terça-feira, 25 de outubro de 2016

"Eu vi o que fazia Motorola" - "Cyborg" Yuri Sova
Radio Svoboda (Rádio Liberdade), 22.10.2016
Yaroslava Tregubova

(A palavra "Cyborg" tem vários significados:  organismo biológico, que compreende componentes mecânicos ou eletrônicos; filme de ficção americana de 1989; outros. Foram chamados "cyborg" os membros das equipes de voluntários ukrainianos, que se envolveram na defesa do aeroporto de Donetsk. Pesquisa - OK).

Yuri Sova
Kyiv - evidências de que o cidadão russo Arseny Pavlov ("Motorola") é criminoso de guerra, detalhadamente testemunha o assassinato do prisioneiro de guerra, militar ukrainiano Igor Branovetskyi - defensor do aeroporto de Donetsk, combatente da 80º brigada Yuri Sova.

- Minha profissão - carpinteiro-operatório. Antes da guerra eu trabalhei na fábrica, fazíamos balcões, escadas, poços de elevador. Do exército me telefonaram quando eu estava no trabalho, disseram para vir e registrar-me. Assim me chamaram duas vezes, depois ia meu irmão porque, do meu trabalho era longe. Quando me ligaram novamente, eu fui e disse: "Ou me levem agora, ou mais eu não virei". Eles perguntaram: "E você vai?" Eu disse: "Vou".

Eu compreendi que sozinho me ofereci, provavelmente não me levariam, mas eu já planejava ir para a frente. Eu e meu amigo já tínhamos combinado, que iríamos defender o país, mesmo como voluntários. Apenas ele foi antes.

Os parentes, certamente, não compreenderam, disseram: "Por que você precisa disto", "se você tem um trabalho, então trabalhe",  "deixe essas questões para decisão política". Mas eu respondi: "Se eu não for, e ninguém for, então como será?"

Depois de dois - três - dias me telefonaram e disseram para vir com meus objetos. Então, em 14 de agosto fui convocado. Primeiro nos levaram para Starychiv, adiante de Lviv, e depois - no campo de treinamento Yavorivskyi. Lá deram outras roupas e colocaram nas tendas. Ensinavam cerca de dois meses e meio.

"Ou recuo, ou prisão".

- Em 19 de outubro nós fomos para o leste. No início - para Kostiantynivka. Lá estava relativamente calmo: na própria cidade ações de combate não havia, mas bombardeavam com "Grad", constantemente trovejavam explosões.

Aproximadamente 25 de dezembro nós fomos a Pisque. Lá, já atiravam a sério. Nós mantivemos a defesa na "casa do sol". Depois do Ano Novo, tivemos o primeiro "duzentos" (morto): uma bala penetrou debaixo da armadura. Recebemos ordem para retroceder à aldeia Vodiane, explicando que os separatistas iriam cobrir-nos com minas. Apesar de que nós não tínhamos armas suficientes, nós não queríamos retroceder. Por que devíamos abandonar nosso território?! Havia ordem-precisa, do contrário - prisão. Nós começamos desconfiar, que talvez isto fosse necessário a alguém... Porque havia o caso, o irmão na Rússia, e ele aqui comanda. 

Muito contrariados retrocedemos. Mas houveram bons minutos. No Ano Novo veio a nós o corredor de automóveis Alex Mochanov. Ele cantou e tocou guitarra. Foi muito agradável, adquirimos novo ânimo. 

No dia 31, às 23:00 horas, com fogo nos saudaram ao Ano Novo. Nós não respondemos, se nós saudaram, então saudaram. 

A linha do front passava por Vodiane. Nos dias 5 e 6 de janeiro nossa rota saiu para o aeroporto. Eu e mais dois companheiros deixaram porque nós eramos membros da tripulação BTR e não havia ninguém para nos substituir. Eu era artilheiro. 
Mas nós não queríamos ficar, então fomos ao comandante do batalhão e acertamos em passar o nosso BTR para outra rota, mas iríamos com os nossos.  Por quê? Porque a companhia é nossa, somos como irmãos, e se for morrer, então morrer juntos. Na frente age um princípio de ferro: minha vida eu darei, mas aquele que está ao lado, eu salvo.

Nós sabíamos o que lá (no aeroporto) acontecia, mas percebíamos assim: se precisa, então precisa. E, quando o comandante veio até mim e disse para recolher minhas coisas, para sair à noite, eu fiquei muito contente e rapidamente corri para aprontar-me.

"Rotação injusta".

- Os rapazes entravam de dia através do checkpoint dos separatistas pelo "corredor verde". 
Nós - três à noite. Quando vínhamos, ouvimos como as balas tilintavam. Próximo do aeroporto, em nós, começaram jogar minas. Agradeço a nossa artilharia cobrir-nos, felizmente nada nos aconteceu. 

Mas nós viemos três e retiraram do aeroporto onze, sem ferimentos e sem contusões. Nós ainda pensamos: O número de nossos reduzem, intencionalmente ou o quê?

O que vimos, chocou - em vez do novo aeroporto - completas ruínas.

Nós nos acomodamos até o amanhecer e ocupamos nossas posições. Em cada uma havia seis pessoas. Os postos tinham nomes, por exemplo, o nosso nós denominamos "Positivo", porque todos os rapazes eram alegres, juntos podíamos dar boas risadas. Lá, onde menos atiravam, chamamos "Silêncio", o primeiro e o segundo - "Dragon", e o quarto "Tartaruga".
No primeiro dia ainda era assustador, mas depois, ao assobio das balas, explosões de granadas e minas a gente se acostuma e até para de se abaixar.

"Ataque de gás".

A partir de 16 de janeiro de 2.014 começaram os primeiros ataques graves, Apenas a noite, por algumas horas, havia "trégua" e, a partir das 06:00 horas renovava-se o tiroteio brutal. Nós já tínhamos "trezentos" (feridos) e, "duzentos". Nosso posto tinha as maiores perdas. Os feridos começaram trazer para nós, depois todos nós, nos reunimos.

Em 17 de janeiro começaram nos atacar com gás. No início nós pensamos que isto era cortina de fumaça e  eles vem para ofensiva. Mas, não se poderia nem respirar, nem abrir os olhos ´e nós compreendemos, que isto era gás. Nós nos cobríamos com lenços umedecidos, e assim segurávamos um pouco a pimenta, que simplesmente comia os olhos. Sobreviver a isto era o mais difícil.

O principal perigo do ataque de gás residia no fato de que, enquanto nós nada víamos, eles podiam chegar até nós. O atirador vem e esconde-se. Todos pensavam que era o fim, mas ninguém disse isto em voz alta.

Naquele momento nós tínhamos muitos "trezentos", mas comida e água quase não havia. Para os feridos, nós esquentávamos o gelo. Apesar de que a sede era tanta que desejava-se beber urina.

Primeira explosão: "dissemos ao comando, que todos cairemos". 
- 18 de janeiro o tiroteio intensificou-se. O inimigo fez buracos no teto e começou lançar granadas sobre nós. À noite, através destes buracos jogavam lixo molhado com gasolina e ateavam fogo, fazendo luz sobre nós.

Naquele momento, nós mantínhamos território do primeiro ao segundo braço e a maior parte da grande sala - para que vocês entendam, isto é um quadrado de 150 a 170 metros, é muito pouco.

Nós, por alguma razão, não esperávamos, que haveria explosões. Nós ouvimos, que lá faziam algo e pensamos jogar lá algumas granadas, mas nos disseram, que já que o tiroteio parou, não precisava enraivecer ninguém. Depois de meia hora houve explosão.

No dia 19 de janeiro houve a primeira explosão - eles lançaram duas minas anti-tanque. Nós apenas ouvimos "tick, tick, tick". O oficial gritou para que deitássemos e não nos levantássemos por 10 minutos. Assim nós ficamos, enquanto ela não explodiu.Quando explodiu - varreu tudo o que existia. Nós tínhamos alguns "trezentos" e dois "duzentos", eles foram cobertos pela parede.

Nós relatamos sobre a situação ao chefe do Estado Maior e pedimos: "Chamem algum apoio, precisa evacuar as pessoas porque aqui todos morreremos." Então veio a última MT-LB, levaram quem puderam. Outro carro não veio, os separatistas detonaram-no em movimento. Já após a primeira explosão não havia postos, nós ficamos num pequeno quadrado, ao redor do qual construímos barricadas para que nós nos escondêssemos. Nós continuamos manter a defesa e esperávamos ajuda. Os rapazes gritavam para fornecerem apoio, para chamar fogo sobre si, porque eles vinham até nós a partir de cima. Assim nós ficamos mais um dia.

"Os rapazes saíam em grupos... Eu não consegui".

- 20 de janeiro não havia muitos tiros, estava calmo. Nós tínhamos muitos feridos e, ainda esperávamos que a evacuação viria. Mas ninguém veio até nós... Houve a idéia de descer até o porão, mas nos disseram que não devíamos fazê-lo porque lá está tudo minado e em todo lugar há extensões. Mas, como descobriu-se, lá estava limpo. Eles andavam por lá, quando levavam explosivos.
Nós ficamos próximos a janela do primeiro braço do novo terminal. Nós ouvimos, que eles, novamente nós minavam e começaram a relatar, que brevemente nos explodiriam... Cerca de meia hora antes do almoço trovejou a última explosão - e todos os andares foram abaixo.

Eu fui coberto com pequenos pedaços de sucata. Lesões graves não obtive, mas havia uma contusão significativa na cabeça. Mal recuperei os sentidos, levantei, encontrei o automático e comecei a atirar.
Aqueles que estavam mais ou menos inteiros e podiam andar, foram cavar e extrair aqueles que foram cobertos. Havia rapazes, que já não era possível alcançar. Eles gritavam: "Ajudem", mas nós nada podíamos fazer. Então já não havia nem medo, nada...
Dos escombros, nós retiramos nove pessoas. Cinco deles não viveram até a manhã seguinte, eles tinham fraturas expostas - eles simplesmente esvaiam-se em sangue. A quem podíamos, cingíamos com feixes, mas os rapazes morriam da insuportável dor.
Aqueles combatentes, que ainda podiam, saíam em grupos. Mas eu não consegui. Se eu fosse, deixaria os rapazes, então me arrependeria. Lá havia amigos, todos os rapazes eram conhecidos, então decidi ficar até o fim.

Branovetskyi e Igor Zinych

À noite, 20-21 de janeiro, eu me reuni com Igor Branovetskyi. A ele também propuseram sair, os rapazes diziam: "Vamos buscar apoio e voltaremos buscar os feridos". Mas ele disse, com firmeza, que não ía a lugar nenhum. Nós fomos até o porão e começamos trazer os rapazes para cima, tentamos achar alguns medicamentos, roupa, água.

Nós juntos, nos escombros achamos o nosso médico "Psicose" (Igor Zinych - Ed). Ele esvaia-se em sangue, nós, com dificuldade encontramos seu pulso. Depois disso ele viveu menos de meia hora. Esta pessoa eu considero um verdadeiro herói, no aeroporto ficou um mês sem rotação. Ele era excelente médico e excelente pessoa, ajudava muito os rapazes. E, quando, depois da primeira explosão, ele perdeu quase a metade da cabeça, ele sozinho a enfaixou e disse: "Eu não me considero "trezentos", contem outros feridos, eles devem ser evacuados em primeiro lugar".

Naquela terrível noite os soldados procuravam os feridos, outros estavam em posição. Nós estávamos em posição para que eles não se aproximassem. O tiroteio não cessava. Assim vivemos até a manhã. 
Aparelhos de radio telegrafia já não havia, tudo ficou sob os escombros. Ficaram dois telefones, ainda não totalmente esgotados. Nós chamamos, pedimos pela evacuação ou algum apoio. Nós encontramos três fuzis, mas sem nenhum cartucho. Pensávamos, chegaremos até a manhã e haverá algum apoio, mas não houve nenhum apoio.

"Os meninos extinguiam-se em sangue, por isso decidimos pedir um "corredor". 

Nós compreendemos que, ou nos matam, ou evacuam. Um dos dois. Sobre prisão, não havia nem conversa. Com o tempo nós compreendemos, que ajuda não haverá, mas decidimos ficar até o final. Os rapazes pioravam, durante a noite nos nossos braços morreram cinco. Decidimos, para salvar quatro, Tolik "Spartam" deve ir negociar um "corredor" para os feridos. Nós achamos um trapo branco, amarramos numa vara e ele foi.

Alguns rapazes eram contra, propunham auto explosão. Taras Kolodiy dizia, que os kadyrivtsi assim mesmo nos matariam. Então, verdade, ficamos com pena dos feridos, por eles nós nos preocupávamos mais que por nós mesmos, eles sangravam, eles tinham pernas quebradas. Por causa deles decidimos pedir pelo "corredor".

Depois de algum tempo que Anatoli foi, veio um separatista armado, seguido por outros. Ordenaram-nos levantar as mãos e nos revistaram: se alguém ainda tinha uma granada ou facas - tudo levaram. Estabeleceram uma condição: "quem não quer ser capturado deve correr para o lado - e será por nós fuzilado no local." Assustador era quando eles andavam entre os feridos e atiravam nos gravemente feridos. No início eu até duvidava, mas tive certeza quando voltei e vi o vídeo.

Os separatistas prometeram levar-nos para fora do aeroporto. No início nós pensamos que pegarão nossas armas e nos dispensarão, e nós poderemos ir até os nossos. Mas eles nos levaram como prisioneiros - total: 14 pessoas.
Claro, nós pensamos sair sozinhos do aeroporto e levar os feridos. Mas, depois da explosão, em toda parte foi espalhada sucata - cada passo podia ser ouvido. E sempre havia alguém no topo, nós seríamos fuzilados no local.

Cativeiro e interrogatório

Nos alinharam em uma fileira, os separatistas tudo questionavam: "por que quando nós dizíamos entregar-se, vocês não obedeceram, haveria mais vivos", etc. Mas desistir nós não pensávamos. Então nos levaram para o velho terminal e nós subimos no queimado MT-LB buscar o cadáver de um lutador nosso, era um rapaz muito jovem...

Depois veio um "Ural" e nos levaram até "Guivi". Lá até deram assistência a quem necessitava, água, cigarro, mudaram o curativo e depois levaram para Zakharchenko e "Motorola" para interrogatório. As mais cruéis torturas começaram no porão, onde os rapazes sofreram mais.
Zakharchenko perguntou: quem vai questionar? Ofereceu-se um dos lutadores presentes e nos levaram ao "porão". Começaram os espancamentos.

O líder do grupo "DNR" (República Popular de Donetsk), que é reconhecida na Ukraina como terrorista, Alexander Zakharchenko (esquerda) e o lutador Arsen Pavlov ("Motorola"). Donetsk ocupado, 02 de maio de 2015

Bateram com varas de madeira, tubos de metal, autômatos, pés. Se alguém não resistia e caía, gritavam: "Levante-se, mas se não levantava - ainda podiam chutar a cabeça ou bater, com tubos , nas costas.
Nos questionamentos eram envolvidos os oficiais russos. Eles perguntavam a mesma coisa várias vezes, esperavam que podíamos dizer algo anteriormente esquecido, ou não pretendido.
Tentavam obter todas as informações sobre o exército, técnica, onde, como e quantos. Nós esperávamos que eles não soubessem toda a verdade. O que não podia falar, nós não falávamos, mas os testemunhos cada um dava de forma diferente. Eles entendiam isso.

"Motorola" com dois tiros matou Branovetskyi"

- Igor Branovetskyi recebeu mais. Primeiro eles procuravam operador de metralhadora e franco-atirador, mas nós dissemos que todos eles ficaram nos escombros. No entanto Igor confessou. Por que ele fez isto? Eu não entendi então, porque da metralhadora disparavam todos, mas Igor disse que foi ele.
Como nós entendemos do interrogatório, eles vingavam-se porque nosso artilheiro, certa vez acertou e matou um seu amigo. Começaram bater em Branovetskyi ainda mais.

Nós permanecemos em pé contra a parede, e ele foi levado para o lado e começaram a bater mais. Atiravam nos pés, de pistola traumática. Atiravam e gritavam: "Veja ele continua em pé e não cai". Perguntavam: "Você o quê - patriota?", e Igor respondia: "Sim, patriota" e nada mais - e então eles ficavam ainda mais brabos. Quebraram-lhe muitos ossos no corpo. Ele nem podia sentar-se, de tanta dor. 

Depois eles chamaram um médico que enfaixou Igor e deixou-o deitado ao lado da parede. Então veio "Motorola", gritou com os seus "bem espancados". Igor estava deitado, afastado de mim uns dois metros. "Motorola chegou perto e perguntou: De quem é este corpo? O combatente "Tanchuk", nosso guarda, respondeu, que já chamaram a ambulância, e ele será retirado. 

"Motorola" abaixou-se, olhou para Igor, disse que ele não vai sobreviver, pegou "TT" (arma -Ed.) e disparou duas vezes na têmpora esquerda. Eu vi, justamente naquele momento virei a cabeça, quando ele tornava a carregar a pistola e atirava.

Em seguida cobrimos Igor com nossas coisas. Os separatistas ainda vieram, levantavam os trapos e diziam, que o cérebro estava fora do crânio."

Nós fomos retirados do porão, mas Igor continuou deitado no chão. Depois disto não o vimos mais. Ele era uma boa pessoa, depois da explosão não deixou ninguém, andava de um ferido a outro, ajudava.

Naquele momento todos nós nos preparamos para a morte, mas descobriu-se, que ele mais.

Falar sobre Igor depois nós não conseguíamos - todos sabiam que ele era uma boa pessoa - doía muito.

Nos disseram para matar um nosso. Nós recusamos, mas um encontrou-se".

Em seguida nos deram um pouco de comida, água e cigarro e então começou o interrogatório, durante o qual todos os dados registravam-se. 

Sempre diziam: se matar um dos seus, você será liberado e não vai mais apanhar. Para dobrar-nos, usavam os seguintes métodos: fechavam um em outra sala e disparavam no ar, e depois nos diziam: Tudo, um está pronto. Quem é o próximo?
Ninguém concordava atirar num nosso, mas encontrou-se um que puxou o gatilho. Descobriu-se que balas na arma não havia. Então o lutador no qual mandavam atirar, Yuri Shkapura, ergueram e disseram: "veja com quem você luta".
Depois nos levaram para o porão do antigo Serviço de Segurança, onde eu passei o próximo mês até a troca.

Os rapazes sempre eram levados ao trabalho, eu - não, porque todo meu lado direito estava quebrado - fiquei completamente incapacitado. Mas, ao hospital não me mandaram. Sozinhos me enfaixavam e aplicavam injeções. Foi no cativeiro que me roubaram minha saúde.

Continuamente a nós vinham os militantes e diziam que Moscou quer nos ajudar e tenta nos libertar. Diziam, que queriam trocar-nos. Mas nós não acreditávamos muito em tudo o que nos diziam.

No cativeiro havia, aparentemente, pessoas normais, que nos tratavam com lealdade. Mas elas também diziam, que é melhor ser "uma jovem república" e também perguntavam, por que vocês vieram na "nossa" terra, nós vamos  "protegê-la" de vocês. Em resposta nós nada podíamos dizer, porque ao nosso lado sempre havia pessoas armadas.

Os militantes falavam, que a nós, "cyborgs" dão algum tipo de droga, porque não dormimos e estamos constantemente em pé. Nós, simplesmente, defendíamos nosso território.

"Formava-se a impressão, que a direção nos deixou ao sacrifício".

- Eu fui trocado em 21 de fevereiro. Depois do cativeiro fiquei um mês em tratamento no hospital. Depois duas semanas fiquei em casa. E, novamente voltei para o leste, apesar de que em casa diziam, que não precisava voltar e ficar em casa (depois do cativeiro fui desmobilizado). Mas eu queria ficar até o final. Ações ativas de combate não havia. Então eu fiquei nos postos de controle, duas vezes fui a Horlivka. Fui desmobilizado em 18.09.2015. Agora eu me esforço para não lembrar o Aeroporto de Donetsk, mas isto não se esquece. À noite não durmo, apenas um pouco já de manhã, e imediatamente sonho com a guerra - e acordo todo molhado de suor. Mas, assim que voltei para casa, queria voltar, porque na guerra me sentia em casa. Agora eu tento voltar para minha vida anterior.

Agora frequentemente lembro os rapazes. Taras Kolody que, aliás, ainda está no cativeiro, Vitaly Rosolovskyi, Taras Pavlenko, Lubomir Grinyuk, Alexander Mashonkin - todos, que estiveram no aeroporto. Quando lembro do aeroporto, lembro dos rapazes que morreram.

Quando íamos para o aeroporto, nós sabíamos que a guerra seria "boa", mas nós não sabíamos que acabaríamos no cativeiro.

Agora penso que nós mesmos devíamos minar e explodir o aeroporto. Mas tal ordem não veio, e nós acreditamos até o final que viria apoio, que venceríamos.

Forma-se a impressão, que a liderança nos sacrificou.

Ordens eles dão, mas nós os protegemos... É insuportável ouvir, como eles, dos escombros gritam - gritam... E você não consegue alcançar, ou alcança, mas nas mãos apenas intestinos segura, mas você sabe, que sua mãezinha o espera em casa... E o quê, os rapazes deviam morrer assim? Mas você sabe, o quão é difícil para a alma, que tantos não se conseguiu salvar.

Eu tenho 27 anos, mas devido a estas contusões a saúde está prejudicada e, às vezes, tenho problemas com a memória. Mas os superiores recebem prêmios, mas eu, por exemplo, prêmio pela defesa do aeroporto de Donetsk recebi apenas no outono de 2016. E o status de partícipe de ações de combate me deram apenas no inverno deste ano.
No geral é difícil agora depois de tudo isto... Mas, eu não me arrependo, porque eu fui pela família, amigos, pela Ukraina, não pelos políticos e comandantes. Se recomeçarem as ações de combate - penso voltar, assino contrato. E os rapazes é preciso substituir, porque, como você vê, alguns lutam por três meses.

Se não houvesse mobilização, então não haveria ninguém para lutar. Muitos agora dizem: por que eu agora preciso disso, deixe que lute quem quer. Eu digo, que se ninguém lá não for, eles virão até aqui. Eles, no cativeiro, nos disseram, que até Kyiv virão.

Tradução: O. Kowaltschuk

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