Rússia aproveita "Regimento imortal" e UOC-MP (Igreja Ortodoxa Ukrainiana do Patriarcado de Moscou) para ocupação ideológica. (Entrevistado Alexandre Donii, político e ativista social, historiador).
Radio Svoboda (Rádio Liberdade), 09.05.2017
Inna Kuznetsova
Ukraina comemora o Dia da Vitória sobre o nazismo. De manhã do dia 9 de maio, em todo o país realizaram-se cerimônias em memória das vítimas por ocasião do 72º aniversário da vitória na Segunda Guerra Mundial.
Especificamente a solene procissão liderada pelo presidente da Ukraina passou pela Alameda da Glória Militar ao túmulo do Soldado Desconhecido. Em muitas cidades e aldeias também realizaram-se ações do chamado "Regimento Imortal". Elas foram organizadas pelos políticos do "Opobloco" (Bloco de Oposição), ativistas de organizações pró-russas. Durante a realização das ações, no Memorial da glória eterna no centro de Kyiv, houve empurra, empurra e uma briga verbal entre os representantes de organizações nacionalistas e participantes da ação"Imortal Regimento". Confrontos também houve em Dnipro (ex Dnipropetrovsk, cidade) e Zaporizhia.
Segundo a polícia, no total das ações no país, por ocasião do Dia da Vitória participaram no país mais de 50 mil pessoas.
Inna Kuznetsova: Sr. Donii, para você, o que significa o dia de hoje?
- Hoje eu e mamãe estivemos no cemitério, no túmulo do avô. Meu avô era oficial de artilharia, de carreira. Ele participou das batalhas ao redor de Kaliningrado. Ele perdeu a esposa e filha. Para ele, este dia foi decisivo. Ele não falava sobre a guerra, apenas mencionava ocasionalmente.
Os meus dois avôs lutaram , e também, a vovozinha, e ainda, a outra vovozinha cavava trincheiras, como muitas pessoas jovens. Portanto, para minha família, a Segunda mundial passou diretamente através da família.
Alexander Donii |
Ao mesmo tempo 09 de maio é símbolo para União Soviética e, consequentemente, para Federação Russa em sua luta ideológica. E aqui, na Ukraina é um problema. De um lado a memória sobre enormes quantidades de vítimas da Ukraina, do outro - utilização deste símbolo e desta guerra com a finalidade de restauração do império russo. Ukraina precisa encontrar seu caminho, para lembrar a guerra e honrar suas vítimas, tolerar as vítimas dos outros e, por outro lado resistir à luta ideológica e propaganda russa.
- Em Donetsk, já teve lugar a ação "Regimento Imortal", na qual carregavam fotos de militantes mortos, até mesmo carregavam o retrato do czar Nicolau II.
- "Regimento Imortal" - é extremamente talentosa ideia do lado da Rússia para realização de sua missão usando a ideologia e 9 de Maio, e da Segunda Mundial sob o nome "Grande Patriótica", com a finalidade ideológica no início, e depois a ocupação territorial de estados independentes, que localizam-se no perímetro da Rússia. Em continuação, como torna-se visível, esta ideia pode ser aproveitada com a finalidade de aproveitamento da diáspora russa no mundo todo.
O assim chamado "Regimento Imortal" vemos claramente, quando as forças pró-russas concentram-se em uma única coluna
E em Kyiv, no Podoli, na rua Sahaidachnyi funciona até agora o Centro Cultural russo, aonde diariamente vai um caudal de cidadãos ukrainianos, incluindo escolares, sempre com pacotes - com presentes, com doutrinação ideológica.
Poroshenko diz coisas certas sobre "Imortal regimento", mas na verdade conduz à cooperação humanitária, econômica e política com Putin. E a questão não é apenas sobre a fábrica de Lepetsk (É a tal fábrica de doces de Poroshenko na Rússia. Acabo de fazer pesquisa no Google, porque Poroshenko fala, desde o início de sua presidência que vai vendê-la. Pois bem, segundo artigo do dia 26.04.2017, no dia lº de abril a produção parou. Todos os trabalhadores, (são aproximadamente 700, começaram dispensar, de 80 a 100 por dia. Hoje já é o 3º dia (26 de abril). Ainda restam 400. É, também diz, na mesma página do Google, que Roshen venderá a fábrica de Donetsk - OK).
Até agora não se atreveram a romper relações diplomáticas, nem mesmo introduzir o regime de vistos. Os agentes russos, como por um quintal transitável, passa pela fronteira russo-ukrainiana e pode aqui aprontar o que quiser.
- Hoje, aliás, acidentalmente fizeram um vídeo em Kyiv-Pechersk Lavra, onde as vovozinhas, com banners da igreja cantavam canções russas, incluindo "E à Rússia para casa quero - eu, a muito tempo não vejo a mãe." Isto soa com muita crueldade no momento em que os ukrainianos morrem no Donbas!
- Para o governo ukrainiano, que não cancela nem a ligação de transporte com a Rússia, não soa cruelmente. Quase em todas enormes estruturas religiosas, que pertencem à Igreja Ortodoxa Ukrainiana (Patriarcado de Moscou), há os tais chamados "passeios de peregrinação". Em Feofania, no parque Golosiivskyi, anúncios em todos os locais - Petersburgo, e outras cidades russas. Durante os "tours" estupeficam as pessoas que acreditam, que os ukrainianos, bielorrussos e russos - são a única nação.
Pergunta: de onde surgiram os colaboradores no leste e na Criméia? Nós devemos compreender, que a geração mais velha já é muito difícil convencer. É necessário dar cultura à geração mais jovem, para que eles não se submetam às provocações. Isto não deve ser feito à força, mas pelo caminho educacional.
- Quando se trata de reconciliação - como regra, falam daqueles que lutaram há 70 anos no exército soviético, e aqueles que lutaram nas fileiras do UPA... (UPA - Exército Insurgente Ukrainiano - OK).
- Ainda mais. Na realidade hoje não são muitos. Memória também sujeita-se a reconciliação. A questão não é apenas, em que exércitos lutaram os ukrainianos. Parte lutou nas unidades alemãs. Em Putevli, em Chernihiv houve o destacamento de Kovpak, principalmente de pessoas, que foram enviados através da fronteira russo - ukrainiana. Mas a cidade vizinha, Burin, deu o batalhão policial que serviu os alemães. Burin - mais etnicamente ukrainiano, onde houve Holodomor (morte pela fome) muito maior. Havia a ilusão em grande parte dos ukrainianos, que os alemães podem ser aliados, como em 1948 - enquanto não viram, como é, verdadeiramente o regime alemão. Falar sobre a reconciliação dos ukrainianos, que se encontraram nos diversos lados das barricadas, mas com o pensamento sobre tudo o que é bom para Ukraina, para a nação, para as terras ukrainianas é indispensável. Porque os ukrainianos também estiveram no Partido Comunista.
Estamos agora confrontados com a questão da prescrição de uma nova ideia nacional. Temos a ilusão que já foi traçada no 19 - início do século 20. Ukraina está diante de novos desafios, incluindo a necessidade da nação, mas com seu próprio projeto.
Há o respeito à cultura ukrainiana, mas há as questões de tolerância ao outro, coexistência de diversos grupos étnicos, religiosos, se eles não contradizem à própria existência do Estado ukrainiano, como, por exemplo, Igreja Ortodoxa Ukrainiana (Patriarcado de Moscou), que nem sequer reconhece a existência da igreja autocefálica no território da Ukraina. Ainda mais, não quer traduzir a Bíblia para o idioma ukrainiano. Nós precisamos aprender a viver juntos, tolerar uns aos outros, ser melhor um com o outro. E aqui não é apenas sobre a reconciliação de 8 e 9 de maio.
Tradução: O. Kowaltschuk
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