domingo, 21 de maio de 2017

"Ajudem! Lá está caída a mãe sem cabeça": o que acontecerá com as crianças, que perderam os pais durante o bombardeio de Avdiivka?
Radio Svoboda (Rádio Liberdade), 16.05.2017
Mark  Krutov

Genia - 7 anos e Sasha de 4. Meninas que ficaram órfãs, após o tiroteio de Avdiivka.

Duas crianças ficaram órfãs em resultado do canhoneio de sábado à cidade ukrainiana Avdiivka, localizada na linha de contato com o agrupamento dos militantes "DNR". Um projétil de artilharia atingiu o pátio de uma casa particular à noite, do último final de semana, em que há mais de um ano já ninguém vivia. A proprietária, Helena Aslanov, foi a Kyiv com as crianças (filha Genia, agora com 7 anos, e o filho Artem, 27 anos) logo após o início de hostilidades ativas no Donbas. Nas férias de maio, ela decidiu voltar para Avdiivka por alguns dias, e verificar como estava a casa e rever os amigos. Esta viagem foi fatal para ela.

Sábado à noite Helena reuniu-se com os amigos no pátio de sua casa, localizada na antiga Avdiivka. - Vieram visitá-la seus amigos, o casal Olga Kurochkina e Oleg Borjsenk, também a amiga Maria Dyka e sua filha Sasha de 4 anos. 

Os cinco adultos estavam sentados no jardim e assavam churrasco. As meninas Sasha e Genia assistiam desenhos animados dentro da casa (isto as salvou de morte certa).

Imagens do local do tiroteio, que aconteceu próximo das 7 horas da noite, postou no "Facebook" o chefe da polícia de Donetsk (Ukraina) Vyacheslav Abroskin.

Vyacheslav Abroskin, no sábado.
  
Avdiivka, 13.05.2017. Os pais morreram. As crianças ficaram órfãs. Creio, virá o tempo, quando o realizador da tragédia terminará sua vida num vaso sanitário. E, neste tempo a ele virá...

Avdiivka, 14 de maio, observadores da OSCE inspecionam a casa Nº 53 na rua Sapronova (antiga Pionerska).
Em resultado da explosão quatro pessoas - Helena Aslanov, Olga Kurochikin, Oleg Borysenko e Maria Dyka - morreram no local. 
O filho da Helena Aslanov, Artem foi gravemente ferido na cabeça e foi levado ao hospital em Dnipro, de helicóptero. Agora está em coma.
Olga Kurochkin e Oleg Borysenko não deixaram apenas órfã a filha de 4 anos (após o incidente ela não consegue falar), também deixaram um filho adulto. Ele vive em Donetsk e estuda. Sofre de doença crônica grave.
Sasha, de 4 anos, no mesmo dia levou a vovozinha, e Genia - a tia. As duas estão em Avdiivka. Mas, as casas dos parentes que abrigaram as órfãs, localizam-se em lugares ainda mais perigosos do que aquele em que seus pais morreram.

O governo ukrainiano acusou no tiroteio os militantes do agrupamento da "DNR" e qualificou o tiroteio como ataque terrorista. 
Os representantes da "DNR" disseram, que o tiroteio realizaram "os combatentes do "Setor Direito". Comentários oficiais da missão da OSCE no Donbas, sobre de que lugar vieram os disparos, por enquanto não houve. Segundo a versão da Ukraina, o ponto de partida dos tiros era a aldeia Spartak, arrebatada pelos separatistas, pela versão da "DNR", - a aldeia Vodiane, que está sob controle do exército ukrainiano.
   
Os primeiros na cena da tragédia eram os voluntários da missão humanitária "Proliska". Seu líder, Eugeny Kaplin falou à rádio Liberdade sobre o visto por ele no local do acontecimento.

A proprietária da casa, Helena Aslanov, morreu no local. Lá esteve seu filho Artem. Ele, atualmente, está em Dnipro, no hospital Mechnikov. Imediatamente, após o ataque, ele foi hospitalizado, no início pelo "rápido", depois pela ambulância aérea para o hospital em Dnipro. O quanto eu sei, agora ele está em coma, 2º grau. Os médicos esforçam-se para devolvê-lo à vida. Ele tem o cérebro muito danificado. Como escreveu no "Facebook" o médico adjunto do hospital Mechnikov, tantas lascas e ferro dentro da cabeça eles não viram durante os três anos de guerra.

Dentro da casa estava a filha da Helena, uma menina de 7 anos, Genia. Após os acontecimentos, ao local foram os representantes do nosso pessoal humanitário "Prolisky". Ao chegarem ao local, eles viram esta menina, que corria pela rua e gritava: "Socorro! Ajudem! Lá está deitada a mãe sem cabeça." A menina ficou órfã. Atualmente ela vive com a prima da mãe, que vive lá, em Avdiivka, na região próxima a zona industrial. 

Outra família - a família de Maria Deka. Ela nasceu em 1983, funcionária da fábrica de Coque. Ela também morreu durante o tiroteio. Ficou sua filhinha de 4,5 anos, que agora vive com sua avozinha. Elas residem num apartamento na rua Vorobyoy, é a primeira linha de prédios altos, que vai diretamente para o aeroporto de Donetsk. Lugar muito perigoso. Sob sua varanda, durante a guerra, repetidamente voam projéteis. Eles destruíram suas janelas e danificaram a cobertura. Agora, a administração prometeu reparar este apartamento e ajudar a vovozinha com a guarda da criança. Mas este lugar para viver é perigoso.

A terceira família, que esteve no local - é Olga Kurochkina e Oleg Borysenko. Eles também morreram durante o ataque. Eles deixaram um filho em Donetsk. O quanto eu (autor) sei, ele esta no Segundo Grau. Ele tem 18 anos - tem uma doença crônica, associada com vias aéreas. Os falecidos ajudavam o filho. Ele também ficou órfão após este trágico acontecimento. (E quantos assim há na Ukraina?? - OK).

Segundo dados preliminares, que temos a partir do Centro de Controle, da coordenação do cessar-fogo, o projétil era de artilharia, de cano, calibre 120 mm (Posso estar descrevendo errado. Não tenho conhecimento de armas, a tradução nem sempre é compreensível para mim -OK). Durante o domingo, com as famílias comunicavam-se os colaboradores do nosso estado-maior. No domingo ainda não houve nenhuma assistência substantiva. Nossa sede decidiu prestar assistência para o funeral. Nós demos 2.000 UAH a cada família para o funeral. Também planejamos enviar psicólogos à cidade, para assistir os familiares e às crianças, o que as vítimas pediram. Os enterros serão realizados em Avdiivka.

Vieram os representantes do Centro Comum de controle e coordenação do cessar-fogo da OSCE, eles fixaram a direção dos tiros. Eu penso que isto será apresentado no próximo relatório da OSCE.

Esta é a parte velha de Avdiivka, bem longa. Parte dela é adjacente à zona industrial, mas há regiões mais afastadas. Esta região não é adjacente à linha de contato, localiza-se a 6,5 - 7 quilômetros.

Havia canhoneio neste dia. À noite houve tiroteio e projéteis nos lugares mais próximos da zona industrial e na periferia - mas a noite passou sem vítimas. Eles visavam mais as posições dos militares. Não havia posições de militares na parte da cidade, onde o projétil veio de dia.

A escalada anterior em Avdiivka começou no final de janeiro. 26 - 29 de janeiro foi a pior fase, que foi até 5 de fevereiro. Depois, a situação na cidade melhorou um pouco, mas dizer que houve silêncio não é verdade. Durante fevereiro, março e abril, na cidade, por quase 30 dias não houve eletricidade. Constantemente houveram ações de combate, faltava eletricidade por causa de linhas danificadas. Os reparadores, sempre que podiam faziam reparos, mas aconteceu até 5 dias sem eletricidade. Em fevereiro faltou eletricidade 7 vezes porque os reparadores não podiam executar reparos durante o tiroteio. Quando não havia eletricidade, não havia água porque a estação de filtragem estava sem eletricidade.

Zona industrial de Avdiivka - lugar de maiores lutas na linha de contato.
Em março, abril e início de maio registramos a maior quantidade de voos sobre as casas, principalmente na parte da cidade vizinha à zona industrial. Também houve  voos dos altos prédios residenciais em março e abril. Impossível prever quando haverá próximos voos mas, de qualquer modo não tivemos nenhuma semana tranquila em Avdiivka, que houvesse completo silêncio. Ao todo, desde o início desta onda de escalada, no final de janeiro, de acordo com nossos dados, na cidade foram destruídas 600 casas e apartamentos particulares. 18 pessoas receberam ferimentos e contusões de gravidade variável. Eu falo sobre a população civil. Desde o início do conflito morreram 8 pessoas civis, dois funcionários do Ministério de Situações Extraordinárias. Foi ferido um jornalista britânico, que durante o tiroteio de 2 de fevereiro estava na residência de uma moradora pacífica, que morreu.

As crianças que ficaram órfãs depois do bombardeio de sábado continuam em Avdiivka, mas nós vamos conversar com os parentes para que eles deixem a zona de perigo. Nós ajudaremos  arrecadar dinheiro para a compra de uma nova moradia. Vamos conversar com os membros das famílias depois dos funerais. Se houver desejo de parentes com as crianças, que sobreviveram, ir a algum lugar mais seguro nós...  O Estado, infelizmente, não tem programa para fornecimento de novas moradias para estas famílias, mas nós já temos prática. Nós já conseguimos casas para cinco famílias, compramos moradias para cinco famílias, arrecadamos no "Facebook". Também para estas famílias ajudaremos comprar moradias, se elas desejarem sair daqui.

Poroshenko, que cancelou, devido aos acontecimentos em Avdiivka, sua visita ao final do concurso "Eurovision", (Não perdeu nada, não aguentei assistir nem a três músicas. Parece que neste mundo já não acontecem coisas bonitas. Nem o primeiro lugar, do português, se destacou. Que pena! - OK), responsabilizou pela tragédia diretamente o presidente russo Vladimir Putin. "Precisariam os russos, Putin, olhar aos olhos dessas crianças, e olhar o que acontece devido a relutância da Rússia em cessar fogo, retirar as tropas de ocupação do território ukrainiano", - disse ele aos repórteres. Mas o presidente continua confiante de que forçada evacuação de cidadãos pacíficos de Avdiivka não há necessidade, porque o raio de alcance dos foguetes de artilharia russa é superior a 140 km. Poroshenko também ordenou a reparação das habitações dos parentes das crianças órfãs e disse que o governo do país "participará de suas vidas".

Tradução: O. Kowaltschuk


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