Vysokyi Zamok (Castelo Alto), 24.07.2015
Galyna Yarema
Helena Nakonechna nasceu em Vinnytsia. A mulher, que deu à luz, deixou o bebê doente na maternidade. Na certidão de nascimento não há nome do pai. Há apenas uma anotação sobre ele...
Leda Nakonechna fez uma declaração, por escrito, rejeitando a recém-nascida. (Meus pais vieram ao Brasil em 1934 - da parte ocidental da Ukraina, não dominada pela Rússia, e antes da sovietização. Nunca ouvi deles que alguém, na Ukraina, abandonava um filho. Também nunca encontrei nada disso nos jornais ukrainianos que meu pai, aqui no Brasil, assinava do Canadá e Estados Unidos. Bem como não encontrei nenhuma menção a este respeito, nos romances históricos ukrainianos. Então, penso que este procedimento bárbaro de abandono do filho doente na maternidade, que é, atualmente permitido por lei, só pode ser herança da União Soviética. - OK).
A mãe, deixou a filha doente, com paralisia cerebral na custódia de estranhos. Por que fez isto? Helena não sabe, porque a mãe, durante tantos anos nunca se interessou por seu bebê... E Helena, ao contrário do terrível diagnóstico, não só sobreviveu, como começou a andar sozinha, terminou a escola de costura, e depois a Universidade de Lviv.
Até a idade de oito anos permaneceu no orfanato de Vinnytsia. A menina era transportada numa cadeira de rodas. Quando chegou à idade escolar, mandaram-na ao internato de ... crianças com retardo mental. O que viveu nos sete anos de estudo nesta instituição sabe só ela e o Todo Poderoso. E também aquelas boas pessoas que com gotinhas curavam não apenas o corpo de Helena, mas também a alma. A menina foi encaminhada para Truskavets, onde com ela ocupava-se o famoso especialista Volodymyr Kozyavkin.
Quando Helena foi transferida do colégio interno ao centro especial de Boryslav, para crianças com paralisia cerebral, o Dr. Kozyavkin levou-a para continuar o tratamento, desta vez às suas custas. O médico lamentava: se tivessem trazido a criança antes, os resultados seriam melhores.
- Toda minha vida vou agradecer a Deus, que me reuniu com o médico Volodymyr Kozyavkin - diz Helena. - Se não fosse o seu método de tratamento, não sei, como viveria agora.
Embora Helena concluísse a escola especial em Boryslav com distinção, a escola de costura em Sambir, cursos de informática em Odessa, depois a Universidade de Lviv, hoje não consegue encontrar um emprego. Vive no albergue juvenil da universidade. Mas, a partir de setembro ela deverá liberar o espaço, porque virão novos alunos. Para onde irá? Se não encontrar trabalho e não puder pagar o aluguel, terá de ir para casa... dos idosos.
Ela era transferida de um internato - para outro, de uma escola técnica - para outra, para que tivesse um teto sobre a cabeça. Lembra o período quando, após o término da escola de Boryslav enviaram-na para aldeia Bukovo, à escola para crianças com síndrome de Down.
- Parecia que era o fim - lembra Helena. - Luz no final do túnel eu não via. Pensava, jamais sairei daqui. Para não se tornar igual àquelas crianças e não cair em depressão, comecei escrever poesias. E pedia ao Senhor apenas uma coisa: para me estender uma palhinha, e eu me agarraria a ela. Se o Onipotente ouviu minhas orações, se o destino teve compaixão, mas a Bukovo veio o diretor da escola de costura de Sambir. Apesar de ter pernas doentes, aprendi costura e tive abrigo por três anos. E, principalmente - comecei amar a vida.
Passando no Vestibular, Helena tornou-se estudante da Faculdade de Filologia. Colegas de classe receberam-na com cautela. Ninguém conversava com ela... Ela não se ofendia, pensava, não tinham informação adequada. Portanto, percebem as pessoas como ela através de um prisma distorcido. Talvez os colegas temessem, que Helena exigiria um tratamento especial, pedisse ajuda... Mas ela nada pedia a ninguém. Comprimindo de dor os dentes, erguia-se pela escada para cima e/ou descia para o térreo. Lágrimas apareciam em seus olhos, quando sentada por longo tempo nas aulas...
Favorecimentos ninguém lhe dispensava: preparava-se para testes e exames no mesmo nível dos demais. Os professores diziam: se você chegou até aqui, significa que você pode... Depois dos primeiros exames os colegas mudaram sua atitude. Propunham ajuda na descida das escadas, interessavam-se se ela precisava de algo.
- Ao longo de todos estes anos, sua mãe não lhe procurou?
- Provavelmente, não. Certa vez eu escrevi para o "Ponto-chave". Eles me telefonaram e convidaram para transmissão. Eu não entendi: se já encontraram minha mãe, ou se iriam procurá-la se eu fosse. Era inverno. Tive medo de sair na rua, escorregar e cair. E não havia ninguém para levar-me a Kyiv. Precisei desistir do programa. Eu escrevi para endereço antigo, onde vivia minha mãe em Vinnytsia. Recebi a resposta, que tal cidadã ali não vivia. Consultei o escritório de passaportes. Responderam que minha mãe vive em Ladyzhyn, mas mudou de sobrenome. Escrevi ao endereço fornecido. Apesar de não esperar resposta, a carta veio. A mulher escreveu que não era minha mãe, tem outra família, tem uma filha e desejou-me sucesso na localização de minha mãe.
Tradução: O. Kowaltschuk
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