016, já uma nova GPU ( Procuradoria Geral da Ukraina) cumpriu todas as formalidades, para declará-lo suspeito em "golpe estatal" e "traição ao Estado".

                                            Descobertos os segredos

   Mediaport.ua                                                                    

Os ukrainianos deram ao mundo algumas coisas, que nem sequer traduzem-se para outras línguas, mas assim se escrevem: "borshch", vareneky, etc.

Ukraina sob Kuchma-Medvedchuk também gerou um fenômeno para o qual em idiomas mundiais não se encontrou correspondentes. Somente quando na imprensa estrangeira apareceu a palavra "temnyky", então ela não causou nenhum orgulho ou sorriso, mas uma indizível vergonha e humilhação. (Escuro, mal explicado, feito por baixo dos panos, OK).

Por muito tempo sobre a existência na Ukraina de "temnyky
ninguém falava em voz alta. No construído estado por Kuchma-Medvedchuk, quem se atrevia ir contra o sistema, automaticamente incorria em perigo. Neste caso, podia-se falar não apenas sobre a destruição de negócios ou carreira, mas também sobre a destruição física.

Pela primeira vez na Ukraina falaram sobre "temnyky" em 2001. A imagem informativa de todos, estatais e particulares meios de comunicação, num único momento deixou de refletir a diversidade de pontos de vista e, gradualmente, começou lembrar um assunto. Como se fosse multiplicado a lição no xerox, para o estudo de um grupo.

Os jornalistas de diversos meios de comunicação, de repente, começaram a receber as mesmas "tarefas editoriais", e uma conferência de imprensa poderia ser terminada após as primeiras perguntas, porque a maioria do meios de comunicação interessavam-se pelas mesmas questões.

Depois disso na comunidade da mídia começaram a se espalhar rumores sobre misteriosos "temnyky", que a direção das redações recebe da meio secreta "comanda de Medvedchuk." 

Entre os milhares de jornalistas na Ukraina encontrou-se aquela, que ousou dar à "Verdade Ukrainiana" coleções completas de "temnyky". E fez isto, sabendo o risco que estava correndo. A Verdade Ukrainiana até hoje não nomeou sua fonte, embora já se passassem três presidentes.(O fato do texto dizer: "milhares de jornalistas", não é exagero. Eu consulto quatro edições, mas deve haver mais de dez edições maiores, do porte que eu consulto. E, em cada cidade e cidadezinha, há edições locais - OK).

Os primeiros "temnyky" publicados tornaram-se verdadeira sensação. Em primeiro lugar, a simples comparação mostrou uma absoluta convergência de relatórios de informação da imprensa e  anteriormente preparadas instruções. Segundo, os materiais publicados expuseram o lado secreto da política ukrainiana, na qual , naquele tempo, dominava Viktor Medvedchuk.(Lembrando, Viktor Medvedchuk é o famoso ukrainiano que é compadre de Putin. Atualmente ele não é ativo no governo ukrainiano, pelo menos não ocupa nenhum cargo . - OK).

Os "temnyky" foram escritos sob a forma de comentários e recomendações, mas todos, que os encontravam, sabiam a obrigação destas "recomendações".

Gradualmente começou a surgir "o comando de profissionais, que começou a trabalhar em apoio a imagem de Kuchma e Medvedchuk e servir aos seus interesses políticos.

Descobriu-se que, com o reconhecimento da estratégia e tática de controle total do espaço informativo, vigiavam estrategistas políticos russos, os quais desde aquele tempo já conseguiram tornar-se lendários - Marat Gelman e Igor Shuvalov. Outro pilar era o politólogo russo Gleb Pavlovsky. Eles trouxeram para Ukraina a tecnologia que já trabalhava com sucesso na Rússia.

Eles foram auxiliados por "nativos" Sergei Vasilyev, o qual Medvedchuk levou consigo à Administração Kuchma, e Mikhail Pogrebinsky, cujo centro de efetiva política de fato, ocupava-se com todo "trabalho negro".

No entanto nem a publicação dos "temnyky" e sua ilegalidade óbvia não mudou a situação. Pelo contrário, os políticos ukrainianos correram para aproveitar esta "melhor prática".

Por exemplo, em 2003, já o primeiro-ministro Viktor Yanukovych lançou uma nova onda de aprovação de tal tecnologia na imprensa regional. Para estes fins até criaram o "Grupo 300", igual o número no Gabinete do Governo, que carimbou seus "temnyky" nos jornais estatais.

Mudar a situação conseguiu apenas o Maidan. Mas punir alguém Ukraina não conseguiu até hoje.
 

                                                                Yanukovych e Tymoshenko   
                                                            
      Segodnya.ua                     

Até este período os políticos não apenas administravam o estado. Eles dirigiam.
Este desejo em nossa política pode fazer milagres, fazer de pessoas comuns, ditadores, e unir inimigos reconciliáveis. O exemplo mais flagrante disto são as negociações notórias sobre a criação da "shyrka" (gíria, significa amplo).

Em 2009 o conflito entre o presidente Viktor Yushchenko e primeiro-ministro Yulia Tymoshenko, que chegaram ao poder após a Revolução Laranja, transformou-se em guerra aberta. Tymoshenko começou procurar um aliado mais "previsível e confiável"

Para surpresa de todos este parceiro tornou-se o líder do "Partido das Regiões" Viktor Yanukovych, contra o qual esteve o primeiro Maidan. A união Tymoshenko e Yanukovych parecia não menos estranha, que a parceria entre Hitler e Stalin em 1939. Mas não importa o quão impossível isto poderia parecer, na primavera de 2009 os líderes do BYuT e Partido das Regiões seriamente e por longo tempo preparavam seu pacto "Molotov-Ribentrop".

Desde que no próprio acordo havia um ponto que proibia reconhecer publicamente até mesmo a existência de um acordo, então os detalhes daquelas negociações se tornaram conhecidos apenas depois da fuga de Yanukovych da Ukraina. Entre os deixados documentos no Meshyguirya, encontraram-se cópias do acordo sobre "shyrka".

E o encontrado documento completo revelou-se até mais chocante, que os conhecidos até então detalhes, que os jornalistas conseguiram descobrir ainda em 2009.

Em primeiro lugar Yanukovych e Tymoshenko planejaram governar indiviso no mínimo 20 anos, trocando um ao outro nos cargos de primeiro-ministro e presidente, Em 2009-2010 e 2014 tornar-se-ia presidente Yanukovych e o primeiro-ministro continuaria Tymoshenko. Depois disso eles deveriam trocar por dois períodos: em 1019 e 2024 o presidente seria a líder do BYuT , e o premier - o líder do Partido das Regiões.

Para esta designação a ambos os cargos, o Parlamento deveria mudar a Constituição. Em 2009, o número total de deputados, em ambas as bancadas era suficiente para alterar a Lei Básica. Para aprovar emendas à Constituição e garantir a Yanukovych o primeiro período presidencial, a plenipotência do Conselho previa-se estender por mais dois anos - até 2014.

Para que BYuT e PR pudessem garantir a eleição do presidente e do primeiro-ministro, eles formaram uma coalizão. O "acordo sobre a shyrka" proibia a cada um dos partidos deixar a coalizão sob quaisquer circunstâncias. Em todas as eleições BYuT e PR planejavam ir também como um único bloco.

Mas o mais repugnante parecia até não a divisão dos cargos estatais. No acordo Yanukovych-Tymoshenko Ukraina era dividida, de fato, em dois principados separados, onde foi contado cada "escravo". A cada força política pertencia o controle sobre metade das pessoas do país: em diversas variáveis Yanukovych recebia 21-22 milhões de cidadãos, Tymoshenko - 22-25 milhões.

No entanto, a história tem a capacidade mágica de repetir-se. A união de Hitler com Stalin inesperadamente entrou em colapso em junho de 1941, quando a todos parecia, que dois tiranos definitivamente dividiriam o mundo entre si. Da mesma forma entrou em colapso a "shyrka" - a um passo em direção ao domínio. Como aforisticamente disse a própria Tymoshenko, "perdeu-se tudo". 

Tradução: O. Kowaltschuk

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