quarta-feira, 8 de julho de 2015


Sherokyne: paisagem de filme com vista para o mar.
Tyzhden. ua (Semana ukrainiana), 04.07.2015
Elena Maksimenko
Como vive a aldeia que se tornou epicentro dos conflitos de guerra.


Exatamente assim, não com janelas envidraçadas mas com madeira compensada, sacos com terra - como for possível, porque o vidro em Sherokyne e seus arredores - aldeias Sopyn e Berdyansk é um luxo pouco permitido. Na próxima descarga do tanque ou "saushka" (assim carinhosamente denominam a autopropulsora de montagem de artilharia que dispara projéteis de calibre 150 que se espalharão com o choque da onda e dará preocupação desnecessária aos médicos que estão de guarda na linha de frente. 
Mas a paisagem de filme com vista para o mar - é linda.
Você pode imaginar-se morador despreocupado da mansão de luxo: se, claro, acordar naturalmente em vez de tiros, que agitam as placas de gesso cartonado do palácio de fadas. E ir até as águas do mar já não é possível. Os projéteis não rompidos na praia e no mar aguardarão possivelmente os viciados em adrenalina, aos demais resta admirar as vastas extensões apenas de longe.


Os primeiros
Estas terras - parte de Sherokyne, também Sopene e Berdyansk - foram recuperados pelos combatentes ukrainianos, dos terroristas, ainda em fevereiro de 2015. O primeiro a entrar aqui foi o batalhão "Azov". Os invasores governaram aqui de setembro até o final de janeiro.

A artilharia inimiga gradualmente equipara esta região à terra , encurralando as pessoas nos porões. Todos os combatentes como se antecipassem decepção: "Deixe Poroshenko abandonar Mariupol... isto com certeza não perdoarão. Então, realmente, iremos a Kyiv!" - assim pode caracterizar-se o geral estado de espirito.

Sherokyne hoje, é ukrainiano apenas parcialmente: grande parte do território permanece sob controle do inimigo. De acordo com os rapazes, para "limpar" o resto da aldeia, precisaria menos de um dia, recursos e entusiamo para isso há. No entanto conquistar o ponto alto além de Sherokyne, do alto de Novoazovsk - praticamente irreal: ele é protegido por uma grande força de artilharia pesada. E sem isto recuperar a aldeia não tem sentido, porque de lá ela  é fuzilada.

"Nós podemos, com as forças disponíveis, repelir o inimigo a qualquer momento, mas será necessário avançar - diz o capitão Kirt, soldado do batalhão "Azov", um dos heróis, que no ano passado reconquistaram estas terras - No enanto, recuperando a aldeia, nós nos encontraremos, como agora os separatistas, no vale. Estaremos constantemente vulneráveis à artilharia, e isto levará a numerosas vítimas. Hoje, segundo a estatística, para cada ferido e morto nosso, o oponente perde de sete a dez pessoas. Se nós nos encontrarmos no buraco, a vantagem passa para eles".

OS SOLDADOS ESTÃO CONVENCIDOS DE QUE SHEROKYNE TORNOU-SE LIMITE SIMBÓLICO, COMO ANTES FOI O AEROPORTO DE DONETSK.

Sobre as posições ukrainianas trabalham morteiros, lançadores de foguetes, tanques, unidades de artilharia autopropulsada. Batem normalmente do arco Sahanskyi. Às vezes combatem com o uso de armas de pequeno porte, numa distância extrema de 300 metros... Os bombardeios geralmente sobre construções e abrigos, mas também pelas estradas e ruas, tornando-as intransitáveis. Evacuar feridos, nesse caso, não haverá nenhuma chance.


Recuo ou desmilitarização?
Três meses atrás os combatentes de "Azov" ocuparam as aldeias Pavlopil e Pyshchevyk, que ficam ao lado, mas as deixaram sob as ordens de comando. Assunto de provável desmilitarização de Sherokyne paira no ar.

"Em Pavlopil, atualmente, os exércitos ukrainianos e inimigos estão ausentes - avisa o jornal da frente de Azov, chamado "Sol Negro". - Esta localidade habitacional é constantemente atacada pelos terroristas, mas estes fatos não recebem atenção suficiente e estas questões não se decidem, nem pela liderança política, nem pelas missões internacionais. Os terroristas não ocupam posições em Pavlopil, porque isto abrirá uma saliência em sua linha de defesa que se tornará extremamente vulnerável. Os exércitos ukrainianos não ocupam Pavlopil apesar dos benefícios de tal ação no plano de guerra, devido a impossibilidade de receber tal ordem. No caso de entrega de Sherokyne, o inimigo terá possibilidade de ocupar Pavlopil e realizar travessia através do rio. Surgirá ameaça direta de ofensiva da frente completa do inimigo. Mariupol encontrar-se-á sob golpe direto".

Agora, o único problema no nosso regime de cessar fogo - diz o capitão Kirt . - Pois é necessário constante movimento, manobras. Com o que hoje nos ocupamos - é um disparate: no século XXI conduzir, como durante a Primeira Guerra Mundial, uma guerra posicional, permanecendo no local."

O longo bombardeio da artilharia inimiga sem permissão a resposta parece escárnio. É duvidoso que aqui é apropriado falar sobre "traição" ou acordo, trata-se antes sobre problemas de logística: depois de 30 - 40 minutos de trabalho da artilharia autopropulsora a ordem esperada finalmente vem... No entanto... o fogo inimigo não queima menos.

Se Rússia não interferir, nós teremos força para recuperar o controle sobre os territórios ocupados - diz o capitão do "Azov", - Mas a interferência acontece até agora, o fluxo constante através da fronteira, sente-se a mão do exército irregular do vizinho... Daquele lado militares profissionais, apenas eles lutam sem as divisas militares da FR. Os locais são aproveitados apenas como infantaria, ou carne".

Após particularmente violentos ataques "daquele lado" vem o pedido de "regime do silêncio. Ele pode durar de duas horas a dois dias. A ele trazem BK!" ridicularizam os combatentes. E esta incerteza prolongada, essa expectativa afeta os nervos e esgota, com certeza, mais pesadamente que os projéteis de calibre 150... "A dificuldade é que: o Estado Maior do setor M processa informações sobre o fato de que nos atacam da artilharia inimiga, e dá ordem para atacar em resposta , muito atrasada, - diz Kirt. - Nós temos condições para responder, mas todo esse procedimento para abrir fogo é muito absurdo... Os separatistas disparam e recuam às posições porque utilizam artilharia autopropulsora, de rápida manobra, e nós não podemos reagir a eles de forma eficaz".


Guerra e pessoas
Da população local nas aldeias da linha de frente permanece não mais de meia centena. Do próprio Sherokyne (de acordo com as fontes militares) todos os civis foram evacuados, recentemente. No entanto, a esta evacuação antecederam muitas mortes: Cruz Vermelha especialmente pedia "regime de silêncio", para remover os corpos de residentes que morreram durante algumas semanas. 

Como é usual nas zonas costeiras, as pessoas aqui ocupavam-se com turismo: acampamentos infantis, centros de recuperação da saúde, sanatórios, já pelo segundo ano assustam com janelas vazias. Em tempos melhores os "nativos" alugavam quartos e apartamentos, comercializavam com frutas e verduras. Hoje, nas aldeias permanecem aqueles que não têm para onde fugir. As pessoas sobrevivem graças aos próprios quintais , e verduras compartilham com os soldados e médicos. Aqueles, por sua vez, apoiam os pobres com alimentos e medicamentos.

Dasha, 10 anos, presa em sua cadeira de rodas. Seus pais recebem míseros pagamentos e benefícios sociais. Vivem, principalmente, da agricultura de subsistência. O filho mais velho faz curso para cozinheiro. Com notável  entusiasmo. "E por onde anda Eugênio? Com ele, tudo bem? Porque há muitos dias não vem nos visitar...", interessa-se a animada anfitriã, quando um grupo de soldados traz ajuda humanitária (livros infantis, brinquedos, alimentos). Eugênio está em rodízio. A mulher garante que, quando seu preferido está aqui, eles ficam mais tranquilos.  Na varanda há uma coleção de fragmentos de minas: chegam até aqui. Na casa não há porão. então durante o tiroteio, colocam travesseiros ao redor da menininha, dão calmante e rezam - e o quê resta?

Na boca de todos os locais duas perguntas: quando isto vai terminar e a quem é necessário. Nós não podemos responder. Apenas garantimos que tudo ficará bem.

A pouca distância - casas de luxo. Mais precisamente, eram de luxo, hoje danificadas com minas e repetidamente roubadas. As exuberantes rosas parecem algo surrealista com ruínas no fundo, como os invólucros de diversos calibres, que misturados com mariscos cobrem, abundantemente o beira-mar. Anteriormente aqui viviam pessoas - VIP. As propriedades condicionalmente denominavam-se em honra dos proprietários: "casa do procurador", "casa do futebolista", "casa do arquiteto"... agora são posições dos batalhões. Tornaram-se órfãos os objetos - brinquedos, revistas, cavaletes, álbuns de família, pinturas e estátuas - falam sobre inatingíveis - lindos mundos, onde dominam "dias festivos, sempre com você".

Os combatentes acreditam, que Sherokyne tornou-se linha de fronteira simbólica como era anteriormente o aeroporto de Donetsk. Se este símbolo conseguirá evitar o destino do anterior e se voltará a terra litorânea no paraíso perdido? Gostaríamos acreditar, infelizmente não se veem perspectivas.  Afinal, como disse um combatente, "todos nós aqui otimistas loucos!".


Tradução: O. Kowaltschuk

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