Ukrainska Pravda (Verdade Histórica), 02.12.2012
Timothy Snyder, Ph.D., professor da Universidade de Yale (EUA)
Nas primeiras semanas de 1930, a coletivização na Ukraina e em toda a União Soviética realizava-se com grande velocidade. Moscou enviava planos de coletivização, por cuja realização respondiam os líderes partidários locais.
A liderança ukrainiana prometeu coletivizar a República no prazo de um ano. E, os ativistas locais, para adquirir créditos perante seus superiores, acrescentavam ainda mais esforços, prometendo finalizar a coletivização em nove-doze meses. Sob ameaça de envio para regiões distantes, eles obrigavam os aldeões entrar nas fazendas coletivas. Em caso de necessidade usavam a força, incluindo a milícia e os "tchekistas" ( polícia secreta).
Em auxílio aos coletivizadores, à aldeia enviaram 25 mil trabalhadores adicionais. Trabalhadores que a propaganda convencia, que exatamente os aldeões eram culpados da escassez de alimentos nas cidades.
Em meados de março de 1930, setenta e um por cento das terras aráveis, na União Soviética era, pelo menos formalmente, coletivizada. Isto significava que a maioria dos agricultores individuais perdeu suas terras e foi obrigada a se juntar a fazendas coletivas. Direitos independentes, a seu exclusivo critério para cultivar a terra, eles já não possuíam. Agora eles eram membros das fazendas coletivas. Sua atividade, salário e alimentação dependia das autoridades.
Os aldeões perderam o seu gado e implementos agrícolas e encontraram-se dependentes da economia de controle político - estações de máquinas e tratores, onde normalmente faltava equipamento. Mas lá, nunca faltou funcionários do partido e supervisão da milícia.
Os agricultores ukrainianos ficaram chocados com a perda de suas terras, talvez, até mais que os russos, onde tradicionalmente as posições fortes ocupavam as entidades comunais. Toda sua história era a luta contra os latifundiários, luta que eles finalmente venceram graças à Revolução bolchevique.
No entanto, nos primeiros anos pós-revolucionários, de 1918 a 1921, os bolcheviques requisitavam produtos alimentícios aos agricultores para as necessidades da guerra civil. Assim, os aldeões tinham todos os motivos para tomar cuidado com o Estado soviético
A política de compromisso de Lenin nos anos 1920 receberam favoravelmente, embora os aldeões não sem motivo temiam, que qualquer dia tudo poderia voltar atrás.
NEP - revanche das empresas privadas na URSS (NEP - nova política econômica).
Em 1930 a coletivização parecia-lhes "segunda servidão", um novo jugo, apenas desta vez lançada não por ricos proprietários de terras, mas pelo Partido Comunista. Os camponeses ukrainianos temiam perder a dificilmente conquistada independência mas, mais ainda temiam a fome e pela sua alma imortal.
As comunidades rurais da União Soviética permaneceram, em sua maioria, comunidades religiosas. Muitas pessoas jovens e ambiciosas, sob influencia do ateísmo oficial, mudavam-se para grandes cidades ukrainianas, para Moscou ou Leningrado. Embora a Igreja Ortodoxa tenha sofrido considerável pressão do regime bolchevique ateísta, entre os aldeões prevalecia sua fé e muitos que aceitavam a entrada às fazendas coletivas percebiam isto como um pacto com o diabo.
Alguns acreditavam que Stalin veio ao mundo sob o disfarce de ativista, e o livro dos dias de trabalho - era o livro do inferno que promete sofrimento e maldição. Novas estações de máquinas e tratores pareciam embaixadas do inferno.
Os aldeões poloneses na Ukraina, que pertenciam à Igreja Católica Romana, frequentemente percebiam a coletivização à luz apocalíptica. Certo polonês explicava a seu filho, porque eles não entrariam na fazenda coletiva: "Eu não venderei minha alma ao diabo".
Reconhecendo a profunda religiosidade dos camponeses, ativistas do partido propagavam "primeiro mandamento de Stalin", como eles chamavam isto: a fazenda coletiva, primeiro dá ao Estado, e apenas secundariamente às pessoas. Os aldeões sabiam que o primeiro mandamento bíblico diz: "Não terás outros deuses diante de mim".
A aldeia ukrainiana perdeu seus líderes naturais, proprietários bem sucedidos - eles foram mandados aos acampamentos durante a campanha anti "Kurkulh" (Kurkulh era o aldeão que possuía maiores posses - OK).
Eles tentavam manter as suas hortas, pequenas ilhas de autonomia. Preferiam ficar longe do Estado, o qual personificava as fazendas coletivas e estações de máquinas e tratores. Eles vendiam ou matavam o gado para não entregá-lo às fazendas.
Os homens enviavam as mulheres e filhas para falar contra os ativistas do partido e da milícia, acreditando que o risco para as mulheres era menor. Às vezes, homens vestidos de mulheres, esperavam uma chance para furar um comunista local com um forcado.
Mas os aldeões quase não possuíam armas, e lhes faltava boa organização. O Estado tinha monopólio sobre as armas de fogo e recursos técnico-materiais. As performances camponesas registravam um forte aparato policial do Estado; a KGB, possivelmente, não entendia os motivos dos camponeses, mas via a direção geral de suas projeções.
"Ainda em 1930 contra o governo soviético rebelou-se um milhão de ukrainianos".
Em 1930 OGPU (Administração Conjunta da Política Estatal) registrou quase um milhão de casos de resistência individual. Em março do mesmo ano, quase metade de agitações camponesas em massa na União Soviética ocorreu na Ukraina. Camponeses ukrainianos fugiam para oeste, à vizinha Polônia. Seguindo seus exemplos iam aldeias inteiras: levantando estandartes religiosos, cruzes ou simplesmente bandeira negra, as pessoas iam para oeste, em direção à fronteira. Milhares de pessoas mudaram-se para Polônia onde já sabiam sobre a fome na Ukraina.
A fuga dos camponeses à Polônia transformou-se num problema internacional, a situação preocupava muito Stalin e Politburo. Isto significava que o governo polonês, que na época entrou em curso da compreensão política com a própria e numerosa minoria ukrainiana, soube sobre o curso e as consequências da coletivização.
Os guardas de fronteira poloneses questionavam os refugiados, recebendo informações sobre o andamento e falhas da coletivização. Alguns aldeões pediam à Polônia para intervir e colocar fim ao sofrimento dos camponeses.
Os refugiados deram à Polônia uma poderosa arma de propaganda contra União Soviética.
Durante o governo de Josef Pilsudski, Polônia não planejava guerrear com a União Soviética, mas apresentava planos de sua desintegração segundo linhas nacionais e fazia alguns passos nessa direção. No tempo em que os ukrainianos fugiam da SSR, Polônia enviava, em direção oposta seus agentes, que deveriam empurrar a revolta ukrainiana. (Revoltar-se iam com mãos vazias contra inimigo numeroso e armado? - OK).
Nos cartazes poloneses Stalin era chamado "Tzar - Fome" - ele exporta os grãos, enquanto seu povo morre de fome. Em março de 1930, os membros do Politburo temiam que "o governo polonês pudesse intervir".
XXX
Vysokyi Zamok (Castelo Alto),09.12.2015
Maxim Mishchenko
O processo da decomunização continua. No entanto, ele começou a muito tempo, mesmo antes da proclamação da independência da Ukraina, no tempo em que evitar isso era impossível, porque a poluição com comunismo-leninismo afligia. Referência aos nomes dos jornais na Ukraina, em tempos soviéticos
Na Ukraina havia muitos jornais republicanos, estaduais, citadinos e distritais, publicados em língua ukrainiana, russa, húngara e moldava. Todos com conteúdo único e única orientação metodológica.
Forçavam aceitar, que o comunismo já avistava-se no horizonte. Em tempos da estagnação de Brezhnev, na Ukraina havia 15 jornais com o título "Estrela do Comunismo", dez - simplesmente "Estrela" e seis "Estrela...." de determinada região. Também "Estrela de Outubro" e cinco - "Estrelas de Outubro". Construíam o futuro brilhante para o mundo todo, como evidenciado por 13 "Construtores do comunismo" e um "Edificador do comunismo". Determinavam o roteiro: quatro "Pelo Caminho do Comunismo" e "Caminho do Comunismo", seis "Caminhos leninistas", onze "Caminhos de Lenin", e "Pelos Caminhos de Ilyich". Nenhuma perversão, apenas "Em frente" - havia 13.
Sobre a SSR ukrainiana esvoaçavam 10 "Bandeiras de Outubro" e "Bandeiras de Lenin", uma de Ilyich" e uma de "Leninismo". Para afinal, não se desviar, brilhavam dos jornais "Raio do comunismo" e "Raio leninista", e também "Raio de Outubro", "Raio de Ilyich" e "Raio Ilyich". Ainda 11 "Bandeiras Vermelhas" e 6 "Martelos e foices".
Havia na Ukraina sete "Verdades leninistas", mas ao todo, com designação de certa região, aqui publicavam 50 "Verdades". Incluindo duas "Verdades de Dnieper" e 4 "Dnieper".
Ativamente usava-se o epíteto "soviético". Nove jornais chamavam-se "Aldeia soviética", 6 "Palavra soviética", 7 "Vida soviética", 2 "Bandeira soviética" e 2 "Caminhos soviéticos". Alguns nomes causavam sorrisos em leitores locais: 4 "Verkhovyna Soviética" (Verbenona - lugar elevado (highland) nos Cárpatos ukrainianos -OK), "Hutsulshchyna Soviética" (também nome de região ukrainiana - OK) e até "Cárpatos soviéticos"!
Ao todo, nos nomes de jornais soviéticos da Ukraina, derivados das palavras "Lenin" e "Ilyich" usavam-se 88 vezes, de "comunismo" - 66.
Imediatamente, após a entrada do Exército Vermelho nas terras ocidentais ukrainianas, ainda antes de sua adesão "oficial" à União Soviética", os astuciosos ideólogos comunistas fundaram aqui os jornais regionais, atribuindo-lhes "boas e felizes" denominações, que deveriam indicar as novas realidades. Em 25 de setembro de 1939 em Lviv começou a publicação do "Ukraina Livre", e em 3 de outubro, do mesmo ano, em Ternopil - "Vida livre". Com o passar de cada ano da "construção do comunismo", deles cada vez mais caçoavam, especialmente, quando começaram perseguições e prisões em massa dos dissidentes ukrainianos e russificação total da Ukraina.
Ocorriam também casos curiosos. Nos anos 1970 - 1980, o redator da "Ukraina Livre" era Alexander Kosovan, cuja irmandade jornalistica (e não apenas ela) respeitava e admirava. Sob sua liderança, a tiragem deste jornal regional que publicava-se cinco vezes por semana, ultrapassou 200.000 cópias.
O próprio Alexander Romanovych, às vezes dizia, que seu antecessor era o famoso cossaco Ivan Kossey, daí o seu sobrenome. Certa vez, Kosovan, com os jornalistas da "Ukraina Livre" veio a uma aldeia, para o tradicional, naqueles tempos, encontro com os leitores. Na periferia saiu do carro e foi à pé, observando as casas. No caminho encontrou um idoso morador, o qual, com toda certeza, lembrava os esconderijos do UPA (Exército Insurgente Ukrainiano) e, talvez, ele mesmo tivesse sido um insurgente. O redator, primeiro deu a mão ao idoso e com sua característica e sonora voz cumprimentou: "Desejo-lhe boa saúde! Sejamos conhecidos! Eu - cossaco Kosovan da "Ukraina Independente"! O idoso, momentaneamente entorpecido, ficou feliz.
No entanto, haviam nomes neutros, o que, posteriormente, ajudava a estes jornais evitar renomeação inevitável. No jornal local "Kolos" (espiga), na cidadezinha Sakhanovshchyna, da região de Kharkiv começava sua profissionalização no jornalismo o atual docente de teoria e prática do jornalismo da Universidade Ivan Franko, de Lviv, Yuri Vashkivskyi.
Na gazeta regional com o mesmo nome - "Kolos", na região natal Zalischuky, em Ternopil, publicava suas primeiras notas o docente do mesmo departamento Igor Lubkovych,
Há, na Ukraina um jornal regional, que é publicado desde 1919, mas nunca mudou seu nome. Este jornal é publicado em Cherkasy e denomina-se "Terra de Shevchenko" - para todo o sempre.
Tradução: O. Kowaltschuk
Nenhum comentário:
Postar um comentário