domingo, 24 de julho de 2016

Ukraina - Polônia: o cálculo não é simples.
Nas conversas sobre "acontecimentos de Volyn" esquecem o aniversário da tragédia dos ukrainianos na Polônia.
Ukrainskyi Tyzhden (Semana Ukrainiana), 11.07.2016
Svyatoslav Lipovetskyi

Independente do fato, se aceitar o Sejm polonês a data de "11 de julho" como dia de "memória das vítimas da tragédia de Volyn e martírio de Kresov'yan (Kresov'yan, de Kres, designação polonesa de terras ukrainianas junto à fronteira oriental polonesa, hoje Ukraina Ocidental - OK), podemos estar certos de que a maioria da sociedade polaca atenderá aos apelos de políticos para lembrar aqueles eventos e mais uma vez condenar os ukrainianos. ( O Sejm polonês reconheceu genocídio cometido por nacionalistas ukrainianos contra os cidadãos da Segunda República Polaca nos anos 1943 - 45. - OK). No entanto, há 70 anos, no verão de 1946 decorreu mais uma data, que os poloneses não mencionam e à qual pouca atenção dispensam os ukrainianos - liquidação de Igreja Grego Católica ukrainiana no território polonês, que era o elo entre ações punitivas do Exército (Armia Kraiova) - e exército polonês - OK) e ação "Visla" (Operação Visla - limpeza étnica, em 1947, pela decisão da URSS - União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, da República Popular da Polônia (RPP) e República Socialista Tcheca (CSR).

Zakerzonnia. Sangue nas vestes.
(Zakerzonnia - nome dos territórios étnicos ukrainianos, localizados a oeste da linha chamada Kurzon que faziam parte da Polônia - OK).

Na segunda metade de 1940 grande drama ukrainiano desenvolveu-se no território da Polônia socialista, que incluiu terras étnicas ukrainianas: Kholmshchyna, Nadsyannya, Pidliashsha e Lemkivshchena. Despejos, terror, prisões e execuções (Até na URSS desde 1947 havia moratória para pena de morte), queima ou destruição de aldeias inteiras - é nisto por vários anos atolou-se Zakerzonnia.

Uma página em separado desta história ocupa a liquidação da Igreja Grego-Católica Ukrainiana, que permaneceu, talvez a única instituição ukrainiana no território da República Popular Polonesa (RPP).

Após a liquidação formal da Igreja Grego-Católica Ukrainiana no território da União Soviética, em 25 de junho de 1946 aprisionam bispos de Przemysl - Josafá Kotsylovsky e seu assistente Hryhori Lakota. "Espancado o bispo ancião puseram na rua junto com a cadeira, a qual ele segurava fortemente, manifestando assim a sua resistência. Ele foi atirado no veículo com a cadeira. Com a cabeça ferida caiu no estrado do carro", - escreviam em novembro de 1946 na edição clandestina "Na sentinela".

O último bispo de Przemyl, Josafa Kotsylovsky
Kotselovsky morreu no campo de concentração Chapaevka, próximo a Kyiv em 1947. De acordo com alguns relatos, os últimos que cuidavam deste homem abençoado, através do arame farpado, eram as freiras da Igreja Ortodoxa Russa. Lakota morreu três anos depois, em 1950, no acampamento próximo a Vorkuta. Sobre ele escreveu em suas memórias o padre católico Peter Leoni: "No exílio, entre a miséria humana, eu encontrei verdadeiros anjos no corpo humano, que com sua vida representavam querubins, louvando Cristo-Rei com glórias. Entre eles havia o confessor da fé, bispo Gregory Lakota, bispo auxiliar de Pzemysl, que desde 1948 à meados de 1950 ilustrava-nos, esgotados pelos trabalhos forçados, com seu exemplo de virtudes cristãs." No entanto, a perseguição de 850 mil ukrainianos do Zakerzonnia, particularmente padres, começou alguns anos antes. Talvez a maior quota de destruição da população ukrainiana são os eventos na aldeia Sahryn na Kholmshchyna em dez de março de 1944. A aldeia foi cercada junto com seus habitantes, pelo exército polonês (AK). Hoje, estabeleceram mais de 600 nomes, embora alguns testemunhos apresentados falam em número superior a 1000 pessoas.

Outra aldeia símbolo - Pavlokom, próximo de Przmysl. Aqui, em 30 de março de 1945, parte do exército polonês liderado por Josef Bis matou 366 ukrainianos, a maioria dos quais eram mulheres e crianças. A execução dos ukrainianos acontecia de sangue frio, no território próximo à igreja. Antes disso, na própria igreja, as pessoas foram separadas em grupos, retiram as roupas e objetos de valor. Perdoaram a vida a mulheres e meninos até 7 anos e meninas até 10 anos.

Desterro de ukrainianos para Polônia, março de 1946.
Entre os assassinados havia o padre paroquial Volodymyr Lemtso. Seu filho, que na época completou seis anos (Os padres podiam casar-se - OK), mais tarde testemunhou: ..."iniciava-se o dia 3 de março de 1945, que durante 60 anos me privou de sono normal. Iniciava-se o dia que ficou gravado na memória infantil, privando a infância, mudando o meu destino". A derradeira "vítima" de Paulokom tornou-se a Igreja Grego-Católica, que os poloneses locais demoliram em 1963. Tragédias semelhantes viveram várias dezenas de aldeias do Zakerzonnia.

Em Pavlocom, onde antes da guerra viviam 1190 ukrainianos e 170 poloneses, apenas 60 anos após a tragédia, os poloneses deram permissão para colocação do monumento. Aprovaram projeto "correto" e inscrição: "Memória eterna a 366 vítimas que morreram tragicamente de 1 a 3 de março de 1945, das mãos de nacionalistas ukrainianos em "terra desumana"...

Além das vítimas do conflito polaco-ukrainiano, há uma categoria daqueles, que foram executados pelo tribunal. Padre Vasyl Shevchuk, mais conhecido como capelão do UPA (Exército Insurgente Ukrainiano) "Kadelo" nos anos 1930 era pároco em Pavlokom. Ele juntou-se aos partisans, onde continuou cumprir seu dever sacerdotal - confessava, casava, protegia, rezava a missa, mas na floresta. Em junho de 1947, durante a transição para Oeste "Kadelo caiu nas mãos dos checo-eslovacos, que o entregaram aos poloneses. Em 13 de setembro de 1948 o padre Vasyl Chevchuk foi fuzilado.

Em geral, hoje os pesquisadores estimam, que no Zakerzonnia, das mãos dos poloneses morreram aproximadamente 50 padres ukrainianos. E, um dos sobreviventes, mas também reprimido, padre Basil Grynyk, em 1970 lembrava: "Todos, eu contava, que mataram aproximadamente 30 padres nossos... Mas eu não lembro, que na região de Przemysl fosse morto um padre latino".

Soldados da Armia Kraiova, a 'liquidação" da aldeia.
Ação "Vístula".

A solução final da questão ukrainiana foi em 1947. Em 28.03.1947 foi criada a centena do Exército Insurgente Ukrainiano de Stepan Stebelskyi - "Khrin", organizada emboscadas e bombardeios de tropas do exército polonês. Entre os mortos estava o vice-ministro da Defesa da Polônia, general Karol Svyerchyevskyi. No dia seguinte, as autoridades comunistas da República Popular Polonesa decidiram a evacuação dos ukrainianos para os territórios alemães, que depois da II Guerra Mundial passaram para Alemanhã.

De alguma forma isto lembrava os acontecimentos de 1934 - quando, após o assassinato do ministro Pyeratskyi, no dia seguinte, pelo decreto do goerno foi criado o campo de concentração em Bereza Kartuzka. Na verdade, a ação migratória forçada em 1947 estava sendo preparada, e a morte de Svyerhyevskyi foi o pretexto formal para sua implementação.

Pela primeira vez a grande migração de poloneses e ukrainianos aconteceu ainda em 1944 - então houve a troca de moradores das terras da fronteira. De Ukraina Ocidental retiraram os poloneses e ukrainianos - de locais fortemente compactos no território polonês. Esta ampla troca da população entre aombos os países terminou no verão de 1946. E, apesar de que no território da URSS foi levado quase 500 mil ukrainianos, isto não resolveu o problema.  Os governantes poloneses preparavam-se para soluções definitivas. Assim, mesmo antes da morte do general, no mais alto nível frequentemente levantavam a questão da criação de território polonês mono-étnico através do despejo dos ukrainianos restantes para o oeste do país. O caminho para a União Soviética, naquele período, já estava fechado.

A morte de Svyerchyevskyi foi uma razão direta para ação trimestral, que no início denominava-se "Leste", e depois "Vistula". Aliás, os poloneses não encontraram testemunhas concretas, que pudessem indicar claramente, que o general polonês morreu pelas mãos do Exército Insurgente Ukrainiano. Não falou sobre isto em suas bastante detalhadas memórias o comandante Khrin.

A ação "Vistula" durou de 28 de abril a 28 de julho de 1947. Os ukrainianos de Nadsyannya, Lemkivshchyna, Kholmshchyna e Pidlhiashshia não eram exportados apenas para o ocidente da Polônia, mas eram pulverizados entre a população polonesa, temendo o surgimento de novos locais de residências ukrainianas compactadas. Uma parte de ukrainianos foi às prisões e campos de concentração, o mais famoso dos quais foi Haworzno - um antigo ramo de Aushwitz. Espancamentos, fome, trabalho físico desgastante - fatos que eram quase idênticos aos fatos nazistas, apesar de já acontecerem no pós guerra.  Durante a realização da ação "Vístula" foram condenados à pena de morte 173 ukrainianos. Em Jaworzno detinham ainda quase quatro mil pessoas, dos quais cerca de 200 morreram. No total, segundo dados poloneses - para o Ocidente removeram mais de 150 mil pessoas.

Assim, em três meses de 1947 foi colocado o ponto final sobre a questão ukrainiana, mas, ao mesmo tempo foi destruída a única cultura, que ao longo de milênios acalentavam os autóctenes locais. Ainda, por três anos, o governo polonês, oficialmente negou aos ukrainianos o direito à propriedade, que ficou nas térras étnicas. A fraca voz da igreja católica para não desmontar pelo menos os iconostasis nas velhas igrejas - não foi ouvido. E, não surpreende - dez anos antes, no verão de 1938 foi destruída mais uma centena e meia de igrejas de madeira em Kholm. Destuí-las no final de 1940 e nas décadas seguintes tornou-se muito mais fácil.

O último acordo de ações de migração tornou-se a troca de territórios, que foram executadas pela URSS e a República Popular da Polônia em 1951 realizou-se a troca de 480km², que novamente foi acompanhada pela deportação da população.

Tradução: O. Kowaltschuk                                                                                                                                                                         

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