quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Fome na URSS. Trecho do livro de Timothy Snyder" "Terras Sangrentas" (Blood of the Earth)
Ukrainska Pravda/Verdade Histórica, 02.12.2012.
Timothy Snyder, Ph.D., professor da Universidade de Yale (EUA).


Segundo a teoria de Stalin, os agricultores morriam de fome em oposição ao socialismo e sabotagem, do lado dos nacionalistas ukrainianos. Kaganovich assegurou-lhe, que as conversas sobre ukrainianos no papel de "vítimas inocentes" - simplesmente "desculpa podre" do Partido Comunista da Ukraina...

A "Verdade Histórica" com a permissão da editora "Grani-T" oferece aos leitores da "Verdade Ukrainiana" o primeiro capítulo do livro do historiador americano Timothy Snyder "Terras Sangrentas".
(Prezados, o texto é bastante longo, vou traduzir e publicar em partes - OK).

Fome na União Soviética

1922 foi, no mundo ocidental, o ano da fome. Nas ruas americanas e cidades européias, andavam sem destino muitas pessoas, que perderam o trabalho. Elas, ficavam horas nas filas, por comida. O jovem jornalista galês Gareth Jones via, como os desempregados alemães reuniam-se em Berlim para ouvir Adolf Hitler.

Em Nova York, ele ficou impressionado com a impotência dos trabalhadores americanos no terceiro ano da Grande Depressão: "Eu via centenas e centenas de pessoas infelizes na fila, muitos usando roupas que já foram boas, todos eles esperando por seus dois sanduíches, donuts, uma xícara de café e um cigarro.

Em Moscou, onde Jones veio em março de 1933, a fome nos países capitalistas era motivo de alegria. 
Parecia, que a depressão profetiza revolução socialista mundial. Stalin e seus apoiadores elogiavam o seu inevitável triunfo do sistema, que eles construíram na União Soviética.

Mas em 1933 foi um ano de fome também em cidades soviéticas, particularmente na SSR ukrainiana. Em Kharkiv, Kyiv, Stalino, Dnipropetrovsk, centenas de milhares de pessoas ficavam nas filas por um pedaço de pão.

Na capital de Kharkiv, Jones viu o quadro mais triste. Pessoas, às 2:00 horas da madrugada entravam na fila de uma loja que abria às sete da manhã. Diariamente nas filas pelo pão, ficavam quarenta mil pessoas que, desesperadamente, esforçavam-se para manter seu lugar. Agarravam-se ao cinto de quem estava à frente Algumas pessoas enfraqueceram tanto devido a desnutrição, que não conseguiram ficar em pé, sem ajuda.

A espera durava o dia todo, às vezes dois. As mulheres grávidas e veteranos inválidos da guerra não tinham autorização especial e eram obrigados a entrar nas filas, se queriam receber alguma comida. Às vezes alguma alguma mulher gritava e seu gemido perpassava toda fila, como um medo primitivo de alguma criatura isolada.

As pessoas nas cidades ukrainianas temiam perder o lugar na fila do pão, temiam a morte pela fome. Elas sabiam, que a cidade lhes dava a esperança para alimento. As cidades ukrainianas cresceram rapidamente nos cinco anos anteriores, convencendo os aldeões, que tornavam-se operários e funcionários.

Crianças de camponeses ukrainianos de ontem, juntamente com os judeus, poloneses e russos, que viviam em todas estas cidades, de há muito, tinham ao menos comida, que era vendida nas lojas. Seus parentes nas aldeias não tinham nada. Situação incomum. Normalmente, durante os períodos da fome, os citadinos salvavam-se nas aldeias, e não ao contrário.

Na Alemanha ou nos Estados Unidos os agricultores quase nunca conheceram a fome, mesmo durante a Grande Depressão. Os trabalhadores e funcionários nas cidades precisaram vender maçãs, ou roubá-las, mas algures, em Altelandi ou em Iowa existiu um pomar, silo ou alguma despensa.

Os cidadãos ukrainianos não tinham para onde ir, a aldeia com nada lhes podia ajudar. A maioria dos citadinos possuía cartões para produtos, sem os quais era impossível receber alimentos. Este papelzinho lhes dava a única chance para sobrevivência, e eles sabiam isso muito bem.

Para as provas não precisava ir longe. Na fila do pão os aldeões mendigavam migalhas. Numa cidade, uma mocinha de 15 anos implorou o lugar na cabeça da fila, ela foi morta pelo vendedor. As donas de casa citadinas, viviam como as mulheres rurais, morriam de fome nas calçadas.

Indo para escola pela manhã, os estudantes viam pessoas agonizando, mas voltando após as aulas - cadáveres. De acordo com as palavras de um "komsomolets" (Membro do Komsomol - liga comunista jovem da URSS - OK), os filhos dos camponeses lembravam "esqueletos vivos".

Um membro do Partido na industrial Stalino (hoje Donetsk) chocava-se com os cadáveres dos mortos pela fome, que ele encontrava em sua varanda. Casais que passeavam nos parques, não podiam deixar de ver as terríveis cenas de escavação de sepulturas. Médicos e enfermeiros foram proibidos de tratar (ou alimentar)  pessoas famintas em hospitais. Milícia apanhava as crianças famintas nas ruas e levava-as para longe da cidade.

Nas cidades ukrainianas milícia detinha várias centenas de crianças por dia; num dia no início de 1933 a milícia de Kharkiv devia cumprir a cota de duas mil pessoas. Em qualquer dia, nos barracos de Kharkiv esperavam pela morte aproximadamente vinte mil crianças. Elas pediam aos milicianos, para que lhes permitissem, ao menos, morrer ao ar livre: "Deixe-me morrer em paz, eu não quero morrer neste barraco apertado".

A fome nas cidades da Ukraina Soviética, não tem nenhuma comparação com a fome nas cidades ocidentais. Em 1933, na Ukraina de fome morreram dezenas de milhares de citadinos. Mas, a maioria dos mortos na república foram os aldeões - pessoas, cujo trabalho dava pão aos citadinos. A cidade ukrainiana vivia precisamente porque, a aldeia ukrainiana morria.

Imprensa da SSR (República Socialista Soviética da Ukraina) 1932-1933: Em Kharkiv abrem-se novos restaurantes.

Os citadinos não podiam deixar de ver a indigência dos aldeões, que, apesar de toda lógica, abandonaram seus campos em busca de alimentos. A estação ferroviária em Dnipropetrovsk estava superlotada pelos camponeses famintos, tão fracos, que já não podiam pedir esmolas.

No trem Gareth Jones encontrou um aldeão, que conseguiu obter um pouco de pão, que foi confiscado pela milícia. "Eles pegaram meu pão", - começava ele novamente e novamente, sabendo, que com nada não ajudará sua família. Na estação Stalino, estonteado até a morte, o aldeão cometeu suicídio, pulando do trem. Esta cidade, capital industrial do sudeste da Ukraina, fundou nos tempos czaristas John Hughes, industriário de Welsh, com quem trabalhou a mãe da Gareth Jones. A cidade, inicialmente chamaram Uzivka, depois renomearam para Stalino (Agora ela chama-se - Donetsk).

O primeiro plano quinquenal stalinista, foi concluído em 1932, e deu início ao desenvolvimento industrial, que foi possível graças a pobreza popular. A morte dos aldeões próximo a estrada de ferro tornou-se uma evidência de terríveis contrastes.

Ao longo de toda Ukraina soviética os passageiros tornavam-se testemunhas de incidentes fatais. Os famintos aldeões iam às cidades ao longo da estrada de ferro e desmaiavam de fraqueza diretamente nos trilhos. Em Khartsyzk, os aldeões, que foram tocados da estação, enforcaram-se nas árvores vizinhas.

O escritor soviético Vasily Grossman, retornando de seu nativo Berdychev, viu, como a mulher pedia pão através do vidro de seu compartimento. 

No trem os passageiros disseram: "Sua filha não está com fome, vocês lhe deram comida demais".

O emigrante político Arthur Koestler, que havia estado na União soviética para ajudar a construir o socialismo, viu um quadro semelhante. Como lembrava mais tarde, próximo a estação de Kharkiv uma aldeã mostrava "na janela do vagão crianças com enormes cabeças, membros inchados e indisciplinados, agudos abdomens". Crianças ukrainianas, segundo suas palavras, aparentemente eram como "embriões alcoólicos engarrafados".

Passarão muitos anos, antes que estas pessoas, testemunhas morais do século XX, escreverão sobre o que viram.

Citadinos estão acostumados ver, como os aldeões no mercado vendem seus produtos. Em 1933 os aldeões vinham para os mercados familiares não para vender, mas para pedir. Nas praças do mercado, não havia agora nem produtos, nem compradores, preenchia apenas o caos da morte. Únicos sons que podiam ser ouvidos pela manhã, chiados dos moribundos, deitados em farrapos, que um dia já foi vestimenta.

Uma manhã da primavera, entre pilhas de cadáveres no mercado de Kharkiv, um bebê sugava o seio da mãe, cujo rosto já era de um cinza mortal. Transeuntes já viram isto anteriormente - não apenas uma massa de cadáveres, não simplesmente uma mãe morta e um bebê vivo, mas exatamente a mesma cena: uma boca pequena, últimas gotas de leite, mamilo frio. Os ukrainianos tinham um nome para isto. . Eles diziam: "Aqui estão os primeiros brotos da primavera Socialista".

***
A fome em massa de 1933 foi o resultado do primeiro Plano quinquenal de Stalin, que durou nos anos de 1928 - 1932. Nestes anos Stalin conquistou toda a plenitude do poder partidário, começou uma política forçada de industrialização e coletivização e transforou-se num pai rigoroso da população exausta. A economia de mercado ele transformou em planejada, os agricultores transformou em escravos, Sibéria e Cazaquistão transformou em campos de concentração. Em resultado de sua política, dezenas de milhares de pessoas foram assassinadas, centenas de milhares perderam a saúde, milhões foram colocados à beira da inanição.

O amanhã significava a criação do regime comunista, o que necessitava uma indústria pesada; isto, por sua vez, exigia coletivização da agricultura, que necessitava controle sobre o maior grupo social da União Soviética - o campesinato.

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O chefe da Administração Regional Militar-Civil de Donetsk Pavlo Zhebrivskyi acredita que as consequências das eleições em Mariupol e Krasnoarmiysk deixarão por muito tempo uma lembrança desagradável.
Ukrainska Pravda (Verdade Ukrainiana), 01.12.2015

As eleições locais, nestas regiões ocorreram no domingo passado.
"Se anteriormente no Donbas tudo era resolvido com recursos administrativos, agora será pelo administrativo econômico. 
Na verdade, o voto foi através da empresa, tudo foi coação", - declarou Zhebrivskyi. "Eu, talvez, direi coisas desagradáveis à população de Donetsk. O provérbio "Donbas ninguém colocará de joelhos" é muito exagerado. A maioria dos trabalhadores, de joelhos nunca se ergueu. Eles são completamente dependentes do empregador, e este é o problema. Se haverá futuro na região, depende do fim da monopolização da economia local", - acrescentou ele.
"Muito se deseja, que os prefeitos sejam parceiros do governo, das organizações internacionais para restauração de Donetsk. Ser um líder da comunidade - é uma honra. Mas, quando a cidade é dirigida por um grande negócio, isto não é - desenvolvimento, isto é - dependência", - concluiu o funcionário


A sociedade exige de Poroshenko, Yatseniuk e Companhia
Ukrainska Pravda (Verdade Ukrainiana), 01.12.2015

A comunidade exige uma verdadeira luta contra a corrupção, a realização de reformas reais e garantia da transparência do governo para novamente não levar o povo à revolução.

Além disso, no aniversário da Marcha de Milhões das autoridades exigem levar à justiça as pessoas que levaram à violência e assassinatos no Maidan.

Este apelo emitiram os ativistas cívicos e "políticos jovens" - especialmente deputados do "Bloco Petro Poroshenko" Mustafa Nayem, Serhiy Leshchenko, editor chefe da "Verdade Ukrainiana Sergil Musaev´Borovik, jornalistas Vitaly Sych e Volodymyr Fedorin, um dos iniciadores da Plataforma Social "Nosso país" Valery Baker, gerente artístico Volodymyr Kadyhrob.

Esta declaração publicam os usuários das redes sociais.

"Dois anos atrás Ukraina fez sua escolha histórica. As pessoas tomaram as ruas exigindo justiça e proteção de seus direitos", - dizem os ativistas e acentuam, que durante este tempo os cidadãos conseguiram muita coisa, mas por tudo a nação ukrainiana "pagou e continua pagando um preço colossal".

Eles reconhecem, que lhes era difícil imaginar, que depois das vítimas da revolução os "funcionários e próximos do governo homens de negócios continuarão saquear o país, escondendo-se sob trajes bordados, Maidan ou ATO, que ocuparão cargos importantes no Estado, partícipes da construção da ditadura, que o "principal parceiro do governo novamente não será a sociedade, mas um círculo estreito dos mesmos oligarcas que esgotaram o país sob o regime anterior. Ativistas e políticos apresentam uma série de demandas ao presidente, primeiro ministro, ministros e deputados.

"Nós não queremos uma nova revolução, que V. Ex.a, inconscientemente traz. Nós estamos prontos para assumir a responsabilidade pelo futuro do nosso país. Por isso nós pedimos, nós exigimos:

1. Começar uma verdadeira luta contra a corrupção. Concentrar-se nos altos escalões do governo e quebrar a garantia mútua, designando um efetivo procurador-geral, concluir a lustração e reformar o país segundo padrões europeus.

2. Restaurar a justiça. Trazer à responsabilidade as pessoas que roubaram o país, conduziram à violência e assassinatos no Maidan.

3. Atingir o Estado de Direito. Intensivamente e definitivamente realizar a reforma judicial, na qual foram dados passos importantes, porém a sociedade não sente confiança no sucesso.

4. Garantir a transferência do governo. Nomear publicamente para cargos públicos, findando com a prática de acordos secretos e divisão de cargos de acordo com cotas políticas em favor de cardeais cinzentos.

5. Anunciar um plano claro. Como podemos superar juntos a crise econômica e humanitária, como planejamos voltar a Criméia e os territórios ocupados", - diz a declaração.

Vossa Ex.a ainda tem escolha, como entrar na História como reformador real que sacrificou interesses pessoais para o futuro do país, ou aquele que conduziu o país ao colapso por causa da corrupção e má gestão". - diz o plano.

Os autores enfatizam, que as pessoas vêem tudo e compreendem - e é engano acreditar, que ainda há tempo.

"O questionamento da sociedade, proclamado durante a Revolução da Dignidade não desapareceu. Hoje, essas exigências unem a absoluta maioria do povo ukrainiano. E, cada dia de atraso mata suas chances de retornar a confiança das pessoas." - Diz a declaração.

Tradução: O. Kowaltschuk

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