sexta-feira, 1 de julho de 2016

Esquecidos pelos filhos e pelo Estado. Idosos imigrantes de Donbas
Ukrainska Pravda  - Vida, 16.06.2016
Katia Lutska

Hospice (em inglês), instituição médica para 
pacientes gravemente doentes. No caso, para pessoas idosas, abandonadas.


Precisamente para lá, na ocupada Luhansk, - nunca mais voltará seu diretor Oleg Gorbachev.
Homem de 40 anos, hoje, sobre as perdas fala calmamente, até com alegria.
Já pelo segundo ano, que ele tenta sobreviver no distrito Brovary, região de Kyiv, onde aluga uma casa para sua família considerável. Aqui, sob um teto, vivem: ele e sua esposa, três filhos seus, dois adotados, e ainda mais de vinte seus "pupilos" - ex-colonos do hospício de Alchevsk.

REDENÇÃO DA JUVENTUDE PERDIDA

Tudo começou com uma história pessoal. Oleg Gorbachov cresceu  numa família disfuncional: seus pais eram alcoólatras obstinados, por isso desde a infância a avó olhava por ele. No entanto, seus cuidados o rapaz não apreciava, e depois sozinho foi pelo caminho do pai, começou beber.

"Eu cheguei até o fundo, até a cabeça ficou coberta", - o homem descreve seu passado.

E, aparentemente, este fundo era necessário a Oleg como o último ponto de apoio - para apartar-se e começar mudar sua vida.
Então, em 1998, ele veio ao Centro de reabilitação de dependentes de álcool. Primeiro, que lhe perguntaram os assistentes sociais: se não estava com fome?

Naquela época Oleg tinha 26 anos, e esta simples pergunta envergonhou o rapaz: pois ele, realmente, não comeu nada nos últimos dias.
Ele foi alimentado, levado para o quarto de banho, deram-lhe uma roupa limpa. Desde então para Oleg começou outra vida.

"Não foi fácil, - lembra o homem, - mas eu sabia claramente, que voltar atrás não queria"

No início, como voluntário ajudava sair da dependência a outros, como ele.
Aos recém-chegados alcoólicos, tóxico dependentes, sem-teto, não perguntava os motivos de seus problemas, não lhes ensinava - primeiramente perguntava o mesmo, que uma vez lhe perguntaram: se eles queriam comer.
Certo dia uma mulher trouxe ao centro seu filho dependente de álcool e pediu asilo também para ela.

Algum tempo depois veio outra mulher de meia idade, seu filho, que saiu da prisão, batia nela, tirava sua aposentadoria, não deixa-a entrar em casa.

Assim, dia após dia, o centro enchia-se de gente idosa que, por várias circunstâncias não possuía teto sobre a cabeça.
Cuidando tais infelizes velhinhos, abandonados, Oleg Gorbachov inesperadamente percebeu, que com isto como se pagasse sua culpa perante já falecida vovozinha, a qual, quando jovem, judiava.

Isto foi no ano 2001.

Durante alguns anos, tendo passado o caminho de enfermeiro ao do diretor do centro, Oleg mudou a própria instituição, fazendo dela um asilo para pessoas idosas.

"Eles eram tantos - sem amparo vovozinhas, vovozinhos - e eles não tinham ninguém, que poderia garantir-lhes uma aposentadoria decente", - explica sua decisão  o homem.

OLEG E SUA CASA EVACUADA

O "hospice" de Alchevsk para pessoas de muita idade, "Ajuda" localizava-se em três casas alugadas - três construções separadas, do período soviético - e ao mesmo tempo poderia conter até uma centena de pessoas.
"As construções não eram adequadas para "hospice", lá também não houve reparos, mas para pessoas, que durante anos viviam pelas ruas, até uma casa assim era grande alegria", - o homem  lembra os tempos passados.
No entanto, Oleg não abandonava o sonho de construir em sua cidade um especializado "hospice". "Isto são pessoas idosas - elas necessitam condições especiais: que o banheiro seja próximo, rampas para os inválidos".

Hospice" "para pessoas idosas frequentemente é um verdadeiro achado.  Aqui tem comida, e roupa, e telhado sobre a cabeça, e entretimentos, e até inesperado amor. 
Com os meios da comunidade empresarial, comunidade e fundos internacionais até começou a construção. Devia ser um prédio para 50 pessoas. Pessoas de idade avançada e inválidos, que o Estado não podia assumir devido a razões triviais - alguém perdeu os documentos, alguém não os tinha a muitos anos: "Nós tivemos pessoas ainda com os passaportes soviéticos. Quem aceitaria tais documentos?"

No entanto a iniciada em Alchevsk construção não foi concluída. No verão de 2014 Oleg preocupava-se: como, e principalmente - onde - esconder "seus velhinhos" da guerra. 
Hoje, a quase oitocentos quilômetros de casa, em Brovary - região de Kyiv, o homem aluga um prédio de três andares, onde vivem mais de 20 pessoas idosas.
A evacuação de idosos durou algumas etapas, mas remover todos não se conseguiu.

"Ficaram lá 15 pessoas acamadas - elas, simplesmente, não aguentariam a viagem", - diz o homem.
Quase todos trouxe sozinho na minha velha "Volga". Agora o carro está no quintal mais como uma peça de museu - quebrada, e, como constata o proprietário, "já não adianta consertar".

Todos os meses Oleg Gorbachov deve pagar 12 mil pelo aluguel do prédio. Como em Alchevsk, sobreviver ajudam empresas privadas, fundos internacionais, pessoas não indiferentes.
"Eu já não me surpreendo, quando dizem: estes são pensionistas, eles recebem pensão. Sim - mas apenas dez, e são 10 mil "hrevnias". Com isto eu devo alimentar mais de 30 pessoas e pagar o aluguel", - fala sobre preocupações diárias do "hospice" Oleg Gorbachov.

A quantidade de moradores muda constantemente. Recentemente duas pessoas idosas, foram enterradas.
"Nós os mantemos até o mesmo... " - e ele interrompe-se.
Seu objetivo atual - encontrar um apartamento espaçoso para um longo tempo aqui, na região de Kyiv. Ele diz que, embora em segurança, mas com pouco espaço - viver já segundo ano seguido no aperto para pessoas idosas é difícil.

E, de fato, os quartos do "hospice" lembram mais um quartel, que um centro de idosos.

As camas de dois andares estão meio metro uma da outra. Num quarto dormem 15 pessoas
 As vovozinhas lentamente sobem pelas escadas ao segundo andar. Em cima as condições são parecidas, camas de dois andares e para dez pessoas no quarto.

Mas apesar da falta de espaço, Oleg não consegue negar aos infortunados: em seu "hospice" já encontrou-se a cama para velhinha local, de Brovary.
Sua filosofia é bastante simples: sozinho não sabe, onde irá parar na velhice.

"Eu recebi um avô que tinha cinco filhos, mas eu não vi nenhum, - lembra o homem. - Eu comecei cavar a história, e eis o que encontrei: o pai deste avô também morreu numa casa de repouso para idosos. Naqueles tempos muitos ocupavam-se com a construção de um "futuro brilhante", comunismo, e crianças eram enviadas aos jardins de infância aos dois meses. Agora eles colhem os frutos".

Oleg Gorbachov, que sozinho também educa cinco crianças, lembra esta história e emocionalmente acrescenta:
"Eu faço isto, para que eu tenha uma velhice merecida. Eu quero mostrar ao país, que a pessoa idosa - não é um material trabalhado A pessoa deve estar em primeiro lugar". 

"Eu não sou um fardo - eu sou parte de nossa comunidade".
Seis anos atrás, ainda em Alchevsk, começou uma nova vida para Yuri Meronhuk.
Então em "hospice", ele casou novamente. A primeira esposa morreu, e a família tocou-o do apartamento. Assim ele foi parar na rua.
Então o "hospice" tornou-se para ele um verdadeiro achado. Aqui tinha alimentação, roupa, e abrigo, e inesperado amor.
Quando Yuri perdeu a visão dos dois olhos: "Minha esposa foi o meu guia, eu a chamava cicerone. Ela me dirigia e contava, como tudo é bonito aqui".

Yuri Myronhuk casou-se pela segunda vez no "hospice".
No entanto e isto - são lembranças apesar de um passado recente, mas passado. Graças aos fundos dos benfeitores, Yuri foi operado de um olho.
"Agora eu posso, sem ajuda, andar pelas escadas", - alegra-se o homem, e já sozinho dirige a excursão pelo prédio e lembra os tempos da evacuação.

"Nós retiraram na terceira tentativa: primeiro explodiram a ponte, depois os tiroteios não permitiam sair... Eis, veja! Isto são nossos rapazes que tecem as redes de camuflagem para os militares", - no segundo andar, num amplo e limpo refeitório ele mostra uma rede pronta.
Sua esposa Helena - 55 anos. Alguns anos atrás ela teve um derrame. Graças às preocupações de outras pessoas no "hospice" ela conseguiu se manter em pé e começou andar. Aqui ela encontrou seu destino.

Yuri Myroniuk e sua esposa Olena. Aqui eles encontraram o seu destino.
Senhora Elena coloca-se com responsabilidade ao seu dever - ajudar na cozinha, lavar a louça. "Eu lavo a louça, meu marido me ajuda. Eu também me preocupo com os mais velhinhos. Eu não sou um peso - eu sou parte de nossa comunidade".

Não perde tempo Igor Volodymyrovych, 62 anos. Seu irmão foi morto e o homem ficou sozinho. Aqui no "hospice", com a vinda do calor ocupa-se com a urbanização do nosso quintal. Agora é verão, a natureza traz muita beleza - e eu a apoio.

O irmão de Igor Volodymyrovych mataram, o homem ficou só.
Ivan Mykolaievech já tem 77 anos. Nesta idade ficou sozinho. Ele encontrou o "hospice" para pessoas idosas em Alchevsk, veio e disse: "Eu estou sozinho, quero ficar com vocês".
Após a mudança para a região de Kyiv, senhor Ivan resolveu ajudar na cozinha.
"Para mim, o mais agradável é quando preparam-se as diversas guloseimas, ajudar e cuidar pelos outros", - diz o velho imigrante da região de Lugansk.
Apesar de sua idade Ivan Mykolaievech continua muito ativo e otimista.

Ivan Mykolievych sozinho encontrou o "hospice" e decidiu ajudar na cozinha.
 Victor Oleksiovech, 76 anos, nasceu em Pisky , da região Yasenuvatova, de Donetsk. Quase um ano viveu no porão, passou os piores tiroteios. E, devido aos combates quase perdeu a audição.
Ele foi encontrado no porão pelos soldados ukrainianos e enviado para hospital. Do hospital os capelães trouxeram o velhinho ao "hospice" de pessoas idosas.
"Então, vovô, iremos para Kyiv? - perguntaram-me os capelães. - E por que não ir, irei, o principal é não ouvir mas os tiroteios..."

Viktor Oleksievich de Pisky quase um ano passou no porão e perdeu a audição.
"Eu nem sabia, se alguém me encontrará depois de tais horrores, - lembra Volodymyr Fedorovych, 69 anos, de Luhansk. A esposa morreu, ele ficou sozinho. Ao "hospice" trouxeram os voluntários. Ele diz que o pior foram os tiroteios, quando não se reconhece, de onde vem os projéteis, de que lado atiram, e, quando tudo isto acabará.. - O que eu sonho aqui?  - Meu sonho - ter mais papel e lápis, e eu poderei fazer este mundo um pouco melhor."

Meu sonho - ter mais papel e lápis e eu poderei fazer este mundo um pouco melhor.

De acordo com o Ministério da Política Social, 60% das pessoas deslocadas - são pessoas idosas e pessoas com deficiência.
Apenas a região de Kyiv abriga 17 mil de pessoas assim que vieram de Donbas. Mas, os relatórios não falam sobre ex-drogados e viciados em álcool, os quais, apesar de tudo também procuram tranquilidade e paz.

Tradução: O. Kowaltschuk

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